Capítulo 17
Gabriela bem que tentou ficar afastada de Ethan. No final, acabou sendo impossível. O retorno para sua terra natal não saiu como o planejado. Primeiro vieram os questionamentos. Gabriela disse que fora deportada. A mãe, diante do fato, não pôde fazer nada, mas alguns meses depois ficou constatado que a filha não voltou sozinha. Deu-se início a tortura mental.
Burra foi a forma mais branda que a mãe dirigiu a ela. E à medida que a barriga ia crescendo, os xingamentos aumentavam. Gabriela a princípio disse que não sabia quem poderia ser o pai, e com essa informação, em meio a uma briga calorosa, revelou como o dinheiro tanto apreciado por sua mãe era conseguido. Houve indignação, berros, agressões físicas que culminaram em Gabriela saindo de casa. Uma de suas irmãs lhe ajudava escondido. E também era a única detentora dessa verdade. Essa irmã chegou a escrever uma carta para o pai do bebê, mas foi impedida de enviar. Gabriela sabia que se ele soubesse ficaria sem a criança, e ela queria muito aquele bebê.
Um lindo e saudável bebê, com os olhos do pai. Sem emprego e apoio da mãe, Gabriela não teve alternativa. A irmã ajudou com a grana e com os cuidados da criança pequena, e novamente a imigrante faria a travessia ilegal sem garantias, apenas em seu coração o aperto de ter de abrir mão do seu bem mais precioso e entregá-lo ao homem que tanto amou, e que sabia que não deixaria de amparar. Talvez não amasse aquela criança como amara o primeiro, mas sabia que lhe daria o que ela jamais poderia lhe dar: oportunidades. Rezou o tempo todo agarrada em seu terço, apenas o guardou quando estava em solo americano, transportada como lixo até seu destino final.
Chegou de madrugada até o antigo local de emprego. O dono fechava as portas. Recebeu Gabriela com desconfiança, a moça estava irreconhecível. Suja e fedida. Entregar-lhe um quarto naquelas circunstâncias seria um risco. Acabou correndo. Sempre gostou dela e talvez depois de um banho pudesse usufruir de seus dotes como costumava fazer antigamente.
Quando Ethan entrou na vida da sua mais solicitada "garçonete", não gostou nada daquilo, apenas se acalmou quando a moça fielmente lhe deixava uma porcentagem do que recebia do amante. Ethan nunca soube disso. Se tivesse conhecimento não a teria deixado lá. Muito sobre Gabriela era um completo vazio. De certa maneira não se importou. Ficar com ela de forma legal não estava dentro dos seus planos. Gostava da garota e teria feito tudo que ela precisasse, mas tinha Caroline, e bem ou mal aquela era a sua esposa e um divórcio não passava pela sua cabeça.
Ficou fora das vistas de todos por três dias, até criar coragem de entrar em contato com Ethan. Pediu para alguns dos meninos que ficavam nas redondezas do bar levar até o Recanto das Corujas um bilhete para o dono.
— Estão escutando? Tem que entregar na mão do Sr. Lewis e mais ninguém. — As mãos de Gabriela tremiam.
Não sentiu muita firmeza nos moleques, mas não poderia simplesmente aparecer lá. Não achava isso justo com ele depois de tudo que tinha feito por ela nesse tempo em que estiveram juntos. A esposa morava lá, e ela sendo amante seria uma afronta. Ethan certamente ficaria irritado e não gostaria que isso acontecesse. Havia a possibilidade de ele ficar furioso ao saber que era pai e lhe fora negado esse direito por quase dois anos.
O que aconteceu em seguida não estava nos planos de Gabriela. Os meninos, de bicicleta, entraram na propriedade que vivia de portões abertos. Ethan tinha uma escolinha de equitação para crianças carentes. Muitas delas se tornaram ótimas competidoras. Ele tinha muito orgulho de tudo aquilo. Por conta disso, os funcionários não deram muita importância para a chegada dos meninos. Jogaram a bicicleta de qualquer jeito sobre os pedregulhos perto da entrada do casarão. Os cachorros vieram latindo, parando a poucos metros dos meninos, abanando os rabos. Estavam acostumados com as crianças e seus carinhos. Dessa vez não foi diferente. Os meninos lhe deram vários afagos até serem descobertos pela dona da casa.
Caroline, diferente de Ethan, detestava a invasão daqueles moleques. Era uma forma de lembrar-lhe que não tinha mais o filho e que era ele quem deveria desfrutar daquele lugar. Disfarçava com maestria esse sentimento. Desde que ele optou por ela, e não pela amante, se comportava da melhor maneira que podia. Levou alguns meses para ter o marido de volta em seus braços, e após um ano ali, sentia que era como antes. Ethan não sentia o mesmo, mas também disfarçava.
Perguntou o que os meninos queriam. Depois de um tempo e algumas ameaças, os moleques entregaram o bilhete e partiram da mesma forma que vieram. Caroline pôde observar o rastro de poeira por eles deixado, enquanto abria o pequeno papel em suas mãos. Amassou-o com raiva depois de ler o seu conteúdo, e logo em seguida abriu novamente, relendo com mais atenção.
Uma letra horrível. Sentiu repulsa e desprezo por Ethan a trocar por aquilo. Andou de um lado para outro em sua sala de estar. Serviu-se de um copo de whisky, que logo viraram dois. Foi para o quarto e trocou de roupa, mais de uma vez, até achar uma apropriada para o que planejava. Ethan não estava na propriedade naquele dia, chegaria à noite com uma nova remessa de cavalos. Pegou as chaves do seu carro e saiu de forma calma e tranquila.
Rodou pela cidade. Procurando. "Ela não ficaria assim nas vistas, Caroline!". Falava com seu reflexo pelo retrovisor. Encontrou com algumas amigas. Fez compras em algumas lojas. O tempo não passava. E a cabeça martelava. Passou pelo bar que sabia que a dona do bilhete frequentava. Lembrou-se de tudo. Até de como a garota era quando a viu passeando de mãos dadas com o marido alguns anos atrás. "Por que diabos resolveu voltar, prostitutazinha?". Suas mãos apertavam forte o volante, deixando as pontas de seus dedos brancas. Voltou para o haras. Tinha o recado de Ethan de que ele iria se atrasar. Seu coração apertou. A vadia — forma como Carolina sempre se referia à Gabriela — podia ter entrado em contato com ele de outra forma. Correu até o escritório do marido. Na primeira gaveta, do lado esquerdo, encontrou o que procurava: a chave do armário em que Ethan guardava suas armas. Abriu e pegou a pistola nove milímetros.
Chegou no horário exato marcado no bilhete para o encontro. Bateu na porta indicada de forma branda e aguardou. O sol já havia se escondido. A noite avançava. Algumas luzes daquele corredor não estavam funcionando, e ali na penumbra aguardou ser atendida. A garota do outro lado abriu com sorriso largo no rosto, tinha certeza de que era ele, e então seu semblante mudou drasticamente e pensou: "Que porra é essa?".
— Gabriela. Tem muita coragem de estar aqui de volta. Achei que meu marido já tinha resolvido esse problema. — Sem cerimônia, adentrou o quarto.
— Ele resolveu... — Gabriela, sem ação diante daquilo, fechou a porta e encarava a outra de forma constrangida.
— O que quer com ele? — Caroline, com repulsa ou mesmo nojo, analisava aquele quarto, evitando olhar Gabriela nos olhos.
— Sra. Lewis, o assunto que tenho a tratar só interessa a ele — Gabriela tentava manter a voz e a postura firmes, de quem estava no controle de suas emoções, porém o que acontecia dentro dela era exatamente o contrário.
— Discordo. Viu a forma como me chamou? — finalmente Caroline encarou a sua rival. A única que teve em toda a sua vida quando o assunto era Ethan Lewis.
— Como? — Gabriela vacilou e sua voz saiu tremida.
— Sra. Lewis! Nada do que você tenha a tratar com ele é apenas do seu interesse, eu como esposa dele também estou envolvida. Está precisando de dinheiro? É do que vocês sempre precisam, de dinheiro.
Caroline fez menção de abrir a bolsa. Gabriela a interrompeu tocando em seu antebraço, o que fez Caroline lhe lançar um olhar de ódio que a pobre mulher conseguiu sentir dentro de sua alma. E diante daquele gesto Gabriela despejou algo que sempre quis.
— Não, muito diferente de você, quando esteve fazendo sabe-se lá o que... Oh... Na verdade, sabemos bem o que fazia, algo não tão diferente do que eu fazia. Ambas vivemos muito bem do dinheiro que ele nos oferecia.
— Diga logo o que quer! Não tenho o dia todo e não vou deixar você ver Ethan — Agora era a voz de Caroline que vacilava.
— Está com medo, Caroline? — Gabriela sentiu que havia tocado no ponto fraco da loira e continuou com sua afronta.
— De você? Por que teria medo de uma merda de gente? — Caroline deu alguns passos para trás e novamente aquela sensação de nojo voltou ao seu paladar.
— Talvez pelo fato de ter vindo aqui sozinha e não querer que eu me aproxime dele. Tem medo que ele te deixe, Caroline? — Gabriela, já sem medo, aproximou-me mais.
— O negócio é o seguinte. — O dedo em riste de Caroline controlava o limite daqueles corpos. — Estou sendo até boazinha em querer te oferecer dinheiro para que deixe meu marido em paz, poderia simplesmente ir até a imigração e dar com a língua nos dentes, informando onde você está. Talvez faça isso. Sim, é isso que farei. — Caroline fez menção de deixar aquele quarto.
— Espere! Não quero dinheiro dele. — Novamente Gabriela a conteve pelo braço. Não estava ali pelo dinheiro, estava ali para que ele ficasse com a criança que geraram.
— O que você quer então? — Caroline lhe olhou confusa.
— Que ele fique com a criança que geramos. — A voz de Gabriela saiu sem força, quase inaudível.
Os olhos de Caroline mudaram. A revelação de que havia um ser que compartilhava o mesmo sangue de Ethan a desconsertou. Havia apenas um. E não seria o que saiu de dentro daquela garota. Peter era o único filho de Ethan e estava com os anjos. Não receberia ou mesmo criaria qualquer coisa que não fosse o seu filho, e Ethan também estava proibido de fazer o mesmo.
— Sra. Lewis... — Gabriela voltou a tratá-la com resignação, afinal era essa mulher que cuidaria de sua criança a partir daquele momento —, não tenho meios de ficar com ela, estou em completo desespero. Ethan é o pai. Podemos fazer um teste e isso será comprovado, e ele tem meios de dar-lhe uma chance. Não vou ficar entre vocês, eu prometo, apenas cuide da criança.
O que se seguiu foi muito rápido para Gabriela processar. Caroline tirou a pistola nove milímetros da bolsa, novamente com aquele olhar cheio de ódio.
— Sra. Lewis! Não faça isso! — Gabriela olhava com espanto para a arma apontada em sua direção.
— Devia ter feito há muito tempo! Ethan jamais saberá disso! — a voz que Gabriela escutava sair daquele corpo não pertencia à mulher de antes, era outra coisa. Alguma coisa das trevas e da escuridão.
— Não!
Um disparo. Alguns segundos e outro disparo. Porta arrombada. Desespero. Gritos e sangue jorrando. O homem, incrédulo com o que via, jogou–se no chão agarrando aquele corpo miúdo
Algumas horas antes Ethan chegou até sua casa e não encontrou ninguém. Era um dia estranho. Uma angústia o assolou o tempo todo. De certa forma, sentiu alívio quando voltou de sua viagem e não havia ninguém. Tomou um banho rápido e resolveu ir até o bar. Ficou satisfeito em ver que, naquela noite em particular, estava vazio. Sentou em seu canto habitual, pediu sua cerveja e encarava o noticiário na televisão pregada dentro do balcão próximo ao teto.
— Como está lidando com isso? — o dono do bar encostou do outro lado do balcão e encarava Ethan.
— Lidando com o quê? — Ethan franziu a testa e bebeu mais um gole de sua cerveja.
— Com a volta da Gabriela! — agora era o homem que lhe encarava com espanto.
— E quando Gabriela voltou? — Ethan, diante dessa informação, já havia largado seu copo sobre o balcão e levantado do banco.
— Já tem alguns dias... Realmente, não vi aquela garota deixar o quarto por nada. — O homem olhou para o horizonte como se procurasse alguma resposta.
— Ela está lá em cima? — Ethan o encarava com certo desespero e aquela sensação angustiante voltou a tomar conta do seu corpo.
— Sim... — Ethan colocou a jaqueta jeans e já ia se dirigindo à saída do bar. — No mesmo quarto.
Passou pela porta de madeira velha do estabelecimento e caminhou em direção ao estacionamento até chegar às escadas de acesso ao andar de cima. Estava a poucos metros do quarto quando escutou os tiros. Em um reflexo, derrubou a porta com um pontapé. E lá estava Gabriela, estirada, esvaindo em sangue no chão, com Caroline ainda lhe apontando a arma.
— Não! — jogou-se no chão agarrando Gabriela em seu colo, tentando estancar o sangue que ainda jorrava. — O que foi que você fez? — encarou Caroline, incrédulo.
Caroline podia ver as lágrimas acumulando no rosto de Ethan. Deixou que a arma caísse perto dele e saiu correndo pela porta, indo em direção à saída de emergência e sumindo na escuridão. Do outro lado, o dono do bar subia as escadas com cautela. Já havia informado à polícia que disparos haviam sido dados e, mesmo com medo, deixou que sua curiosidade falasse mais alto. Viu Ethan todo ensanguentado, agarrado em Gabriela com a arma em suas mãos.
xXx
Oi meus amores. E assim ficamos sabemos como aconteceu a morte de Gabriela. Gostaria de lembrar que falta bem pouco para história acabar, sendo assim se estiveram gostando não esqueçam de deixar aquela estrelinha e comentários. Beijos!
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