Capítulo 9
Meu corpo estava frio. A temperatura estava tão baixa que sentia meus nervos secos e dormentes. Sentia folhas em minha pele, galhos em meu corpo e a ventania sobre mim. Decidi abrir meu olhos e virei meu corpo para cima, observei as árvores altas e as folhas grandes balançarem com o vento, o céu brilhar por cima da escuridão e deixar visível a lua clarear boa parte do lugar.
Olhei para baixo e vi que estava apenas com uma blusa fina de renda, branca, e uma calcinha da mesma cor. Meus joelhos estavam sujos de terra e meus pés na mesmo situação precária. Assim que olhei para minhas mãos, percebi o vermelho do sangue escorrer entre meus dedos. O líquido gélido em meus braços, sujando a minha blusa branca.
Me levantei rapidamente, assustada e amedrontada, deixando os pingos purpúreo respingar nas folhas escuras no chão e em meus pés.
— Merda! Merda! Merda! — Agravei-me sozinha. — De novo não... — Olhei para os lados.
Tudo oque vi eram árvores e mais árvores espalhados por todos os lados. Altas e grandes. Virei meu corpo varias vezes a procura de uma saída.
Estava depois do bosque da floresta na zona 4, em uns quatro ou três quilômetros a cabana maldita estaria por perto, que fica apenas cinco quilômetros da estrada da cidade. Eu ia me virar, sabia me virar.
Caminhei por alguns lados a procura de algum corpo, desejando o possível que seja apenas coisa de minha cabeça.
— Rose! — Ouvi a voz de Dominik, causando um eco pelas árvores e arregalei os olhos assustada. Estava escuro, muito escuro, a luz estava desaparecendo e eu precisava correr para a voz de Dominik urgente e não se perder nesse lugar, ou teria que dormir aqui sozinha. — ROSE? — Tornou a chamar, agora mais perto.
— DOMINIK? — Gritei olhando para os lados, preocupada. Não sabia se era dele ou de mim mesma.
Corri na direção que havia me chamado, sem forças e com medo de ter ferido alguém inocente. Não posso me tornar uma assassina como Peter me criou, não posso ser quem ele quer que eu seja.
Assim de vi a cabana de longe, adentrei diante de mais árvores e corri para dentro dela. Já observei seu corpo no chão, deitado e de olhos fechados. O sangue escorria de seu peitoral, que estava grudado também na faca perto daquela cena de morte.
Corri até ele e me abaixei, arranhando meus joelhos na madeira velha.
— Dominik... — Chamei quase não suportando a vontade de chorar.
Me tornei uma assassina, um monstro como ele. Alguém que mata por diversão ou, pior e inapropriadamente, puro prazer. Segurei o corpo do garoto em minha frente e ergui sua cabeça para cima, seus lábios estavam sujos de sangue e lembrei que já havia o beijado assim antes.
Conhecia todos daquela escola, todos daquela cidade. Posso ter demorado bastante tempo para conseguir guardar todos em minha cabeça, mas foi preciso. Dominik nunca teve uma namorada, ou amigo ou qualquer pessoa em seu lado. A não ser Russell Deline, que revelou-se gay ano passado e desistiu da amizade do rockeiro. Eu tinha sido seu único beijo, mesmo que tenha sido tudo uma farsa.
Dominik era sozinho e estava á procura de alguém para preencher seu vazio, com a desculpa de se vingar da morte de um pai que nunca havia sido presente em sua vida em momento nenhum. Sinto pela sua morte porque sei que não foi merecido, e deveria ter pensado melhor antes de negar sua vasta ajuda. O homem que me fez, que me destruiu e me criou como um monstro, já era pra ser destruído muito antes de mim.
Dominik tinha razão ao dizer que eu precisava de alguém, porque eu realmente precisaria de ajuda para destruir quem me criou.
Não sabia bem oque estava fazendo, mas abaixei meu rosto e beijei os lábios gelados do menino sem a vida. Tendo pelo menos a noção de que o dei algum presente antes de ir.
— Sinto muito por isso. Não era pra ter sido assim. — Falei abaixando sua cabeça e o deixando sozinho, olhando para os lados e encontrando uma cena muito mais complexa que antes.
Um lençol no chão, dois copos de plástico cheio de bebidas — provavelmente suco —, pães e frutas. O lençol azul estava bagunçado e desalinhado, oque me deixa confusa. Havia duas cadeiras velhas no canto da parede de madeira, fitas zebradas espelhadas por todos os lados. Caídas no chão, amarradas nas tábuas e outras numa mesa deitada. Nunca havia entrado nesse lugar, Peter proibiu minha aproximação da zona 4 por algum motivo seu.
Do outro lado, espalhado, estava minha calça jeans e meu casaco marrom. Oque não encaixava em minha cabeça ter as tirado. Caminhei até elas e vesti, enfiando minha mão suja na jaqueta e tirando meu celular do bolso.
Disquei o número de Peter, chamou duas vezes e não atendeu. Liguei para Parker, seu cachorrinho na coleira e também não atendeu. Voltei a ligar para meu avô e caiu na caixa postal.
— Peter, não sei se é real. Não me sinto bem, eu só... — Olhei para os lados e voltei a olhar o corpo de Dominik. O que estávamos fazendo aqui? Piquenique? — Não sei como vim parar aqui, estou na cabana. Acho que...
Parei por uns instantes antes de dizer: — Acho que matei Dominik Riles.
Desliguei e observei o corpo de longe, voltando a olhar meu celular e procurando seu número desconhecido que havia me mandado mensagem antes e liguei. O celular soou em sua calça e senti-me devastada. Me senti uma assassina a sangue frio novamente.
— "Deixe seu recado, sua chamada terá uma cobrança após o sinal." — a voz feminina e aguda soou em meu ouvido e ouvi o "bip".
— Dom... Dominik. — Fechei olhos e me virei, pronta para sair e ir atrás de Peter para me ajudar a tirá-lo daqui. — Não quero ser um monstro, não por ter matado você mas.. por ter tirado a vida de Bonnie também. — Caminhei para a floresta. — Talvez não tenha sentido meu beijo de novo, mas será o último que deixo se aproximar. Não nasci para isto e preciso me contentar com oque está destinado para mim... sinto muito mesmo. Vou me entregar hoje.
Ou talvez não antes de me vingar de Peter.
Desliguei e caminhei os cinco quilômetros maiores de minha vida.
Estava claro novamente, na estrada e iluminada pelos postes de luzes. Caminhei até minha casa, sentindo que isso tudo não tenha passado de um mísero sonho. Um mísero pesadelo.
Meu celular havia descarregado, passei metade do caminho usando a lanterna dele.
Respirei fundo e bati duas vezes na madeira escura da mansão, os passos veio rápidos demais. Imaginei que já estivesse me esperando. Meu coração estava lento, talvez apavorada ou ansiosa pela prisão merecida. Só precisava me vingar, tanto de Peter quanto de Jhon.
A porta foi aberta, Peter arregalou os olhos com seu celular na mão direita. Antes de abrir a boca, ele agarrou meu braço e me jogou na parede irritado e eufórico. Minha jugular faltou saltar de meu pescoço quando sua mão apertou meu peitoral e me empurrou contra a parede com força, muita força.
— Peter... Peter....
Minha voz estava falha. Inaudível.
— O que você fez? — Cerrou os dentes. — QUE PORRA VOCÊ FEZ MARIANA?
Realmente estava bravo, com raiva, eufórico, irritado e cheio de ira possível. Só me chamava de Mariana quando realmente estava com sua última linha de paciência.
— Eu... não sei oque aconteceu. — Tentei dizer. — Não me lembro..
— MARIANA! MARIANA! OLHE PARA MIM! — Ordenou. — MARIANA!!!
— Peter... matei ele. — Não estava entendendo. Ele parecia não me ouvir.
— Droga, Mariana! — O soco foi iniciado com o peso que estava concentrado em sua perna de trás, levantando o braço de uma forma eficaz e rápida demais para tornar-se correto. Sinto meu maxilar ranger, meu nariz sangrou no mesmo instante e me ajoelhei com a dor agoniante que senti e fechei os olhos.
Minha cabeça estava doendo, muito. Meu corpo frio e dormente. Senti uma mão em meu ombro e levantei o rosto assustada.
— Mariana!
Abri os olhos e vi a mudança brusca de tempo. Já não era mais noite, o lugar da lua foi preenchido pelo brilho alterado do sol. Amarelado e quente. O arrepio em minha espinha ao olhar para os lados e para o chão, na esperança de senti-me normal pelo menos uma vez. Me odiei no mesmo momento que abri os olhos.
Eu estava errada todo esse tempo em pensar que eu teria uma vida normal algum dia sabendo que tinha o sangue de Peter em minhas veias, eu estava condenada para sempre com essa terrível parte de mim que estava louca para sair de alguma forma.
— Vovô ! — Chorei como uma criança solitária.
— Venha cá! — Ele me puxou e me abraçou, porque tive minha segunda crise de TDI.
Estão achando que será só calmo, só está começando.
Saudade de ler as opiniões de vcs em.
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