Capítulo 18
Festa.
Pessoas.
Adolescentes bêbados.
Era minha primeira festa e eu estava odiando pensar que estarei ao lado de tantas pessoas ao mesmo tempo. Meu organismo corrupiava só de imaginar. Saí do quarto e andei pelo corredor, descendo as escadas e encontrando Peter ao lado de Parker.
Peter virou-se para mim e me observou por alguns segundos, quase como um reprovação. Eu vesti um vestido rose com a barra rodada curto e uma Parka vinho. Meu cabelo estava solto, deixando as pontas onduladas e claras soltas em meus ombros. Uma maquiagem simples e minha bolsa de lado para guardar meu celular e minha proteção.
— Onde vai? — Peter me encarou e dei de ombros. — Parker enterrou o corpo de Dustin longe da cidade enquanto você vai numa festa?
— Quer que eu agradeça? — Perguntei num tom de deboche e me virei para Parker ao meu lado, intacto e imóvel como um guarda medieval. — Obrigada.
— Austin estava estraçalhado pela faca. Pescoço mutilado e parte do crânio esparramado pelo chão. — Ele falou e senti meus nervos trincarem, dei um passo para trás.
Parker Novak, extremamente alto com a cabeça branca raspada e os olhos escuros. Estava de terno azul escuro e um sobretudo marrom por cima, reto e gigante como uma girafa. Tive que levantar a cabeça para encarar seus olhos escuros e observar sua expressão trivial e comum. Não demonstrava nada além de uma grande calmaria.
Como pude ser tão fria ao matar um homem?
Olhei para Peter que respirou fundo.
— Descobriu alguma coisa? — Perguntei nervosa e ele levantou os ombros atentos. — Qualquer coisa, preciso saber.
— Tem certeza de que não se lembra de mais nada? — Perguntou quase como uma suplicação por uma confirmação minha e simplesmente neguei. — Acho que não era só você e Dustin lá, ouve luta e creio que pelo estado que estavam tudo... havia mais alguém com vocês dois.
— Mais mortos? — Perguntei assustada.
— Não sei. Vasculhamos a floresta quase toda, não encontramos nada. — Falou.
— Tinha mais alguém lá e você está escondendo alguma coisa. — Parker concluiu e me virei para ele com o rosto fechado.
— Cale-se! — Ordenou Peter. — Já falamos sobre isso, ela precisa de tempo.
— Mas você viu oque essa garota fez com Dustin, um de nossos melhores homens. — Bradou com raiva e me senti uma criminosa só de imaginar que fui tão baixo em matar alguém assim desta maneira tão cruel. — Sabe que está criando um monstro.
— O que disse? — Perguntei dando um passo a frente e Peter segura meu braço.
— Não admito que fale assim. — Meu avô disse calmo e olhei para ele decepcionada. — Se ela fez oque fez, teve motivo. Se teve motivo, ele com certeza teve sorte de ter sido morto por suas mãos. — Falou sério e Parker o encarou, virando o olhar para mim. — Agora vamos, preciso falar com o prefeito e mandá-lo encerrar a busca pelo assassinato de Bonnie.
Fiquei em silêncio quando Parker deu as costas e Peter ficou na sala, esperando o seu braço direito sair pela porta da frente.
— Só irei dizer uma vez. — Ele disse de costas e se virou para mim, olhando-me sério. — Não te quero perto daquele filhote de morcego. E se eu souber, que seja apenas uma vez, que ele te tocou, a morte de Dustin será o menor de seus problemas. — Falou e assenti.
— Não tenho medo de suas ameaças. — Cerrei as mãos com raiva. Por um momento comecei a sentir um pequeno receio em imaginar que ele cumpra oque tanto diz querer fazer.
— A cabeça desse garoto só não está no chão ainda porque estou lidando com outros problemas no momento.
— Acha que me importo com isso? — Perguntei num sussurro. — Vá em frente.
"Vá em frente"?
Peter não disse mais nada, apenas abriu um sorriso e deu as costas se retirando da casa. Fiquei sozinha, imaginando se reagi bem. Nos últimos dias era tudo oque eu queria, ver Dominik morto. Não mais. Compartilhei mais coisas com ele em dias do que com Caroline em anos juntas. Me ouvia, me entedia e não me julgava em nenhum momento.
Ainda não entendo como ele se comportava tão bem quando descobria um ato cruel vindo de mim. Parecia sempre tão passivo e quieto que me deixava sempre em dúvidas de suas reais intensões. Mas não posso viver sem acreditar em todos por um erro de Peter à muitos anos.
Ouvi o barulho de três buzinas uma atrás da outra. Respirei fundo saindo pela porta e deixando apenas com os seguranças escondidos em seus postos, longe do lugar. Dominik não me olhou, apenas ergueu o capacete e peguei colocando em mim e subindo na moto.
O farol iluminava o caminho até chegar no lugar, uma casa alta e cheia de adolescentes. Dominik parou a moto e desci, tirando o capacete. Ele se virou para mim, enfim. Abriu um sorriso e deu de ombros, levantando-os logo a seguir.
— Não parece muito você. — Falou sincero e o observei, com uma calça preta e um rasgo no joelho. Vestia uma camiseta do Linkin Park, cinza, e uma jaqueta preta de couro sintético da WSLCN, provavelmente do capuz removível. — Está bonita.
Olhei pra ele. Não recebia muitos elogios, na verdade foi o primeiro. Não sei reagir quanto a isso, apenas dei de ombros e virei em direção a casa me retirando do frio que estava do lado de fora.
Alguns alunos estavam lá, me deram boas olhadas enquanto observava o local. Bebidas, som alto e de longe, bebendo ao lado de Caroline, Flynn Miller. Vestido apenas com uma calça escura e uma camiseta regata branca. Seus cabelos estavam maiores, rebeldes caindo sobre as sobrancelhas. Ao seu lado, Caroline vestida numa calça apertada e uma blusa transparente da Gucci. Tinha o cabelo amarrado num rabo de cavalo, maquiagem forte e infelizmente quase se jogando para o garoto em sua frente.
No fundo, senti que não deveria ter trazido a faca junto ao meu celular nessa bolsa de lado. Naquele momento, era tudo oque eu mais queria usar. Porque diachos ele não fez nada até agora se já sabia sobre a irmã? Ou era outra coisa?
Tenho a leve impressão de que ele sabe sobre Adam, ou ele mesmo pode ser esse homem que vem me infernizando nessas últimas semanas.
Minha cabeça começou a latejar, cada traço que ele dava tinha uma forma diferente da primeira vez que falou comigo na academia. Sem o sorriso sacana, sem o olhar profundo e nem mesmo agradável. Estava mais frio, aparentemente inquieto, escondendo algo maior do que ele mesmo possa segurar por muito tempo. Ele bebia normalmente, sorrindo e conversando, enquanto eu o encarava com raiva. Quem é ele para me ameaçar? Por que um nome falso se o vejo toda maldita manhã na escola? Era apenas um covarde que se escondia atrás de teclas e letras?
— Rose... — Ouvi uma voz me chamar e sinto minha mão ser agarrada por dedos grossos, quase enlaçando meus dedos. Senti meus nervos voltarem ao normal, meu peitoral abaixar soltando minha respiração que nem eu mesma sabia que estava segurando. Respirei fundo e alguns alunos e outros adolescentes viram o olhar para mim, abrindo sorrisos meia lua e voltando a perambular a casa. — Rose...
— Estou bem. — Me virei e soltei minha mão da dele, observando seu rosto sério. Parecia surpreso, intacto e aparentemente nervoso. — O que foi?
— Nada. — Respondeu rápido. — Só que... acho que estou miseravelmente ferrado. — Confessou.
Não sei se foi por causa de nosso plano, mas tenho quase certeza de que não iria morrer hoje então ele não tinha com oque se preocupar quanto a isso.
— Vamos. — Falei virando as costas e ele me segue, caminhei até Caroline que me viu e abriu um sorriso elegante vindo em minha direção.
— Você veio. — Falou me soltando. — Que milagre. — Deus dois pulinhos de alegria e revirei os olhos. — E trouxe o garotinho. — Virou o olhar para o meu lado, Dominik.
— Oi pra você também, rainha do baile. — Bradou o garoto ao meu lado e ainda não entendo esse apelido se Carol ganhou apenas uma vez no ano passado.
— Está gostando? — Flynn perguntou direcionando o olhar para mim e o encarei, sentindo a raiva me preencher novamente.
— Vou buscar bebidas, preciso de uma ajudinha pra suportar isso. — Dominik falou e virou as costas antes que eu pude impedir.
Voltei a olhar para frente e Caroline também havia saído, respirei fundo e agarrei minha bolsa com força enquanto levantei o olhar para o atleta em minha frente. Flynn abriu os lábios e colocou a cerveja Soul sobre a mesa e se aproximou de mim fechando o olhar logo em seguida.
— Está tudo bem? — Perguntei atenta, agarrando minha bolsa com força entre os dedos.
— Acha que sou idiota, Rose Mariana? — Berrou dando um passo a frente, quase cuspindo em mim.
— Podemos conversar em particular, Flynn? — Sugeri calmamente, olhando para os lados com cautela e ouvi o sorriso forte dele em minha frente.
— Longe da multidão? Pra quê? Me esfaquear como fez com minha irmã? — Sussurrou e arregalei meus olhos, baixando os ombros e cerrando os dedos.
Se ele sabe, porque não denunciou? Sem provas?
— Por que acha que sou eu? — Perguntei agarrando seu braço e o puxando, com força, virando o primeiro hall e subindo as escadas comigo.
— Que merda está fazendo? Me solte garota! — Berrou e o empurrei no primeiro corredor vazio, batendo suas costas contra a parede me encarando com raiva. — Qual o seu problema?
— Está blefando. — Eu disse o encarando. — Se achasse que fosse mesmo eu já não teria denunciado?
— Não tenho provas. — Ele declarou com raiva e olhando para os lados. — Ainda.
— E porque merda acha que foi eu?
— Você é maluca. Neta de um louco. Toda sua família são loucos e assassinos, porque seria diferente? — Perguntou com os dentes cerrados.
Dei um passo para trás, não precisava de minha outra versão para o matar.
— Olha só pra você, faísca de um assassino. — Bradou dando um passo para frente. — É só uma garota solitária, oque acha que vai fazer comigo aqui na frente de todos?
— Melhor fechar a boca, Miller. Se acha que estrangulei sua irmã, oque acha que posso fazer contigo?
— Sua vagabunda...
— Rose. — Dominik apareceu no corredor com uma cerveja na mão e encarou Flynn encostado na parede. — Algum problema, grandão?
— Você...
Dominik o interrompeu jogando o braço para frente, a cerveja bateu no peitoral de Flynn enquanto o garoto levantou o olhar para os olhos claros de raiva em sua frente.
— Sugiro que desça. — Cerrou os dentes.
Flynn segurou a cerveja e me olhou antes de sair, virando as costas e virando para as escadas. Dominik se virou para mim e me encarou com o rosto fechado.
— Está tudo bem?
— Deveria ter perguntado a ele. — Falei.
— O que ele disse?
— Acha que matei a irmã. — Falei a verdade. — Chegou bem na hora. — Soltei a mão de minha bolsa pequena e deixei apenas segurada na alça de couro. — Não quero matar pessoas inocentes. — Lamentei e Dominik se aproxima. Era a Verdade, me sentia horrível em estar matando pessoas sem ao menos perguntar o motivo.
— Vem. — Dominik segurou meu braço devagar e abriu uma porta, com uma chave na mão esquerda e estrei os olhos desconfiada enquanto ele me colocou lá dentro e entrou fechando a porta. Se virou para mim ligando a luz e me encarou. —Antes que pergunte, dono da casa bêbado pode ser roubado facilmente. — Levantou a chave e deu as costas trancando-a.
— É ladrão agora? — Perguntei tentando não me render a culpa toda vez que me encontro com Flynn.
— Sou muitas coisas. — Ele se virou pra mim. — Menos ladrão.
— Olha. — Eu disse olhando o quarto simples, com apenas uma cama de solteiro e um armário grande. Sem fotos, tapetes ou qualquer tipo de decoração. — Obrigada por agora, mas preciso ficar sozinha.
— Eu sei, por isso raptei a chave. — Deu de ombros se virando.
— Onde vai?
— Vou resolver isso falando com Flynn e disse que queria ficar sozinha. — Falou o óbvio. — Essa é minha deixa.
— Espere. — Falei já me arrependendo. — Fique.
— Não precisa sentir mal. — Começou. — Se acha que fez oque fez, teve motivo. Você não me parece um monstro. — Me olhou cruzando os braços.
— É porque ainda não me conhece. — Falei dando um passo a frente e ele abriu um sorriso negando.
— Conheço o bastante. — Falou vindo em minha direção. — E espero que não me mate por isso.
— Pelo oque... — Fui interrompida por Dominik quando me puxou para seu corpo e me beijou.
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