Capítulo 16
"Não confie em ninguém"
Foi a frase mais repetida do diário, perdi a conta de quantas vezes a li. Todas na mesma intensidade dolorosa, retratando uma dor surreal. A cada palavra que Sofia registrara, pude entender o quão havia morrido perturbada. Sozinha num lugar que não mereceu, sozinha consigo mesma sem ter tido um final bom.
Fico feliz em saber que minha mãe estraçalhou a cabeça de Douglas Barbieri.
Era sexta, um dia de aula bastante enjoativo. Natação, física, história e esportes. Tudo oque eu estava usufruindo daquela manhã foram as milhares de frases de como ferrar a cabeça de alguém, lentamente.
Sofia retratou bem quanto a Brian, com belos olhos claros mas que escondia alguma coisa. Sobre meu pai, Tyler, não havia nenhuma boa palavra. Um "eu não vou com a cara dele" ou "Ele esconde algo muito maior do que ele mesmo consegue aguentar". Então ela conhecia alguém quando mentia depois de tudo?
Passando as folhas, vi que haviam três paginas amassadas. Foram arrancadas por algum motivo. Desdobrei a primeira e espiei as primeiras linhas.
Hoje ele veio me ver, sozinho. Parecia mal humorado relatando e reclamando sobre eu ter enchido a cabeça de Megsson. Tentou ordenar para que eu parasse de falar e o enfrentei dizendo que ela merecia a verdade mais do que qualquer outra pessoa. Foi naquele momento que percebi que não poderia confiar nele ao lado de minha filha, pedirei para Katlyn avisar a Meg sobre o homem que casou.
— Meu pai? — Sussurrei para mim mesma e virei o outro lado da folha.
Falou que eu era louca, que Megsson não acreditava em mim. Que preferia acreditar que Peter é um homem do que em minha sanidade. Como ele pode dizer uma coisa dessas? Disse-me que Megsson estava no caminho que ele quis que ela fosse, porque ele diria algo assim? Não posso errar, preciso avisar a Meg sobre este homem que se casou. Meu instinto diz que ele não é confiável, então ele não é e vou alertar minha filha.
Ouvi o bater na porta e ergui minha cabeça em alerta, tirando meus fones e colocando o diário por dentro de meu casaco. Eu deveria ter ido para a biblioteca, este lugar estava comprometido para adolescentes a flor da pete.
— Já estou indo! — Gritei impaciente quando as batidas aumentaram e a destranquei deixando passagem para um menino e uma menina entrarem sorrindo e saí do quartinho de motel. — Protejam-se.
Idiotas. Não sabem se segurar até encontrarem um quarto de verdade? Que minha primeira vez seja mais emocionante do que livros caindo sobre meu corpo ou teias de aranha.
Caminhei pelo corredor em direção da biblioteca e senti a sensação de estar sendo observada. Olhei para trás e o rosto de Flynn me olhou com certa calmaria, apreensão, antes de se virar em outro corredor. Parei alguns segundos observando o corredor vazio antes de tentar pensar em alguma coisa para lidar com isso.
Amanheci bem nesses dois dias, eu precisava de algum motivo para não estar melhor?
Iria resolver pessoalmente, sem brigas e muito menos assassinatos. Passei a mão em minha calça preta e joguei o cabelo para trás, segui caminho e me virei no corredor atrás de Flynn. Mas foi em outro corpo que o meu esbarrou, deixando o diário de minha vó cair sobre meus pés.
Me abaixei rapidamente e ele já tinha sido pego.
— Não parece uma garota que gosta de diários. — Dominik falou erguendo-o para mim. — Estava te procurando.
— Me dê isto! — Agarrei o diário de sua mão e voltei o colocar em meu casaco de moletom erguendo minha cabeça para encará-lo.
— Como foi ontem? Está tudo bem? — Perguntou curioso e dei de ombros impaciente. — Vi seu avô ontem a noite.
O encarei curiosa desta vez, analisando-o atenta.
— Onde? — Perguntei fitando os olhos claros, ele resolveu tirar as lentes pretas.
— Vai parecer bem embaraçoso, mas foi em minha casa. — Falou e firmei meus olhos nele, espantada. — Já estava lá depois que cheguei da rua a noite.
— O que ele foi fazer lá? Você está bem? — Interroguei.
Dominik não respondeu, parecia não estar respirando. Meio assombrado.
Usava apenas uma calça preta, seu moletom horrível do Nirvana e a mochila do lado. Ele tinha amarrado o cabelo num coque para trás, com alguns fios soltos sobre o rosto e que eu estava ligeiramente e precisamente agoniada para tirá-los.
— Estou bem. — Ele deu ombros e se virou andando pelo corredor e fiquei ao seu lado seguindo-o. — Estavam conversando sobre algum terreno com minha tia, fica no fim da cidade. Tentei não me intrometer, mas não confio nele perto de minha única família viva. — Falou me olhando de canto de olho. — Sem ofensas.
— Não ofendeu. — Fui sincera. — Sabe que terreno é ou porque ele quer saber sobre isso?
— Disse que tinha uma coisa importante enterrada lá, era da família dele antes de ser leiloada há alguns anos. — Explicou. — Foi oque ouvi.
— Certo, e oque eu tenho a ver com essa história? — Perguntei calmamente e ouvi seu sorriso sacana que eu odiava ouvir.
— Não está curiosa para saber oque enterrou lá? — Virou-se para mim e parei no fim do corredor, para olhá-lo e tentar imaginar que tenha sido alguma brincadeira.
— Talvez tenha sido um corpo. — Falei abrindo um sorriso e ele me olhou perplexo. — Não está querendo virar convidado de honra do corpo, está? Creio que sendo de Peter, não seja algo como um baú de tesouros.
Talvez tenha o assustado, mas era a verdade. Se ele fosse tentar saber oque seja, Peter o mata. Por mais que eu queira muito saber oque meu avô anda escondendo de mim ultimamente, mas prefiro descobrir sozinha.
— Flynn ainda te vigia? — Perguntou virando o rosto e observando os alunos nas mesas do refeitório, procurando o jogador número um da escola. — Acha que ele desconfia de algo?
Me virei com raiva para ele e o encarei.
— Feche a droga da boca. — Ordenei e o mesmo assentiu desajeitado. — Sábado é a festa que Luke mencionou, vou perguntar pessoalmente oque ele quer comigo.
— Vou com você. — Sugeriu e neguei. — É uma festa, vou com você e te pego de moto em sua casa.
— Já disse que não preciso de você, quantas vezes terei que o mandar se afastar? — O encarei.
— É realmente oque quer? — Me olhou impaciente e assenti com um sorriso nos lábios. — Olha, vamos descobrir oque ele sabe e dou o fora. Combinado? — Ergueu a mão e olhei para seus dedos brancos. — Não irei falar mais com você, olhar pra você, descobrir coisas e nem te beijar mais.
Foi bem específico, como um discurso treinado. Ótimo, depois sem mortes inocentes em minhas mãos. Estando fora do meu caminho irá sobreviver mais alguns anos em vantagem.
— Não vou pegar em sua mão. — Eu disse e ele agarrou minha mão a apertando e a soltando novamente com o olhar esperto.
— A mão é o de menos depois do que já fez comigo. — Deu de ombros e cerei as mãos com raiva.
Odiava seus sarcasmos voluntários em conversas sérias. Odiava quase tudo oque ele fazia. Na verdade eu odiava tudo nele, até essa forma estranha de caminhar como se estivesse num filme de James Bond.
Segui para o outro lado do refeitório, observando Caroline sentada sozinha e me aproximei sentando-me ao seu lado. Ela me olhou atenta e abriu um sorriso me puxando para um abraço sem dizer simplesmente nada, apenas fiquei imóvel dentro dos braços finos da loira ao meu lado.
— O amigo está junto. — Falou me soltando e ela limpou a garganta observando Dominik tirar os fones e se sentando do outro lado da mesa, abrindo a mochila e pegando uma balinha escura colocando na boca.
Eu e Caroline o encaramos sérias e o mesmo deu de ombros indiferente voltando a observar os alunos.
— Não somos amigos. — Eu disse para Carol que assentiu sorridente, não acreditando em mim.
— Ela insiste nisso. — Dominik falou baixo e Caroline sorriu em divertimento. — Então, rainha do baile, irá para a festa amanhã?
Encarei Dominik e Caroline deu de ombros observando Flynn passar com seus amigos e se sentar numa mesa distante, virando seu rosto para a loira ao meu lado.
— Flynn disse que vai me levar. — Falou em um tom triste. — Disse que tinha namorada, que somos apenas amigos.
— Ele falou? — Perguntei desacreditada, até porque sei que ele não tinha. Pelo menos da cidade ou da escola essa garota não era. — E de onde é esta mulher que não conheço?
— Diz como se conhecesse todos da cidade. — Carol falou magoada. — Mas eu supero, aquele garoto não faz muito meu tipo mesmo.
— Até parece. — Dominik comentou e olhei pra ele com o rosto fechado, reprovando-o. — Olha, existem caras mais interessantes que aquele monte de enérgico. — Tentou consolar Carol e ela abriu um sorriso em agradecimento, passando a mão nos cachos loiros.
— Tipo você? Um fumante de nicotina virgem? — Ela perguntou friamente novamente e tentei segurar o sorriso, dessa vez não pude aguentar.
Dominik me olhou com repulsa, mas não liguei. Caroline observou o garoto do outro lado da mesa e deu de ombros se levantando e piscando para mim antes de sair. Ela desfilou passando por ele, com suas pernas grandes e a saia curta sacudindo.
Flynn virou o olhar para mim e me fitou por alguns segundos, se levantando devagar e dando a total certeza de que ele queria saber alguma coisa. Naquele momento eu soube que Dominik havia falado a verdade, ele sabia que eu matei Bonnie e estava pronto para fazer alguma coisa e eu estava esperando pra isso.
Me levantei e o olhei virar as costas, indo em direção de Caroline. Peter não sabe que realmente tenho amiga, mas não deixarei Flynn Miller ao lado dela.
— Rose... — Dominik chamou segurando meu braço e percebi que alguns alunos estavam observando meu comportamento estranho, virei meu corpo para o garoto o meu lado. — O que foi?
Não achei que fosse dizer essas palavras, mas seria a verdade.
— Preciso da sua ajuda.
Demorei mais publiquei. Beijos no centro da testa.
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