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⚠️ Este capítulo está sujeito a fazer você chorar rios, cuidado! ⚠️

Chegamos ao fim da primeira fase pessoal, confesso que se tornou mais longa do que imaginei que seria, mas estou feliz com o desenvolvimento :)

Talvez depois daqui, eu tire um tempinho de folga, mereço né?... Na verdade, eu vou tirar umas semanas para reler toda a primeira fase, corrigir erros que deixei passar e começar a programar o roteiro da segunda fase, acho eu que será relativamente menor que a primeira, e também dedicar um tempinho a um novo projeto aí rs...😏

Teremos novos personagens, casais novos, hehehe... puta que pariu, eu to muito animada!

Se vocês forem bonzinhos comigo, e esse capitulo tiver muitos votos e muitos comentários, hoje ou amanhã sai uma surpresinha muito legal para iniciar a segunda fase 😁

É isso, boa leitura! Amo vocês!❤️


✩。:•.───── ❁ ❁ ─────.•:。✩


Jimin não tinha certeza de onde estava, nem por quanto tempo correu.

Ele só sabia que agora estava longe de parecer aquele príncipe coroado rei do baile de formatura. Porque agora, seu cabelo estava espalhado para os lados, o terno que gerou tanta discussão estava abarrotado e um pouco sujo, a maquiagem na região dos olhos estava borrada e escorria pelas lágrimas.

O loiro só correu, correu tanto que em determinado momento acabou tropeçando e caindo no gramado de alguma casa, mas levantou e continuou correndo, ele era bom nisso, para longe de tudo e todos. E só parou, quando sentiu as pernas falhando e pulmões prestes a estourar pela falta de ar, causando um desconforto sem igual em seu peito e garganta.

Tudo ao redor estava embaçado e girando, mas ele não havia bebido nada naquela noite.

Jimin deixou os joelhos encostarem no chão assim que percebeu onde estava. A estrada de terra que circulava ao redor da montanha de Busan, tinha a vista da cidade inteira à sua frente, uma árvore solitária ao lado, e um conjunto de pedras imensas em suas costas.

Ah não...

Aquele havia sido um dos muitos lugares em que tinha lembranças compartilhadas com Jungkook, muitas delas, que lhe causavam certo enjoo agora. Parte de seu coração quebrado, queria voltar para lá e escutar o que o moreno tinha a dizer, olhar nos olhos dele e escutar o "eu te amo" que milhares de vezes pareceu ser sincero. Mas a outra parte, queria fugir para longe de todos, queria gritar e espernear aos quatro ventos o quanto estava machucado.

Ele se sentia um tolo, um completo idiota. Jimin sempre soube da fama de Jungkook e mesmo assim se deixou levar. Essa era sua principal revolta, se ele fosse mais esperto, um simples não evitaria tudo o que estava passando agora, sozinho.

Jimin deveria encarar a realidade, ele não tinha amigos de verdade e não tinha nada de especial que fizesse Jungkook se apaixonar por ele sem ter uma armação por trás. A porra de uma aposta! Ele apostou seus sentimentos e sua virgindade por um dinheiro que nem precisava! O que só deixava mais claro que tudo não passou de uma brincadeira.

Talvez ele devesse ser mais maduro e ter ficado para escutar. Mas, realmente, haveria mais alguma coisa para escutar?

Jungkook não havia negado as acusações de Jungsoo e nem de Sana, o que significava com toda certeza que era tudo verdade, tudo o que eles disseram...

Ele fechou os olhos, procurava normalizar a respiração ou acabaria desmaiando. Todos sabiam... Todos sabiam, menos ele...

— Você, realmente, é a última pessoa que eu esperava encontrar. — uma voz soou atrás de si, mas apesar do susto, Jimin virou a cabeça lentamente para observar quem era.

— O que você faz aqui? — ele perguntou, de cenho franzido e surpreso.

— O mesmo que você, fugindo. — tombou a cabeça para o lado. — Nós nos tornamos bons nisso quando precisamos.

— Não estou fugindo!

— Aham, isso explica a roupa suja e você subir a estrada correndo feito um verdadeiro maluco. — pausa. — Não deveria estar curtindo seu baile, majestade?

— Sooyoung...

Ele observou quando a garota desceu da grande pedra em que estava sentada antes, ela caminhou até estar perto dele lateralmente, sempre olhando para a vista a cidade a frente deles, então se levantou também.

Olhando-a de perfil, Jimin observou como ela estava vestida, com um conjunto de moletom cinza e tênis, os cabelos amarrados em um rabo de cavalo e nenhuma maquiagem. Ela não parecia sequer ter ido ao baile.

Jimin arregalou os olhos quando ela levou um baseado até os lábios, tragando a fumaça e soltando para cima com maestria, enfiando a outra mão livre no bolso do casaco.

— O que você faz aqui? — ele tornou a perguntar, a voz saindo estranha pela corrida de antes.

Sooyoung suspirou, soltando mais um pouco de fumaça pelo ar.

— Dando uma olhada nesta cidade pela última vez, e você? — ela ainda não o olhava.

Jimin demorou para responder, nem ele mesmo sabia porque estava ali, não prestou atenção em como chegou, ele não tinha motivos para frequentar aquele lugar, simplesmente foi, com seus instintos lhe guiando. O loiro também estava confuso com a aparição da garota naquele lugar, não parecia ser o tipo de ambiente em que ela estaria, ainda mais sozinha, fora que parecia uma triste e amarga coincidência.

— Eu não sei... — mirou o chão.

Sooyoung o olhou de perto pela primeira vez, estudando desde a maquiagem borrada e o nariz vermelho até a roupa destruída e os olhos nublados, inchados e sem vida do menino.

Ela quase sentiu vontade de rir, não dele, porque não havia nada engraçado nele, mas sim da situação.

De todas as pessoas do mundo, porque ele veio justamente até ela, mesmo que involuntariamente?

— Fiquei sabendo do que rolou no baile, o vídeo da sua amiga brigando já está rodando. — ela tragou mais uma vez. — Você deve estar péssimo.

— E você deve estar feliz. — ele murmurou, perdido.

Foi péssimo admitir, mas as poucas palavras que estava trocando Sooyoung silenciaram as vozes em sua cabeça, mesmo que minimamente, e já era o suficiente para fazê-lo parar de chorar.

— E porque acha isso?

Jimin riu sem humor.

— Você não me queria com ele, lembra? Até mesmo mandou a sua amiga me dar um recado no ponto de ônibus, para me manter afastado dele. — suspirou. — Eu deveria ter ouvido o conselho.

— É, deveria. — ela concordou. — Mas eu nunca mandei Sana te entregar recado algum.

Jimin franziu o cenho, confuso.

— O quê!?

— Sana e eu nunca fomos amigas de verdade, nós andávamos juntas socialmente. — deu de ombros. — Provavelmente estava marcando território em meu nome. — riu. — Ela realmente acredita que eu não sei que ela e o Jeon transaram pelas minhas costas. Patética. — tragou o cigarro.

O loiro abriu a boca, surpreso.

— V-Você sempre soube? De tudo? — observou ela de perfil.

— De todas as vezes que o Jeon fodeu outra pessoa enquanto me mantinha por perto? — foi uma pergunta retórica. — Cada uma delas, todas às vezes.

Jimin estava surpreso com o quando a garota falava aquilo com uma facilidade que ele não conseguiria, ela parecia tão conformada em ter sido trocada tantas vezes que sequer conseguia se importar de fato. E então, outra pergunta lhe passou pela mente. Será que Jungkook havia feito o mesmo consigo?

— Assim como eu também sabia que ele ficaria com você quando me dispensou por completo. — olhou para Jimin, fazendo-o virar o rosto para ela também. — Aliás, peço desculpa pelas coisas que disse sobre você naquele dia, mesmo que não tenha ouvido.

O garoto não entendia porque raios aquele momento estava acontecendo entre os dois. Porquê? Sooyoung era a última pessoa que ele gostaria de ver, não devido a Jungkook, mas por falta de intimidade.

Por outro lado, estar ao lado dela o fez tomar o controle de seus pensamentos e ações novamente, quase como um puxão de volta para a realidade onde ele não poderia fugir, que deveria tomar uma atitude e escolha. Estava recente, não fazia nem uma hora completa que havia descoberto toda a farsa que era seu namoro, mas Jimin tinha que se manter estável, não poderia fazer uma besteira.

E falar com Sooyoung, incrivelmente, estava ajudando.

— Porque está pedindo desculpa? — ele indagou. — Você me odeia, lembra? Não vai com a minha cara desde, sei lá, desde sempre.

Ela riu novamente, soltando fumaça pelo nariz.

— Eu não odeio você. — negou, com a voz calma. — Não gosto de você particularmente, mas... o que nós tínhamos era uma rivalidade comum entre estudantes, e eu sempre detestei a ideia de você ser mais inteligente que eu.

— Somente isso? Tem certeza?

A morena suspirou.

— Ok, fiquei com uma pequena inveja. — ela balançou a cabeça. — Mas não de você, e sim do seu relacionamento. Eu queria aquilo mais do que tudo.

Jimin balançou a cabeça em negação.

— Você não tem porque sentir inveja daquilo, era tudo mentira.

— Sendo mentira ou não, pouco importa. Você pelo menos foi assumido em público, coisa que nunca me aconteceu. — expressou um sorriso de canto. — O primeiro cara por quem me apaixonei me dispensou e assumiu outra depois de eu me recusar a transar com ele. O segundo a mesma coisa. E então o Jeon apareceu... — tragou mais um pouco. — O cara que eu não estava disposta a perder porque o amava de verdade. O primeiro cara a quem me entreguei, a quem fiz de tudo e mais um pouco para agradar, para conseguir um lugar na vida dele. — ela olhou para Jimin novamente. — E então, você chegou com esses seus olhos azuis, esse rostinho de anjo e conseguiu isso com a maior facilidade. — riu. — Acredito que qualquer um ficaria com inveja, não concorda?

Jimin balançou a cabeça para cima e para baixo, sem nem perceber.

Então entendeu, finalmente. Ele e Sooyoung não eram inimigos de verdade, não se odiavam. Na verdade, eles tinham mais em comum do que esperavam, a começar pelo fato de que foram machucados pela mesma pessoa. Se entregaram ao mesmo garoto e no final, acabaram da mesma forma, no mesmo lugar.

— Que irônico, não acha? Nós dois aqui... — ela leu seus pensamentos. — Parece até brincadeira do universo. — ambos se olharam. — Acabou que não somos muito diferentes, não é?

Jimin olhou para o rosto bonito dela, no pequeno sorriso de canto que ela esboçava, porque não havia motivo para sorrir de verdade naquela situação. O olhar tranquilo enquanto parecia guardar uma tempestade de emoções controladas, escondidas através de uma máscara que ela usava para parecer bem com tudo o que lhe aconteceu nos últimos meses, trocada constantemente pelas pessoas que gostava, era um peso ruim demais para se carregar no peito.

Ela estava tentando ser gentil, simpatizando com sua situação, ou era o que aparentava, Jimin não sabia.

No final, não guardava nenhuma mágoa sequer dela, nem pelos olhares de desprezo, nem pelas provocações bestas, nada disso. Era como se estivesse conhecendo uma nova pessoa.

— É, parece que sim. — sussurrou.

Alguns minutos se passaram entre ambos, Jimin podia ouvir o som do cigarro queimando a cada tragada da garota, o vento forte levando a fumaça que ela soltava para longe do mesmo modo que balançava os cabelos dos dois para várias direções. Quando ela começou a fumar?

— Sobre o que era a aposta? — ela perguntou depois de um tempo. — O motivo não foi explícito no grupo da escola.

Jimin sentiu novamente uma pontada no coração ao ouvir aquela palavra, mas controlou as lágrimas. Que ótimo! Isso já circulava nos grupos de mensagens.

— Que ele conseguiria transar comigo até o baile de formatura. — soltou o ar. — Ou me convencer a namorar com ele, não tenho certeza. — olhou para o céu escuro e com poucas estrelas acima de suas cabeças, amargo e se sentindo patético ao falar aquilo em voz alta. — De qualquer forma, não importa, ele cumpriu das duas maneiras.

Ouviu um riso nasal vindo de Sooyoung, quando a olhou, ela balançava a cabeça de um lado para o outro, em negação.

— É, isso é a cara do Jungkook. — foi o que ela disse, mas depois de alguns segundos, continuou a falar. — Olha Jimin, não sou boa para consolar, mas... o que eu posso te dizer é que, mesmo que agora pareça o fim do mundo e a dor seja insuportável, a gente se acostuma com o tempo, garanto pra você.

Não era exatamente o que ele queria ouvir, mas teve o efeito minimamente parecido. Na realidade, Jimin não queria receber palavras de piedade de ninguém agora.

— Uhum. — passado alguns segundos, ele tomou coragem para perguntar. — Você acha que ele... ficou com outras pessoas?

— Acredito que não. — respondeu sincera. — Mas não posso te garantir nada. Mas eu acredito que nem tudo o que vocês tinham era mentira. — o olhou. — Não dá pra fingir aquele tipo de coisa, Jimin. Falo sério.

Ele tinha o mesmo pensamento quando duvidava do sentimento que Jungkook dizia ter por ele quando ainda estavam se conhecendo, mas agora Jimin já não tinha certeza de mais nada.

— Você disse que veio ver a cidade pela última vez, porquê? — mudou de assunto.

Sooyoung suspirou, dando uma última tragada longa no baseado e logo jogando a bituca no chão, pisando levemente.

— Estou saindo da cidade amanhã. — declarou. — Meus pais se separaram, e eu decidi ficar com meu tio em Seul. — resumiu. — Vou fazer medicina e tentar ser minimamente feliz, não há nada aqui pra mim.

Jimin assentiu, ele compreendia totalmente. Depois de tudo o que Sooyoung havia presenciado, seria normal querer ir embora dali.

— Se um dia for pra lá, procure por mim, vou adorar tomar um café com você. — sorriu como quem diz: "é sério!" E então pôs ambas as mãos no bolso do moletom, virando-se de costas e caminhando para longe de Jimin. — Vá pra casa loirinho, é o melhor a se fazer, tome um banho e tente dormir, amanhã vai ser pior, eu garanto.

O loiro quase achou graça de suas palavras, mas estava machucado demais para tal feito.

— Sooyoung? — ele a chamou, fazendo-a virar o pescoço, já estavam a uns dez passos de distância. — Me desculpe, e obrigado.

Ela sorriu.

— O mesmo pra você, loiro.

E assim ela se foi, deixando o menino sozinho ali, mas não por muito tempo.

Jimin andou anestesiado até chegar em casa, e durante todo o caminho até lá, ele recebeu olhares curiosos das pessoas que passavam ao redor, afinal, não é todo dia que um garoto anda por aí com um terno bonito e bagunçado ao mesmo tempo.

Ele tentava não pensar no que acontecera, nas diversas situações que enfrentou em menos de duas horas, mas falhou miseravelmente.


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Jina estava cansada, mas estava feliz.

Acabara de ver seu único filho finalmente se formar no ensino médio com direito a medalha de melhor aluno, sinceramente, não existia nada no mundo que a fizesse mais feliz do que ver o sorriso no rosto de Jimin quando ele subiu naquele palco para pegar o diploma. Ele tinha um futuro brilhante pela frente, disso nunca teve dúvidas.

Mas não tinha tanta certeza se continuaria sendo do jeito que imaginava.

No táxi de volta para casa, após os recém-formados irem para o baile, a mulher pensou em tudo e nada ao mesmo tempo. Ela, mais do que ninguém, compreendia o que Jimin estava sentindo e o porquê de suas decisões mudarem de uma hora para outra. Ele podia negar o quando quisesse, mas Jeon Jungkook podia ser colocado como 90% dos motivos que Jimin tinha para continuar em Busan.

Isso não era um absurdo, realmente. Quer dizer, a vida dele não se transformaria em um pesadelo se continuassem aqui, porém, seria pouco comparado aos benefícios que teria em Seul, não só a faculdade, obviamente.

Jina também gostaria de se mudar por conta do trabalho, os hospitais de Seul tem muitos funcionários dispostos, não seria um trabalho pesado com plantões que mudam de horário a todo momento, como o emprego em que estava agora.

A mulher havia dado uma pequena pausa no planejamento de mudança, quer dizer, a sua transferência de cargo para outra cidade já estava pronta, bastava assinar. Ela e Jimin possuíam economias o suficiente para se manterem na cidade até achar uma casa.

Bom, as coisas mudaram, e pelo visto eles ainda continuariam em Busan, porque Jina não ousaria deixar o filho sozinho aqui.

Ela pagou o motorista e agradeceu com um gesto fraco antes de sair do carro, já retirando as chaves da bolsa para abrir o portão da residência.

— Fiquei sabendo que seu filho se formou hoje. — ela escutou a voz repuxada soar atrás de si, e não precisava olhar para saber quem era.

Jina suspirou, cansada.

— Boa noite pra senhora também, Dona Lee. E sim, foi isso mesmo. — ela virou-se, juntando as mãos na frente do corpo para forçar um sorriso.

— Deve estar orgulhosa, se não fosse por ele namorar um garoto, seria um menino perfeito. — Jina fechou o sorriso na hora, lambendo os lábios e ficando séria, se preparando para rebater os insultos dela. — Mas eu entendo, sabe? Não se pode perder as oportunidades, ainda mais se isso pode fazer vocês mudarem de vida.

Franziu as sobrancelhas.

— Do que diabos está falando!? — ralhou.

— Que o seu filho soube bem como pescar um peixe grande, foi acabar justo com o primogênito do casal mais conhecido de Busan. — a velha tombou a cabeça para o lado, sorrindo com asco. — Que sorte a dele.

Jina respirou fundo.

— Vou poupar-me de um discussão com a senhora pelo meu bem e o seu, hoje foi um dia especial para mim, e não vai ser a sua língua venenosa que vai estragar isso. — ela se aproximou da senhora com firmeza. — Sugiro que cuide da própria vida, procure prestar atenção nas suas netas, sim? E deixe que do meu filho, cuido eu.

A senhora exibiu uma careta de raiva com a resposta dada pela mulher mais nova. Ela não gostava que falassem de suas netas, apesar de ter absoluta consciência de que elas não eram exatamente, "flor que se cheire".

Jina deu às costas, já sem paciência para continuar aquela conversa sem sentido, tinha mais o que fazer. Tirar os saltos que machucavam seus dedos, por exemplo.

— Seja mais organizada e pelo menos retire as cartas da caixa de correio. — ouviu novamente a voz da senhora Lee. — Está uma bagunça a dias, tamanho desleixo de vocês.

— As cartas são minhas ou suas? — não esperou a outra responder. — Exatamente, minhas! Então se puder, faça o favor de dar meia volta e sair da minha calçada, sim? Pare de fazer o trabalho de vigilância da rua, não está sendo paga pra ser fofoqueira, está?

Senhora Lee bufou, raivosa, dando as costas para atravessar a rua e ir para a própria casa. Jina suspirou aliviada, daria qualquer coisa para sair daquele bairro, já não aguentava mais.

Mesmo assim, foi até a caixa de correio lotada de papéis, alguns estavam até com as pontas para fora. Ela suspirou novamente, fazia mais de uma semana que não prestava atenção na correspondência, estava tão aérea que aquilo era a menor de suas preocupações.

Após retirar tudo, ela andou até a porta da casa, logo abrindo. Após ligar as luzes da sala e retirar os saltos, ela se jogou no sofá. Começando a passar os papéis um por um pelas mãos e jogando na mesa de centro.

Contas.

Contas.

Mais contas...

Propaganda de lavanderia...

Mais contas...

E então, aquela carta.

Seus olhos dobraram de tamanho. Ela pulou para frente, procurando ler novamente para garantir que não estava enlouquecendo.

Seoul National University.

Ok, a universidade mandou uma carta. Certo. O que eu faço!?

Era o que se passava na cabeça de Jina. Não mentiria, gostaria muito de abrir e ver o que tinha escrito ali por conta própria, mas não podia...

Aquele era um momento somente de Jimin, não poderia tirar isso dele. Foi ele quem estudou durante meses, foi ele quem fez a prova e foi ele quem trabalhou duro. O resultado daquela carta, era todo e completamente mérito dele. Seja uma recusa, ou aceitação.

O coração da mulher batia forte enquanto ela deixava a carta sobre a mesa, a olhando como se fosse um bicho de sete cabeças. Estava mais que curiosa. Elétrica, desejou que Jimin chegasse logo para que acabasse com aquela tortura.

Porra, aquilo podia mudar tudo...

O conteúdo daquela carta poderia acabar com a noite de Jimin, ou deixá-lo imensamente feliz, ou poderia simplesmente não fazer diferença, ela não sabia o que pensar sobre a reação dele, qualquer que fosse o resultado.

Jina deixou a carta ali, e foi em direção ao quarto. Retirou a maquiagem, os acessórios e partiu em direção ao banheiro, buscando tranquilizar-se.

Passando algumas horas, vestiu um pijama e decidiu esperar o filho chegar em casa. Mal notou quando adormeceu em sua cama enquanto mexia no celular.

O rosto de Jimin estava inexpressivo quando entrou em casa utilizando a chave no bolso da calça, jogando o celular no sofá sem olhar. Ele sentia como se estivesse parado no tempo, todos à sua volta seguiam e ele continuava retornando o momento em que implorou para que Jungkook o dissesse que era tudo mentira.

Mas ele não disse.

Ele não olhou em seus olhos e desmentiu as palavras de Jungsoo e de Sana. Ele não fez nada. Jungkook deixou que eles expressassem aquelas palavras maldosas em sua direção e o golpe não poderia ter sido mais pesado.

Jimin sentia dor, física e emocional. Ele sentia o coração latejar no peito e isso causou um desconforto insuportável em seu estômago. Ele também sentia os ossos doendo, a cabeça gritava com os pensamentos que surgiam.

Como pode ser tão estúpido ao pensar que ele gostava de você de verdade!?

Acredita que um cara como ele, que pode ter tudo e todos, acabaria se apaixonando por alguém como você?

Alguém feio, gordo, além de não ser da mesma classe social...

Jimin enfiou as mãos no cabelo enquanto caminhava para o banheiro, rangendo os dentes em raiva e dor, querendo desesperadamente calar as vozes que lhe sabotavam. E ele não sabia porquê. Suas inseguranças estavam à flor da pele e pareciam querer lhe engolir vivo, o consumindo com palavras maldosas enquanto o fazia lembrar das coisas bonitas que fez com Jungkook.

O primeiro beijo.

Ele lembrava do modo como o moreno o defendeu de Jungsoo na cozinha depois daquilo, porque não fez o mesmo agora?

A primeira vez que entraram na escola de mãos dadas... o modo como o beijava na frente de todos sem vergonha nenhuma.

Quando ele pulou os muros para invadir sua casa só porque queria vê-lo, e passou a tarde toda ali, o beijando, acariciando, conhecendo...

Quando o levou para furar as orelhas e o beijou enquanto fazia isso, como o fez gozar forte naquele no carro momentos depois.

O pedido de namoro...

A entrega da joia que era de sua avó...

A primeira vez...

A aliança de namoro que recebeu depois...

Todos os momentos íntimos que tiveram dentro e fora de uma cama, e foram muitos...

A final do campeonato em que se beijaram na frente de dezenas e mais dezenas de pessoas...

Os planos que fizeram para a faculdade juntos...

O modo como Jungkook o fodeu na noite passada, banhado em paixão...

Os toques...

Os beijos...

Tudo!

Jimin mal percebeu quando a bile lhe subiu a garganta, fazendo-o por pra fora tudo em seu estômago.

O vômito atingiu a pia do banheiro ao mesmo tempo que ele quase perdeu o controle das pernas. E não parou. O loiro pôs para fora todo o jantar daquela noite até que não restasse nada em seu estômago além de suco gástrico.

O gosto amargo que lhe causava enjoo se espalhou pelo paladar, ele arfou de dor quando o estômago continuou se contorcendo e apertando para fazê-lo vomitar novamente, mesmo já não tendo nada ali.

O cheiro azedo o fez torcer o nariz e ligar a torneira, limpando o interior da pia. Jimin fez uma concha com as mãos e jogou água no rosto, mas nada melhorou o mal-estar súbito que o tomou.

Retirou o blazer e os tênis às cegas. Não prestou atenção em qual registro estava ligando, por isso tremeu quando a água gelada atingiu seu corpo, de roupa e tudo, molhado a calça e a camisa branca que ficou transparente, evidenciando as marcas roxas e vermelhas espalhadas pelo tronco e costas feitas por Jungkook.

Jimin abaixou a cabeça e viu uma em cima de seu peitoral esquerdo. E de repente, todas elas queimaram. Talvez fosse algo psicológico, mas o loiro jurou que todas as marcas estavam queimando sua pele, elas coçam e pinicam, fazendo-o levar as unhas até as que alcançava e coçar com força.

Sentia nojo delas. Sentia nojo de si mesmo. Tudo o que ele queria era fugir do próprio corpo. O arrependimento nunca pareceu tão doloroso.

Sem pensar, retirou a camisa, buscou a bucha de banho e esfregou-a em si com força. Sua pele rapidamente se avermelhou, irritada e machucada, mas Jimin não ligou, ele continuou até perder a força nos braços e pernas.

— Porque... ? — sussurrou para o nada, a voz falhando e as lágrimas voltando.

Ele escorregou até o chão do banheiro, encostando-se na parede, a água gelada do chuveiro ainda caindo em sua cabeça e corpo, mas não podia se importar menos. Então ficou ali, a água escorrendo por seu corpo avermelhado e cabeça fodida. Abraçando os joelhos contra o peito e permanecendo quieto enquanto as lágrimas desciam e se misturavam à água fria.

Jimin desejou que a dor fosse embora junto a água que descia pelo ralo, mas sabia ser impossível.

Jeon o marcou para sempre, como ele disse que faria. Só não imaginava que uma coisa tão boa agora o fizesse vomitar.

Jina acordou com o som de chuveiro ligado, estranhando rapidamente, afinal, ela havia desligado quando terminou o banho.

Jimin havia chegado?

Olhando para seu celular, o relógio marcava 23:40.

O que foi mais estranho ainda, se fosse Jimin, não teria porque o baile acabar tão cedo, fora que ele provavelmente dormiria na casa de Jungkook.

Arrastando-se da cama, ela andou pelo corredor até parar em frente ao banheiro, onde o barulho era mais alto.

— Jimin, é você? Porque voltou tão cedo? — ela questionou, aproximando mais o rosto da porta para escutar, mas franziu o cenho quando segundos de passaram e não ouviu nada além da água caindo. — Filho? Tá tudo bem?

E de novo, sem respostas.

O coração de Jina começou a bater mais rápido, assustada, levou a mão à maçaneta para tentar abrir a porta. Estava trancada.

— Jimin! — ela gritou. — Abra essa porta, você está bem? Consegue me ouvir?

A cada segundo que se passava sem respostas, o desespero de Jina aumentava. E se ele escorregou e bateu a cabeça? Acidentes assim acontecem quando menos se espera. Foi o que ela pensou.

Apressada, tentou forçar a porta com o próprio corpo, o que não deu certo. Olhando para os lados, procurou qualquer coisa que pudesse usar para quebrar a maçaneta, mas não havia nada além dos quadros valiosos nas paredes.

Passando as mãos no cabelo, tomou a decisão que mais lhe parecia viável no momento.

— Ok, não fiz aulas de defesa pessoal atoa. — ela respirou fundo, se preparando.

Respirando fundo, ela afastou e abriu as pernas, mantendo os braços próximos ao tronco. No segundo seguinte, Jina moveu a perna de trás para frente e a flexionou enquanto o tronco girou para o lado. A porta de abriu em estrondo quando o chute certeiro e potente da mulher quebrou o trinco junto com a maçaneta, mas de longe, esse era o menor de seus problemas.

O que ela viu, a deixou espantada. O coração saiu pela boca quando viu o próprio filho sentado no chão do banheiro, praticamente desmaiado.

Jimin estava sentado com a cabeça encostada na parede lateral do banheiro de piso branco, as pernas juntas e esticadas no chão molhado cobertas pela calça preta. Jina pode ver os braços jogados ao lado do corpo, as marcas vermelhas de tanto esfregar, os lábios roxos de frio, assim como os dedos das mãos e dos pés.

Deus...

— Jimin! Pelo amor de Deus filho, o que houve com você!? — ela se abaixou na frente do garoto sem se importar em molhar o pijama, logo após desligar a água, tocando o rosto dele com as duas mãos. — Querido, por favor, acorde! Diga-me que está bem, por favor...

A mulher continuava a mexer no garoto inconsciente, procurando rastros de sangue na água. O que ela não sabia, era que Jimin sofreu uma crise de ansiedade no banheiro após se sentar no chão, ele ficou em silêncio, mas não soube como controlar o aperto em seus pulmões que o impediam de respirar, e então desmaiou.

Jina deitou o rosto sobre o peito nu dele, procurando ouvir os batimentos cardíacos, ela conseguiu ouvir, e deu um pequeno suspiro, ainda preocupada com a razão do filho permanecer inconsciente.

— Filho, consegue me ouvir? Sou eu, a mamãe... — ela sussurrou, implorando para ele acordar.

Jimin não ouviu a voz dela, mas sentiu o cheiro.

O cheiro de lar.

O cheiro que conseguia lhe confortar quando criança.

Então abriu os olhos.

Sua visão estava embaçada quando os abriu, mas conseguiram se focar poucos segundos depois, ele respirou como se estivesse sufocando, o que causou um susto em Jina.

— Jimin, olha pra mim! Tá sentindo dor? O que aconteceu? Porque está aqui? — ao ver a expressão de preocupação no rosto de sua mãe, Jimin teve os olhos mais uma vez inundados pelas lágrimas, ele não disse nada, apenas se agarrou a sua mãe como o mundo dependesse disso. — Eu to aqui, meu amor...

Ele se permitiu chorar outra vez.

— E-Era tudo mentira mãe! A senhora tinha razão, eu nunca deveria ter me aproximado do Jungkook! — Jina arregalou os olhos ao escutar aquilo. — Era tudo uma farsa! E-Ele apostou com os amigos que conseguiria ficar comigo e cumpriu! Mentiu pra mim! Estava fingindo quando dizia que me amava e eu me sinto um completo idiota por ter acreditado nisso!

Enquanto Jimin despejava toda sua dor e frustração no ombro da mãe, Jina só conseguia pensar que geralmente se orgulhava de estar sempre certa, mas naquele momento, ela nunca quis tanto estar errada a respeito de Jungkook.

— Eu sinto muito, querido... — foi a única coisa que conseguiu dizer-lhe, ainda processando o que havia escutado.

Apostou que ficaria com ele?

— E-Eu acreditei... eu pensei que talvez... — ele dizia entrecortado, se sentindo péssimo por ainda considerar haver algum sentimento da parte de Jungkook. — Ele mentiu... escondeu isso de mim esse tempo todo!

Jina sentiu as próprias lágrimas ameaçando vir quando escutou a voz quebrada de seu filho, porém, obrigou-se a empurrá-las de volta para o fundo. Tinha que ser forte por ele. Jimin não precisava de outra pessoa chorando ao seu lado ou palavras do tipo: "Eu avisei", não. Ele precisava de apoio, do apoio dela.

— Meu amor, eu sei que você está sentindo e sei dói muito, mas nós precisamos sair daqui, você está congelando. — disse assim que Jimin relaxou a aperto em torno de si. — Preciso da sua ajuda, você consegue.

Dito isso, ela buscou uma toalha limpa da gaveta da pia, reunindo as roupas que Jimin havia deixado no chão pelo caminho, jogando tudo no cesto de roupa suja, foi até o quarto na maior rapidez que conseguia, a fim de buscar roupas secas. Jina passou a toalha ao redor dos ombros dele e se virou para o dar privacidade, agora usando um conjunto de pijama qualquer, ela ajudou-o a caminhar até o quarto, deixando-o sentado na cama.

Trouxe um copo de água cheio e o obrigou a beber, logo depois buscou em seu próprio quarto lenços umedecidos de limpeza facial e se prontificou a limpar o rosto de Jimin com delicadeza para retirar o resto de maquiagem.

Durante todo o processo, o loiro permaneceu quieto e com um olhar perdido, vez ou outra, uma lágrima quente descia por um de seus olhos, fazendo o coração de Jina se partir por vê-lo daquela maneira.

— Quer me contar o que aconteceu? — perguntou quando se sentou ao lado dele na cama, Jimin fez que sim com a cabeça. — Estou aqui.

— Eu fui coroado rei do baile. — foi a primeira informação que deu, fazendo Jina abrir os olhos, surpresa. — Depois disso, Sana veio me desejar parabéns, disse que eu era maduro por não deixar a maneira como meu namoro começou afetar o resto. Eu não fazia ideia do que ela estava falando. Mas aí apareceu o Jungsoo. E-Ele disse coisas horríveis. Disse que o Jungkook apostou que conseguiria me levar pra cama até o baile de formatura e todos sabiam mãe! — ele virou o rosto choroso para ela, que estudava tudo atentamente. — Todos sabiam, menos eu. Eu pedi pro Jungkook desmentir, que tudo aquilo não era verdade e ele nem sequer olhou pra mim!

Jina sentiu a súbita vontade de agarrar o pescoço de Jungkook e torcer, porém, estaria disperdiçando seu réu primário. Depois de alguns segundos, refletiu sobre tudo o que havia visto do rapaz até agora. Porra!... ela podia jurar que aquele moleque amava seu filho, que ele falava sério quando dizia que cuidaria dele para sempre, que o colocaria acima de qualquer prioridade e o faria feliz.

Então... porquê?

Ela se fazia a mesma pergunta para a qual Jimin não tinha resposta. A conversa que teve com Jeon a um tempo atrás a deixou sem dúvida que o amor deles era um sentimento que não adiantaria lutar contra, mas agora, tudo o que podia sentir era raiva do garoto, mesmo que o sentimento fosse verdadeiro naquele tempo, nada justifica o que ele havia feito com seu filho, ninguém merece ter a primeira vez apostada como se estivessem num leilão.

— Eu entendo. — segurou o rosto do filho. — Sei que está doendo, eu entendo de verdade meu amor, mas você precisa ser forte. O que aconteceu no banheiro, não pode voltar a acontecer, eu estaria tendo um ataque se você fosse parar no hospital. — olho no fundo das bolas azuis. — Você é forte, eu sei que é. Sei que vai conseguir parar e pensar melhor no que fazer amanhã de manhã. Precisa descansar.

Ela não precisava que Jimin dissesse mais nenhuma palavra a respeito do evento traumático que havia sido o baile de sua formatura. Jina melhor do que ninguém, entendia pelo que o filho estava passando.

— Não vou conseguir dormir. — ele advertiu, e talvez fosse realmente verdade.

Jimin podia ficar acordado a noite inteira derramando lágrimas e mais lágrimas enquanto os momentos com Jungkook continuavam aparecendo, lembrando-o de ter sido enganado pelo homem que amava.

Ele poderia ter tido outra crise de ansiedade, talvez pior que a primeira.

Isso se Jina não tivesse posto algumas gotas de calmante na água.

Ela sabia que ele precisava dormir, e isso não aconteceria tão cedo. Colocou uma quantidade o suficiente para fazê-lo dormir por, no mínimo, oito horas.

Depois de vinte minutos entre lágrimas e arfares doloridos, Jimin dormiu enquanto recebia um carinho nos cabelos. Ela o cobriu de maneira confortável com o edredom e apagou a luz.

Ela sabia que o dia seguinte seria pior.

✩。:•.───── ❁ ❁ ─────.•:。✩


Jungkook havia perdido a capacidade de respirar.

Ele observou Jimin correr para longe de si e até tentou ir atrás, porém foi impedido por Namjoon que o segurou pelos braços.

— Se acalma, cara! Não pode ir atrás dele agora, olha como você tá! — Namjoon disse alto atrás de si, ainda o segurando. — Vão acabar se machucando mais, fica calmo!

— Como posso me acalmar!? Você viu como ele está!? Eu tenho que ir, tenho que me explicar... — suas palavras foram morrendo com a força que investia em se livrar do aperto do amigo. — Eu não acredito nisso... porque justo agora?

Ele perguntou alto, se sentando na calçada perto do meio fio, completamente atordoado para permanecer em pé.

Se ele pudesse resumir tudo o que estava sentindo nesse momento, seria a palavra desespero. Tudo, tudo o que havia construído com Jimin foi derrubado como um castelo de cartas, apenas um simples sopro de Jungsoo e Sana foi o suficiente para levar tudo pelos ares.

Mas é isso que acontece quando a confiança é quebrada, o pilar que mantém uma relação estável, sem ela, nada mais vale a pena.

Muitos casais não conseguem entender isso, alguns continuam levando o relacionamento a frente sem confiar no parceiro, causando brigas, machucados e abalando o psicológico de um, ou dos dois.

Claro que Jungkook não pensava nisso no momento. Tudo o que ele queria era achar Jimin e mantê-lo perto, para assegurar de que o entenderia, que o escutaria e poderiam conversar sobre o que aconteceu. Mas o loiro saiu correndo, ele fugiu porque não aguentava ficar em sua presença, e isso só fazia seu coração sangrar ainda mais.

As últimas palavras que ele disse ainda ecoavam em sua cabeça.

"Eu tenho nojo de você agora..."

Não, isso não é verdade! Ele disse isso porque está magoado e com raiva de mim, nada disso é verdade!

Tentava convencer a si próprio, lidando com a situação da melhor maneira que podia, por dentro.

Por fora, ele era uma bagunça de lágrimas, arfares e respiração descontrolada. E nem era no bom sentido.

Seus amigos nunca o viram chorar, nem qualquer outra pessoa. Mas eles viram. Eles escutaram em silêncio o choro de Jungkook, porque realmente, o que falariam?

Eles sabiam, os três sabiam e, portanto, foram cúmplices. Nenhum deles alertou Jimin porque não passava de uma brincadeira sem importância. Isso não podia ter acabado de maneira pior. Porque agora Jimin sabia de tudo, não os considerava mais como amigos e nem a Jungkook como seu namorado, um laço foi quebrado e nada no momento poderia fazê-lo voltar.

Depois de Jeon, Namjoon era o que mais se sentia culpado. A ideia foi sua, ele começou com aquela aposta estúpida, o peso que sentiu ao ver as lágrimas que ajudou a causar em Jimin não poderia ser descrito.

Yoongi e Hoseok, mantinham-se de cabeça baixa, repassando em suas cabeças à confusão que foi responsável por levar embora toda a alegria daquela noite.

Jungkook tinha os dedos enterrados no próprio couro cabeludo, seu corpo tremendo com o que acabara de viver. Seu relacionamento estava acabado, pelo menos da parte de Jimin, ele deixou isso bem claro.

"Você e eu, a gente já era, ouviu bem? Nada do que você diga ou faça vai mudar isso! Nada!"

Por favor, não faz isso comigo agora... agora não.

Ele implorava em silêncio. Não sabia se para Jimin, para o universo ou para qualquer força superior em quem não acreditava. Seja quem for, se o carma existe ou não, Jungkook não podia estar mais arrependido em sua vida nesse momento, do mesmo jeito que Jimin havia aparecido em sua vida, ele foi arrastado para longe.

Era sua culpa, tudo sua culpa por não decidir contar antes. Talvez se Jimin tivesse ouvido por sua boca, a reação não seria tão ruim quanto foi, talvez ele o perdoasse, o entendesse...

As palavras de Jungsoo fizeram tudo parecer pior...

Jongsoo!

Incapaz de controlar-se, o moreno se pôs de pé e andou como um furacão de volta ao salão de baile. Seus olhos brilhando de raiva e o maxilar trincado, os dentes rangiam dentro da boca.

— Jungkook! — alguém gritou, mas não se virou para ver quem era.

Ele empurrou as portas com força utilizando os dois braços. Não foi difícil achar o desgraçado no meio daquelas pessoas, então marchou até ele como um touro.

Jungsoo só percebeu o que o atingiu quando suas costas bateram na parede, o copo de bebida em sua mão espalhou-se pelo chão, uma dor se espalhou pelo seu maxilar inteiro que o fez virar o rosto.

Um soco, dois socos, três socos...

Quando percebeu, estava cuspindo sangue no chão.

Jungkook não disse uma palavra, nem precisava, mas conseguiu ouvir as expressões de sustos dos formandos a sua volta por testemunhar outra briga, desta vez de dois homens.

Jungsoo não conseguiu se defender porque estava levando um soco após outro, um deles atingiu seu olho e supercílio, cortando. Mesmo com tudo isso, o moreno ainda arranjou forças para sorrir, os dentes manchados de sangue, foi o que fez Jungkook parar de acertá-lo.

— A-Acha mesmo que isso vai fazê-lo voltar pra você? Eu te avisei que o perderia...— com dificuldade para falar, ele começou. — Ele mesmo disse isso, o seu namorozinho de fachada acabou. Eu mesmo ordenei a Sana que contasse tudo, mas não podia perder esse momento—

Um soco potente no estômago fez o outro calar a boca subitamente, tão forte que Jungsoo sentiu uma ligeira vontade de vomitar, o ar fugindo de seus pulmões enquanto rangia os dentes em pura raiva.

A estrutura dos dois era praticamente igual, mas naquele momento, com Jungkook tomado pela raiva, ele estava dez vezes mais forte, com vontade de machucá-lo de verdade, não só cortes superficiais.

Jungkook agarrou a garganta do outro com força.

— Pode não fazê-lo voltar, mas me alivia saber que vou poder fechar essa sua boca. — sussurrou próximo. — Eu te avisei pra não se meter com ele, seu filho da puta! Não é você que não se cansa de ser convencido? Vamos ver como fica seu sorriso sem esses dentes. — o sorriso sádico que Jeon mostrou-lhe foi perturbador.

Jungsoo arregalou os olhos antes de sentir o punho certeiro na região dos dentes, a dor o deixou tonto por segundos antes de sentir algo pior.

O som do osso do nariz se partindo foi ouvido por ambos, e então o sangue começou a jorrar nas narinas antes dele cuspir dois pequenos pedacinhos dos dentes brancos. Foi somente isso que fez Jungkook se afastar um passo.

O outro levou as mãos ao próprio nariz quebrado pelo punho de Jungkook.

— Porra! Desgraçado! Filho de uma puta! — xingava o outro enquanto gemia de dor, se contorcendo na parede.

Hoseok, Yoongi e Namjoon chegaram logo atrás, mas já era tarde, não era preciso sequer afastar o amigo de Jungsoo, ele fez isso por conta própria.

— Isso é um último aviso. — decreta Jungkook, respirando fundo pelo esforço e falando entre dentes. — Eu relevei você ter fodido com meu pé na final, mas eu juro por tudo que é mais sagrado, se chegar perto dele novamente, eu mato você.

A ameaça foi ouvida por todos, e assim Jeon deu as costas e saiu do local. Os punhos doíam e estavam manchados de sangue, ele provavelmente seria acusado de agressão, mas estava pouco se fodendo para isso, ele precisava ir até Jimin...

— Qual a porra do seu problema, seu idiota!? — uma voz foi ouvida atrás de si. — Onde pensa que vai?

— Eu não tenho tempo pra isso agora Miranda, tenho que ir atrás dele... — Jeon se virou para ela, sinalizando para que não se aproximasse.

Ela riu.

— Ir atrás dele? Pode me dizer de onde tirou tanta coragem? — ela deu passos à frente. — Você tem alguma ideia do que fez com ele, Jungkook? Porque eu acho que não tem! — o moreno observou o corte na bochecha dela ainda sangrando e uma mancha vermelha na testa, o cabelo bagunçado, mas ela parecia não sentir nada, semelhante a si. O olhar brilhava com raiva.

— É tudo culpa minha, eu sei disso! Mas preciso falar com ele, eu preciso explicar...

— E vai explicar o quê? Que tudo que aquele filho da puta do Jungsoo falou é mentira? Porque eu acredito que você deveria ter feito isso lá dentro, quando ele te implorou por isso! Não tem nada pra explicar, porra!

Jungkook mal percebeu o empurrão que levou em seu peito, repassando as palavras dela em sua mente.

— Qual é a merda do problema de vocês!? E não digo a respeito do Jimin, mas na situação inteira! O que diabos vocês tinham na cabeça pra querer apostar uma noite com alguém! Ainda mais sabendo ser a primeira vez! — ela esperneou. — Você, o Yoongi... vocês são todos iguais, se divertem com o sofrimento alheio! Essa é a verdade e você sabe. Poderia ter sido com qualquer outra pessoa, bastava escolher, poderia ter sido comigo... — ela apontou pra si mesma, incrédula. — Me diz, isso é realmente divertido pra vocês? Esse tipo de brincadeira baixa? Eu tenho certeza de que não é a primeira vez que fazem uma atrocidade dessas!

— Não...

Jungkook respondeu trêmulo, sem saber o que dizer, afinal, ela estava certa sobre tudo.

Não era a primeira vez, mas foi a primeira vez que se apaixonou pela pessoa também. Ter sido com Jimin, não tornava a situação pior, porque tudo já era grotesco por si só. Não havia desculpas para esse tipo de atitude que Jungkook teve com Jimin ou com outras pessoas, apostar os sentimentos e sexo com alguém já era o suficiente. Uma coisa baixa e nojenta, imperdoável.

Contudo, dessa vez Jimin o fez pagar por todas às vezes que partiu o coração de alguém.

— Eu te ajudei a voltar com ele antes porque acreditava no seu sentimento, e agora isso? Que tipo de pessoa você é? — quando ergueu o olhar para a castanha, ela tinha lágrimas nos olhos, obviamente se sentindo mal por toda a situação do amigo. — Ele nunca vai te perdoar por isso...

— Mas eu preciso tentar! — conseguiu dizer, respirando rápido, negando as palavras dela em sua cabeça.

Ele vai me perdoar, ele precisa me perdoar...

— Não posso deixá-lo ir dessa maneira, eu o amo mais que tudo!

— Então, porque fez isso!?

— Isso tudo aconteceu antes de eu me apaixonar por ele! Eu desisti da aposta assim que soube que o amava, pergunte aos outros! — apontou rapidamente para o salão. — Eu o amo e vou atrás dele, não importa o que você diga, é meu namorado!

Miranda respirou fundo, olhando para o lado, ela queria acreditar nas palavras dele, queria mesmo, mas não dá.

— Eu te desejaria boa sorte. — o olhou novamente, cheia de rancor. — Mas não é o que eu desejo.

Jungkook deixou-se atingir pelas palavras dela, porque querendo ou não, ela era a melhor amiga do garoto por quem é perdidamente apaixonado. Miranda brigou por Jimin, o que significava que ela também o amava e o defenderia, de qualquer pessoa. Ela também havia avisado que se Jeon falhasse mais uma vez, se encarregaria de manter Jimin afastado de si, e temia que isso realmente acontecesse.

Pois Miranda é a única a quem Jimin vai escutar, porque ela é a única que não sabia da verdade.

Alguns segundos depois, Jeon já estava no carro, dirigindo o caminho até a casa de Jimin, estava longe, mas torcia que seu menino estivesse lá, e sobretudo, que o escutasse.

✩。:•.───── ❁ ❁ ─────.•:。✩


A porta do carro bateu com um estrondo quando o moreno saiu praticamente correndo até a varanda da casa simples. Já era tarde, a maioria das luzes apagadas e não sabia se Jimin estava realmente lá porque ele não respondeu às mensagens e não atendeu nenhuma das dez ligações que Jungkook havia feito pelo caminho até lá.

Respirando fundo, ele tomou coragem e bateu na porta algumas vezes com o punho, esperando alguns segundos em que seu coração gritava de ansiedade, mas não houve resposta, então bateu outra vez, um pouco mais forte.

Segundos depois, a porta abriu.

— Jina... — ele murmurou, e não precisou ser muito esperto para avaliar a expressão séria e carregada dela. Ela já sabia. — Por favor, eu sei que deve estar com muita raiva de mim agora, mas eu preciso falar com o Jimin, eu—

Jeon sequer conseguiu terminar a frase quando a palma dela atingiu fortemente seu rosto.

Foi um tapa forte, de mão fechada e estalou alto, fez o garoto virar o rosto para o lado oposto. Jungkook se calou, sentindo a ardência se espalhar pela bochecha esquerda. Ele mirou os próprios pés, engolindo em seco, mais do que somente envergonhado.

— Eu sabia que não deveria ter permitido que você se aproximasse do meu filho. — ela começou, Jeon sabia que ela estava olhando fixamente para seu rosto, porém, não conseguia encará-la de volta. — Você não é uma boa pessoa Jeon, não é mesmo, e eu não culpo o Jimin por acreditar nas coisas que fez por ele porque, sinceramente, até eu acreditei depois de um tempo.

Jungkook tentou, mas não conseguiu responder.

— Você não faz ideia do estrago que causou no Jimin com a besteira que fez. Eu só consigo me perguntar o porquê disso tudo, você não podia simplesmente seguir a sua vida sendo o "garoto problema" que sempre foi e poupar meu filho desse sofrimento? Não, você tinha que arrastá-lo para isso e eu juro por Deus que preferia que fosse em mim, você... — Jeon ergueu o olhar quando a observou se engasgar com as palavras, os olhos brilhando. — Ele... ele estava tão mal que...

O coração do jogador martelou contra o peito, sua mente entrou em alerta a respeito das últimas palavras de Jina.

— Ele o quê? O que aconteceu com o Jimin? — indagou a mulher que pôs a mão no rosto, respirando fundo em busca de controlar-se. — Ele está bem, não está? Por favor, me diz que ele está bem... — implorou.

— Ele está bem agora. — Jina disse após se recompor, voltando a expressão severa e o tom de voz cortante. — Não graças a você, obviamente. Escute garoto. — apontou-lhe o dedo. — Não quero ver você por aqui novamente, não quero você perto do meu filho, isso não é mais problema seu, entendeu bem? Dê meia volta e vá pra casa.

— Sra. Park, por favor, eu posso explicar tudo, se me deixar—

Ela o interrompeu.

— Se você ainda tem algum respeito por nós, vai fazer o que estou dizendo.

Jungkook engoliu em seco. Ok, não adiantava querer explicar para Deus e o mundo agora que suas intenções e sentimentos mudaram de figura quando se apaixonou por Jimin, não entenderiam. Tudo estava tão recente e todos estavam machucados, ele podia tentar o quanto quisesse, nada os faria escutá-lo, não nesse momento.

Teria de esperar.

Mas esperar era exatamente o que deixava seu coração à beira de um abismo. O medo de que Jimin nunca mais quisesse ouvi-lo e o rejeitasse, o expulsasse de uma vez por todas de sua vida, talvez pra sempre.

— Eu sinto muito pelo que fiz e digo isso com todo o coração. — a encarou, seriamente. — Mas não vou desistir do seu filho, não posso.

A mulher piscou, aturdida.

Sem mais nada a dizer entre os dois, o moreno deu três passos para trás e se virou para ir embora, entrando no carro e deixando a cabeça pender em cima do volante, batendo a testa no mesmo algumas vezes.

— Burro, burro... eu sou um completo idiota. — disse a si mesmo, apertando os olhos para espantar as lágrimas que ameaçavam vir. — Porque eu sou assim? Porque não fiz as coisas de um jeito diferente, porra!?

Estava ralhando consigo mesmo. Talvez fosse a única maneira de extravasar a raiva. Ele havia merecido o tapa que ganhou, e quanto mais pensava, mais tinha certeza de que merecia muito mais.

Jungkook havia estragado tudo...

✩。:•.───── ❁ ❁ ─────.•:。✩

A primeira manhã após um término de relacionamento costuma ser repleta de emoções intensas e um misto de sentimentos complexos. É como acordar em um mundo ligeiramente diferente, onde a ausência da pessoa que costumava fazer parte da sua vida é dolorosamente evidente. A sensação de perda pode ser avassaladora, como um vazio que se instala no peito.

Ao abrir os olhos, a lembrança da realidade se instala lentamente. Aquele momento fugaz, antes de a realidade se firmar completamente, pode ser uma breve pausa de alívio, mas logo a avalanche de emoções retorna. A cama que antes acomodava duas pessoas em noites alternadas parece agora excessivamente grande, ressaltando a ausência.

As primeiras horas da manhã são muitas vezes marcadas por uma sensação de atordoamento, quase como se estivesse sonhando acordado. Os pensamentos podem oscilar entre lembranças dos momentos compartilhados e tentativas de compreender como algo que parecia tão sólido pôde se desfazer tão rapidamente. Há uma luta entre aceitar o novo status e ansiar pela familiaridade do passado.

A rotina diária, que uma vez incluía mensagens de bom dia e planos conjuntos, parece perder seu brilho. As pequenas coisas, como pegar o telefone para compartilhar um pensamento ou planejar o dia juntos, agora ressoam com uma sensação de vazio. Cada ação que antes era partilhada se transforma em um lembrete doloroso da mudança.

A solidão pode ser particularmente intensa na primeira manhã pós-término. A ausência da presença física da pessoa, a voz dela, os abraços e as risadas compartilhadas, tudo isso cria um silêncio opressivo que parece preencher o espaço. O quarto, que costumava ser um refúgio de intimidade, agora pode parecer um lugar desolado e desprovido de calor.

A tristeza é inegável, e as lágrimas podem surgir sem aviso prévio. A saudade aperta o coração, e a incerteza do futuro se torna uma nuvem pesada sobre a mente. É uma manhã de reflexão profunda e, às vezes, de autocrítica, onde os "e se" e os "poderia ter" se misturam com a tristeza.

Apesar de toda a dor, essa primeira manhã após um término também pode ser um momento de crescimento e autorreflexão. Pode marcar o início de um processo de cura e aceitação. Com o tempo, o primeiro dia após o término se tornará um dos muitos passos no caminho em direção à recuperação emocional. Mesmo que a tristeza seja esmagadora, lembrar que o tempo tem a capacidade de curar e transformar é essencial para seguir em frente.

Jimin sentia tudo isso e mais...

Na realidade, ele não sabia o que pensar ou em qual direção seguir. Seu coração estava quebrado e talvez ele tenha perdido algumas partes no caminho para casa. Sua mente parecia uma terra estrangeira, o silêncio do quarto deixava seus pensamentos dez vezes mais altos, terminando de tortura-lo com memórias e ele desejou estar dormindo novamente, só para parar de pensar.

Jimin havia gastado todo o amor que guardou durante anos, e acabou sendo em vão. Nada valeu a pena, absolutamente nada.

Estava óbvio desde o começo que ele e Jungkook eram um jogo perdido.

— Querido? Está acordado? — Jina abriu a porta com cuidado, apenas para vê-lo já sentado na cama, embrulhado nos lençóis e olhando para o nada, parecia perdido. — Se sente mal?

— Defina mal.

A voz de Jimin saiu falha e quebradiça. Ele não sentia verdadeira vontade de falar nada, nem com sua mãe, mas não poderia deixar sua mãe sem respostas.

A mulher suspirou.

— Trouxe pra você. — pela visão periférica, Jimin a viu deixar um copo de suco de laranja e um prato com sanduíche na mesinha ao lado da cama, pouco antes de sentar-se próximo a si na cama. — Precisa por algo no estômago.

Ouviu um barulho que parecia ser impaciência vindo dele, mas revelou.

— Não tenho fome, mãe. — descartou ainda sem se mexer.

Como mãe, Jina sabia que Jimin não queria ficar sozinho, por mais que sua linguagem corporal dissesse exatamente o contrário. Poderia estar averso a companhia, mas sua mente necessitava de algum alívio para todos aqueles pensamentos.

— Sabe porquê eu nunca me casei novamente, Jimin?

O garoto franziu o cenho, confuso com o novo assunto.

— Porque a senhora nunca teria paciência com outro homem? — respondeu, o tom leve fez Jina rir um pouco.

— Também. Mas, principalmente, porque depois do seu pai, eu nunca consegui confiar em mais ninguém. — olhou para ele, se movendo até estar com as costas na parede e os joelhos abraçados contra o peito, na mesma posição que o filho. Lado a lado. — Você também teve grande impacto nisso, eu não queria qualquer um perto do meu filho. Mas, honestamente, eu não queria arriscar perder mais nada, então dispensei todos os caras que demonstravam interesse.

Jimin finalmente virou o rosto para ela. O loiro não fazia ideia dessa parte.

— Todos os caras? — levantou a sobrancelha. — Mãe, está falando sério?

— É, eu estou sim. — mostrou um sorriso convencido, olhando para frente.

— Mãe! Você poderia ter encontrado uma pessoa legal, que a faria feliz! Porque fez isso? Porque escolheu ficar sozinha todos esses anos?

Jina riu novamente.

— Eu me viro bem sozinha, Jimin, muito bem. — olhou para ele. — E talvez, só talvez, eu não queira o caos que é uma pessoa ter o meu coração em mãos.

O loiro retornou a pensar na sua situação, o que o fez arfar. Porra! Estava tão recente que a cada vez que o nome "Jungkook" aparecia em sua mente, seu coração trincava um pouco mais, e ele aparecia muitas vezes.

— Está dizendo que devo ficar sozinho também? — perguntou.

— Quero dizer exatamente o contrário, querido. — passou o braços pela parte de trás do pescoço dele, o puxando para um abraço que Jimin não resistiu em aceitar. Jina apoiou a queixo em sua cabeça, fazendo um carinho em sua pele exposta. — Eu sei, parece o fim do mundo, mas não é. — beijou os cabelos loiros. — Você decide como quer lidar com o que aconteceu, não estou dizendo para ignorar a dor, mas tente não se machucar fisicamente... — ela parou por um momento. — Você me assustou ontem, Jimin. Muito.

— Desculpe, mãe.

— Tudo bem. — afastou-se para o lado, querendo olhar nos olhos do filho. — Você é uma pessoa incrível e tem um coração de ouro, tenho certeza de que consegue superar. Isso se estiver certo que vocês não têm mais volta. — ficou sério. — Vai falar com ele?

Jimin virou o rosto para a parede novamente, ainda aconchegado no ombro da mãe.

O loiro pensou nisso desde que acordou, pensou se não deveria dar uma chance, se não deveria escutar. Porém, Jungkook podia justificar suas atitudes com os argumentos mais aceitáveis do mundo, ainda sim, Jimin não acreditaria nele. Não acreditaria em uma palavra que ele dissesse e se voltassem, não acreditaria nas atitudes dele, não acreditaria no seu amor.

Então, qual o sentido?

Voltar com Jeon depois do que aconteceu seria como dar um tiro no próprio pé. Pois, não haveria um só dia em que Jimin olhasse no rosto do moreno e não lembrasse do que ele fez.

A confiança quebrada faz isso, nada mais parece verdadeiro.

Ele balançou a cabeça para os lados, conformado e resoluto.

— Não tem o quê falar. — o tom saiu triste. — Não vamos voltar.

Jina olhou para frente, respirando fundo. Bom, estava na hora.

— Tenho uma coisa pra você. — ela disse, virando-se para alcançar o papel junto ao lanche na mesa de cabeceira. — A senhora Lee resolveu tirar a noite de ontem pra me aborrecer, mas pelo menos pra uma coisa ela serviu. — deixou a carta branco virada para baixo no colo de Jimin. — Isso estava no meio das contas.

Jina disfarçou bem a ansiedade e o nervosismo que sentia para que Jimin abrisse logo a carta.

O menino retirou preguiçosamente as mãos de dentro dos lençóis, pegando o papel e virando para cima, enfim lendo de onde veio.

Seoul National University.

E pela primeira vez desde ontem a noite, seu coração bateu mais forte por algo que não era tristeza, mas um sentimento que poderia ser tão perigoso quanto benéfico.

Esperança.

Jimin não estava mais motivado a ir para a mesma faculdade que Jungkook ou os outros, isso só servia para confirmar que ele só perdeu o interesse na sua faculdade dos sonhos pelo moreno. E agora, isso já não existia mais. Por reflexo, o loiro sentiu que aquela carta era sua última chance.

Sem demora, e com o coração pulando na garganta, ele abriu o envelope pela lateral, retirando a carta e começou a ler. Seus dedos tremiam e os olhos lacrimejavam de ansiedade.

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Seoul National University
Escritório de Admissões e Bolsas de Estudo
435, Gwanak-ro, Gwanak-gu, Seoul, Coreia do Sul
Tel: 82 123 456 789
Email: [email protected]

[11/12/2018]

Caro Park Jimin,

É com grande satisfação que lhe informamos que você foi selecionado(a) para receber a Bolsa de Estudos na Seoul National University. Parabéns! Essa conquista evidencia suas qualidades acadêmicas e potencial de sucesso no ensino superior.

Após uma detalhada revisão de seu histórico acadêmico e perfil, a Comissão de Admissões e Bolsas de Estudo ficou impressionada com o seu desempenho excepcional e seu compromisso com os estudos.

Sua dedicação, histórico acadêmico e potencial foram avaliados de forma abrangente. Seu empenho e realizações nos impressionaram, tornando-o(a) um candidato(a) excepcional para fazer parte da nossa comunidade acadêmica.

Como resultado, você foi escolhido(a) para receber nossa prestigiosa bolsa de estudos.

A bolsa de estudos cobrirá integralmente suas mensalidades e proporcionará apoio financeiro para as despesas de moradia e materiais acadêmicos durante todo o período de sua graduação na Universidade. Tenha a certeza de que estamos comprometidos em apoiá-lo(a) em sua jornada acadêmica e faremos o possível para garantir que você tenha todas as condições necessárias para alcançar o sucesso em seu curso.

A sua conquista reflete o seu excepcional compromisso com a excelência acadêmica e estamos confiantes de que você contribuirá significativamente para o ambiente de aprendizagem aqui na SNU. Acreditamos que você tem o potencial para se tornar um(a) líder influente em sua área de estudo e esperamos ansiosos para testemunhar seu progresso e realizações nos próximos anos.

Confirme sua aceitação desta bolsa de estudos enviando-nos um email: ([email protected]) até [16/12/2018], juntamente com as informações necessárias para iniciarmos os trâmites administrativos. Por favor, lembre-se de que esse prazo é estritamente obrigatório para garantir que os preparativos necessários possam ser concluídos antes do início do próximo semestre.

A partir do primeiro semestre de 2019, você estará matriculado(a) no programa de Arquitetura, um dos cursos mais renomados da nossa universidade. Esperamos que sua experiência na SNU seja enriquecedora e estimulante, oferecendo oportunidades para desenvolver seu conhecimento e habilidades enquanto se conecta com professores e colegas de todo o mundo.

Queremos parabenizá-lo(a) novamente por sua conquista e estamos muito empolgados em tê-lo(a) como parte de nossa comunidade acadêmica na Universidade. Caso necessite de qualquer informação adicional ou tenha alguma dúvida, sinta-se à vontade para entrar em contato conosco por meio do e-mail mencionado anteriormente.

Parabéns mais uma vez por sua conquista e estamos ansiosos para recebê-lo(a) em breve na Seoul National University!

Atenciosamente,

@Nara_JK 
Diretor(a) do Escritório de Admissões e Bolsas de Estudo.
Seoul National University.
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— Eu passei... — murmurou, passando os olhos pela folha, sem conseguir se mover de tamanha surpresa.

— Passou? — Jina pegou as folhas da mão dele, que nem ofereceu resistência, logo lendo. — Meu Deus, você passou!

Jimin quase não pode retribuir o abraço, estava surpreso e com uma mistura de sentimentos que não sabia como descrever, tanto que mal se mexeu.

— Querido, você passou! Conseguiu! Eu estou tão orgulhosa de você! — segurou o rosto dele entre as mão, beijando as bochechas. — Eu estava tão ansiosa pra abrir, mas você tinha esse direito, eu estou tão... — se deu conta da animação exacerbada, em cima da falta de reação do filho. — Quer dizer... eu estou feliz, mas... e você? O que achou disso?

— Eu...

Era certo que ele ainda não digeriu a informação completamente, por isso sequer sabia como reagir aquela notícia.

Porra! As chances eram de um em um milhão de estudantes espalhados pela Coreia, fora os estrangeiros que também gostariam de entrar, e ele agora era dono de uma das quinze vagas destinadas somente aos homens.

Jimin perdeu toda e qualquer emoção boa somente a algumas horas, e novamente, estava sendo jogado no meio de um mar de reviravoltas sem qualquer preparo.

A menos de doze horas atrás, Jimin tinha absolutamente tudo programado para sua vida, mas de repente, tudo foi por água abaixo. Seu namoro acabou, e agora a faculdade dos sonhos lhe enviara uma carta deixando claro que o queriam estudando lá.

Subitamente, não existia nada mais importante que aquilo.

Não havia mais nada que o prendesse nesta cidade, e ele poderia deixar para chorar por Jungkook estudando onde sempre quis.

— Eu vou. — a voz saiu baixa, porém firme e decidida, Jimin ainda parecia perdido no tempo, tentando administrar as próprias emoções.

Jina abriu um pequeno sorriso, mas sinceramente, nem ela mesma sabia o que sentir em relação à escolha do filho, ou o quanto ela era importante, nem em como uma decisão que antes só teria importância para ela e Jimin, geraria proporções catastróficas para outras.

✩。:•.───── ❁ ❁ ─────.•:。✩

— Sra. Park eu sei que ele provavelmente não quer ver ninguém, mas eu preciso muito falar com o Jimin!

Sentado em sua cama, com o notebook sob as pernas, Jimin ouviu uma voz feminina soou alta logo após a porta ser aberta por sua mãe. Ele não precisava sair para identificar quem seria.

— Miranda, eu acho que esse não é o melhor momento para...

A voz de Jina ficou mais baixa quando o loiro se concentrou nas memórias de ontem à noite, quando Miranda o disse que não sabia sobre a aposta e logo depois se meteu em uma briga com Sana, depois disso, não prestou mais atenção nela.

Jimin duvidava de que ela não sabia, mas porra, qual seria o outro motivo que a faria brigar com outra garota por si?

Alguma explicação deveria ter.

— Mãe, deixa ela entrar, por favor. — ele disse assim que saiu do quarto e apareceu na entrada do corredor.

Miranda moveu a cabeça para o lado, querendo vê-lo melhor. Foi instintivo a maneira como ela andou rápido até o loiro, abrindo os braços e passando pelos ombros cobertos dele, o apertando em um abraço.

Durante o resto da manhã e metade da tarde, Jimin soube deixar sob controle a tristeza enroscada em seu coração, mas agora, preso ao abraço de Miranda, ele sentiu as lágrimas voltando. O garoto retribuiu, passando os braços pelas costas dela, deixando o rosto entre o pescoço e ombro.

— Eu sinto muito mesmo, Ji... — murmurou contra a lateral do rosto dele e suspirou. — Eu juro pra você que eu não sabia, eu...

— Shii, eu sei, tá tudo bem. — o loiro mentiu, não estava nada bem. Mas de alguma forma a presença dela melhorou um pouco, e algo interior o dizia para confiar nela.

— Acho melhor vocês conversarem no quarto. — Jina pontuou, vendo-os se separarem. — Me chamem se precisarem.

Ambos seguiram pelo corredor, de modo mais quieto do que jamais foram.

Alguns minutos depois, Miranda e Jimin estavam sentados frente a frente no chão do quarto, as pernas cruzadas e encolhidas, se olhavam as expressões um tanto neutras, mas os olhares falavam mais. Enquanto Jimin teria as pálpebras um tanto caídas pela melancolia que o cercava, as íris azuis antes tão brilhantes permaneciam nubladas. Miranda captou cada vibração que o cercava e se odiou por não ter ideia de como ajudar. Ela tinha o olhar pensativo e curioso, gostaria de saber o que se passava na mente do amigo.

— Não quero ser idiota e perguntar se está bem, porque da pra ver que não. — ela começou, recebendo um balançar de cabeça do loiro. — Estava preocupada com você, de verdade. Não respondeu a nenhuma das mensagens e eu nem esperava que o fizesse, você... por onde andou? Depois do que aconteceu...

— Corri até uma das montanhas e... — decidiu não contar sobre a conversa com Sooyoung, ainda era estranho até mesmo para si. — Pra ser sincero, não sei como cheguei lá e depois andei até chegar em casa.

Optou por não dizer nada sobre o que aconteceu no banheiro também.

— Eu pensei em te procurar, mas... acredito que não gostaria de falar com ninguém naquele momento. — observou os olhos de Jimin se desviarem para os lados.

Mas sem conseguir evitá-la de verdade, Jimin voltou os olhos para a amiga, observando o conjunto de moletom preto e tênis, cabelo amarrado em um rabo de cavalo folgado. Isso até seus olhos enxergarem de verdade o rosto da menina à sua frente.

À medida que observava mais, um vinco ia se formando no meio das sobrancelhas. Apertou os lábios em uma linha fina.

— O quê aconteceu com seu rosto!? — ergueu a mão e tocou o rosto dela, observando o corte na bochecha direita, ao redor estava avermelhado, assim como o pequeno hematoma na testa acima da sobrancelha.

— Ah... isso foi da briga, mas não se preocupe, eu deixei aquela piranha mal amada bem pior, acho que um olho roxo não a favorece em nada. — a castanha soltou um riso mínimo ao lembrar dos gritos que Sana ao acertá-la diversas vezes.

Jimin arregalou os olhos.

— Você não deveria ter feito isso! Já pensou se ela faz um B.O contra você por agressão? — ele comentou, exacerbado.

Ela deu de ombros.

— Não daria em nada, pareceria uma simples briga de adolescentes. — revirou os olhos. — Além disso, ela mereceu! Não poderia deixar aquela idiota falar todas aquelas merdas de você e não levar uns tapas.

Sem conseguir se conter, Jimin abriu um sorriso quebrado, sentindo pela primeira vez em horas, um pouco de conforto em seu peito.

— Você é completamente maluca! — ditou. — Mas, obrigado por defender.

Miranda piscou para ele, se sentindo mais confortável para falar o que aconteceu ontem.

— Eu não sabia sobre a aposta, Ji. — segurou as mãos dele com força. — Eu não fazia ideia... sequer desconfiei e me sinto uma estúpida por não ter evitado o que aconteceu com você.

Jimin suspirou.

— Eu mesmo não desconfiei, não foi culpa de ninguém. Quer dizer... — ele não conseguia dizer mais nada, além disso, duvidava que conseguisse dizer o nome de Jungkook em voz alta sem chorar, quanto mais dizer em voz alta que era culpa dele, mesmo já sabendo disso.

— Não faço ideia de como deve estar se sentindo, mas não deve ser fácil. — abaixou a cabeça. — Eu acho que vou terminar com o Yoongi...

Jimin piscou, confuso.

— Mas, porquê?

— Ele sabia sobre a aposta, desde o começo, eu não sei se consigo continuar com uma pessoa que concorda com esse tipo de atitude. — passou a mão pelo rosto, cansada, mal havia dormido. — Simplesmente não consigo engolir isso, não dá!

Jimin molhou os lábios e pensou no que dizer. Ele mesmo não podia falar nada a respeito do relacionamento dos dois, mas não esperava que Miranda deixasse Yoongi devido ao que aconteceu consigo e Jungkook, e nem a questionaria se não o fizesse, eles eram amigos, mas uma coisa poderia não ter nada a ver com a outra.

Bom, pelo visto tinha.

— Eu não sei o que dizer, Mi. Não estou em posição sequer de decidir sobre minha própria vida. — bagunçou os cabelos.

Um minuto de silêncio se estendeu entre ambos, os próprios pensamentos conflitantes bagunçando as mentes. Isso até os olhos de Miranda baterem diretamente no notebook aberto sobre a cama.

— O quê estava fazendo? — Jimin seguiu os olhos dela até ver o notebook ainda ligado na página de e-mail.

Ele pensou por alguns instantes no que estava fazendo antes da chegada dela. Bom... a decisão estava tomada, tudo que precisava fazer era enviar o e-mail aceitando a bolsa e enviando as primeiras informações que pediram.

Aceitar ir, significava deixar tudo para trás, inclusive Miranda, e isso fez o aperto em seu peito piorar. É óbvio que não desistiria da amizade que haviam construído juntos, levaria para o resto da vida se assim a outra quisesse, mas não podia permanecer nesse lugar por ninguém, não quando não se sentia parte de nada, mesmo que doesse se afastar.

— Eu fui aceito na SNU. — comentou baixo, esperando a reação. — Consegui a bolsa de estudos.

O corpo de Miranda colidiu contra o dele em um abraço surpresa, quase o esmagando.

— Não brinca! — pelo tom de voz, ela sorria. — Meu Deus, parabéns! Cara... eu nem acredito, porra, você merece tanto! Eu to orgulhosa!

Um pequeno riso nasal pela animação dela, que logo separou o abraço.

— Você aceitou? Sim, não é? Você deu tanto duro pra isso que...

— Vou aceitar. — ele cortou. — Estava mandando o e-mail agora mesmo. — a encarou, atento. — Você não... ficou chateada?

Miranda franziu o cenho.

— Eu? Chateada? Ficou louco? — deu um pequeno tapa no ombro dele, ainda rindo. — Eu to feliz pra caralho que você conseguiu moleque! Vai estudar em uma das melhores universidades do mundo! — sorriu mais. — É claro que vou ficar com saudade, muito mesmo, mas não vou te impedir de ir por causa disso, é o seu sonho! Aliás, Seul só fica a umas quatro horas daqui, posso ir de carro e dormir no seu dormitório quando for te visitar. — soltou uma gargalhada pela ideia, seria muito difícil enfia-la escondida no dormitório masculino.

Jimin percebeu naquele momento, que depois de tudo, algo ainda era real. Sua amizade com Miranda não era mentira, e ele nunca teve tanta sorte até conhecê-la.

— Você é a melhor amiga do mundo! — sorriu para ela, pela primeira vez naquele dia.

— Eu sei! — jogou o cabelo para trás, convencida.

— Mi, se não for pedir muito, eu gostaria que ninguém mais soubesse disso até a hora de ir, sabe... — balançou a cabeça, inseguro. — Não quero que ele saiba, até eu estar longe daqui.

— Tudo bem, não direi nada. — passou os dedos na boca como um zíper. — Mas... sobre isso, você não pretende dar a ele uma chance de se explicar? — temerosa, ela perguntou.

Jimin a encarou.

— Você acha que eu deveria?

— Na minha humilde opinião, não. Eu não gosto do Jungkook, porque ele partiu seu coração, o diabo que o carregue pra onde quiser! — dispensou com as mãos no ar. — Mas isso aí só depende de você, se pretende ouvi-lo ou não, isso é escolha unicamente sua, não se deixe levar por minha aversão a ele.

— Não tem mais nada pra falar. — negou. — A brincadeira acabou e agora ele pode seguir a vida dele como fazia antes, eu tenho que cuidar da minha, não posso permitir que isso me afete mais do que o necessário. Se a resposta da faculdade for rápida, talvez eu esteja indo dentro de três ou quatro dias, vou te manter informada, eu prometo.

— Acho bom! — fez um bico. — Quero levá-lo ao aeroporto também, mesmo que eu vá chorar horrores vendo você ir embora, já até consigo imaginar. — fez uma cara de choro, dramática.

— Eu também.

✩。:•.───── ❁ ❁ ─────.•:。✩


Três dias se passaram.

No momento em questão, Jungkook se encontrava no terraço acima do último andar de sua casa, observando sem verdadeiramente prestar atenção na paisagem do sol indo embora.

Aquele lugar lhe trazia lembranças, assim como quase todos os outros cômodos da casa. Não importava para onde olhasse, sempre parecia ter um vislumbre de ver Jimin ali, e se dar conta de que ele não estava, era doloroso demais.

Ele teve dificuldade para dormir nos últimos dias, acabando por recorrer a certas bebidas que o faziam apagar por completo a noite e por vezes metade do dia, só para não ter que lidar com situação, só para não sentir...

Quando acordado, ele se pegava olhando a galeria de fotos em que a maioria estava com Jimin, ou eram fotos dele sozinho, distraído. Ele era tão bonito...

Em três dias, Jimin não respondeu a nenhuma de suas mensagens, não atendeu as ligações e muito menos retornou. Ele não tentou entrar em contato e no terceiro dia de tentativas, Jungkook percebeu que as mensagens sequer eram entregues, o que o levou a se desesperar quando viu a foto de perfil do loiro desaparecer em seu aplicativo de mensagens.

Ele estava bloqueado!?

Não... isso não é possível.

Jimin não faria isso...

Mas ele fez.

E pelo visto, excluiu Jungkook de toda e qualquer rede social, tornando o meio de contato impossível,

Foi difícil pra caralho tentar entender que o loiro estava com raiva, triste e magoado, mas ele foi compreensivo o quanto pode.

Sua compreensão acabou um minuto depois do sol se pôr por completo.

Eles precisavam conversar, nem que fosse para dar um fim em tudo como Jungkook temia, mas não podia continuar assim. Jungkook não sabia como lidar com a agonia crescente em seu peito de ter feito algo errado e não conseguir reparar o quanto antes, ele simplesmente nunca precisou se explicar para alguém, nunca precisou pedir perdão.

Ser ignorado, deixado no escuro a respeito do que Jimin estava pensando de tudo isso foi o pior dos castigos, quer dizer, ele não sabia como seu menino estava e nem o que estava pensando, nem o que ele pretendia fazer daqui pra frente.

Ninguém podia responder isso a não ser ele. Jungkook evitou os amigos durante os três dias porque não queria falar com ninguém. E até onde sabia, Miranda evitava Yoongi como o diabo foge da cruz, ela também não respondia a nenhuma mensagem dos garotos, e ninguém podia pressioná-la a isso.

Dirigindo o carro pela cidade, o moreno pensava no que poderia falar quando visse Jimin, isso se conseguisse controlar a vontade insana de tocá-lo. Porra! Já foram três dias inteiros, seu corpo ardia de saudade, dos beijos, do cheiro, da voz, de tudo!

Como poderia passar mais tempo do que isso sem ele!? Em sua mente, era impossível, arriscava que ficaria doente até.

Quando estacionou em frente a casa, respirou fundo, controlando os nervos.

Havia dito que respeitaria a vontade de Jina e não voltaria mais ali, mas era impossível, não existia outro modo de consertar as coisas.

Desceu do carro, dando passos cuidadosos até a porta da casa, respirando fundo, diversas vezes, querendo acalmar seu coração que batia feito um louco.

Tocou a campainha, esperou...

Nada.

Tocou novamente.

Nada.

Inconscientemente, o pânico começava a se alastrar por suas veias.

Desta vez, bateu com o punho diversas vezes a porta, talvez estivessem dormindo.

— Jimin! Abre essa porta, por favor! — berrou, dando mais algumas batidas na porta com o punho. — Eu sei que você tá aí, nós precisamos conversar! Abre isso, por favor!

E continuou batendo, sabe-se lá quantas vezes, até ouvir um berro do outro lado da rua.

— Ei moleque! Quer fazer o favor de parar de gritar!? Tem idosos nessa rua. — senhora Lee, a qual Jeon não conhecia, apareceu na rua. Uma expressão descontente tomava conta do rosto.

Jeon podia ter ignorado, mas não o fez.

— Desculpe, mas sabe se os moradores estão em casa? — perguntou a ela quando se virou para a rua novamente, apontando com o polegar para trás.

— Ficou maluco? Não tem ninguém aí, eles foram embora ontem!

Algo quebrou por dentro. Jeon tinha certeza, porque nada explicaria a dor física que o fez ofegar audivelmente, seus olhos se abriram mais, as narinas dilataram e o corpo vibrou, hiperventilando.

Ele parecia ter acabado de levar um tiro diretamente no peito.

— Como... como foram embora? — estava trêmulo, parecia a beira de um ataque de pânico, sua mente entrando em alerta.

A velha bufou.

— Como você acha? Simplesmente foram! Vazaram, meteram o pé, se mudaram, entendeu agora? — ele mal se deu conta de como o moreno parecia piorar a cada palavra. — Agora pare de gritar na rua, senão vou chamar a polícia!

Jungkook mal ouviu depois que as palavras "se mudaram" entrou por seus ouvidos. Também não prestou atenção na senhora lhe dando as costas e entrando na própria casa, o deixando ali sozinho, com os pedaços do coração quebrado em mãos.

Não percebeu as lágrimas descendo por suas bochechas sem precisar piscar para isso. Simplesmente caiu sentado na varanda da casa, atordoado e dolorido.

Já não bastava tudo o que estava passando nos últimos dias, e agora tinha essa notícia sendo jogada em seu peito sem preparo algum.

Jimin foi embora, ele havia ido embora pra sempre.

Simplesmente foi. Sem uma despedida, uma explicação, nada.

Não havia nada.

Agora Jeon sabia, tudo estava acabado, tudo!

Não havia mais volta, Jimin foi embora sem permitir que o visse pela última vez, não lhe disse para onde ia, so... foi.

Ele o deixou...

Apertou o cordão com as iniciais dele gravadas. Prometeu que nunca tiraria, e manteria sua promessa, não importava o quanto aquilo fizesse seu coração arder em brasas, como se uma lâmina quente o torturasse.

Jungkook nunca saberia dizer em um futuro próximo quanto tempo permaneceu sentado ali, o deixou anestesiado ao ponto de que ele nem sabia estar chorando, a dor era tanta que comprimia o peito e o fazia trincar os dentes a cada vez que lembrava...

Havia tantas lembranças, que agora, realmente seriam apenas lembranças.

Por um momento, ele pensou em utilizar as artimanhas que possuía para descobrir onde Jimin estava, mas repensando no assunto, era melhor não.

Se ele foi embora, foi por escolha própria, porque não o queria mais, e se essa era sua vontade, Jungkook teria que respeitar. Não havia o que fazer, não podia correr até Jimin e obrigá-lo a aceitar-lhe de volta, isso nunca funcionaria.

Tinha que aceitar, não importava o quanto doesse...

E doía pra caralho!

"O passado não nos define, mas que foi feito nele, nos atormenta todos os dias."

✩。:•.───── ❁ ❁ ─────.•:。✩


Já dentro do avião, depois de passar toda a burocracia com as passagens de avião, com a hospedagem, arrumar as malas e encaixotar suas coisas em tempo recorde, Jimin estava pronto para ir.

Após se despedir de Miranda e Sra. Kim Yang Ji, a dona da livraria/café que adorava ir, ele e Jina entraram no avião com todas as malas. Ele abriu um sorriso mínimo ao lembrar do drama que Yang Ji fez ao saber que estavam indo embora.

— Prometa que voltará para me visitar, menino! — ela disse chorosa, agarrando as bochechas de Jimin.

— Prometo sim, não se preocupe. — sorriu levemente, sendo abraçado por ela logo depois. Sentiria falta dela.

— Vai fazer vídeo chamadas comigo todos os dias, ouviu bem? — Miranda disse em meio a poucas lágrimas, a voz abafada contra o ombro dele. — E eu proíbo você de achar outra melhor amiga!

Jimin riu.

— Claro que não vou ter outra melhor amiga, você é única. — em um gesto carinhoso, deixou um pequeno beijo na testa ainda marcada dela. — Se cuida, vou ligar sempre que eu puder pra saber como anda a faculdade de psicologia, e por favor não mate ninguém até lá!

— Vou tentar. — o abraçou novamente, já cheia de saudade. — Mas não prometo nada!

Ambos soltaram risadas sinceras, e logo Jimin teve que ir quando Jina o chamou.

Decidir tudo o que precisava ser feito em menos de três dias os deixou exaustos, a mulher havia assinado a transição do emprego de Busan para Seul, eles a queriam lá o quanto antes, tanto que até disponibilizam um hotel para que ela e o filho ficassem até conseguir um local fixo.

O que acabou servindo muito para Jimin, pois ele estava indo para a faculdade a primeiro momento apenas para assinar os papéis acompanhado da mãe, afinal, precisava da autorização dela até fazer dezoito. Ele só poderia ocupar um dormitório no início do semestre, em janeiro.

E era isso, ambos passariam o natal e a virada de ano em Seul, que já estavam próximos.

As economias serviram para acelerar as coisas, fora que a venda da casa não demoraria muito, alguns compradores já estavam de olho, e assim que Jina achasse uma menor, a mobília seria retirada e trazida para Seul. Obviamente, não precisavam de nada grande, afinal, Jimin passaria mais tempo na universidade do que em casa.

No geral, nem ele sabia muito bem como a mãe estava lidando com aquela súbita mudança de uma hora para outra, ela estava estressada, mas não o deixava de preocupar com nada que não envolvesse sua faculdade.

Jimin não relutou contra isso.

No meio da viagem, enquanto ela dormia no banco ao seu lado, Jimin olhava para a janela, algumas vezes, uma lágrima solitária ousava cair de seus olhos, apertando o cordão por baixo da camisa enquanto "I Need some Sleep" tocava nos fones de ouvido.

Vez ou outra, seu olhar seguia até a aliança que ainda não se sentia pronto para remover, assim como não se sentia pronto para tirar a joia do pescoço e talvez nunca estivesse. Em sua mente, desejava que tudo não passasse de um sonho distante, mas não era.

A primeira decepção amorosa, por mais que muitos neguem, é sempre a mais dolorosa. É óbvio que um dia passa, assim como tudo na vida, mas enquanto a dor persistir, ela é altamente insuportável. Sentir pela primeira vez o seu coração sendo partido é como levar um soco no estômago que você não esperava, e não saber revidar. O sentimento de amor sendo substituído pela tristeza e rejeição, pelo fracasso, pela vergonha e pela derrota.

E porque é tão doloroso assim?

Porque é o amor mais simples, puro e belo que se pode sentir por outra pessoa.

É sem receios, sem regras, sem joguinhos de conquista e sem experiências anteriores para comparar e o pior, você se joga de cabeça como se fosse um grande oceano quando, na verdade, era apenas uma pequena poça d'água. É sem medo, o peito se inflama de paixão e coragem, as expectativas são gigantescas e quanto mais esse sentimento cresce, mais fácil fica para a outra pessoa te machucar, mais fácil fica de destruir aquele cenário que você montou na sua cabeça, sendo feliz para sempre com aquela pessoa.

Caminhando por um lugar maravilhoso, dando beijos carinhosos e sussurrando palavras amáveis, deixando claro o quando aquele sentimento está enraizado entre os dois.

Tudo mentira! Nada disso vai acontecer, não passa de uma ilusão e quando você perceber isso, sentirá a dor profunda e aguda bem no meio do seu peito, quando foi a minha vez, fui capaz de escutar os tecidos de meu coração sendo rasgados sem piedade dentro da minha cabeça. O sentimento de rejeição, de impotência, como se a guerra estivesse perdida e você simplesmente não sabe o que fez de errado.

Uma falha.

Um erro.

O arrependimento te acerta como um maldito tapa, estalado e ardido, dolorido, com toda força que o mundo tem em te dizer: "Eu avisei, otário!"

Você deseja nunca ter conhecido aquela pessoa, assim como deseja ter dado ouvidos às pessoas que te alertaram sobre ele, afinal, ele sempre foi tudo o que eles disseram que seria.

Ver a pessoa seguindo em frente mais rápido do que você jamais conseguiria, sabendo que te machucou, que acabou com você, que te deu as costas enquanto você recebeu de peito aberto as facadas que lhe foram lançadas. Um coração em pedaços é tudo o que resta, colar as rachaduras é um processo lento.

O desejo de sumir, ou o desejo que a outra pessoa suma, para que você não tenha que passar pela vergonha de olhar para ele outra vez.

Se eu tivesse dito não, tudo seria diferente.

Realmente, seria diferente, talvez não fosse tão dolorido, talvez você tivesse achado uma pessoa que não te deixaria de joelhos, que não te humilhasse, que não destruísse você por dentro, que não levasse tudo de você.

Ainda assim partiria seu coração, mas talvez você não precisasse esfregar seu corpo no banho até sair sangue com nojo de si mesmo por ter deixado aquela pessoa tocar em você, invadir seu corpo, de todas as formas. Você acreditou que seria especial e que nunca se arrependeria de se entregar a ele, no final, você daria tudo para voltar no tempo e não ter feito nada, não ter permitido nada, não ter gostado e sentido prazer por nada.

Se arrependeu de ter deixado ele ser o seu primeiro.

Porque para aquela pessoa, você não passava disso, notas boas, dinheiro fácil, um divertimento, uma zoação, um desafio, uma transa qualquer, um brinquedo, um idiota, uma aposta.

Porque afinal, foi tudo por uma aposta.

A dor da separação não foi nada
comparada a ter que admitir que todos
estavam certos a teu respeito, todos
menos eu.

[Fernando Machado.]

✩。:•.───── ❁ ❁ ─────.•:。✩

Fim...

Será?

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