
[03]
[PARK JIMIN]
— Filho? Já chegou? — minha mãe grita, provavelmente da cozinha, assim que coloco os pés dentro de casa.
Tiro a mochila dos ombros e a jogo em qualquer canto, chutando os sapatos e os colocando em seu devido lugar logo depois, ficando apenas de meias.
— Sim! — respondo alto, indo em direção a ela.
Passo pelo pequeno corredor de entrada, onde ficam alguns quadros de decoração e fotos antigas de nossa família. Sigo caminhando pela pequena sala, onde têm apenas dois sofás, a mesa de centro com algumas revistas e o painel grande grudado na parede onde se encontra a TV, também possui algumas cômodas na parte de baixo onde colocamos livros e outras coisas. Nossa casa é cheia de janelas, quase em todos os cômodos, assim dificilmente ligamos as luzes na parte do dia, sendo possível aproveitar a luz do sol.
Não é nada grande, até porque somos apenas eu e mamãe, não precisamos de muito espaço. O que separa a sala da cozinha é um pequeno balcão de mármore preto, não muito grande, dando uma visão clara de quem está do outro lado, costumamos usá-lo como mesa de jantar às vezes, por isso tem alguns bancos altos perto. Ao lado direito da sala é possível ver o corredor que leva para os quartos e o único banheiro, sendo este na última porta. A lavanderia fica em um pequeno quarto separado da casa, todas as coisas de limpeza ficam lá. Como eu disse, nada muito grande.
Quando entro na cozinha, a primeira coisa que vejo é Park Jina, vestida com o uniforme do hospital e com um avental de cozinha com estampa de corações, amarrado em sua cintura, mexendo a colher na panela fervendo no fogão.
— Oi meu amor, como foi a escola hoje? — se aproxima e deixa um beijo delicado em minha testa enquanto faz a sua típica pergunta, a mesma que faz diariamente quando chego.
Geralmente minha resposta seria: 'normal', mas no dia de hoje não teve absolutamente nada de normal, por isso travei um pouco e pisquei os olhos lembrando dos acontecimentos antes de respondê-la.
— Aconteceram algumas coisas... — foi o que resolvi dizer, deixaria para contar melhor quando estivéssemos comendo juntos. — O que temos para o almoço hoje? — perguntei interessado, sentindo o cheiro bom que vinha da panela.
— Dak Galbi! — respondeu sorrindo, desligando o fogão e retirando o avental.
Meu rosto se iluminou automaticamente, estava cheio de fome e adorava aquele prato, mamãe sempre foi uma ótima cozinheira, então certamente deveria estar uma delícia.
— Hummm... — passei a mão por cima da barriga em movimentos circulares. — Necessito de comida. — sorri.
— Tudo bem, seu morto de fome. — deu risada com minha brincadeira. — Coloque os pratos na mesa e pegue o suco na geladeira, tem kimchi também, se quiser.
— Mamãe, você é a melhor do mundo, sabia!? — fui em direção ao armário, pegando os pratos e hashis para arrumar a mesa de jantar.
Observei mamãe colocar suas luvas antiaderentes e levar a panela quente até a pequena mesa com dois lugares que fica encostada na parede, bem embaixo da janela da cozinha. Levei os objetos em minhas mãos para o mesmo lugar e os organizei, voltando e abrindo a geladeira para buscar o prato de Kimchi e a jarra de suco, mamãe trouxe os copos logo depois e nós sentamos para comer. Era sempre um momento legal ficar junto da minha mãe, tínhamos uma ligação muito forte, desde sempre.
— E então, vai me contar o que aconteceu no seu colégio hoje? — estendeu a mão para lhe passar meu prato, e assim fiz.
— Bom... a professora Kim passou um trabalho para substituir uma das provas deste bimestre. — Peguei meu prato novamente alguns segundos depois, agora cheio com a porção que a mesma havia colocado.
— Ah! Isso é bom, não é? Provavelmente vai ajudar muitos alunos. — disse quando terminou de pôr a comida em seu próprio prato, buscando os hashis para pegar um pouco, logo depois soprando e levando em direção a boca.
— É, talvez sim... ela pensou que um trabalho em dupla poderia ser melhor. — murmurei desanimado, colocando um pedaço de frango com Kimchi na boca, mastigando e suspirando em simultâneo, estava tão bom...
— Oh... entendi tudo. — colocou os talheres no prato e me olhou. — Você ficou em dupla com alguém que não vai fazer o mínimo de esforço pelo trabalho, certo? Jimin, já disse para não colocar o nome deles, quando fizerem isso, quem eles pensam que são? Ninguém pode fazer você de escravo e além disso eu... — ela começa a falar, afoita, quase se embolando nas palavras.
Mamãe sempre foi nervosa quando a assuntos relacionados a escola, acredito que desde aquela maldita festa de aniversário, ela acabou adquirindo uma proteção extra em relação a mim, mas não chegava a sufocar, não me escondia do mundo e nem me proibia de fazer as coisas que quisesse. Muito pelo contrário, Jina é a mãe mais liberal que conheço, ainda mais no país conservador em que vivemos, onde quase tudo de diferente é motivo de estranheza ou vergonha, isso além do preconceito.
Agradecia diariamente por tê-la ao meu lado.
Até porque eu não posso ser considerado o mais dentro do padrão, pouco em questão de aparência mas... em questão a orientação sexual, estou bem longe de ser considerado normal.
E minha mãe sabia disso.
E mesmo tendo em mente que nunca tive nenhuma experiência no assunto, eu também tinha certeza.
— Mãe! Calma, por favor! Não é nada disso. — a interrompi, tentando acalmá-la, o que nunca dava muito certo. — A senhora sabe que não quero arranjar problemas com aquelas pessoas, fazer o trabalho por elas acaba sendo mais fácil do que enfrentá-las. — passei a mão entre os fios de meu cabelo, fechando os olhos durante o ato.
Mamãe sabe do porquê eu faço isso, sempre soube da minha falta de habilidade em falar com pessoas desconhecidas e de minha falta de coragem para mudar, mas nunca desistia, pois, sabia o quanto isso me atrapalhava e me impedia de fazer coisas como um adolescente normal.
— Mas isso não está certo Jimin, sabe disso. — levou mais um pedaço de comida à boca. — E também sabe que não deixaria ninguém fazer algo com você! A escola tomaria as medidas corretas, certamente.
Senti vontade de rir quando terminei de ouvir suas palavras, não o fiz por puro respeito.
Todos sabemos que a maioria das escolas particulares que aceitam bolsistas, literalmente estão 'foda-se para esses alunos. Eu sou um deles, é um dos motivos para que não procurasse problemas com ninguém, caso contrário, jamais teria minha carta de recomendação para a faculdade. Mas mamãe não parecia entender isso muito bem, ela acreditava fielmente que a Busan High School tratava todos os seus alunos igualmente.
Mas não é bem assim que a banda toca.
Ela dava exclusiva atenção aos bons jogadores que poderiam promover seu nome e trazer prêmios para exibi-los todos os anos, e também aos alunos vindos de famílias ricas e bem encaminhadas. Isso sempre me fez pensar em como algumas dessas pessoas possuíam muita sorte em não depender de notas altas e uma escola hierarquista para terem um bom futuro. Principalmente os que tinham talentos a serem explorados pelo colégio.
Jeon Jungkook é um deles.
Meu Deus!
O Jungkook, ele... o trabalho... ele disse que vamos para a casa dele amanhã!
Arregalo os olhos e quase me engasgo com o Kimchi, buscando afoitamente pelo copo de suco ao meu lado, isso tudo apenas por lembrar de suas últimas palavras:
'Você fica uma gracinha todo vermelhinho desse jeito, sabia?'
Acredito que corei um pouco, apenas por lembrar disso.
— Mãe, eu preciso te contar uma coisa... — mudo de assunto, não querendo discutir o assunto da escola, seria como uma guerra perdida, eu estava bem assim, não queria que nada mudasse e muito menos que minha mãe resolvesse reclamar com o colégio por minha causa.
-— Oh! Claro filho, pode falar. — sorriu, acho que nem ela estava muito a fim de falar sobre o assunto.
— Na verdade, sobre o trabalho, eu meio que... não fiz dupla com uma pessoa que me deixaria fazer tudo sozinho. — Abaixei um pouco o olhar enquanto lhe falava, não sei ao certo o porquê, mas estou com um pouco de vergonha.
— Sério Jimin? — senti o entusiasmo na sua voz. — Isso é ótimo, finalmente alguém com pelo menos um pouco de senso de responsabilidade. — Abaixou a cabeça para mexer a comida, ela já estava na metade do prato praticamente.
É óbvio que eu teria que pedir-lhe antes de qualquer coisa, não sei porque diabos aceitei a proposta de Jeon antes de comunicar a minha mãe, a mesma poderia dizer não assim que ouvisse o nome do rapaz, o que convenhamos, era bem mais que conhecido na cidade.
— É, bom... ele e disse que gostaria de participar, pois, está precisando de notas e tem pouco conhecimento sobre a matéria, pediu minha ajuda e me convidou para ir à casa dele amanhã, durante a tarde para fazermos o trabalho, tem algum problema? — olhei no fundo de seus olhos enquanto falava, tentando transmitir alguma confiança.
Não que eu estivesse desesperado para ir à casa dos Jeon's, porque não estava. Na verdade, eu estava mais nervoso do que jamais estive, caso mamãe não me permitisse ir até lá, onde mais poderia fazer o trabalho? Já que ele mesmo havia dito que faria questão de fazer sua parte. Teria de explicar no dia seguinte o motivo de não poder ir com Jungkook, e acredito que dizer: 'porque minha mãe não deixou', era humilhante demais.
Somente o pensamento de falar com ele novamente era humilhante demais. Não faço ideia de como faria para manter uma comunicação estável durante o trabalho inteiro, comigo gaguejando o tempo todo.
— Não, não vejo nenhum problema , quem sabe não pode ser o começo de uma amizade, hum? — sorriu-me e se levantou para levar seu prato e copo até a pia, já havia terminado de comer, lavando suas mãos em seguida.
Quis rir de sua fala novamente, mas me contive.
Eu, Park Jimin, tendo Jeon Jungkook como amigo?
Isso não se tornaria realidade nem nos meus sonhos mais loucos.
Pessoas como ele não se misturam com pessoas como eu, simples assim.
— Só quero saber quem é, e também quero que fique com o celular ligado, me mande uma mensagem quando sair da escola e quando estiver vindo para casa, ok? — secou as mãos num pano de prato e se virou para mim, assenti com a cabeça. — Como ele se chama?
Na mesma hora, enfiei minha última parte de comida na boca, uma quantidade enorme, conseguindo inflar minhas bochechas. Apenas para ganhar tempo, pois deixar bem claro que estávamos falando de um rapaz cujo minha mãe conhece, e que não vai muito com cara, era difícil. Sua opinião podia mudar em dois segundos assim que ouvisse seu nome.
Não era como se mamãe o odiasse, por que ela mal o conhecia realmente, apenas não gostava nem um pouco quando ficava sabendo das coisas erradas que o Jeon fazia pela cidade com os amigos ou nas reuniões escolares quando algum representante de seus pais era chamado atenção pelo comportamento do mesmo, mas nunca era grande coisa, a escola abafa bastante os casos, pois além de ser talentoso, o garoto tem dinheiro.
Ele era exatamente o tipo de garoto do qual ela queria me ver longe, era até engraçado ouvi-la dizer minutos atrás que poderíamos ser amigos.
Quando engoli a comida por completo, respirei fundo antes de pronunciar em voz baixa o tal nome. Sem encará-la.
— Jeon Jungkook.
...
Silêncio.
Tinha certeza que a expressão de minha mãe estava bem diferente após me ouvir e continuei sem coragem de olhar para o seu rosto.
— Jeon Jungkook? Filho de Jeon Sun Jun? O arruaceiro de Busan? — foi o que ela disse, e sua voz já não estava tão amena quanto antes.
Seu pai era tão conhecido quanto ele próprio, afinal, ele comandava uma grande empresa de tecnologia não só aqui em Busan como em vários outros lugares também. E pelo que sei, sua mãe também faz parte desse ramo.
E o principal, ambos colaboram com doações para o hospital central em que minha mãe trabalha.
— Sim. Ele mesmo. — confirmei. Acredito que sua pergunta foi apenas para deixar claro a si mesma que estávamos falando da mesma pessoa.
Até porque, não conheço nenhum outro rapaz chamado Jeon Jungkook.
— Bom... se é questão de trabalho, não há muito em que eu possa opinar, você já tem idade suficiente para decidir onde vai ou deixa de ir. — suspirou, sua expressão carregava uma certa preocupação e estranheza, e não era difícil saber o motivo.
A vi passar pelo balcão da cozinha, atravessando a sala e indo para o corredor, acredito que para o banheiro, escovar os dentes. Ainda teria de ir para o trabalho.
Sei que ela não confia nada no rapaz, nem o vê como uma boa pessoa, então entendo perfeitamente sua reação, provavelmente teria a mesma. Mas não é como se eu fosse me tornar do dia para noite o namorado ou até mesmo amigo de Jeon, nós faríamos apenas um simples trabalho juntos, não tinha nada de mais nisso. Não só por ser completamente improvável, mas, porque conheço sua fama, seu jeito de agir perante a outras pessoas de maneira romântica, sua implacável e terrível pose de bad boy malandro que não se abala com nada e nem ninguém. Não inspira ser alguém bom para se relacionar, muito pelo contrário.
Jeon Jungkook era a personificação do tipo de gente com quem não deveria me meter.
Mas quem disse que meu coração aceita isso? Pois é.
Mamãe nunca sequer soube da grande queda que tenho por ele há anos, nem desconfia. Mas se soubesse, acredito que não ficaria muito feliz, como ela mesma dizia: 'Ele é daqueles que te levam do céu ao fundo do poço num piscar de olhos'. E ela nunca esteve errada sobre isso, acredito que jamais gostaria de me ver no fundo do poço, é minha mãe afinal.
Eu tentei, mas sinto que jamais conseguirei deixar isso de lado ou esquecer.
— Mas se quer saber minha opinião, filho... — ela reaparece na cozinha, após certo tempo quando já estou quase terminando de lavar nossos pratos. Eu a olho, esperando que fale. — Não se aproxime desse rapaz mais do que o necessário, ok? Ele não é uma boa amizade para você, esqueça o que te disse antes. — termina de arrumar o cabelo castanho em um lindo rabo de cavalo, contrastando com o uniforme inteiramente branco.
Mamãe ainda é muito jovem, e muito bonita. Tem apenas trinta e sete anos, ainda teria muita coisa para viver, poderia até formar uma nova família, mas ela insistia que não tinha mais nenhuma paciência para isso.
Seu casamento com meu pai nunca foi lá às mil maravilhas, eles nem se amavam de verdade quando foram forçados a se casar, apenas porque cometeram um deslize e o resultado foi minha mãe grávida aos vinte anos, sem ainda estar casada e nem ter completado a faculdade de enfermagem. Claro que no país em que vivemos, isso é um motivo de vergonha para a família, por isso foram obrigados a morarem juntos, mas não deu muito certo, se separaram dois anos depois, ela diz que brigavam muito e por qualquer coisa, era um verdadeiro inferno.
Depois que meu pai foi embora ela teve que fazer das tripas um coração para me criar, e mesmo que tenha sido uma das piores fases de sua vida, por se ver completamente sozinha e vivendo uma maternidade completamente difícil, disse que jamais desistiria de mim, como fizeram com ela. E isso me enche de amor a cada vez que lembro. Ela pode ser muito zangada em alguns momentos é muito rígida, podia me pôr de castigo e brigar quando necessário.
Mas se outra pessoa me derrubava, ela sempre estava lá para me levantar.
Por isso jamais deixaria de ouvir seus conselhos, o que ela acabara de me dizer, estava mais que coberta de razão, então concordei.
— Farei isso, mãe.
Sorriu e se aproximou de mim, dando um beijo em minha testa.
— Obrigada lindo. — ditou amorosa. — Bom... tenho que ir agora, o trabalho me espera por que afinal, dinheiro não cai do céu. — rimos. E a observei pegar a mochila com suas coisas todas organizadas dentro, pondo em suas costas. — Tchau querido, até mais tarde. Amo você! — andou em direção a porta de entrada.
— Até mais tarde mãe, também te amo! — gritei.
Assim que escutei a batida da porta, suspirei aliviado.
Podia ter sido pior, ela poderia ter dito milhões de motivos para me querer longe de Jeon Jungkook, mas ao invés disso, apenas me disse o óbvio, do qual todos sabiam.
Após terminar de lavar a louça, secar tudo, buscar a mochila da sala e a pôr em meu quarto, fui em direção ao banheiro para enfim tomar o meu precioso banho, joguei minhas roupas sujas no cesto e entrei no boxe. A água estava morna, e assim que entrou em contato com minha derme, um suspiro de satisfação de relaxamento deixou meus lábios. Fiquei durante alguns minutos imóvel, enquanto sentia o líquido escorrer pelo meu corpo até chegar ao chão.
Em meio a tantos pensamentos possíveis, novamente o rosto do moreno estava serpenteando pela minha mente. O fato de hoje ter sido nosso segundo contato desde que ele chegou à escola ainda persistia, me arrisco a dizer que foi bem mais intenso do que pude descrever...
Seus traços eram tão marcantes mesmo ele sendo tão jovem, seus olhos negros se prenderam nos meus assim que fez aquele bendito elogio, por um instante me peguei hipnotizado na escuridão que eles possuem. É como se eles tivessem muitas outras coisas para me dizer além das palavras que escorriam por seus lábios. Ah os seus lábios... somente a lembrança deles me fez sentir um arrepio na espinha, naquele momento estavam com uma coloração avermelhada e brilhante, fazendo um belo contraste com seus dentinhos brancos avantajados e perfeitamente alinhados.
Seu sorriso de lado é uma característica que pode-se dizer exclusivamente de sua posse. Tamanho é o estrago que ele podia fazer apenas com uma simples troca de expressões, ao juntar seu sorriso com seus olhos, era a combinação simplesmente perfeita, e ele parecia saber disso muito bem. Quando foi lançado em direção a mim, não soube exatamente de que modo reagir, pois, em minha cabeça todas as possibilidades pareciam absurdamente ridículas e deixariam mais do que claro meu nervosismo diante de si.
Como seria beijá-lo? Aposto que deve ser bom, afinal, tantas pessoas ficam atrás dele justamente para ter a oportunidade de fazer isso. E é incrível como ninguém resiste ao seu charme e lábia. Se ele a usasse comigo, eu resistiria?
Puff... é óbvio que não. Não teria como, sou fraco demais para dizer não, principalmente a ele. Mas isso nunca vai acontecer, como eu já disse, não temos nada a ver um com o outro.
Mas não seria ruim experimentar algumas coisas com ele se o mesmo quisesse, certo? Saber qual a sensação de beijar alguém, de ter o corpo pressionado contra o de outra pessoa, o calor ardente que só vai crescendo com o tempo, do qual tanto falam nos livros...
Passo as mãos com força pelo rosto, tentando espantar tais pensamentos.
Decido continuar meu banho normalmente, limpando meu corpo e meu cabelo de prováveis sujeiras que adquiri ao longo da manhã. Quando terminei puxei a toalha branca e a enrolei em minha cintura, calçando meus chinelos e saindo do boxe, pretendia ir direto para meu quarto, estava morto de cansaço e a única coisa que queria era poder deitar e dormir em minha linda cama, mas desisti assim que parei em frente ao espelho.
Diante do meu próprio reflexo, observei os traços do meu rosto. Meu cabelo loiro estava molhado e eu havia o jogado para trás durante o banho com as mãos, fazendo as laterais ficarem lisas e apenas um topete médio na frente, deixando minha testa a mostra, até que gostava deste tipo de corte.
Eu sempre tive a raiz naturalmente loira, graças aos genes do meu pai.
Meus olhos estavam um pouco baixos por conta do sono, mas não tanto. Mamãe sempre disse que eles pareciam duas gotinhas, pois eram pouco puxados. O nariz pequeno e as bochechas proeminentes bem gordinhas mesmo, elas faziam meus olhos se fecharem sempre que sorria demais. Meus lábios em um tom fraco de rosa, um queixo pequeno e o maxilar bem marcado, meu pomo-de-adão não muito destacado, mas eu gostava de todo jeito.
Desci a visão pelos meus ombros e braços com poucos músculos, nunca fui muito de fazer exercícios físicos. O peitoral liso assim como minha barriga também sem nenhuma definição, minha cintura é uma das coisas que acho bonito em mim mesmo, pois é fina e me arrisco a dizer que até invejável.
Eu não sou nada feio, disso tenho plena consciência, mas ainda sim... sempre tenho a mesma sensação ruim quando me olho no espelho. É como se algo estivesse faltando, ou como se esse que vejo no reflexo todos os dias não fosse o verdadeiro e também tinha a certeza de que talvez nunca teria o necessário para conquistar o interesse de alguém a me conhecer mais.
Me conhecer de verdade! Alguém que enxergasse bem mais a fundo do eu mostrasse, que se interessasse em saber quantos livros já li na vida e quais são meus preferidos, de qual estilo de música gosto, gostos alimentares ou até mesmo quisesse saber minha cor favorita. Coisas tão idiotas, mas que fariam grande diferença se alguém perguntasse, eu teria a oportunidade de responder pela primeira vez. Gostaria que me ensinasse coisas das quais ainda não sei, que me apresentasse ao sentimento bom e puro de amizade, ou então as conhecidas borboletas no estômago quando ficamos perto de quem gostamos, saber como é ter um sentimento correspondido...
Viver uma história que me proporcionasse momentos que jamais poderão ser esquecidos por mim, sei que deixei claro que me apaixonar não está nos meus planos, mas não é como se o desejo reprimido de viver uma paixão não existisse.
Eu não estou procurando alguém com dons sobre-humanos, um super-herói ou uma felicidade de contos de fadas. Apenas algo para eu poder recorrer, alguém para sentir falta. Eu quero algo assim.
Cansado de chegar sempre na mesma conclusão sobre isso, que seria: Não vai rolar!; olto um suspiro, me retirando do banheiro e indo para o quarto. Quanto mais penso nisso, mas frustrado e chateado fico, por que sei que não terei nada do modo que desejo, criar expectativas sobre um provável futuro incerto talvez seja um de meus piores defeitos.
Depois de vestir apenas uma box e uma camisa velha grande, me jogo na cama logo catando meus óculos para continuar o livro que estou lendo ultimamente; eu não os usava com muita frequência, somente para leitura ou durante as aulas, tinha certo grau de miopia. Também não usava muitas redes sociais, nunca tinha nada de interessante para se ver por lá e eu não era do tipo que gostava de procurar ou espiar perfis novos em busca de amizades.
É bem melhor, pelo menos em minha opinião, estar na companhia de um livro ou até mesmo escutando uma boa música, essas duas coisas me proporcionam uma paz infinita, trazem conforto e alegria para minha vida tão sem graça.
Como estamos no meio da semana, sendo hoje uma quarta-feira, não havia muitas coisas para serem organizadas em casa e sabe o que isso significa? Isso mesmo, que vou poder dormir a tarde inteira, um soninho no meio de uma semana puxada no colégio é uma das melhores coisas que podem me acontecer. E sabe aquela sensação maravilhosa de estar limpo após o banho e com o corpo geladinho? Ela estava presente em mim neste exato momento, me deixando ainda mais preguiçoso.
Por isso não demorou nada para meus olhos começarem a pesar depois de alguns minutos.
Deixo o livro de lado e tiro os óculos, me ajeitando melhor na cama. Acabo por me cobrir com o edredom dos pés à cabeça devido ao frio, caindo no sono logo depois.
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Quando acordo, não passam das cinco da tarde. Pela janela do quarto, posso ver que as nuvens escuras desapareceram, dando lugar a um sol adorável, mas não ao ponto de causar calor.
Com um pouco de preguiça me sento na cama bocejando e passando a mão pelos cabelos, que parecem agora um verdadeiro ninho, com fios espetados para todas as direções. Fico um tempo sentado olhando para o nada e pensando exatamente em nada, como se somente meu corpo estivesse acordado, mas minha alma ainda estivesse no décimo segundo sono. Suponho que estou divagando, isso já aconteceu com você?
Todas as vezes que me acontece são durante os sonos da tarde, acredito que consigo relaxar bem mais, por isso tenho um sono mais pesado e distante.
Eu amo dormir, realmente é uma das melhores coisas que existem na vida, logo após comer doces. É ainda melhor quando não se tem muitos problemas de insônia, agradeço por não sofrer disso já tem algum tempo, esperava que não voltassem nunca mais.
Quando minha consciência finalmente parece retornar, eu me levanto da cama bocejando pela segunda vez, calço os chinelos e caminho até o guarda-roupa médio, com duas portas de correr dos lados, algumas gavetas no centro e uma pequena penteadeira com espelho acima delas. Ele fica na direção contrária da minha cama, onde está localizada ao fundo do quarto no canto direito, também há uma janela de dois espaços no meio dos dois. De frente para a cama de solteiro tem a minha pequena escrivaninha, é onde guardo meus materiais de estudos e esboços de desenhos e ao lado do guarda-roupa está a minha grande estante de livros, quase que totalmente lotada.
Também tenho uma mesa de cabeceira ao lado da cama, que contém uma luminária semelhante a que está na mesa de estudos, é onde guardo meus documentos e coisas importantes, para que fiquem visíveis caso precise, gosto de manter as coisas bem organizadas.
Abro o guarda-roupa e tiro uma bermuda velha da cor cinza, a vestindo logo em seguida, quase caindo no processo e saio do quarto.
Lembro-me vagamente da pequena lista de tarefas que fiz mentalmente antes de cair no sono, para serem feitas assim que acordasse.
Limpar a cozinha.
Lavar as roupas.
Arrumar o guarda-roupa.
Limpar a sala.
Acredito que era só isso mesmo. Sei que pode parecer estranho para algumas pessoas que um garoto de dezessete anos faça esses tipos de atividades domésticas, mas sempre fui criado com pensamento de que não existe diferença de gênero quando o assunto é manter a limpeza de seu próprio lar.
E mamãe é daquelas que não gosta de ver nada fora do lugar, acabei meio que herdando isso dela, então estou acostumado, e fazer tarefas domésticas não é nenhum bicho de sete cabeças como muitos caras gostam de fazer parecer, é até que bem fácil, depois de um tempo vira um tipo de terapia.
Eu, por exemplo, me acalmei bastante arrumando meu quarto.
Dirijo-me até o final do corredor, onde tem um portão de ferro trancado. Quando o abro, a luz do sol acerta meu rosto em cheio, mas não agride meus olhos; a parte de trás da casa não é tão grande e é completamente amurada, é espaçoso pelo fato de que não tem muitas coisas aqui, apenas uma espécie de lavatório de roupas que são basicamente duas pias grandes e fundas. O quarto onde está a máquina de lavar não tem exatamente uma porta, e sim um arco de passagem, dentro tem algumas prateleiras cheias de produtos de limpeza, outro cesto de roupas sujas e mais alguns objetos.
Caminho até lá e começo a separar todas as roupas e colchas que precisam ser lavadas, por cores ou tecidos. Jogo a primeira quantidade na máquina e jogo os produtos necessários, logo ajustando os controles e deixando ela fazer todo o trabalho restante. Enquanto isso, vou direto para a cozinha, onde arrumei os armários, limpei a pia e o balcão, quando termino, já é hora de tirar as roupas e colocá-las no sol. Varri a casa o mais rápido possível, pois estou começando a ficar com fome e tenho o terrível hábito de só comer depois que tudo estiver feito.
A arrumação do meu quarto não demora muito, apenas tinha de guardar algumas roupas limpas e organizar alguns livros, fora limpar o chão e remover qualquer lixo que pudesse estar lá.
Quando finalmente termino minhas tarefas já passam das sete da noite, mamãe ainda vai demorar muito para voltar, ela sempre chega bem tarde por conta dos plantões no hospital, quase sempre já estou dormindo quando a mesma volta para casa, pouco nos vemos pela manhã, mas em suas folgas tentamos ao máximo ficar juntos ou saímos para algum lugar, já a arrastei para o cinema diversas vezes mesmo contra sua vontade para assistimos a um filme que ela nem fazia ideia do que falava, mas ia do mesmo jeito apenas porque eu havia gostado.
Após tomar outro banho para retirar o suor do corpo, faço um pequeno lanche improvisado que consistia em pães com queijo e o suco que sobrou do almoço. Comi enquanto assistia a algum canal de filme na TV a cabo, que era até interessante.
Outro passatempo meu, adoro assistir filmes. Sejam eles de qualquer gênero. Mas gosto muito de terror.
Desliguei a TV assim que subiram os créditos, indo para o quarto a fim de revisar a matéria dada durante a semana. Passei o dia tentando não pensar no que havia acontecido na escola antes de vir para casa.
Porque meu Deus... eu literalmente teria que ir de carro para a casa do garoto do qual sou afim a quase três anos!
E eu não havia tido nenhum surto ainda! O que já era impressionante.
Todas às vezes que esse pensamento me vinha à mente o gelo batia diretamente no meu estômago, era um nervosismo e uma ansiedade sem igual, que tive sequer vontade de comer, por que estava literalmente a menos de vinte e quatro horas do que poderia ser o dia mais desastroso da minha vida.
Por que sou eu, Park Jimin. E tudo poderia dar errado quando se trata de mim.
Fui dormir naquela noite fazendo um exercício para acalmar a mente, pois do jeito que estava, era capaz de pernoitar em claro.
✩。:•.───── ❁ ❁ ─────.•:。✩
No dia seguinte, assim que o despertador tocou, praticamente às seis da manhã, eu não levantei com a maior preguiça do mundo como já era de costume. E sim dei o maior salto da minha vida assim que abri os olhos, ficando de pé com uma rapidez exagerada, o que foi um tremendo erro, pois a minha visão escureceu no mesmo segundo e me senti tonto, logo sentando na cama novamente e pondo a cabeça entre os joelhos.
— Ah, merda! — exclamei, esperando que passasse logo de uma vez.
Finalmente me sentindo melhor, é quando me levanto para calçar os chinelos e seguir em direção a porta do quarto. Talvez o exercício que fiz ontem a noite tenha funcionado, não ouvi minha mãe chegar do trabalho e sequer sei se a mesma comeu algo, o que me preocupa um pouco.
Antes de qualquer coisa, fui direto para a cozinha, tomar ao menos um copo de leite. Já tive alguns problemas no passado por falta de alimentação na parte da manhã, não sei explicar ao certo o motivo, mas sempre acabava me sentindo enjoado um tempo depois de fazer a refeição, quando já estava na escola. Isso me levou a parar de me alimentar durante bastante tempo antes de sair de casa, e honestamente não me fazia falta, pois comecei a me sentir até melhor, mas quando mamãe descobriu me deu uma das maiores broncas da minha vida.
Ela por ser enfermeira sempre teve muito cuidado com minha saúde, e sabia melhor do que ninguém que a minha atitude não estava nem um pouco correta, mas depois do sermão eu lhe expliquei a situação e a mesma me compreendeu totalmente. Fez questão de me levar um nutricionista e seguir à risca a dieta que me foi imposta e que usei durante alguns meses, até que os enjoos desapareceram.
Hoje em dia eu prefiro comer somente uma fruta ou um copo de leite, apenas para não deixar meu corpo sobrecarregado.
Depois de beber todo o conteúdo do copo que estava em minhas mãos, pus o mesmo na pia e abri a geladeira novamente, retirando de lá uma maçã bem grande e vermelha, parecia estar ótima. Embalei a mesma num papel laminado que havia pegado em um dos armários, deixando-a em cima do balcão para seguir em direção ao banheiro.
Esperei que a água estivesse morna para retirar minhas roupas e comecei meu banho que não demorou muito, apenas um pouco devido à minha briga diária contra os nós de meu cabelo. Sai do boxe esfregando a toalha nos mesmos, para ficarem o secos.
Voltei para o quarto tendo em mente que deveria escolher uma roupa qualquer para ir ao colégio.
Mas foi aí que lembrei de um detalhe muito importante.
Hoje seria o dia que iria para a casa de Jeon Jungkook, ou seja, não poderia ir com qualquer roupa, não é?
Ele notaria que eu teria me arrumado melhor? Acharia exagero?
Bom, não sei quem posso encontrar por lá fora o moreno, e a primeira impressão é a que fica certo? Então era melhor me preparar um pouco.
Fiquei indeciso sobre uma camisa branca com detalhes em preto ou meu casaco de cor cinza, quase cogitei a ideia de chamar minha mãe para me ajudar, mas desisto assim que percebo o quão paranoico e idiota eu estou sendo com minha aparência.
Por fim, optei pelo casaco mesmo, pois está fazendo frio e também porque o acho mais bonito.
Visto com preguiça uma calça Jeans em um tom azul-escuro e logo depois as meias e por fim os tênis velhos de sempre. Direciono-me ao espelho do guarda-roupa para dar um jeito em meu cabelo. Ligo o secador e espero não fazer muito barulho quando começo a secar minhas madeixas, que estavam em um tom escuro pelo fato de estarem molhadas.
Quando termino, começo a penteá-lo para o lado deixando metade da franja sobre a testa. O resultado não tem nada de diferente de diariamente para ser sincero, apenas tomei um pouco de cuidado na escolha das roupas e passei o mínimo de perfume possível.
Por fim, apenas coloco meus óculos na caixinha de proteção e o guardo na bolsa, me certificando de que não estou esquecendo nenhum de meus materiais. Desligo a luz do quarto e fecho a porta, passo ligeiramente no quarto da mamãe e a vejo dormindo tranquilamente, é a minha deixa para sair.
Sigo para sala, mas antes me lembro de pagar a maçã que deixei na cozinha, a coloco na bolsa e num piscar de olhos já estou andando em direção ao ponto de ônibus. Não espero muito tempo sentado na parada, pois já sei o horário que o mesmo irá passar, afinal, vou com ela todos os dias.
Já sentado em um dos bancos do transporte público, tenho a liberdade de tirar meu celular junto aos fones da mochila, colocando em meus ouvidos e dando play em alguma das músicas relaxantes que tenho baixadas.
O caminho até a escola demora um pouco, por isso saio o mais cedo que posso de casa, para não correr risco de me atrasar. Quando já está perto da minha parada eu subitamente me levanto, um pouco desesperado.
Podem-se passar anos e anos andando no coletivo, mas nunca perco medo de que na hora que irei desembarcar o motorista acabar passando da parada da qual queria descer, é incrível.
Mas graças a alguma divindade isso nunca me ocorreu, e hoje também não foi o dia de acontecer pela primeira vez. A fachada da escola já é vista por mim e também já posso ver alguns alunos entrando, bem poucos. Como de costume não demoro a ingressar na instituição e seguir caminho até minha sala, que pelo que vejo não tem muitas pessoas ainda, para minha sorte. Sempre fico tímido quando tenho que entrar em uma sala que já está lotada, parece que todos os olhares direcionados a mim são de julgamento.
Ainda me sentia ansioso para o que poderia acontecer hoje, como eu iria falar Jungkook? Não tinha coragem de chegar até si e perguntar algo, então estava contando que ele viesse falar comigo.
Retirei a maça da bolsa enquanto caminhava, dando uma mordida e começando a mastigar. Quando estava prestes a abrir a porta da sala, sinto uma mão grande em meu ombro.
— Bom dia, loirinho! Tudo certo para hoje a tarde? — disse sorrindo gentil quando olhei para ele.
Parece que meu desejo foi atendido cedo demais.
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Gostaram? Eu espero que sim.
Quem mais concorda com a mãe do Jimin?
No próximo vamos ter os jikook se conhecendo melhor.
Bye!
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