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Capítulo 6 "Esta é a namorada do Harry?"

Playlist no link externo e música deste capitulo é "Heaven - Julia Michaels"





-Sobre o quê? És muito engraçada tu!

Arqueio uma sobrancelha e passo por ele. Não vou ter esta conversa, é ridículo. Abro a porta de casa e vejo o pé dele entrar também, o soalho de madeira range e viro-me para ele zangada. É a minha casa, mostra algum respeito!

-É um habito teu aceitares boleias de chefes?

Ohhh... estou a ver.

-E se for qual é problema? Tu é que me meteste neste problema, senão lhe tivesses dito que eu te estava a estorvar ele nunca me tinha prendido lá.

-Se ele te prendeu lá podes fazer uma queixa aos...

-Merda Harry! Não quero saber ok? Não me importo de ter apanhado boleia.

-Claro que não te importas, pareces ridícula a olhar para ele. Ridícula? Ok talvez, mas pensava que isso só se notava dentro da minha cabeça.

-Estás com ciúmes?

Ele ri-se, mas mesmo muito alto, tão alto que fico assustada. Talvez tenhas ficado maluco de vez.

-Ciúmes? Eu tenho uma namorada da qual gosto muito obrigada.

Olho para o chão, só para ter a certeza de que continua lá. Tem uma namorada, e agora? Posso fazer uma piada ou finjo-me ofendida? Meu Deus, porque é que ele não me diz estas coisas como uma pessoa normal? Não somos os melhores amigos, e não nos damos particularmente bem, mas sinceramente vir até minha casa para me pedir justificações agora parece-me um pouco absurdo.

-E estás a fazer o quê aqui?

Dou um passo à frente e ele afasta-se de mim passando o limite da porta para fora. Os olhos dele tornam-se selvagens e sorrio, claro que sim, nem tu sabes o que estás a fazer aqui, mas sabes que estás e que te afeto, agora podes odiar-me à distancia.

-Por muito que penses que não nos damos bem, e não damos realmente, eu preocupo-me, não quero que percas este emprego por causa de uma...

-Chega ok? Se eu quiser dormir com o meu chefe é um problema meu, e achas que sou assim tão fraca de espirito? Que preciso de me enfiar numa cama para subir na vida? Não me conheces minimamente, e não sei o que me chateia mais, que penses isso de mim ou que venhas até minha casa e finjas que te preocupas, quando nunca te preocupaste. Agora sai.

Aponto para fora ele estende a mão para alguma coisa que não estou disposta a saber o que é. Fecho a porta e deixo as coisas caírem no chão. Que idiota! Como é que se atreve a dizer-me que consigo descer assim tão baixo? Vou até à janela e espreito pelas persianas, ele anda até ao carro e fecha a porta com força o filho da mãe! O carro dele desaparece ao fundo da rua e quero gritar. É o que faço, dou um grito de cortar a respiração e depois atiro-me para cima do sofá asfixiando a minha almofada amarela.  Algum tempo depois alguém bate na minha porta.Não me apetece abrir.

-Julieta podes ficar como meu porquinho da índia?

Não tenho paciência para o roedor patético da minha vizinha, quando eu própria me sinto ridícula. Claro que ele ia pensar que eu me estava a atirar ao meu chefe, qualquer pessoa pensaria isso! Fui tão estúpida, devia ter reclamado com ele alto e ter-lhe tirado a mala do computador, devia ter-lhe dito que virasse os olhos para o outro lado e que não me perscrutasse as pernas. Irrita-me o Harry ter em parte razão e irrita-me eu ser tão pouco ponderada.

-Eu ouvi que estavas a gritar, então não vale fingires que não estás aí, para além disso tenho-te regado as plantas...às onze e meia da manhã como me dizes para fazer.

As minhas orquídeas, tenho que tomar conta de um rato por causa das minhas bonitas orquídeas.Levanto-me e abro a porta. O meu vestido está todo amarrotado e declaro o dia de hoje o primeiro dia mau do meu ano. Desde que comecei o ano há dez meses que não me sentia assim tão mal como hoje. O sermão do meu patrão, o ataque do Harry, a boleia do com segundas intenções não muito claras... e agora o gerbilo, ou porquinho da índia, o que seja. Quando abro a porta a minha cara deve ser tão amigável que Rose dá um passo atrás.

-Ouvi-te discutir com o teu amigo, mas entre te entregar a ti Mr.Snuggles e a Miss.Corine que tem um gato chamado "gato" prefiro-te a ti.

Olho para ela, o cabelo loiro apanhado tão apertado no cimo da sua cabeça que desconfio que tenha fita cola à volta daquilo.

-Rose...Mr.Snuggles pode perfeitamente ficar sozinho na sua gaiola, sabes isso certo?

Ela exclama um pouco ofendida e aperto o ratinho ao peito. Depois olha para ele, beija-o na cabeça e pede-lhe desculpa antes de mo passar para as mãos.

-És a minha única amiga aqui, e este é o meu melhor amigo, por isso por favor sê boazinha.

Aperto a bolinha de pelo nas minhas mãos e aceno que sim, ela vira-se a sorrir e desce as escadas aos pulinhos...isto é perigoso, eu sei que é e não preciso que a minha mãe mo diga.Coloco Snuggle dentro de um aquário vazio e troco de roupa, ligo a televisão e enrosco-me no sofá a olhar para a parede onde a televisão está pendurada.Sei que estou perto de começar a tremelicar por isso fecho os olhos. O poder que as pessoas têm sobre nós assusta-me, o Harry assusta-me, o William assusta-me, Sam assusta-me, as pessoas dizem coisas e no minuto a seguir o teu mundo ganha uma nova perspetiva.

A minha saia esvoaça e tento prende-la com as mãos. Estou a meio caminho de uma festa e o meu telemóvel não para de tocar. Atendo a rir-me.

-J?

-Tu precisas mesmo de te meter aqui, tipo rapidamente, tipo... estou a dizer muito tipo, mas tipo vem rápido?

Ela desliga e riu-me, não vou a uma festa desde que sai de casa, e esta é em casa de uns rapazes do nosso ano. Jammy é uma das minhas amigas e anda louca por um rapaz do segundo ano de marketing.

Quando vejo a casa as portas estão meio abertas, mas há pessoal cá fora a fumar. Sorriu e passo por eles. Jammy está sentada num sofá e levanta-se quando me vê, abraça-me e tenta parecer normal enquanto estica a cabeça para a esquerda. Oh estou a ver, o rapaz giro está ali?Quando olho não é o rapaz giro, pelo menos não dela. O Harry está a olhar para e reviro-lhe os olhos. Não o tenho visto, provavelmente os exames deixaram-nos todos drenados, mas mesmo assim ele sorri para mim, claro que sorri. A mão quente de Jam desaparece e fico sozinha, o Harry aproxima-se e tento não pensar demasiado em todas as coisas más que podemos dizer um ao outro.

-Pensava que não saias da biblioteca.

-Acabei de cair nas tuas graças? - Inclino a cabeça e o sorriso dele sobe em uma das suas bochechas, ele é charmoso, mas a minha mãe sempre me disse "os bons rapazes ficam na terra, e os maus rapazes sorriem e levam-te para o céu com eles, até que te deixam cair no inferno". Ela sempre foi muito dramática, uma verdadeira fã de Shakespeare.

-Sabes Giulietta é por isso que não penso em revirar-te os olhos constantemente, és engraçada e não te deixas encantar.

-Temos algum mágico na festa? - Encantar? Por ele? Ia ser engraçado.

Ele tenta não rir mas falha miseravelmente. Depois o seu braço dele enrola-se no meu e guia-me até a uma varanda, que têm tanto fumo que os meus olhos ardem.

-Se esta é a tua tentativa de me fazeres apaixonar por ti só me vai fazer chorar.

-Porque esperas há muito tempo por isso?

-Não! Porque está muito fumo aqui...isto é erva? Cheira mesmo a erva aqui.

E como que para provar o meu ponto começo a chorar, tipo lágrimas grandes que me queimam os olhos. Ele fica meio espantado e leva-me para dentro.

-Desculpa, não me faz impressão.

Limpo as bochechas e riu-me.

-Vês Harry? Se alguma vez me fizeres chorar vai ser por me enfiares num sitio cheio de fumo e apenas por isso.

Uma musica qualquer começa a tocar e ele poisa a sua bebida numa bandeja, um dos seus amigos diz "força nisso Styles!" e eu olho para o dito cujo com as sobrancelhas franzidas, o rapaz encolhe-se e vira-se.

-Assustaste o meu amigo.

-Os teus amigos são uns idiotas.

-Ao contrário de mim?

-Como tu Styles, como tu...
Ele coça o pescoço e de repente damo-nos conta que estamos parados no meio da sala, rodeados por pessoas, se ele me fosse beijar, seria agora, sem lágrimas de fumo e com uma música romântica a dar. No entanto uma miúda demasiado bêbeda vêm na nossa direção e vejo os seus lábios dispararem contra o pescoço do Harry. Os olhos dele arregalam-se e eu afasto-me para a ver cair no chão, aos pés dele.

-Merda, não é o que estás a pensar...

Olho para ele e faço uma careta.

-Que ela está possivelmente em coma alcoólico? Sim não era nisso que estava a pensar.

Baixamo-nos os dois e mais duas raparigas surgem a rir-se como umas galinhas.

-Desculpa Harry, pensámos que ela aguentava vir até ti sozinha.

-Claramente não aguenta Matilda.

Que tipo de amigas são estas que mandam a rapariga beijar um rapaz... ela queria beija-lo na boca?Falhou por uns centímetros...

-Estávamos a jogar à consequência ou consequência.

Reviro os olhos enquanto a rapariga no chão se agarra à minha perna e o Harry a tenta endireitar. Uma musica alta e eletrónico começa a tocar e o meu cérebro revira os olhos...se tivesse olhos no caso.

-Não queres dizer verdade ou consequência? – Digo ás raparigas quando ambos, eu e o Harry levantamos a que está caída no chão.

-És tão querida! Não, este jogo só tem consequências.

Agora que a sua amiga está de pé ambas agarram nela e se afastam.

-Mais ou menos como o jogo da vida.

-A vida são só consequências?

Os olhos dele estão vidrados em mim e ele está corado. Vejam bem um beijo no pescoço de uma desconhecida produz um excelente efeito num rapaz.

-Bom se pensarmos nisso, nascemos de uma consequência, uma consequência daquilo que os nossos pais fizera.

-Sexo?- Ele sorri, desta vez com tanta força que a covinha dele quase esburaca totalmente a sua bochecha.

-Yap.

-Isso diz-te alguma coisa?

Ele está a tentar perguntar-me sobre sexo? É isso?

- Na verdade se olhares à tua volta somos todos isso, ou pelo menos a consequência disso. Vou sentar-me.

Preciso de gritar o que digo porque alguém mexeu nas colunas e agora o meu estômago vibra com a musica. O sofá azul está vazio porque alguém na cozinha está a fazer uma montanha de shots. Odeio shots, amargam e fico sempre maldisposta a seguir.

-Não queres beber nada?

Harry pergunta ao meu lado e eu nego com a cabeça.

-A não ser que tenham uma daquelas bebidas finas com saber a fruta exótica não, não quero.

-Fruta exótica?

-Existem umas bebidas com manga ou pêssego, são doces e...

-Eu sei o que são Julls.

Ele disse Julls? Disse mesmo? Ninguém sem ser a minha irmã e irmão me chama isso. O meu pai odeia, na verdade ele por si só já odeia como o meu nome se escreve, quanto mais a versão curta inglesada do mesmo.

-És muito esperto Harry.

Ele encosta a cabeça ao sofá e esfrega-a, mais ou menos como um gato a fazer charme.

-Acho, mas não digas a ninguém.

-Não vou... desde que fiques comigo no trabalho final.

E foi aí, o começo do fim começou aí, quando decidimos que íamos fazer um trabalho juntos. Eu gostava dele, exceto quando não gostava, e às vezes em que não gostava superavam as vezes em que gostava.  No inicio eu sei que ele se esforçava para me causar boa impressão, mas de repente isso acabou, a tensão tornou-se tão forte que ele deixou de sorrir para mim, deixámos de falar, de olhar, no entanto sabíamos que estávamos ali. Costumo dizer que somos um livro com quatro capítulos. Somos o inicio, somos a guerra, somos a paz e somos a derrota. As relações humanas são todas assim, porque naturalmente acabam por desaparecer, somos a calamidade dos nossos laços mais fortes. Começamos e acabamos e isso é difícil de aguentar para um ser humano.

Acho que tenho as bochechas quentes, provavelmente a memória do fumo afetou-me. Esfrego a cara e mudo para um canal com música, Taylor Swift explode as minhas colunas e tento focar-me na letra que costumava cantar com a minha melhor amiga em casa. Eu estou bem, foi só um dia mau. Os dias maus vão e voltam.O meu telemóvel ilumina-se e é Rose.

-Sim?

-Tens a musica muito alta, estou há dez minutos a tocar à campainha.

Abro a porta ela entra. Os seus olhos vasculham o meu apartamento e finalmente ela vê Mr.Snuggles dentro do aquário. Revira os olhos e tira o de lá.

-Pelo menos o gato não o comeu.

-Mas tu e tua raiva poderiam.- Ela toca-me nas bochechas e percebo que estão a ferver.

- Tu e aquele rapaz têm um ambiente de cortar à faca, mas são engraçados, é uma pena que ele tenha namorada.

Ela sai com o seu rato na mão e fecha a porta. Pois foi...ele disse que tinha uma namorada, uma namorada com a qual está muito feliz. Uma namorada que não é maluca nem o conhece. Uma namorada que não sabe que ele é louco e vingativo e mau. Mas uma namorada que vai ter boleia quando estiver a chover. Bom hoje ele esperou por mim, e veio até aqui, obviamente a namorada dele não é assim tão importante.

Vou até ao frigorifico e tiro um recipiente com o resto dos legumes de ontem. Meto frango na frigideira e no fim junto tudo numa mixórdia que parece comestível embora não muito atraente. Enquanto levo garfadas de comida à boca e a musica continua a voar pelo meu apartamento percebo que onde quer que vá ele persegue-me e se eu acreditasse nesse tipo de coisas dizia que seria planeado, mas não acredito, estou melhor sozinha do que discutir com um rapaz idiota que me fez a vida negra durante três anos. Ainda tens o William... não, não tenho, aquilo que o Harry pensou é o que todos pensariam se me tivessem visto, para além disso ele é arrogante, sorri para amparar os meus golpes e finge-se que não se diverte com a forma como lhe responde. Provavelmente daqui a seis meses estou fora. Talvez isso seja o melhor, o Harry é um fantasma no meu armário e o William é demasiado tudo para ser meu chefe, para além disso ele já percebeu que me atinge. Seria uma questão de meses até eu me sentir demasiado sufocada por tudo... porque é que estou a ser tão pessimista? A culpa é dele, desconcentrou-me! Fragilizou-me.

Depois de uma boa noite de sono sinto-me fresca e os pensamentos de desistir começaram a esfumar-se assim como o meu encontro nada amigável com o Harry. Ainda aceitei boleia do meu chefe bonitão, mas posso sempre nunca mais fazer isso, portanto nem tudo está perdido.Quando saio do metro o a frio chicoteia-me a cara e enrolo-me mais no casaco. A porta da empresa abre-se e o ar quente abafa-me.Começo a livrar-me das camadas de roupa estou pronta para subir quando uma mão me toca no ombro. Endireito-me. As minhas calças de ganga preta sobem um pouco do tornozelo e quando vejo que é só Megan Simpática trago a perna para cima e baixo as calças.

-Olá Megan.

A Megan tinha um bonito cabelo azul quando andávamos na universidade, mas agora está ruivo. Os seus olhos castanhos brilham e ela parece estar atentar ganhar coragem para me dizer alguma coisa. Não a via há imenso tempo.

-Julieta! Ok não sei como começar isto mas...

Que estranho, hoje não me estou a sentir irritada por ela estar a dar pulinhos enquanto fala. Se calhar hoje o dia vai mesmo correr bem.

-Bom, lembraste no primeiro dia, em que nos encontramos cá em baixo? Estavas com umas caixas e vimos que estávamos os três a estagiar aqui?

-Sim, lembro.- Mesmo que tentasse esquecer-me a assombração desse dia persegue-me.

-O Harry disse que ia ser bom ter-me aqui, lembraste?

-Vagamente

Na verdade ele disse "Megan vai ser bom estar aqui contigo, vemo-nos mais tarde", mas ela não precisa de saber que eu sei o que ele disse.

-Bom esta noite eu achei que podíamos ir sair os três e os teus amigos, o Harry contou-me que são muito simpáticos e...

Passo o cabelo para trás das orelhas e já estou a pensar em quem me apetece menos ver.

-Megan se foi o Harry que te disse para me convidares...

Ela inclina a cabeça como se não entendesse o que digo.

-O Harry? Não ele não sabe de nada! Era isso que eu te queria dizer, bom nós temos saído algumas vezes e...acho que gostamos um do outro, ele beijou-me no nosso ultimo encontro, na sexta passada quando fomos todos ao pub e achei que hoje seria mais "intimo" se levasse apenas alguns amigos, assim não ficamos sozinhos com pessoas do trabalho, mas também não ficamos os dois sozinhos sem saber o que fazer... e embora vocês não tenham a melhor relação ainda és das poucas pessoas aqui com que me sinto à vontade e...

Não sei o que ela diz a seguir, deixo de a ouvir. Vejo os lábios a mexer e sei que a sua voz grossa dela continua a invadir o meu espaço auditivo. Esta é a namorada do Harry? Megan a Simpática?

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