Capítulo 43 "Porque gosto de ti Julieta"
Eu quase não escrevi nada hoje, mas achei que já que a semana passada faltei com o prometido não o ia deixar acontecer de novo. Queria também partilhar algo muito pessoal do qual não falei nas redes sociais porque me sinto muito mais no meu ambiente aqui, com pessoas que gostam de mim pelo que escrevo e não por outra coisa sei lá... nos ultimos meses algo terrivel aconteceu ao meu avô e ele faleceu esta terça feira, os ultimos dias foram estranhos e tristes mas tenho tentando acompanhar o meu ritmo de sempre. Eu vivi com o meu avô e avó durante muito tempo e ele foi a minha primeira memória de um pai então esta foi uma perda dolorosa. O capitulo está pequeno e sem duvida isto não é uma justificação, é só também um partilhar.
Apanho o cabelo de cabeça para baixo e enquanto o meuelástico tenta domar o meu cabelo volumoso vejo por entre as minhas pernas o péde Sam bater. Belos sapatos. Ergo-me e viro a cadeira para ela.
-Sim?
-Disseste a Mr.Pella que ia demorar mais a chegar?- Ela tem as mãos nas ancas e bate o pé de uma forma chateada.
-Sim, disse...porquê?
-Ele está com um humor de cão, pior do que o normal e disse-me "se tivesse chegado mais cedo não tinha tanta papelada acumulada". Presumi que não tinhas dito.
Ela passa as mãos pela cara e volta à sua secretária.William anda estranho, não faço ideia porque será mas aposto que tem algo a ver com as entrevistas a que vamos ser submetidos brevemente. Não estou muito nervosa, mas ele parece um barril de pólvora.-Não lhe ligues, ele é sempre assim.
-É fácil para ti dizeres! Consegues enfrentá-lo.
Culpa.
Toneladas dela.
-Queres que faça alguma coisa?
Levanto-me e mexo na papelada dela. Reparo pela primeira vez que ela cola autocolantes de gatos e cães nas agendas e que todo o seu material de escritório tem um desenho animado. Por um momento tomo o meu tempo a olhar para ela. É vibrante, cores fortes, tem um cabelo super estilosos e adora sapatos que só posso sonhar em ter confiança para usar. Os rabiscos das reuniões dela são sempre os mais bem feitos. Quem é ela?
-Podes ajudar-me a separar estes relatórios para enviar lá para cima?- Estende-me uma pasta que aceito.
As unhas dela são cor de rosa pastel e parecem um algodão doce.
-Posso sim.
Separo os relatório em pilhas que já foram assinada pelo William e em pilhas que não foram assinadas. As que não foram assinadas meto-asna secretária dela e fico com dez folhas assinadas.
-Sobraram dez que ele assinou, queres que as leve?
-Eu posso levá-las.- Levanta-se cansada e eu estendo-lhe os papeis.
Quando está quase a sair agarro nos que faltam assinar e bato à porta de Will. Samuel tira os fones dos ouvidos e eu dou-lhe um polegar no ar. Ele levanta um papel branco que diz "se ele não gritar vou entrar". Concordo com a cabeça e oiço um entre seco.
-Mr.Pella.
-Julieta.
Ele não levanta os olhos do computador e quando fecho aporta permanece assim durante algum tempo. Finalmente coça os olhos e sorri para mim.
-A que devo a honra?
-Tens estes papeis para assinar...- Estendo-lhe o molho e o seu rosto ensombra-se.
-Estou farto de assinar papelada merda!- Diz enquanto agarra na caneta.
-É o teu trabalho.
-Não! É o trabalho da Samantha não deixar a porcaria da papelada aumentar de tamanho. Isto é descomunal, passei a ultima meia hora a ler papeis de há quatro dias atrás. Desde que ela começou aquele curso de pintura que parece uma barata tonta.
Ele risca o papel com agressividade e depois lembra-se de que devia ler.
-Ela está a tirar um curso?
Will faz um som de desdenho e encolhe os ombros. Ele fica sexy quando está com raiva, tem os botões da camisa perdidos no caminho até ao pescoço e o cabelo numa confusão.
-Achas que a contratei eu mesmo? Alguém...o meu irmão teve a excelente ideia de aceitar pessoas com uma formação mínima na área e nos testes escritos pareceu-me a mais competente... era uma artista! A sorte dela é que faz...fazia o trabalho melhor que ninguém.-Estás a ser um pouco duro William. Ela está a tentar dar oseu melhor.-O seu melhor neste momento não me mantém o escritórioorganizado porra.Os olhos azuis chispam e ele morde o lábios com forçaenquanto se concentra.-Não estás chateado por causa dela.- Encosto-me ás estantes que ele tem na parede.-Não estou? Acho que estou Julieta, na verdade tenho bastante certeza disso.Estico os lábios para a frente e troco dois livros de lugar.
-Acho que estás chateado porque depois de amanhã são asavaliações.O silencio dele é a prova de que preciso e sorrio quando meviro para ele.-Está tudo bem Will, também estou assustada...não tanto como tu.- Tento fazer do seu medo uma piada mas ele abana a cabeça.-Tenho algo para te propor. - Diz baixo o suficiente para que eu quase não oiça. Não gosto do tom dele, inexpressivo.- Podes sentar-te?Encaracolo os dedos dos pés dentro das botas e sento-me. As minhas unhas não arranjadas seguem um risco no tampo da mesa dele e sinto o nervosismo dele passear-me na pele.-Tenho pensado muito nisto e se arranjar forma de ficares cá...Encosto-me para trás e fecho os olhos.
-Merda William que susto.- Meto a mão no peito e depois abro um olho.- Nem pensar.
-Que susto?- Um dos cantos da boca dele levanta.
-Achei que ias dizer que me tinhas traído, ou pior que meias pedir em casamento.
Rio-me e ele faz o mesmo.
-Pedir-te em casamento seria pior?-Bolas muito pior mesmo.Claro que não, mas seria devastador. Ainda nem sequer tenho a certeza do que somos...para além disso algo mudou na nossa dinâmica. É engraçado, a ânsia que sentia quando discutia com ele desapareceu ligeiramente.
-Mas nem pensar para o que disseste. É injusto e já me sinto culpada o suficiente. Isto vai ser feito como deve ser e quem tiver quesair vai sair com uma experiência no bolso.-Nem sequer foram os seis meses.-Vou ficar cá os seus meses, só não me vão renovar ocontrato senão conseguir.Ele pisca devagarinho e estende a mão por cima da mesa queeu seguro.-Não quero ficar sem ti.-Não vais ficar sem mim, vais cansar-te de mim e pelo fimdo estágio vais desejar nunca me ter conhecido.Ele sorri e beija a minha mão.-Duvido seriamente disso. Tu és especial.-Não sou, só me comporto como a maioria das pessoas quermas não consegue porque tem medo de ti. Tu afastas as pessoas comessa...superioridade.-Eu sou superior.
-Só em altura.- Levanto-me e beijo-lhe o nariz.- Voutrabalhar e tenta por favor não infernizar a Sam.Quando me viro ele puxa-me a mão. Os olhos dele estãorepletos de uma emoção que já vi antes, em mim mesma.-É por isso que preciso de ti.Sorrio e desprendo-me dele. O meu estômago dá uma cambalhota esquisita e fecho a porta. Sam está a olhar para mim com cara de caso e tira um fone enquanto risca o ar com a caneta que segurava.-Porque é que estás com uma cara de pânico relaxada e não com uma cara de assassina em série?-A minha entrevista é daqui a dois dias. - Digo em jeito de desculpa à minha falta de caracterização da personagem louca que costumo interpretar quando me afasto de Will.Samuel levanta-se e agarra-me na mão.-Vais conseguir. Porque senão conseguires vou voltar aficar solitário aqui e não quero. Ninguém entende as minhas vinganças imaginárias como tu Julls. Abraça-me e sorrio. Samuel foi a melhor coisa que me aconteceu neste escritório, a minha alma gémea perdida.-Se não jogássemos na mesma equipa podíamos ser tão felizes.- Digo-lhe.-Se um dia me roubares o namorado parto-te em dois e faço de ti um palito para tirar os restos da tua carne do meio dos meus dentes.-És nojento.-Tu também.- Continua a abraçar-me.- Vejo-te a tirar cerados ouvidos e a olhar antes de fazeres cara de nojo e limpares num lenço.Afasto-me rapidamente dele.
-Se contas isso a alguém eu é que te mato.Quando nos sentamos Luccas entra e eu estendo os meus saltos para a frente numa tentativa de parecer descontraída.-Eu ouvi-vos a falar.- Ele passa por nós para o gabinete de William como se fosse o nosso supervisor.-Trouxeste arroz integral outra vez para o almoço.- Samuel ri e eu já sei a minha deixa.-Sim porquê?- Ele para parecendo surpreendido.
-Com vegetais certo? Não comes carne...
-O que é que se passa?
-Nada.
-Vocês estão a tentar envenenar-me?
-Leste o meu registo criminal?- Samuel diz muito sério.
-Vocês são horríveis, estou mortinho para que desapareçam.
Aceno-lhe com as pontas dos dedos quando ele desaparece dentro do escritório de William. Estico-me para a frente e bato na mão deSamuel.
-Adoro quando ele fica a olhar para a comida durante cinco minutos...
-A semana passada meteu um grão de arroz primeiro na boca e esperou doze minutos para comer. – Digo-lhe.
-Foi bem feita, ele escondeu a pen que Mr.Pella nos tinha dado de propósito.- Aperta o nariz e tenta imitá-lo.- Achei que todas sabiam que a guardava aqui...ninguém guarda uma pen coletiva dentro da gaveta pessoal.Abano a cabeça e olho para o relógio. Sam entra um pouco mais descansada e quando procura pelos papeis e não os vê levanto-me.
-Ele deve estar a acabar de os assinar.- Sorrio e ela respira de alivio.
-Muito obrigada Julieta, não sei com que cara é que lhe ia pedir que os assinasse.
-Com que cara não sei, mas com que dedo é óbvio. - Samuel ergue o dedo do meio fazendo com que ela se ria.
-Vou almoçar lá acima, querem que vos guarde um lugar?
Ouve-se um sim coletivo e ponho-me a andar. Pego na minha lancheira e subo as escadas, quando estou quase a abrir a porta lembro-me de que me esqueci do telemóvel. Desço as escadas devagar quando de repente oiço uma voz familiar.
-Não vou voltar para aí senão ficar com o emprego pai...não faz sentido, não quero trabalhar na empresa, vou conseguir o trabalho... sei que o mercado está em recessão eu trabalho na área.
Fazem semanas desde que vi ou ouvi o Harry. Depois de amanhã vou ter de ficar numa sala pequena com ele à espera de ser ouvida para que o meu destino seja selado.
-Eu só quero a minha independência pai e voltar para aí seria regredir...preciso de ir, até logo.
Não sei exatamente o que pensei mas quando ele dobra a esquina e olha para mim não me mexo. Tem uma t-shirt branca e o meu sonho de há uns dias dá-me um pontapé no rabo. Os olhos dele brilham e a língua escapa para humedecer os lábios.
-Estavas a escutar a minha conversa Julieta?
Podia mentir.
-Sim.
Mas decido não o fazer.
-E então?
-O teu pai quer que vás trabalhar com ele?
Lembro de que ele não queria isso. Queria conseguir as coisas sozinho sem um lugar garantido. É isso que ele está a fazer aqui. Dá-se bem com os colegas e com o chefe, vai tomar bebidas a seguir ao trabalho e depois vai para casa, volta no outro dia e é elogiado em reuniões pela boa disposição.
-Quer. Mas não tenciono deixar que aconteça.
Sorri e estende-me a mão. Não percebo até olhar para baixo e ver que me está a endireitar a lancheira que descaiu. Bolas a minha sopa!
-Porque é que continuas a sorrir para mim?-
Ele devia odiar-me. Gritei com ele e acusei-o de me ter feito a vida numa bola gigante de merda.
-Porque gosto de ti Julieta.
Passa ao meu lado e oiço-o abrir a porta do refeitório. Gosta de mim. Na minha memória a ultima vez que nos vimos e discutimos parece apagar-se de cada vez que repito as palavras dentro da minha cabeça.
Gosto de ti.
E vão se os gritos.
Gosto de ti.
Vão se as lágrimas.
Gosto de ti.
Gosto de ti.-Parece que viste um fantasma, despacha-te ou não arranjamos lugar.Samuel agarra na minha lancheira e sobe o resto das escadas que me faltam.Às quatro da tarde entro no meu piso e vejo William sentado na minha cadeira. Treme-me o medo no núcleo mas depois relaxo. Tenho tempo.
-Sim?-Samuel entra atrás de mim com o computador nas mãos.
-Onde é que estavam os dois?
-Fui à casa de banho.- Murmuro.
-Há trinta minutos?
-Problemas de senhora.- Encolho os ombros e Samuel dá um risinho.
-Chega de disparates! Vocês os dois... o vosso colega Luccas disse-me que tem existido alguma tensão na equipa e gostava que me esclarecessem.
-É melhor não.- Samuel poisa o computador na mesa.
-Isto não é o secundário, não tolero este tipo de brigas estupidas e infantis. Senão param de agir como adolescentes vou enviar fazer uma queixa aos recursos humanos... de todos.
Luccas sai de dentro do escritório de William.
-Eu não...
-Não quero saber Mr.Koshuan. Tão culpado é quem dá como quem dá de volta, a partir de hoje se mais algum de vocês se queixar de uma falta de respeito por parte do outro o caso sai das minhas mãos.
-Recursos humanos?- A minha voz encontra o seu caminho.
-Sim Julieta, foi o que ouviu.
Ora William eu e tu seriamos um belo caso de recursos humanos, mas isso não nos impede de partilhar uma cama. Abano a cabeça e sento-me, Luccas e Samuel fazem o mesmo e Sam continua no seu mundo a escrever furiosamente. Este ambiente foi feito para três pessoas que sabem coabitar.Somos um triciclo perfeito, e esta roda a mais está a dar-me uma dor de cabeça... vai dar uma dor de cabeça a Samuel e Sam se eu já não estiver cá. Uma hora mais tarde só eu e Luccas é que estamos ao computador e sinto que é hora de ir para casa. Arrumo as minhas coisas e aporta do escritório de William abre-se.
-Vai já embora? -Aceno com a cabeça.
Nas ultimas semanas temos sempre ido juntos, mas hoje quero ir sozinha. Quero ir para casa e deitar-me no meu sofá azul garrido e contar os meus problemas às paredes com papel de parede piroso. Enquanto ele olha para mim envio-lhe uma mensagem a dizer isso e quando ele volta para dentro pelo vibrar do telemóvel que só ele ouve já não volta para fora.Caminho sozinha pelas ruas iluminadas e vou reparando nas montras das lojas.
Hoje não vou de metro e sinto-me bem com as botas feias e grandes para o frio nos pés. Os meus saltos estão na mala e com o cabelo apanhado sinto-me eu mesma. Sem os artifícios da minha tentativa de nova vida.De nova Julieta. A mulher que sou parece sempre mais cansada ao final do dia quando tenta ser outra pessoa qualquer. Á frente de uma loja de roupa personalizada vejo uma gabardine amarela. Eu costumava usar roupa colorida e ténis de cores terríveis. Costumava andar depressa e escorregar, não sabia caminhar em saltos altos e sentia-me sexy num par de calças de ganga largas. Eu costumava ser eu, agora eu sou outra pessoa e não sei quantas mais vezes posso colar a mascara.
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