Capítulo 4 "Se quer o seu computador de volta é melhor vir comigo"
NOTA: O apelido da Julieta foi alterado, e podem ouvir a playlist da história no spotify "two ways to lie" estará no link externo
O chefe do Harry não é tão bem-parecido como o meu, e pergunto-me se estou a ser testada. Caramba isto é mesmo desnecessário, preciso de parar de olhar para acara dos homens, especialmente quando são bonitos.
-Muito obrigada Miss. Cross.
Sorriu-lhe e saiu de fininho, quando fecho a porta e me viro o bastardo continua a olhar para mim.
-Porra, estás a ser assustador, é melhor parares.
Ele sorri e anda até mim. É preciso conhecer muito bem o Harry para saber que não se pode responder-lhe mal e depois dar-lhe cinco minutos para responder de volta, é por isso que geralmente ganho uma batalha e me ponho a andar, ele é muito inteligente, chega lá depressa.
-Se vieres sair comigo e com os teus novos amigos amanhã á noite deixo-te em paz. Franzo os olhos e encolho os ombros.
-Não falamos assim tanto para que sinta que me chateies.
Merda, falamos sim.
-Para sempre, acabou-se, sem mais merdas.- A voz dele desce algumas notas e os olhos dele ficam sérios.
Eu já ouvi isto antes.
Ele continua a andar á minha frente, especificamente virado para mim, está a atazanar-me com alguma coisa, e eu ainda estou demasiado magoada para o ouvir. Gosto do sentido de humor dele, mas também sei que ele pode ser muito cruel quando quer, e não ver chamada de estúpida outra vez. Só caiu nessa uma vez.
-Vá-la já pedi desculpa. Desculpa.Podemos voltar a falar?
Coço o nariz vermelho de frio e sopro para cima numa tentativa falhada de o aquecer.
-Estás desculpado, agora deixa-me ir para a aula.
O cabelo dele é enorme e ele tenta controla-lo com a mão e um farrapo de pano. Apetece-me dar-lhe um elástico para o cabelo. Ele vira-se rápido e começa a caminha ao meu lado em vez de á minha frente.
-Não te estas a rir ainda, não devo estar assim tão perdoado.
-Mas estás.- Sorrio, mas é falso, ele sabe.
-És uma péssima mentirosa, fui um bocado estúpido, mas juro que não sou sempre assim.
Aperto-me mais no cachecol e tento aquecer-me. Tenho os dedos dos pés congelados e mal os sinto. Este inverno está a ser particularmente terrível e tenho dois trabalhos para entregar até sexta feira... um exame para a próxima semana e...
-Estás a ouvir-me?
O tom de voz dele torna-se bruto e olho para ele. Reviro os olhos, para quem ia ser menos idiota, está a fazer um trabalho francamente terrível. Ele parece aperceber-se e coça a parte trás da cabeça numa tentativa para se redimir.
-Podias...podias vir comigo ao cinema na próxima sexta.
-Tenho trabalhos para entregar sexta.-Aposto que os vais entregar quinta.
Não tinha planos para fazer isso.
-E mesmo se os entregares sexta aposto que não o vais fazer à tarde.
Não respondo e tento visualizar a minha agenda.
-Se eu for um idiota podes deixar de me falar, prometo, acabou-se, sem mais merdas.
O olhar dele é tão meigo que acabo por dizer que sim. Um spoiler do fim dessa noite de cinema? Sai de lá antes do filme acabar e ele fez o mesmo acabando por gritar na rua "tu não acabaste este encontro, porque eu acabei", duas senhoras ficaram estáticas na rua e eu meti o punho na anca e disse o clássico "eu nem sequer sabia que isto tinha sido um encontro".
-Já ouvi isso Harry, nunca me deixaste em paz. Os meus saltos altos batem com força no chão de mármore e chamo o elevador.
-Porque também nunca me deixas em paz. Arregalo os olhos e abro a boca.
-É preciso ser-se muito egocêntrico para achar isso. Ele revira os olhos e avança um passo em direção a mim, eu recuo e a porta do elevador abre-se, tropeço para dentro enquanto metade da frase se lhe escapa da boca.
-Sentes tanto a minha falta que até vieste ao meu piso.
Os meus abraços são envolvidos por um par de mãos enormes e os olhos do Harry ficam estáticos. O homem desvia-me para o lado e olho para perceber que é William bonzão. Boa, agora também me desvia.
-Acredito que a minha funcionária veio cá acima para entregar papeis Mr.Styles.
Cruzo os braços e riu-me por dentro. Harry parece zangado e mortificado.
-A sua funcionária estava a incomodar-me.
A minha boca abre-se num "o" e ele sorri.
-Não eu não...
-Pode descer Miss. Cross? Já vou ter consigo.
Ele avança até ao escritório do irmão e fecha a porta. A minha voa para o braço do Harry e ele esfrega-o.
-Estás a gozar? Ele é o teu chefe?
-Harry, isto pode ser uma brincadeira de faculdade para ti, mas aquele é o meu chefe, se ele me der uma bronca que merda é que digo?
-Que andas a assediar-me?- Estreito os meus olhos e ele coça o pescoço.- Quando eles air peço desculpa e digo que a culpa foi minha.
Cruzo os braços e entro no elevador sem acreditar nele.
-Amanhã á noite!
Ele a ponta antes das portas se fecharem. Quando chego ao meu piso os meus colegas já estão sentados com musica a bombar nos ouvidos. Tiram os fones e digo "bom dia". Samuel salta para cima de mim.
-Ele é tão sexy, aposto que é quente como o inferno.
-Lá ligações com o diabo tem ele.- Murmuro e Sam toca-me na anca com um dedo como se eu tivesse uma doença. Viro-me para ela vejo que está corada. Fala muito baixo e tenho que me esforçar para ouvir.
-Ele é muito inteligente, não é? Ele estava muito desconfortável com o Samuel, mas ouvi-o falar com os amigos de um filme que estreou no cinema e ele estava a explica-lo tal e qual como eu o entendi.
Devo estar a ficar maluca. É sexy e inteligente? Esfrego a testa e aceno que sim para que ela possa continua a fantasiar com o miserável do Harry. Viro-me rapidamente para Samuel e olho-o com pena, por muito sexy que o Harry seja, duvido que seja gay, aliás sei que ele não é gay, o braço dele era tão rodado pelas miúdas que não sei como é que não caiu.
-Vou tentar na mesma.
Eu não disse nada, mas Sam apanhou.
-Nunca se sabe, talvez seja por isso que está tão amargurado, não consegue sair do armário. Sento-me e abro o computador outra vez
.-Chegaste muito cedo.
A sua afirmação fica sem respostas porque Mr.Pella entra e aponta para mim e para o escritório. Estou tramada. Vou ser despedida, ficar sem dinheiro, e ter que trabalhar como baby-sitter de um porquinho da índia para poder pagar um quarto nos subúrbios. Vou atrás dele e antes de entrar puxo o tecido das minhas botas para cima até á canela e esfrego o vestido para baixo. Não achei que me fosse meter em problemas hoje por isso escolhi o meu vestido favorito. Agora vai ter que ir para a pilha de roupa que não pode ser usada novamente no trabalho. Sou muito supersticiosa. Se o dia me corre mal não volto a usar a mesma roupa exatamente como a usei nesse dia.
-Feche a porta.
Não! Mas fecho, e depois cruzo as mãos á frente do corpo. Não me vou sentar, posso não conseguir levantar-me.
-Quando a mando ir a um piso tente voltar rápido, posso precisar de si.- Aceno que sim e os olhos azuis dele queimam-me, a sério! Estou a visualiza-lo a queimar-me com olhos lazer.
-Peço desculpa.
-Mr.Styles disse-me que a culpa foi dele, que foi uma brincadeira infeliz, compreendo mas tente manter isso fora daqui.
Acho que se não tivesse um orgulho do tamanho de uma roda gigante estaria agora a tentar forçar as lágrimas para dentro. No entanto estou só a ficar com raiva.Assinto e pergunto se é tudo. Algo nos olhos dele se suaviza e ele levanta-se e caminha até mim. O meu estômago torce e a raiva e proximidade dele fazem a cor subir pelo meu rosto. Ele sorri e depois abre a porta.
-Não o leve de forma pessoal, vamos manter o trabalho apenas aqui dentro ok? Preciso de um relatório de vinte e duas páginas sobre as vendas do ultimo livro e como é que as diferentes capas das diferentes edições se comportaram. Tente ser resumida.
-Tudo bem.
Quando passo pela porta ele acrescenta.
-Até ao fim do dia, vou sair depois disso e quero acabar de o ler antes das oito. Fecha a porta e olho para trás, o vidro fosco oferece-me uma visão dele a ir para a secretária e a sentar-se.
Tenho sete horas e meia para escrever vinte e duas páginas de word? Engulo em seco e sento-me, abro o computador e não consigo evitar a sensação de estar a ser castigada.
-Quantas paginas?
-Vinte e duas... até ao fim do dia.
Eles arregalam os olhos.
-O meu máximo foram quinze até ás cinco e meia.
-Levo um dia a escrever seis páginas de papers da faculdade, como é que é suposto analisar gráficos e estatísticas e escrever vinte e duas páginas?
O dia passa num borrão. Recebo uma chamada da minha mãe e despacho-a com suavidade, tenho suor frio a escorrer pela coluna e a dada altura quando todos saem para almoçar cruzo as pernas e meto o casaco para as cobrir. Quando fico nervosa fico com frio e sinto-me a tremelicar. Mr.Pella sai do escritório por volta da uma e meia e olha para mim mas não lhe digo nada. Estou zangada, a espumar pela boca e se lhe digo alguma coisa ainda o mato...ou pior sou despedida.
O chefe do Harry aparece por volta das quatro da tarde para entregar alguma coisa e sorri-me, sorriu-lhe de forma suave embora queira começar a chorar. O meu orgulho está a diminuir e o pânico a instalar-se, tenho doze paginas feitas e ás sete tenho que lhe entregar isto. Ás cinco e meia dou-me por vencida e levanto-me, Mr.Pella tem a porta aberta e posso sentir os olhos dele em cima de mim, provavelmente a perguntar-se se já acabei. Não seu estupor jeitoso, ainda não acabei. Desço no elevador e apanho o cabelo, muita gente está a sair agora e visto o casaco para sair, compro uma salada cheia de tomate e volto para dentro. Vejo o Harry vir para mim e levanto a mão.
-Vou ter que ficar aqui até ás oito por tua causa, nem sequer te aproximes.
Ele fica parado e subo as escadas só para não ter que lidar com mais ninguém. Quando chego ao meu piso, dispo o casaco e aqueço as pernas esfregando-as uma na outra. Vou apanhar tanto frio a ir para casa, mesmo indo de metro ou autocarro vai ser terrível, espero que não chova. Como a salada com um garfo de plástico e de todas as coisas que me aconteceram hoje isto ainda é capaz de me chatear.
Sam e Samuel acariciam-me os ombros e saem. Continuo a trabalhar, rodeada de papeis cheios de gráficos e linhas. Começo a meter os pequenos tomates na boca com os dedos, quando meto o ultimo na boca Mr.Pella sai do escritório. Quero enrola-lo muito bem enrolado, fazer uma espetada dele no meu garfo de plástico.
-Já chega, traga-me isso.
São seis, e ainda me falta cinco páginas.
-Faltam cinco páginas.
-Quero lê-lo agora.
-Não está completo, se me pediu vinte e duas páginas quer vinte e duas páginas, não dezassete.
Merda!Porque é que falei assim?
-Desculpe, estou nervosa.
-Imprima o que tem por favor.
Ele sai e eu reviro-lhe os olhos. Estupor bem-parecido. Faço uma breve conclusão e mando os papeis para a impressora. Dez minutos depois entro no gabinete que desde as cinco e meia tem a porta aberta e coloco-lhe os papeis à frente. Ele olha para mim debaixo para cima e faz sinal para que me sente. Ótimo vou ter ficar aqui enquanto lê o que escrevi. Fantástico. Acho que ele já virou sete páginas quando se resolve a falar sem levantar os olhos do texto.
-Isto está muito bom para quem passou o dia pilhada.
Desculpa lá? Não respondas idiota.
Ele ri-se e olha para mim.
-Não quer dizer nada?
-É melhor não.
-O que quero dizer é que embora não tenha feito tudo o que lhe pedi isto tem aquilo de que precisava, muito obrigado.
-De nada.
Estou a ser petulante, mas este homem está a tirar-me do sério.
-Não tem mesmo nada para me dizer?
-Porque é que tenho um pressentimento de que fui descriminada?
-Descriminada?
-Sim.
Cala-te Julieta, fecha a boca e não a abras mais.
-Talvez, mas tudo o que fiz foi mantê-la quieta o resto do dia, assim o seu colega não a distrai e posso tirar o maior proveito do seu trabalho.
Manter-me quieta?
-Posso sair?
O maxilar dele contrai-se, mas ele acena que sim. Desejo-lhe boa noite e saiu com o casaco pendurado nos braços. A minha mala pesa com o computador e vejo que começou a chover lá fora. Quando chego ao térreo sento-me num dos sofás e ligo á minha mãe.
-Olá querida! Já estas em casa?
-Não...
A minha casca de ferro está a quebrar-se um pouco. O metro é a cinquenta metro daqui, vou ficar encharcada, constipada, não vou poder vir ao trabalho e Mr.Pella vai despedir-me.
-Precisei de terminar um trabalho.
-É tão tarde, está a chover aí?
-Não.-Minto.- Não está a chover mãe, não te preocupes, só queria falar contigo um pouco...
-Estou a fazer o jantar, massa.
O cheiro a bolonhesa enche-me o peito e queria estar lá, em frente á lareira, a discutir com a minha irmã e o meu irmão a ver o meu pai de volta de uns fios quaisquer de candeeiros.
-Está bem, vou para casa, falamos amanhã, adoro-te.
-E eu a ti, não te constipes.
-Não me vou constipar.
Quando ela desliga esfrego os olhos e levanto-me. A minha pasta do computador é levantada e estou pronta para dar uma bronca quando vejo Mr.Pella.
-Eu dou-lhe boleia.
-Nem pensar.- Agarro na pasta do computador, mas ele não a larga.
-Não lhe estou a perguntar, fi-la ficar aqui e agora estava a mentir à sua mãe, não me ia sentir bem a deixá-la ir sozinha.
Estou-me a lixar para como se sente, agora devolva-me a pasta.
-O metro fica...
-Eu sei exatamente onde é que fica o metro Miss. Cross, se quer o seu computador é melhor vir comigo.
Com uma facilidade assustadora ele tira-me a mala da mão e dirige-se até ao elevador, onde suponho que tenha o carro. Diretores finos e as suas vagas de estacionamento.
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