Capítulo 27 "Estou sozinha outra vez"
Música do capitulo é a ultima adicionada na playlist do spotify cujo o link está na minha bio ou link externo. Pergunta de hoje: quantos capítulos terá esta história?
Durante o resto da tarde não volto a ver William...ou Mr.Pella e a conversa deixou-me com tantos nós na cabeça que não sei se tudo isto era melhor quando eu apreciava na minha cabeça, agora que já o beijei é como se tivesse dado um passo em frente para alguma coisa que não estou preparada.
-Vais ficar até mais tarde hoje?- Samuel pergunta-me e penso nas terríveis probabilidade que isso tem.
-Noup, aliás vou sair agora.- São cinco e quarenta e cinco e assim posso evitá-lo pelo resto do dia.
-Nós dizemos a Mr.Pella que te sentiste indisposta.
Oh que simpáticos, mas ele sabe perfeitamente porque é que me vou embora mais cedo, porque estou enfiada em merda até ao pescoço. Arrumo as coisas e visto o casaco, quando estou a sair porta fora Mr.Pella faz o mesmo.
-Preciso de café.- Diz a qualquer um de nós os dois já que Sam está a imprimir os relatório dos final do mês.
-Eu vou.- Samuel diz e passa por mim nas escadas, seguro-lhe a porta e depois olho para trás. Aposto que ele está de braços cruzados, com aquele cabelo escuro todo desarrumado e um ar presunçoso na cara. Vamos lá ver...
Viro-me e vejo que acertei em todas as minhas previsões, preciso de fazer uma aposta num cavalo ou num jogo de críquete.
-A fugir?- Ele pergunta enquanto se aproxima de mim.
-Sim.- Para quê? Mentir?
-E vais fugir o resto dos quatro meses?
-Uma boa aposta da sua parte.
William encosta-se à porta que eu deixo de segurar.
-Jantar?
-Não.
-Almoçar?
-Não.
-E se eu fosse dar uma volta com o Ryan e tu viesses.
Ora isso já tem as suas probabilidades.
-Porque é que te estás a dar a tanto trabalho? - Pergunto-lhe com um sentimento de genuína curiosidade.
Ele parece pensar nisso durante alguns segundos e depois a mascara de presunção cai-lhe da face.
-Não faço ideia, há qualquer coisa em ti, mesmo quando me apetece mandar-te embora.
Não sei onde é isto vai acabar, mas já dizia Taylor Swift "estou morta para saber onde acaba", tenho uma teoria sobre o porquê de não nos conseguirmos evitar, mas parece demasiado piegas para dizer.
-Tudo bem, para além disse o Ryan pode fazer de escudo.
-Escudo?
-Sim, contra si e as suas mãos.
Ele sorri como se tivesse ganho uma causa importante.
-Ótimo, amanhã quando sair, costumo ir para perto do rio com o Ryan.
Aceno com a cabeça e depois levanto a mão.
-Agora vou-me embora.
-É melhor, antes que o Samuel me apanhei a rasgar-lhe o resto das meias.
Abano a cabeça embora tenha vontade de rir.
-Só me rasga as meias se eu deixar.
Ele encolhe os ombros.
-Vou fingir que isso não a impressionou.
Quero dizer-lhe que não, que só me fez querer agarra-lo pelos cabelos e fazê-lo pagar-me umas meias novas, mas a verdade é que uma parte de mim se sentiu impressionada e excitada.
O caminho até casa é fácil e livre de pensamentos, não há muito que eu possa fazer sendo que eu mesma comecei isto...bom talvez não eu mas sim aquilo que se mexe entre nós. É engraçado como existem estas serpentes na nossa vida que se mexem de forma quase impercetível, e é uma questão de tempo até cedermos a alguma delas. Podemos evitar uma ou duas, mas caímos sempre onde não devíamos. Abro a porta da frente e subo as escadas devagar, quando percebo o corpo alto e desengonçado sentado nos degraus à frente da porta. Ele tem as mãos no cabelo e olha para os seus pés como quem procura transformar um objeto em ouro.
-Harry?
O ataque dele na cozinha vem me à memória e eu refreio-me de sorrir para ele, porque como sempre eu tenho esta tendência para sorrir para as pessoas, mesmo quando estou passada. Ele levanta-se e fica ainda mais alto do que o normal.
-Olá Julieta.
Pisco os olhos e depois encosto a anca à parede esfregando a bochecha ao mesmo tempo.
-Porque é que isto me está a parecer familiar?
Não falo com o Harry há dois dias. Sei que talvez eu tenha exagerado, mas senti-me francamente atraiçoada quando cheguei a uma das salas onde ele costuma estar com os amigos e ouvi alguma coisa sobre "O Harry é que sabe lidar com a fera, vejam como está mansa" eu? Eu Julieta, mansa? Claro que a minha primeira reação foi ter achado que o Harry não tinha sabido manter a sua boca calada, e uma parte de mim está mais magoada que zangada, ainda que eles fossem amigos, aquilo que se passa entre mim e ele só a nós diz respeito e ouvir aquele tipo de comentários fez-me sentir...traída. Agora passo os dias a dizer que não se passa nada e a pensar em como é que deixo de me sentir assim. Dobro o corredor e vejo a razão das minhas dúvidas sentado à porta do quarto. Lindo, é suposto ficar comovida?
-Harry?
Ele levanta-se meio atarantado e depois coça o nariz apenas para coçar o pescoço a seguir. Sinceramente o rapaz é cheio de manias esquisitas.
-Olá Julieta.- O meu nome todo saído dos lábios dele começa a parecer estranho, geralmente ele chama-me dolcezza, ou Julls ou Giulietta, mesmo com uma pronuncia inglesa nojenta eu acho que é a coisa mais romântica do mundo.
-Podemos falar?
Podemos? Será que podemos?
-Sobre?
Ele revira os olhos.
-Estou farto que me digas que está tudo bem e depois te esquives de mim, por isso vamos falar.
Abro a porta do quarto.
-Ora deixámos de perguntar para afirmar, adoro quando és um homem de pulso, é assim que me "amansas".
Okay talvez eu esteja a ser má, mas ele não se sentiu como eu senti quando ouvi aquela...porcaria.
Ele fecha a porta com força.
-Eu sabia que ainda estavas zangada com isso.
-A sério Sherlock?
Vou até à janela e abro-a, vejo a confusão que está a minha secretária e começo a arrumá-la, é um pouco complicado quando tenho um par de olhos verdes a queimar-me as costas, mas neste momento estou tão zangada que me estou literalmente nas tintas para o que ele possa pensar. De repente as suas mãos agarram-me a cintura e ele vira-me com força para ele.
-Para quieta e fala comigo.- A sua voz torna-se mais áspera e tenho vontade de chorar, no entanto pressiono as unhas das palmas das mãos e olho para ele.
-O que é que queres que eu te diga?
Talvez possa despachá-lo se lhe disse o que ele quer ouvir, talvez ele se vá embora e eu possa continuar a retorcer isto na minha cabeça, talvez eu envelheça e no leito da minha morte esteja ainda a remoer sobre isto.
-Consigo ouvir-te a ser dramática na tua cabeça.- Ele diz com cara de irritado enquanto as suas mãos me apertam a lombar.
-Não consegues.- Desafio.
-Para de ser uma criança e fala comigo.
-Não sou uma criança.
-Porque é que não me perguntas logo se andei a dizer a alguém o que andávamos a fazer?
Paro quieta e olho para ele, porque no fundo prefiro ser eu a pensar nisso do que ter uma confirmação que me vá deixar de coração partido e por muito que me custe a única pessoa que me pode partir o coração é ele.
-Não quero saber.- Sussurro a olha para a gola da sua t-shirt.
-Não queres saber?- Ele está confuso e eu olho para ele, comprimo os lábios e as lágrimas volta a fazer o seu caminho para cima. Não quero que a minha confiança nele morra por causa de uma coisa tão estupida
-Não quero que me magoes...
Ele parece finalmente perceber e o toque dele na minha cintura torna-se menos duro, Harry começa a fazer círculos na minha pele e depois esfrega o nariz no meu para que eu olho para ele.
-Não lhes disse nada, não ia dizer, olha para ti, achas que quereria que algum deles soubesse?- Ele encosta a sua cara ao meu cabelo e abraço-o com força.- Foi uma provocação estupida, estamos sempre na picardia à frente das outras pessoas e ultimamente somos seres normais...
Aperto-o mais e ele gira-nos até cairmos na minha cama, eu por cima dele, beija-me o cabelo e depois sorri.
-Ninguém precisa de saber que não consegues ficar quieta quando te toco aqui. - A sua mão passa por cima das minhas calças de ganga perto do meu rabo e desce até me tocar entre as pernas.
-Estás a estragar o nosso primeiro momento carinhoso. - Sussurro e depois beijo-lhe a parte de baixo do pescoço. Ele ri-se e depois volta a colocar a mão nas minhas costas o que a parte boa de mim aprova e a má desaprova.
Deixo-me ficar em cima dele, a sentir o subir e levantar do seu corpo conforme respira. É como se o meu corpo tivesse sido lavado em alivio.
-Para a próxima pergunta-me logo ok? Detesto mandar-te mensagens e ter respostas tão curtas que até me sinto mal em gastar dinheiro a responder.
Aproximo-me da porta e abro-a, viro-me e vejo que ele parece nervoso. Um pensamento cruel passa-me pela cabeça mas mando-o embora, por muito que o tenha vontade de magoar como ele me magoa a mim ainda gosto dele, mais do que gostaria de admitir a qualquer pessoa.
-Queres entrar?- A pergunta é estupida já que ninguém se senta nas escadas do prédio de alguém só para se deixar estar.
-Por favor.
É a segunda vez que ele entra aqui e agora espero não ter que lhe fechar a porta na cara como da ultima vez. Ele olha para o ambiente e eu aponto-lhe o sofá colorido, vejo enquanto sorri e depois, quando se senta e eu descalço os sapatos e calço umas pantufas, pega numa manta de retalhos que costumava enfeitar a minha pequena cama.
-Esta é velha.- Ele diz.
-E cheia de recordações.
Provavelmente não devia ter dito isto mas a quantidade de vezes que algum de nós se embrulhou nu na maldita mante é engraçada.
-Agora que estamos separados a custódia devia ser partilhada.
-Queres levá-la no fim de semana?- Sento-me ao lado dele, mas acabo por me levantar.- Importaste que me vá trocar? Passei o dia nesta roupa.
Ele acena que sim sem olhar para mim e troco rápido para umas calças de fato de treino e uma camisola de lã quente que enfio meio por dentro as calças. Quando volto para a sala ele sorri.
-Agora pareces muito mais uma Dolcezza.
Sento-me novamente ao lado dele. Estamos a fazer um passeio de memórias? Ele ainda tem a manta nas mãos e amassa-a, parece que está a ganhar coragem para me dizer alguma coisa.
-Primeiro gostava de pedir desculpa pelo que fiz quando o Samuel entrou, entendo que te estou a colocar numa situação difícil.
Levo a mão ao peito numa atitude teatral.
-Pois estás, obrigada.
Ele ignora-me.
-No entanto vim falar contigo fora do trabalho, isso deve significar alguma coisa.
-Sim, que tens um medo de morte do meu patrão.
Ele revira os olhos.
-Não, significa que estou a tentar fazer as coisas como tu queres.
O pânico viaja e espalha-se pelo meu corpo. Não quero falar, de nada, seja sobre isto ou sobre aquilo que ele parece disposto agora a conversar sobre.
-Estou a pensar em levar a Megan a algum sitio e dizer-lhe algo...
A minha vida é uma comédia! Olho em volta à espera de ver um daqueles apresentadores demasiado barulhentos dizer-me "isto foi tudo uma grande partida, foi tudo armado, os últimos três anos da sua vida foram só para divertir o publico lá de casa", mas quando isso não acontece levo a mão à testa. A minha sala que até é bastante colorida torna-se vermelha, só vejo vermelho.
-Viste aqui dizer-me que vais pedir a Megan simpática em casamento ou coisa que o valha? Estás maluco?
Levanto-me ele faz o mesmo, parece que ele me está a ver com chifres e uma cauda.
-Não! Não a vou pedir em casamento.
-Então o que é que lhe vais dizer?- Cruzo os braços.
-A verdade.
-Que verdade?
-A verdade toda, ela precisa de saber, por amor de Deus ando a brincar com os sentimentos dela.
-Então para de brincar com os sentimentos dela e filtra bem a verdade.
Talvez eu esteja a entrar um pouco em pânico.
-Eu não gosto dela, pelo menos não como... quero que ela entenda o que se passa entre nós...talvez então ela me entenda e não fique tão magoada
Rio-me e engasgo-me e depois preciso mesmo de me sentar. Agarro o meu cabelo atrás num puxo e sinto as gotas de transpiração.
-Não me metas nisso, se quiseste estar com ela foi a tua escolha.
Ele começa a andar ás voltas e as minhas pernas estão tão dormentes como naquele dia. O meu corpo começa a doer e descanso para trás no sofá.
-Só quis estar com ela para que percebesses que ainda te quero, que tu ainda me queres, para parares de...
Levanto-me e vou até ele.
-Eu não preciso que te ver enrolado com meio mundo para saber que te quero, que te vou querer até alguém apagar o ultimo sopro de vida que tenho em mim, não preciso que me faças ciúmes, achas que não custa o suficiente?
A veia na garganta dele está à vista e começo a perceber que é uma questão de minutos até começarmos a gritar um com o outro. As piores brigas que tivemos, que até foram poucas tendo em costa como nos estávamos sempre a picar, como vespas viciadas na adrenalina, acabaram em gritos e choro e eu não estou disposta a chorar.
-Então porque é que não paras de resistir? - A voz dele aumenta, é um grito. O primeiro.
-Porque me magoaste, porque me partiste ao meio. - Tento falar baixo, geralmente isso faz com que ele se controle.
-Tu fizeste o mesmo! - Acusa-me sem remorsos.
-Não quiseste falar comigo, não me disseste nada! - Vou chorar, vou chorar, vou chorar. - Tu desapareceste.
É um sussurro tão baixo que quase perco a força que me mantém em pé. Sento-me no sofá e limpo os olhos com força.
-O que é que preciso de fazer? - Ele senta-se na mesa à minha frente.
No fundo da minha mente sei que posso começar ou acabar alguma coisa, todos estes anos isto tem sido um jogo e por um momento, um pequeno espaço no tempo antes de cair no chão penso como seria uma vida com ele sem jogos, sem medo, sem inseguranças. Ia ser bom, tão bom, íamos viver juntos talvez, cozinhar quando chegássemos a casa e queixarmo-nos do trabalho, e íamos sorrir um ao outro, íamos amar-nos tão intensamente que a chama seria quente até ao fim dos nossos dias. Levanto a cabeça e engulo em seco.
-Nada, não há nada que possas fazer, o problema é meu.
Ele funga pelo nariz e olho para o teto antes de voltar a olhar para mim.
-Não, também é meu, deixa-me ajudar-te.
Abano cabeça.
Isto vai magoá-lo, mais do que me magoou a mim porque eu sabia que ele não gostava da Megan, e sei que me estou a sabotar, que vou despertar a ira dele e vou ter que saber e viver com isso durante o resto da minha vida.
-Eu tenho outra pessoa.
-Estás a mentir Julieta.- Diz-me.
-Não estou. Lamento muito. - Ergo os olhos e vejo que ele está no ponto de rotura. Harry levanta-se e dá meia volta.
-Porque é me dizes que nunca me vais esquecer e depois arranjar outro? Porque é que não és capaz de viver a merda tua vida como queres? Porque é que não deixas essa coisa morrer?
Os gritos dele transformam-se em água. Ele está a chorar.
-Não vai morrer nunca.
As suas mãos estão nos meus braços e ele abana-me enquanto um soluço lhe escapa dos lábios.
-És uma mentirosa, uma cobarde.
Tento limpar uma lágrima e ele para-me o braço.
-Nem sequer és capaz de chorar, não és capaz de sentir as coisas, tens tanto medo!- Ele abana-me e se um dia eu pensei que sentiria medo, este não dia. Estou a deixá-lo viver a dor que nunca viveu.
Ele larga-me de repente, o seu olhar faz-me sentir nua, mas ao contrário das outras inúmeras vezes em que me despedi, desta vez estou desconfortável. Harry abana a cabeça e agarra no telemóvel antes de sair e fechar a porta. E estou sozinha.
Estou sozinha outra vez.
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