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Capítulo 18 "Vou fingir que não estava na cama"

Playlist da história no spotify no link externo e na minha bio. Oiçam com as duas ultimas músicas adicionadas! Pergunta de hoje: Se pudessem recomendar a história a alguém, quem seria?





As mãos dele apertam o volante com mais força, mas ele não acelera nem um pouco mais. Esta é a diferença entre mim e o Harry, eu deixo o meu estado de espirito controlar-me e ele controla o dele. As palavras dele repetem-se na minha cabeça e fecho os olhos durante o tempo que a música está a tocar.

-O que tu sentes por mim nunca passar. - Digo-lhe. Estou a olhar para ele, estou ver-lhe os medos e a coragem.- Não vai passar porque vamos estar sempre na vida um do outro, não importa com quem estejamos, onde ou quando, as pessoas vivem, apaixonam-se, partem corações, choram, gritam, odeiam-se, mas as memórias estão sempre lá, e um dia vais estar deitado, na cama, com alguém ou sozinho e vais lembrar-te de mim, vai doer-te durante alguns segundos, vais tentar odiar-me, não vais conseguir, vais perdoar-me, vais passar por tudo aquilo que estamos a passar agora e vais adormecer.

A ideia dele com outra pessoa magoa-me tanto que sinto que choro por dentro. A minha garganta aperta-se, ele sabe disso porque abana a cabeça como quem sabe que estou a mentir. Não estou. Isto vai acontecer, adormeça ele ao meu lado, ao lado de outra mulher, ou sozinho.

-Falas bem Julieta, mas não me convences. - Ele olha para mim com olhos verdes cheios de emoções.

Encolho os ombros. Também não é a ele que quero convencer. É a mim.

O resto da viagem é calma, nenhum de nós diz nada. As nossas respirações são pesadas e outra vez, o perfume dele envolve-me os sentidos. Se eu pudesse só gostar do que ele é por dentro seria tão mais fácil, no entanto de cada vez que ele respira e a t-shirt dele se move eu sinto tudo dentro de mim. Os braços dele flexionam-se quando ele faz uma curva e a tinta expande e depois encolhe. A coisa com o Harry é que quando ele está a falar eu posso concentrar-me no que ele diz, preciso de estar atenta para que ele não me apanhe, no entanto quando ele está calado só sinto o corpo dele e nesse aspeto o meu cérebro não consegue fazer nada a não ser libertar endorfina que me entorpece o corpo.

-Para quieta, estás a deixar-me nervoso.- Ele mete-me a mão na coxa e reparo que estou a abanar a perna num tique nervoso.

A mão dele por cima da ganga faz-me contorcer por dentro e olho para baixo. Os dedos apertam-me um por um e não faço nenhum movimento para o afastar. Ele continua a conduzir com uma mão no volante e outra na minha perna. Fecho os olhos e respiro fundo a tentar pensar numa maneira de o tirar de cima de mim, mas não há nada. A minha boca não me obedece e a minha pele queima onde ele lhe toca.

-Vês. - Ele sussurra.- Porque é que continuas a fugir de mim?

Engulo em seco quando ele continua a subir pela minha perna, a minha mão para a dele quando chega perto do topo das minhas coxas.

-Para. - Choramingo. Estou excitada, muito e ele mal me tocou. - Tu sabes que o nosso problema não é esse, nunca foi.

Engulo em seco e aperto o seu pulso. Ele olha para mim por breves segundos e depois tira a mão, tão devagar que cada dedo meu deixa de sentir a sua pele.

Vejo a via de acesso que nos leva à cidade e ele abana a cabeça para se distrair. Quero ver em que estado é que ele está pela maneira como estávamos a respirar, no entanto impeço-me ou não sei o que pode acontecer a seguir. O telemóvel dele toca.

-Podes atender por favor? Não estou em condições de o fazer.

Uma parte de mim sabe que é porque ele está a conduzir mas o meu ego está a gritar que é porque estamos ambos um pouco destabilizados. Pego no telemóvel e deslizo o dedo sem olhar para o ecrã.

-Bom dia. - Digo.

-Julieta?

Megan!

Merda!

Duas vezes merda!

-Ahn sim, sim sou eu.

O Harry vira a cara para mim e arregala os olhos. Oh fuckboy vou dar cabo de ti! Atiro o cabelo por cima do ombro e deixo que a tensão sexual que se contruiu dentro do carro seja usada para algo de propósito nacional.

-O que é que estás a fazer com o telemóvel do Harry?

-Megan, querida, o que é que achas que estou a fazer às onze da manhã como telemóvel do Harry?

O Harry agarra-me o pulso, mas bato-lhe.

-Não sei... vocês...estão juntos?

-Sim, a não ser que as chamadas do telemóvel dele fossem para o meu.

-O que é que estás a fazer como telemóvel dele?

-Já não me perguntaste isso?

-Já, mas não me respondeste! - Ela está a começar a ficar histérica e o Harry para abruptamente o carro num semáforo. O meu corpo vai para a frente e gemo quando o cinto me magoa o pescoço.

-Oh meu Deus!- Ela desliga mesmo quando o Harry me tira o telemóvel.

Ele olha para o ecrã e depois para mim, zangado, muito zangado e começo a rir-me. Massageio o pescoço onde me magoei, mas o riso que tenho dentro de mim borbulha de tal forma que começo a chorar. Limpo a água debaixo dos olhos e ele está a olhar para mim como se eu fosse louca.

-O que é que fizeste? - Ele agarra-me o braço e levanto a cabeça ainda a chorar a rir.

-Ela acha que estamos na cama. - Abraço o estomago. - Quando travaste eu encolhi-me e devo ter feito um barulho nada agradável!

Ele parece horrorizado por eu estar a rir e ainda parece mais perplexo por estar a chorar. EU nunca choro.

-O que é lhe vou dizer?- Ele diz-me e de repente tudo deixa de ter piada. Levanto a cabeça.

-O que é que lhe vais dizer? Não pensas muito nisso quando tens a mão na minha perna, ou quando me estás a lembrar daquilo que tivemos...

Um carro buzina atrás de nós e ele concentra-se novamente na estrada. Ele está tão perdido como eu, agora percebo que ele tenta seguir em frente, mas não consegue. Isto faz de nós dois.

Agarro-lhe o telemóvel que ele tem debaixo da perna e ele tenta parar-me.

-Deixa-me! Vou resolver isto.

Ela atende ao segundo toque.

-Harry?

-Não, é a Julieta, estou um pouco bêbeda e o Harry deu-me boleia, lamento muito ter-te assustado.

Ela fica em silencio durante alguns segundos e depois quase que oiço o sorriso na sua voz. Apetece-me vomitar e revirar os olhos, tudo ao mesmo tempo, mas paro-me a mim mesma, sabendo que posso estar a sabotar alguma coisa faço isto porque ela não tem culpa da confusão com pernas que eu e o Harry temos.

-Tudo bem, espero que não tenhas uma dor de cabeça muito grande amanhã...

-Eu também. - Murmuro e desligo o telemóvel. - Estás perdoado.

-Desculpa. - Ele sussurra-me e para o carro naquilo que percebo ser o prédio onde vive.

É bonito por fora, todo espelhado, é diferente, muito diferente do lugar onde vivo. Não quero pensar no porquê de ele me estar a pedir desculpa por isso saio do carro para trocar de lugar com ele. Abro o porta mala e ele chega até mim.

-Como é que descobres sempre onde moro? - Tento levar o assunto para outro lado qualquer que não a nossa viagem de carro.

-Quando queremos muito coisa geralmente não paramos até conseguir. E estavas nos ficheiros de Miss.Beatrice e aqui foi fácil, estava num ficheiro a que tenho acesso.

Olho para ele, estamos os dois a tentar entender o que o outro está a pensar.

-Então eu não vou parar até ficares com a Megan.- Digo-lhe com o gosto amargo na boca.

-Não consigo, tento seguir em frente, tento e tento mas estou sempre à procura de uma coisa que nenhuma delas tem.

Aceno que sim como se percebesse.

-Então para de procurar. Isto não é bom para nenhum de nós.

Ele tira a mala do carro e eu entro no lugar do condutor. O banco está quente e observo-o quando entra para dentro do prédio. Fecho os olhos e bato com força no volante. Porque é que não consigo? Porque é que não posso deixar isto morrer e tentar ser feliz com ele? Porque é que tenho sempre que ser o meu próprio captor? Estou a prender-me nesta gaiola porque me sinto mais segura aqui dentro do que lá fora com ele, exposta aos perigos do mundo.

Quando chego a casa tiro os ténis e atiro-me para cima do sofá. Fecho os olhos e imagino um mundo onde o medo não me consome.

O meu telemóvel está a vibrar na mesa de cabeceira e estou a ter um sonho tão bom que não me sinto nem um pouco a favor de ver o que se passa. Toca uma segunda vez e atendo.

-Sim? Espero que seja bom!- Murmuro ainda de olhos fechados e com baba no canto da boca.

-Oh sim é bom Julieta, é bom que já esteja a caminho da reunião que tenho às sete e um quarto!

- Cazzo! – Levanto-me rápido e coço os olhos. – Estou no metro Mr.Pella!

-Vou fingir que não está na cama.

-Ótimo, vou fazer o mesmo, até já!

Desligo e começo a tropeçar na minha roupa. Visto-me rápido, um vestido preto com umas bolinhas brancas, puxo as botas pelos tornozelos, parecem meias e assim não estão sempre a cair já que hoje vou andar em ponta de pés. Visto o casaco gigante que não fica bem com nada, agarro na mala e saio de casa. O metro atrasa-se e faltam dez minutos. Passo à frente de uma velhota na linha, mas ela está na reforma, já eu só salto daqui para o desemprego. Subo a rua a correr, e com uns sapatos destes tudo parece horrível, até a porta giratória , no entanto o segurança com quem já comecei a simpatizar gira-a para que eu entre.

-Obrigada Don.- Digo-lhe.

-De nada Julieta!

Subo as escadas a correr e empurro a porta com força, quase torpeço no pequeno degrau mas Mr.Pella ampara-me antes de eu poder agarrar-me à minha secretária.

-Um furacão, uma confusão- Ele sussurra e eu ignoro as mãos dele à minha volta.

-Esta confusão conseguiu. - Endireito-me e poiso a mala na secretária. Viro-me e tiro o casaco, penduro-o e dou uns saltinhos no lugar.

-Estou pronta. Bom dia.

Ele está a tentar, está mesmo a tentar não se rir.

-Bom dia, atrasada dois minutos.

Cruzo os braços e depois abano a cabeça.

-Não vamos começar segunda feira assim.

Ele inclina a cabeça para o lado.

-Pois não, café. Já.

Fico a olhar para ele até a perceber que sou eu que tem que ir buscar o café dele. Ele cruza os braços e quando estou a sair pela porta oiço-o:

-E não me diga asneiras em Italiano sem esperar que eu não vá ver o que é.

Viro-me para trás e estalo dois dedos.

-Anotado.

Corro até à cozinha e vejo que é demasiado cedo, ninguém fez café por isso começo a arregaçar as mangas. Quando tenho uma caneca quente nas mãos e vou a sair pela porta alguém me diz que devia ir de elevador. Provavelmente toda a gente já reparou na mulher que usa sempre as escadas. Abro a porta do meu andar que continua vazio à exceção de Pella que está debruçado sobre a minha secretária a mexer no meu computador. Estende-me a mão e demoro ainda a perceber que ele quer o café. Estendo-lhe a caneca e ele bebe um gole.

-Quando fico sozinho eu mando, também mando quando estão aqui, mas posso mexer nas vossas coisas, por isso fiz-lhe o favor de meter toda a minha agenda de hoje e quarta aqui.

Ele aponta para o ecrã e eu tento não ficar ofendida com a atitude arrogante. Espreito debaixo do seu enorme corpo e o sangue escapa-me da cara quando olho para aquilo.

-Não o vejo a sair do escritório assim tantas vezes.- Engulo em seco.

-Seis reuniões, tenho que estar ao meio dia e meio num restaurante na baixa de Londres e ás sete e meia preciso de rever o grafismo de uma das edições de novembro.

Suspiro como quem se tenta controlar.

-E eu?- Olho para ele e ele sorri-me.

-Você? Você tem que ter a certeza de que cumpro isto tudo e ainda de realizar as suas tarefas, estão a azul.

Ele aponta e depois sai para dentro do seu escritório.

1-    Rever o trimestre passado

2-    Amostra do projeto

3-    Lavandaria

4-    Confirmar reunião das quatro da tarde

5-    Confirmar reserva no restaurante

6-    Agendar as reuniões da próxima semana

Pisco os olhos e ao ver que a lista se prolonga.

-O que é que vou fazer à lavandaria?

-Buscar o meu casaco, pode fazer isso quando eu estiver no restaurante, use o motorista.

Engulo em seco. Ok sou capaz de fazer isto. Mando tudo para o Ipad com que a Sam costuma andar e meto-o debaixo do braço. Olho para o relógio.

-Reunião daqui a cinco minutos no ultimo piso.

Ele sai à minha frente. Carrega no elevador e eu arregalo os olhos.

-Não gosto mesmo nada de elevadores. - Digo-lhe.

-Começo a suspeitar que se vai demitir antes do fim do dia.

Ele mantém o braço a parar a porta de metal de fechar. Avanço para dentro e antes da porta fechar viro-me para ele.

-Começo a suspeitar que tem a ideia errada de mim.

O elevador abre-se no ultimo andar e antes dele entrar passo-lhe um ficheiro para as mãos.

-O relatório. -Sorrio e abro-lhe a porta. Vejo o concelho todo reunidos numa mesa comprida, o irmão dele, o pai deles suponho numa ponta da mesa e engravatados que já vi pelo menos uma vez.

-Obrigado.

A porta fecha-se e começo a rolar a lista de coisas. Telefone a pelo menos três assistentes para confirmar reuniões e o restaurante diz-me que está tudo bem com reserva. Olho para aquilo que já fiz do meu projeto já que ele incluiu ver isso na lista de coisas a fazer. A rapariga que está numa secretária igual à minha e que penso que seja assistente aqui está a sorrir para mim.

-Não és a Sam. - Ele sorri.

-Não sou mesmo! - Não ia conseguir lidar com isto todos os dias.

-Mr.Pella é difícil, mas disse-te obrigado.

Franzo a testa.

-É isso que se faz quando ajudamos as pessoas.

Ela ri-se como se soubesse de algo que não sei.

Uma hora depois ele sai lá de dentro e depois fica ao pé de mim à espera que mais alguém saía.

-Quer que vá andando?

-Não, fique.

Aceno que sim e aperto o iPad contra o peito. Um homem de cabelo grisalho e barba meio rala sai da sala e sorri-me.

-Miss.Cross, Daniel Pella, pai esta é a Miss.Cross.- Ele parece aborrecido e eu provavelmente pareço estar em pânico. Estendo a mão.

-Muito prazer.- Digo-lhe.

-O prazer é meu, eu escolhi o seu currículo, impressionante, achei que se ia adaptar aqui ao William.

-Obrigado pai, ela é muito obediente.

Faço uma careta e o pai dele ri-se.

-Foi exatamente isso que pensei.

O chefe do Harry que é irmão de Pella sai lá de dentro.

-Especialmente quando vai ao meu piso e deixa aqui o William louco.

Ele sorri-me e depois fala baixinho.

-Continua a fazer o que ele diz para não fazeres, é hilário.

Pisco os olhos muito depressos.

-Quando ela não passar nos projetos finais depois podem consola-la.

Mr.Pella diz e vai em direção ao elevador.

-Rápido Julieta não tenho o dia todo.

Ele segura o elevador e entro. Estou um pouco atordoada com o que se está aqui a passar, mas rapidamente me esqueço disso quando ele me pergunta o que temos a seguir.

-Na verdade temos que ir até ao terceiro piso, o George precisa de aprovação antes de mandar enviar tudo para impressão.

O resto da manhã passa num borrão e sou engolida pela vida deste homem que de repente parece ser o centro do meu trabalho, nem sequer tenho tempo de me sentir deprimida quando vejo a Megan. Estou a escrever um email quando ele sai da ultima reunião antes do almoço, levanto-me e ele dá-me o seu casaco. Não vamos abusar lindo.

-Preciso de voltar a colocar os botões, importa-se de segurar no meu casaco.

Não lhe respondo e ele revira os olhos.

-Por favor.

-Claro, sem problema.

Ele desfaz as dobras das mangar e observo-lhe os braços gigantes. Como é que posso ter braços assim? Não há um relógio que me sirva no pulso e este homem têm uma das minhas pernas agarradas ao tronco, e tudo bem que ele é alto. Ele estende a mão e dou-lhe o casaco do fato. E rotina de novo, elevador, fingir que bato pé, entrar e fingir que não vejo a sorrir. Ele aponta para a porta giratória e digo adeus ao segurança que me sorri.

-Muito simpática, não é?- Ele diz ao mesmo tempo que um carro enorme preto para a nossa frente.

-É...- Um homem sai da frente e abre-me a porta.

-Vai entrar Julieta?

A sua mão está no fundo das minhas costas e meto um pé dentro do luxuoso carro. Há luz dentro e o couro é branco, cheira a novo e penso no estado terrível em que o carro está. Ele senta-se ao meu lado e eu continuo meio aturdida. Antes de o motorista fechar a porta vejo o Harry encostado à porta com um cigarro no meio dos lábios a olhar para mim. Não me lembro de o ver fumar há anos... a porta fecha-se e assusto-me.

-Foco.- Ele repreende-me.

-Estou focada.

-Cinto.

Olho para ele e puxo o cinto. William recosta-se no banco e fecha os olhos. Respira baixinho e quando começa a tocar uma melodia ao piano parece descontrair visivalente.

-Pare de olhar para mim.

-Não estou.

-É a terceira vez que me mente hoje, aconselho-a a parar antes que me comesse a enervar.

Franzo a testa e apoio o cotovelo na janela. Começou a chover e os outros carros param a nosso lado, vejo uma criança a olhar para o carro e sorrir, sorrio de volta.

-Ela não a pode ver. Vidros esfumados.

Viro-me para ele.

-Está a olhar para mim?

Ele pisca os olhos azuis antes de se recostar de novo.

-Parece que estou.

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