Capítulo 17 "Quero ficar contigo"
Playlist com a música citada no capitulo no link externo e na minha bio. Pergunta de hoje: COMO É QUE ESTES DOIS PODEM ACABAR A VIAGEM?
O céu é demasiado claro para a sensação escura que me aperta a garganta. Os meus dedos apertam o volante com força e piso o acelerador com um pouco mais de força. As notas da música e a voz de Chris preenchem o espaço à minha volta, mas mais que isso aliviam o buraco dentro de mim, semelhante às poças de água que enchem com a chuva e desaparecem com o sol, por vezes tudo aquilo que é preciso é triste, e faz-nos mal. A voz rouca vai dizendo as palavras "yellow" e "stars" e ele tenta não cantar, no entanto falha miseravelmente.
-You know I love you so.- Murmuro e engulo em seco. As palavras repetem-se na minha cabeça "you know I love you so", como é que posso passar de dançar num vestido amarelo no meio da relva para este estado de constante dormência?
- For you I'd bleed myself dry. – Eu e o Harry cantamos ao mesmo tempo e olho para ele antes dele sorrir e tocar na minha bochecha. Abano a cabeça e bato-lhe na mão antes de espirrar e ele me abençoar.
A música a acaba e não conheço a próxima, no entanto sei que ele está a tentar chamar-me para a superfície. Numa reta particularmente longa ato o cabelo e ele finge que vai mexer no volante. Rio-me ele pergunta-me se quero alguma música em especial. Talvez eu seja tão incoerente como os meus pais, já que neste momento estou a esquecer-me do fim de semana inteiro em que não fizemos mais nada senão meter os dedos nas feridas infetadas que temos.
-3 minutes seria simpático. - Mordo a unha do polegar.
-O que é isso? - Ele ri-se e depois encolho os ombros.
-Tenho ouvido isso no spotify que temos lá no escritório. - Ele procura durante algum tempo e depois oiço a música já familiar.
Começo a cantarolar ele bate no tablier do carro para fazer o barulho de fundo assim que apanha o ritmo. Abano o corpo e por esta viagem estou mais do que disposta a ter um momento bom.
-A música tem mesmo três minutos. - Digo-lhe quando ele começa a aprender a letra.
-Estás a fazer conversa de circunstancia comigo? - Ele leva as mãos ao peito e sorri, um sorriso tão grande que quase rasga as bochechas.
-Estou.- Sorrio e ele bate-me na cabeça.
-Os teus estados de espirito baralham-me, sempre baralharam.
-Eu mantenho-te em bicos de pés é Styles?
Ele parece pensar um pouco sobre isso.
-Diria que sim, diria que perto de ti sou uma bailarina profissional.
-Oh meu Deus!- Levo a mão ao peito.- Eu sinto o mesmo!
Ele revira os olhos e ri-se aumentando o volume.
Começa uma dança cómica com as mãos e bocejo. Ele tenta-me a fazer o mesmo mas digo-lhe que quero chegar segura a casa. Ele, sendo o Harry com resposta para tudo consegue virar o que eu disse contra mim.
-Na verdade queres eu chegue a casa bem, a tua vida ia ser a preto e branco sem mim.
-Filmes antigos são bons.
Ele abana a cabeça.
-Mentirosa, odeias filmes a preto e branco e mesmo um filme de 1998 te faz confusão!
-Cala-te. - Digo quando já não consigo arranjar uma desculpa.- Aposto que não te consegues calar durante dois segundos!
Durante uns bons cinco minutos ele faz o que lhe peço, no entanto fico entediada rapidamente, e já que me concedi esta viagem para esquecer as nossas vidas fora deste carro, eu mesma quebro o silencio.
-Podemos jogar às perguntas...- Sugiro.
Ele ri-se, ri-se alto e sacode a cabeça para trás.
-Será que ganhei a aposta outra vez?
Viro-me para ele e vejo o sorriso rasgado na cara dele. Lanço a cabeça para trás a rir e ele diz-me para olhar para a estrada.
Quatro dia, duas horas e talvez trinta segundos desde que eu e o Harry decidimos que estamos numa aposta celibatária. Estamos todos sentados na sala do apartamento de um amigo e eu tenho as pernas esticadas enquanto tento ganhar uma corrida de carros a um rapaz que nunca vi na minha vida.
-Se ela ganhar vais ter que sair!- Os amigos dele dizem-lhe, o olhar presunçoso na cara dele faz-me querer ganhar ainda mais, por isso permaneço calada enquanto ele diz aos amigos que não há chance de eu ganhar.
Jam está atrás de mim a massajar-me os ombros. A campainha toca e alguém se levanta para ir abrir a porta.
-Olá.- A voz rouca faz-me levantar uma mão do comando para acenas e a risada do Harry a perguntar o que se passa dá-me ainda mais vontade de dar uma tareia a este gajo.
-Oh a dolcezza vai ganhar, aposto cinquenta libras.
-És louco? O Matt anda a jogar isto à meses.
-Já vais ver.- Ele sussurra.
Toda a gente está tensa quando a ultima volta se aproxima e eu uso alguma porcaria que faz o carro andar mais depressa passando a meta primeiro. Largo o comando e Jam atira-se para cima de mim.
-As miúdas ganham sempre!- Ela abana-me com força e rio-me.
Levanto-me e estendo a mão a Matt para que ele a aperte, no entanto os olhos dele são raivosos e ele bate-me na mão com força. O sorriso desaparece-me da cara e Jam puxa-me para trás de repente quando vejo o rapaz ser erguido pela parte de trás da camisola.
-Acho que vai pedir desculpa.
Matt vira-se para ele.
-Estás parvo ou quê? – Ele solta-se do aperto do Harry e depois ri-se. - Ela ganhou porque eu a deixei, achas que uma miúda qualquer ia ganhar? Estava só a tentar ganhar a atenção dela.
Arregalo os olhos.
-Eu ganhei-te, e estavas a esforçar-te tanto que quase queimaste os fusíveis. - Digo-lhe e ele vira-se para mim.
Jam puxa-me para trás outra vez.
-Para de o provocar.
-Ele está a ser um idiota mal perdedor.
-Olhem só a pequena cabra.
Desta vez o Harry empurra-o contra a mesa de centro ele tenta dar-lhe um soco ao que o Harry se desvia.
-Vamos embora.- Jam sussurra.
-Não...
O Harry leva o seu punho à boca de Matt e este atinge-o no estomago.
-Façam alguma coisa seus anormais.- Grito aos amigos do Harry e de Jam.
-Richard!- Jam pede e vejo que é o mesmo anormal que se meteu comigo na biblioteca.
-A culpa é dela.- Ele aponta para mim.
-Richard, merda faz alguma coisa.
De repente o Harry vira-se por cima de Matt e dá-lhe um soco no nariz que me faz querer vomitar com a quantidade de sangue que espirra para a cara dele. A camisola branca do Harry fica manchada e sinto-me andar à roda. Fecho os olhos e Jam agarra-me, abre a porta do apartamento e senta-me nas escadas.
-Fica aí, vou chamar alguém e não vomites.
Aquilo foi imenso sangue, mesmo muito sangue. A Jam passa por mim a correr com o tipo com ar de bonzinho e passado cinco minutos ela sai lá de dentro.
-Estou atrasada, queres que te leve até ao teu dormitório?
Abano a cabeça. Não quero. Vou sozinha.
-Não fiques aqui, não vá aquele louco sair e tentar dar-te uma coça também a ti.- Ela mexe-me no cabelo.
-Eu ganhei o jogo.- É tao estupido dizer isto, mas é a única maneira que tenho de justificar o que aconteceu ali dentro. Ela baixa-se ao meu nível.
-És mesmo tolinha, eles não andaram à porrada porque ganhaste o jogo, foi porque ele te chamou cabra e obviamente o Harry sente que só ele é que pode dizer.
Abano a cabeça.
-Ele nunca me chamou isso.- Levanto-me.
-Não chamou, mas pensou. Anda vou levar-te.
Ela puxa-me para cima e deixo que me guie pela rua fria. Jam está a tentar distrair-me, contando-me da aula que vai ter agora a seguir à pausa do almoço, no entanto só consigo pensar no Harry e na camisola espirrada de sangue.
Quando dou por mim estou no meu quarto e ela está a dizer-me para descansar. Aceno que sim e ela fecha a porta e desliga a luz antes de se ir embora. Fecho os olhos e tento que os pensamentos não se enrolem todos na minha cabeça.
A minha companheira de quarto abre a porta e depois aponta para aminha camisola.
-Tens sangue na camisola, isso é altamente anti-higiénico.
Não consigo ouvi-la falar por isso levanto-me e fecho a porta com força quando saio. Lembro-me vagamente do caminho para o prédio de o Harry e quando fico à frente da porta de madeira êxito em bater. Merda bate nisso, o rapaz levou um soco por ti. Bato à porta e oiço uma cama ranger. A porta abre e os olhos do Harry estão zangados, no entanto ele parece suavizar um pouco quando me vê. Nunca vim ao quarto dele e parece tao diferente do meu, primeiro porque só tem uma cama, gigante que ocupa a maioria do quarto, e depois ele é mais arrumado do que eu alguma vez fui, têm livros em cima da secretária que está cheia de cadernos com equações complicadas e números por cima de letras. Reconheço algumas coisas, antes de deixar a matemática para trás até não era má. A minha atenção volta-se para ele que me deixa na porta.
-Vais entrar ou vais ficar aí a olhar para o meu quarto? - A pergunta dele é azeda por isso respondo da melhor maneira que consigo.
-Vou entrar obrigada.- Dou um passo para dentro e fecho a porta. Tudo aqui cheira a ele, e a miúda apaixonada dentro de mim está noutra dimensão. Claro que existem mais versões de mim mesma que estão a revirar os olhos à minha reação primária. A luz está apagada e eu busco pelo interruptor, a luz acende-se vejo que ele tem a bochecha numa cor de rosa assustador. Tento tocar-lhe mas ele agarra a minha mão.
-Não.- Ele diz e pela primeira vez desde que nos conhecemos ele está a negar-me tocar-lhe.
-Porquê?- Sussurro preocupada que talvez ele me culpe pelo estado da sua cara. Ele abana a cabeça e levanta-se, acende a luz da secretária e apoia as mãos na madeira robusta. Nunca vi o Harry neste estado de espirito e aproximo-me dele.
-Não sei o que me estás a fazer, mas não tenho a certeza de gostar. - Ele murmura e vira a cabeça na minha direção endireitando-se.
-Será que devo pedir desculpa por alguma coisa? - Sinto-me pequena ao lado dele neste momento, as emoções dele são gigantes e engolem as minhas.
Ele leva as mãos ao cabelo e depois suspira.
-Claro que não! Não fizeste nada de mal.
-Então porque é que não gostas do que te estou a fazer? - Aproximo-me dele. Os nossos peitos estão próximo e quero que ele me dê a atenção carinhosa que costuma dar quando não estamos a discutir... é isso? Estamos a discutir?
-Porque ele era meu amigo e rebentei-lhe o nariz. - Ele diz como se fosse obvio. Então a culpa foi minha? - Mas ele chamou-te cabra e eu não admito isso.
Cruzo os braços e sento-me em cima da comoda.
-Então estás chateado comigo?
-Não sei.
-Não sabes?
Ele abana a cabeça e deita-se na cama de forma dramática.
-Porque é que em vez de me chateares com essas perguntas todas não me dizes o que vieste cá fazer?- Ele cospe e começo a detetar o veneno familiar na sua voz.
-Vim ver como estavas...- Ele levanta a cabeça.
-Estou bem.
-Ok, isso é bom.
Abano a cabeça e quando ele não me responde viro-me para ir até à porta, no entanto algo me faz virar, as minhas mãos encaixam a sua cara e quando quase tenho os lábios colados aos dele ele diz-me a sorrir.
-Estás pronta para perder a aposta?- Ele beija-me o canto da boca.
Merda!
A aposta!
-Vieste à minha procura. - Ele sussurra.
-Estavas a ser um idiota para mim de propósito? - Ergo-me, mas ele segura-me.
-Não, estou confuso com o que fiz, mas queria que percebesses o que vieste aqui fazer.
O que é que vim aqui fazer de verdade?
-Vim ver se estavas bem.
-E agora que já viste o que é que queres? Onde é que estás?
A minha posição sentada em cima do seu estomago faz-me perceber que é exatamente isto que ele me tenta dizer.
-Quero ficar contigo. - Sussurro e pisco os olhos devagar.
-Queres ficar comigo Dolcezza? Queres ficar comigo quando tens medo de mim? Queres ficar comigo quando luto contigo? Queres ficar comigo quando te detesto?
Baixo-me lentamente contra ele e apoio a cabeça no espaço da cama ao lado da sua orelha.
-Quero ficar comigo quando não me dás hipóteses de falar, quero ficar contigo quando me dizes que sou bonita, quero ficar contigo quando abanas a cabeça e eu digo uma coisa inteligente, quero ficar contigo quando levares um soco por minha causa.
Beijo-lhe a orelha, a bochecha e depois o sinal que tem perto do queixo.
-Isso chega por agora.- A sua voz é cheia de certeza, e enche-me a mim com essas mesmas certezas.- Mas perdeste a aposta.
-Estas a pensar no que eu acho que estás pensar?- A voz do Harry traz-me para presente e abano a cabeça.
-Não, estou a pensar no meu trabalho na segunda feira.- Minto e ele sorri, ele sabe quando estou a mentir.
-Ok... certo esse jogo das perguntas, queres começar tu?
-Pode ser. Qual é a tua comida favorita?
Ele fica pensativo por alguns segundos.
-Gosto da tua comida.- Ele acena e pelo canto do olho vejo-o sorrir.
-Isso não é uma resposta.
-Gosto de massa.
-Estás a fazer batota.- Acuso.
-É um jogo de perguntas, como é que posso estar a fazer batota?
-Vou mandar um email à tua mãe a dizer que disseste que gostas mais da minha comida.
Ele respira fundo.
-Ela ia ficar contente.
Como não sei o que dizer, peço-lhe que me pergunte algo.
-Qual é o teu sitio preferido no mundo inteiro?
-Montepulciano em Siena.- Ele sabe isto.
-Isso devia dar-me pontos por saber as tuas respostas!
-Mas não dá, agora eu! Do que é que tens medo?
-Aranhas, dentistas, de ti, montanahs russas...
Arregalo os olhos a rir-me.
-De mim?- Vejo uma bomba de gasolina e paro. Saio do carro e ele faz o mesmo.- Podes meter gasolina enquanto pago?
Ele acena que sim e vou até ao senhor de mais idade que recebe o meu dinheiro. Compro umas tiras vermelhas que devem ter demasiado açúcar e quando volto para o carro Harry está no lugar do condutor. Sento-me onde ele estava antes e fecho a porta a rir-me.
-Tens uma boa auto estima! Quem é que te disse que podias conduzir o meu carro?
-Tu ficas cansada quando conduzes durante muito tempo, para além disso onde estão os teus óculos?
A resposta dele surpreende-me.
-Tudo bem, vamos!
No inicio nenhum de nós diz, o único barulho é a musica de fundo que toca baixo, as arvores passam por nós e fecho os olhos a descontrair.
-Tenho medo de nunca deixar de sentir isto por ti.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro