Capítulo 14 "Mentes de duas maneiras diferentes"
Playlist no spotify no link externo e na bio. Obrigada por todos os comentários, adoro as vossas reações e teorias!!
O Harry está sentado no sofá e levanta-se a sorrir. Eu já o vi muitas vezes a sorrir e sei que neste momento ele está só a fingir. O meu irmão aperta-me com mais força as costelas e afasto-me dele. O Harry veio à minha frente este tempo todo?
-Parabéns.- Murmuro e chego-me para trás. A minha irmã e Jam estão a falar e a minha mãe está encostada ao meu pai.
-Olá Julieta.- O Harry beija-me a bochecha e eu penso "é agora, agora é quando eu cometo uma loucura e deixo que esta voz lhes diga que não está tudo bem". Mas em vez disso, sendo a idiota durona que sou sorrio-lhe e esfrego-lhe o braço.
-Olá Harry.
O meu irmão puxa uma cadeira e senta-se. A minha casa sempre foi muito mediterrânea, muita madeira clara e confortável. Sento-me de encontro à mesa.
-Querida vou acabar o jantar, queres ajudar-me?
A minha mãe olha para mim e sorrio-lhe.
-Claro que sim.
Assim que os meus pés pisam a cozinha e ela fecha a porta viro-me para ele.
-O que é isto? - Sussurro e aponto para a porta.
-Tu disseste que estava tudo bem e sabes como o Gabriel adora o Harry, eles nunca pararam de falar.
O meu irmão adora o Harry! Oh meu Deus a minha família é louca, louca até ao osso. Será que eles acham que estão nalgum romance setecentista? É isso? Eu sou a Julieta maluca e o Harry é o meu Romeu por encomenda? É isto?
-Eu dizer que está tudo bem não significa que o queira ver em minha casa!
A minha mãe mexe em alguma coisa e depois aponta para o frigorifico. O meu pai entra na cozinha e fecha a porta.
-Papà questa è una follia! (pai isto é uma loucura!) - Vou até ele e vejo finalmente alguém que concorda comigo.
-Eu acho isto indigno, e a tua mãe recusa-se a ver isso.
Ambos cruzamos os braços e olhamos para a minha mãe, demasiado ocupada a tirar um pato do forno.
-Vocês precisam de meter uma cara simpática pelo Gabriel.
-Mãe!
-Tu foste sair com ele não foste? Podes fazer isto agora também.
O meu pai olha para mim e tento evitar que ele perceba aquilo que tento esconder, no entanto sempre foi difícil, ele sabe melhor que ninguém quando alguém mente.
-Foste sair com ele?
-Ele trabalha comigo...
-Donne...(mulheres)
Sai e deixa-me sozinha com a minha mãe. Viro-me e quando vou a sair ela diz-me:
-Só te enganas a ti mesmo.
Rio-me e mordo o lábio com força para impedir a imagem da Megan sentada no colo dele de me perseguir.
-Tu sabes que aquilo que te contei, tu sabes aquilo que vistes, mas não sabes o que eu senti, e sinto, por isso não me digas que me estou a enganar.
-Mentes a ti mesma, e a ele, mentes de duas maneiras diferentes, mas de qualquer maneira é só a ti que prejudicas.
-Não vou ter esta conversa.
Abro a porta e vejo o Harry a falar com Jam. Estou tão zangada, estou furiosa, o meu nariz arde e sei que tenho vontade de chorar. A minha irmã e o meu irmão estão a meter os copos na mesa e o meu pai está a ler o jornal e a ignorar toda a gente. Sento-me perto dele e começo a mexer no telemóvel. A portinhola da frente abre-se o mundo todo fica cinzento, Tyler mia muito alto e corre até ás minhas pernas. Agarro na bolinha branca e preta e esfrego-o contra a minha cara.
-Oh meu Deus!
Sinto água nos olhos e o meu pai mete-me a mão nas costas. O ronronar de Tyler faz com que me sinta fraca, de volta a um sitio onde só ele me consolava.
-Ele sente muito a tua falta.
-Esse gato detesta-me.- Elena diz e olho para ela. O meu irmão faz-lhe umas festas na cabeça e depois senta-se ao meu lado.
-Devias levá-lo.- Ele sugere, e o seu tom de voz é tão doce que se torna quase enjoativo. Está a testar água.
-Não posso...ás vezes tomo conta do porquinho da índia da minha vizinha, e passo demasiado tempo fora de casa.
Tyler continua a roçar-se contra o meu estomago e peito e a minha mão continua a traçar-lhe o pelo lustroso.
-A Julieta trabalha bastante, o chefe dela é um pouco abusivo.
A voz do Harry causa-me arrepios e levanto o olhar para ele. Estamos a medir forças, e neste momento eu estou em vantagens, estou em minha casa! O meu pai olhar para mim e bebe um gole de vinho antes de inclinar a cabeça.
-O teu chefe é abusivo como?
Recosto-me contra o sofá e tento tranquilizar o meu pai.
-Ele é só exigente, o Harry está a exagerar, como sempre.
-Não sejas tão boa Julieta, ele obrigou-te a ficar até tarde.
Coço a orelha e depois abano a cabeça.
-Foi só um contratempo, eu precisava de terminar algumas coisas.
-Eu não lhe chamaria um contratempo.
-Eu não estou a gostar do teu tom por isso cala-te.
Toda a gente arregala os olhos e a minha mãe mete uma travessa na mesa.
-Julieta...- Ela avisa, mas não quero saber. Estou chateada que ela não me disse nada, especialmente sendo minha mãe e mulher.
Vamos para a mesa e deixo que Tyler durma em cima das minhas pernas debaixo da mesa. Como calada e oiço quando o Gabriel conta aos meus pais como estão a planear ir até Itália no verão, ele e os amigos dele.
-E nós devíamos ir a Nova York, ou a Paris. - Jam diz e eu e Elena que estivemos caladas olhamos para ela.
-Claro, porque não?
-Talvez porque não tens férias. - O Harry tenta fazer uma piada e todos se riem, menos eu e a minha mãe. Oh está do meu lado finalmente?
-Podes ir buscar o bolo Julieta?- O meu pai pede-me gentilmente e sei que é para me tirar daqui, o que faço de bom grado.
Quando estou na cozinha com Tyler ao lado sento-me numa cadeira. A minha cara enterra-se nas minhas mãos geladas e tento trazer-me para o agora. Este peso está a matar-me! Quero dizê-lo, quero que todos ali se lembrem do que aconteceu e que não finjam que algum dia tudo pode ficar bem!
-Precisas de ajuda?- Vejo os seus pés moverem-se até ao frigorifico e levanto-me, prestes a sair. A sua mão agarra-me o pulso e viro-me abruptamente para ele. Os nossos olhos são fogo e gelo e não sei se alguma vez já me sentir tão traída na minha vida.
-Tinhas mesmo que vir? Não havia nada mais interessante para fazeres numa sexta feira à noite?
-O teu irmão é meu amigo!
-E eu sou eu! Não tens respeito por mim? Ou pela minha família?
Ele passa os dedos pelo cabelo encaracolado e sinto o meu estomago contorcer-se. Estou muito nervosa, apetece-me vomitar e tenho a certeza de que vou sentir-me mal em breve se ele não se afastar de mim.
-Por ter respeito à tua família é que vim.
Fecho os olhos e encosto-me ao balcão.
-És um mentiroso.
A única resposta que obtenho é o som da porta do frigorifico a bater, e ele sai da cozinha. Viro-me para o lava-loiças e passo a cara por água. Este tem de ser o momento mais desconfortável e desajeitado da minha vida. Eu nunca tive este nível de sentimentos dentro de mim, sinto-me zangada, traída, triste e frágil, tudo ao mesmo tempo. Abro a porta e estão à minha espera para cantarmos os parabéns. A voz do Harry faz-se ouvir por cima das outras e acabo por olhar para ele, não sei se repara ou não, mas a verdade é que não olha para mim uma única vez. Comemos o bolo e a minha irmã começa a falar comigo.
-A faculdade é mais divertida do que pensei.- Ela começa a contar-me todas as coisas que faz em moda e eu rio-me quando me conta do vestido aos quadrados com mangas que fez até ao chão.
-Podias vestir umas coisas minhas amanhã e deixar-me tirar umas fotos?- Ela inclina a cabeça e faz beicinho.
-Não sou uma boa modelo.
Ela arregala os olhos e depois faz-se de indignada.
-Tu não percebes! És a minha europeia de nós os três, os teus olhos são de morrer e és tão italiana que dói! Eu pareço só inglesa.
-Hey!- A minha mãe ralha e ela encolhe os ombros.
-O tema é sobre a Grécia e temos que fazer um vestido com um lençol. Vou usar um dos lençóis coloridos do Ikea e tentar fazer alguma coisa e queria mesmo que o vestisses, por favor!
-Diz que sim Julls!- O meu irmão diz e acabo por sorrir. Por muito zangada que esteja ainda tenho saudades deles, e vou ficar cá por dois dias por isso talvez seja melhor ceder em alguma coisa, nem que seja o meu humor.
-Tudo bem.
-Yeah!- Ela abraça-me e aprecio o toque gentil da rapariga que me viu de coração partido duas vezes.
De repente lembro-me do presente do Gabriel. Tiro-o da mala que ficou pendurada na minha cedeira e ele abre-o.
A sua cara vale cada sentimento gasto numa coisa tão foleira.
-Suspensórios? Às flores?
-Sim, por todos aqueles anos em que as tuas calças não sentiram o teu traseiro.
-Muito esperta! - O meu pai dá-me mais cinco e toda a gente se ri. Por momentos esqueço-me do homem de cabelo encaracolado a olhar para mim. O bolo dele está inteiro e sinto os olhos dele em cima de mim.
Jogamos monopólio e perco gloriosamente, não sem antes fazer batota pelo menos cinco vezes e ser apanhada apenas três, os meus dotes estão a melhorar e toda a gente se ri. O Harry recebe o telefonema e fica sem jogar vinte minutos. Pergunto-me quando é que ele se vai embora.
A minha mãe levanta-se e fico a olhar para eles da minha posição deitada de barriga para baixo com as pernas no ar, enquanto Tyler tenta caçar as minhas meias coloridas.
-Vou mostrar-te o teu quarto Harry.- A minha mãe diz e tanto eu como o meu pai olhamos para ela.
-Já falo contigo Meg!
Megan a cabra? Quero dizer simpática? Ele vai dormir na minha casa enquanto fala com a Megan? Eu sabia que ele era um otário, mas nunca pensei que conseguisse ultrapassar tudo aquilo que eu já desconfiava que ele era. Fecho os olhos e mando o peão do jogo dele para dentro da caixa. Ele e a minha mãe desaparecem e sento-me.
-Desculpa. - O meu irmão sussurra baixinho e eu, o pai, Jam e Elena olhamos uns entre os outros.- A mãe disse que tinha falado contigo e que estava tudo bem.
-A tua irmã não merecia ter que vir a casa nestas circunstancias. - O meu pai diz e Jam e Elena acenam com a cabeça.
-E nem sequer convidaram nenhum dos teus outros amigos! - Elena diz e Gabriel faz-lhe uma careta.
-Nós fizemos uma festa no apartamento, mas o Harry não pôde ir, foi por isso que a mãe o convidou!
-Vou falar com a tua mãe Julieta, mas ela está só a tentar concertar o passado.
De repente sinto-me muito vulnerável, com todos a olharem para mim, a saberem daquilo que estamos a falar. Toda a gente sabe, a dor, as lágrimas, os gritos, todos eles o viram e ouviram.
A minha irmã abraça-me e fecho os meus braços à volta dela. O cabelo castanho dela é brilhante e ela faz-me lembrar eu mais nova. Espero que ela nunca tenha um coração tão partido e despedaçado como o meu, e espero que o dela, se alguma vez partir, se torne forte de novo.
Quando estamos todos quase a fechar os olhos a minha mãe recambiamos para a cama. Fazemos uma fila na casa de banho e rio-me quando Jam passa à frente de Elena. Eu sou a ultima e quando entro fecho a porta e apanho o cabelo. Estou corada e embora ainda tenha uma sensação agridoce dentro de mim estou feliz por estar com a minha família. Lavo os dentes rapidamente e quando saio reparo que a porta do quarto da minha irmã está meio aberta.
-Será que ficou muito triste? - Elena pergunta e vejo-a deitada na cama com Jam sentada.
-Acho, acho que vai ficar triste até que a memória dela a relembre daquilo que se passou.
-Mas o Harry não é assim tão mau.
Jam sorri e puxa os cobertores da minha irmã para cima.
-A tua irmã também não é assim tão má... ás vezes as coisas são mais complicadas que isso, o que a tua mãe fez foi egoísta, mas teve um fundo bom, e nem o Harry nem a Julieta deviam ter que lidar um com o outro da maneira que o fazem.
Abano a cabeça e entro no meu quarto. A minha cama de madeira parece-me pequena em comparação com a que tenho em casa, mas deito-me. O cheiro familiar aconchega-me e deixo-me adormecer, dormente com tudo o que se passou hoje.
A primeira vez que o Harry me beijou foi uma tempestade. Foi no meio de uma discussão e eu estava no meu ponto de rutura.
-Eu não vou pôr o meu nome nisso. - Nego-me quando ele me mostra onde tenho que assinar.
-Assina. - Dá-me a caneta, um olhar raivoso nos seus olhos verdes que há dias que não se tornavam agressivos desta maneira.
-Nem morta.
Viro-me e começo a andar com o material de ténis pendurado no braço.
-Não me tentes Julieta! Assina a merda do trabalho!
Viro-me para ele no meio do campus. A minha saia esvoaça e prendo-a. Rio-me da cara dele e olho para o céu azul. Maldita primavera ventosa.
-Não vou assinar a merda do trabalho porque mexeste na minha conclusão.
Ele passa as mãos pelo cabelo e viro-me continuando a andar. Abro a porta do pavilhão desportivo e fecho-a com força. Oiço o barulho dele atrás de mim mas não me atrevo a olhar para trás.
-Vou dar-te mais uma oportunidade.
A voz rouca percorre o caminho e com a mão no dispenso-o, no segundo a seguir o material no meu ombro é puxado e atirado ao chão e o meu corpo é pressionado contra os cacifos. A minha saia sobe ligeiramente e sinto cada centimentro do corpo dele. Os meus olhos tremem ligeiramente quando olho para ele. Nenhum de nós se tocou desde que há três semanas ele me beijou o pescoço. Primeiro porque no outro dia ele tentou falar sobre isso e o despachei e segundo porque ele arranjou maneira de me chatear. No entanto agora estou extremamente chateada com a maneira como ele me está a subjugar...chateada e talvez um pouco excitada.
-Assina.
Inclino a cabeça para poder olhar para ele e digo algo que talvez nunca tenha dito a ninguém.
-Vai à merda, alteraste a minha parte não vou assinar nada.
Vejo a veia na testa dele ficar proeminente e no momento seguinte a caneta e o trabalho estão no chão. Ele respira como um animal selvagem e no segundo a seguir os lábios dele estão nos meus. É uma explosão dentro de mim que me faz fechar os olhos e perder a força nas pernas. As mãos dele passam-me pelas costas e ele tenta-me para abrir a boca, sinto a língua dele deslizar contra a minha, e embora seja uma sensação nova com ele, o fundo do meu estomago sabe bem o que quer. Os meus dedos entrelaçam-se no seu cabelo a parte de trás da minha coxa é agarra e trazida à sua cintura.
-Merda.- Ele sussurra entre beijos. Ele enrola o meu rabo de cavalo no seu pulso e a sensação de não conseguir escapar do seu beijo deixa-me mais elétrica do que era suposto. Sinto-me profundamente tentada a puxar-lhe o cabelo, mas paro-me a mim mesma quando oiço a porta abrir-se outra vez. Empurro-o e ficamos a olhar um para o outro. Ajeito a saia, e a minha treinadora passa por nós sem olhar.
-Não quero discussões no pavilhão, matem-se à frente do outro professor qualquer.
Os olhos verdes dele estão pretos selvagens e a minha respiração é desregular.
-Era capaz de te matar.- Sussurra-me e apanha a caneta e o papel.
-E eu não vou assinar isso.
Viro-lhe as costas e entro no balneário. Os meus lábios estão inchados e as mãos dele desmancharam o meu cabelo. A minha saia está amassada da pressão contra a parede e fecho os olhos. Merda estou muito excitada!
Acordo toda suada e com a sensação de que fui tão brutalmente beijada como naquele dia. Sento-me e apoio a cabeça nos joelhos. Senão consigo parar de pensar nele como é que suposto seguir em frente com a minha vida? Como é que posso deixar o Harry no passado se todos os meus pensamentos são sobre a forma viva como ele me fazia sentir. Reviro os olhos a mim mesma. Como é que me tornei uma pessoa que se deixou sentir viva por outra? Mas a verdade é que estar com ele era como estar constantemente em pontas dos pés. Era adrenalina de saber que não eramos iguais...
Saio da cama e desço as escadas, olho pela janela e na luz lá fora reparo que está a nevar. Meto um tronco na lareira e tento acalmar o meu coração do sonho demasiado vivido que tive. Sento-me na cadeira perto da janela e olho lá para a neve a cair suavemente no parapeito. A neve cai de forma calma, e isso ajuda-me a concentrar de novo. Tenho sono, mas também tenho medo de sonhar com tudo aquilo que fui um dia. O meu corpo sente a presença dele antes de ele se anunciar.
-O que é que estás mesmo aqui a fazer? – Viro a cabeça para ele.
Ele tem uma camisola branca vestida. Umas calças cinza de pijama caídas e senta-se no sofá.
-Quis vir, quis ver toda a gente.
-Decidimos que isso tinha acabado.
Ele encolhe os ombros.
-Podes achar que para mim não é difícil, mas eu gosto da tua família.
Reviro os olhos.
-Também gosto dos teus pais Harry, mas tínhamos um acordo.
Ele olha para os pés descalços e depois abana a cabeça.
-Não, tu tinhas um acordo, fizeste um acordo dentro de ti mesma.
-Vais parar de me atirar isso à cara.
Ele fecha os olhos.
-Como é que consegues ser tão insensível?
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