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Capítulo 11 "Essas calças são altamente inadequadas."

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Ele abre-me a porta do prédio e apoio-me nele, o meu braço à volta dos seus ombros. O perfume dele invade-me os sentido e fecho os olhos por dois segundos a pensar que se ele não fosse meu chefe e nos tivéssemos conhecido em circunstancias agradáveis eu teria pensado em tudo isto numa perspetiva diferente. O piso de madeira range debaixo do nosso peso e quando chegamos ao meu andar tiro as chaves do bolso do casaco. Abro a porta e ficamos os dois parados a olhar para dentro.

A minha casa é colorida, cheia de cores vibrantes, de coisas que fui amontoando ao longo do tempo, o meu sofá é azul e com um monte de almofadas amarelas e existem tantas mantas dobradas em cima do outro pequeno sofá que é quase embaraçoso. A minha cozinha é vermelha e tenho fotografias do meu gato, da minha família e da faculdade espalhadas por todo o lado.

-É encantadora. - Ele murmura e depois viro-me para dentro.

-Obrigada, não por isso, mas por ter cuidado de mim.

Os meus olhem percorrem o seu rosto e tanto ele como eu engolimos em seco, os seus lábios são humidificados pela língua curiosa e quero beija-lo, sinto-o no fundo do meu estomago. Preciso de parar de pensar com o fundo do estomago e pensar com a cabeça! Este homem tem-me infernizado um pouco a vida, de todas as maneiras, ele é atraente e não posso negar que a forma como ele me faz ir dos zero aos cem me faz lembrar coisas boas. Consigo imaginar as mãos dele no meu corpo...

-Quer entrar? Tomar algo?- Claro Julieta! Que esperta, convida-o para entrar, isso é pensar com a cabeça de certeza...- É o mínimo que posso fazer para retribuir.

Os seus olhos parecem duas safiras e depois ele olha para baixo, para o meu joelho creio. Sorri e depois apoia a mão na ombreira da porta.

-Não Julieta, muito obrigado, mas o Ryan não pode ficar sozinho muito tempo e não ia ser profissional.

Este foi um belo balde de água fria na minha atitude de idiota.

-Tudo bem, até segunda e obrigada mais uma vez.

-Até segunda e mais uma vez desculpe.

-Sem problema, deixei vinte libras no seu carro, vou ver quanto custou tudo isto e depois dou-lhe o resto.

Os olhos dele agigantam-se e fecho a porta. Viro-me contra madeira esculpida e fecho os olhos. Eu estive a segundos de perder a sanidade, preciso de parar, parar de olhar para ele como homem, vou ter visualizar qualquer coisa no lugar da cabeça dele, uma coisa feia que não me faça sentir atraída.

Endireito-me e vejo a pomada e os comprimidos, tomo um e depois deito-me durante uns minutos no sofá, viro-me para ver as horas no telemóvel e percebo que passei a manhã toda no hospital com o meu chefe. Também percebo que a mensagem do Harry continua a flutuar no meu ecrã principal. Fecho os olhos e viro-me de lado, puxo uma manta até tapar a cabeça e fecho os olhos com força, na esperança de que o sono me leve as memórias dolorosas para outro lado e me faça esquecer o calor que Pella me provoca.

Segunda feira chega mais depressa do que seria de prever e o meu joelho está inchado, por isso quando apareço no escritório em boyfriend jeans toda a gente vira a cabeça. Sei perfeitamente que não é sexta feira, que é quando geralmente nos podemos vestir de forma informal. A minha camisola tem uma gola tão grande que quase me esconde do mundo e quando me sento na minha secretária tenho quatro olhos na minha direção.

-Bom dia colegas.- Aceno e meto os fones rapidamente no computador.

-Bom dia, estás maluca?- Samuel pergunta e debruça-se sobre mim.

-Porque?

-Temos um código de vestuário e estás de calças de ganga, e umas muito largas por sinal.

Em vez de lhe responder mostro-lhe o papel do médico.

-Caí, agora tenho o joelho em forma de bola, por isso por favor, deixa os meus jeans viver o seu momento.

-Como é que fizeste isso?- Sam pergunta realmente interessada. Preciso de me conter, literalmente porque as minhas orelhas queimam quando lhe respondo.

-Cai enquanto corria.

-É por isso que sou um ermita e não faço nada.- Samuel encolhe os ombros e continua.- A Sam arranjou um rapaz muito giro sexta e hoje vão almoçar.

Arregalo os olhos e vejo-me verdadeiramente feliz que ela já não esteja tão interessada no bastardo do Harry.

-Isso é ótimo, fico muito contente por ti.

Mr.Pella passa por nós.

-Esse jeans são inapropriados Miss.Cross.- Fecha a porta atrás dele e apetece-me mandá-lo... a um sitio simpático onde o comam inteiro.

-Mostra-lhe a justificação do médico.

Sam diz enquanto começa a escrever no computador.

-Ele não precisa. - Encolho os ombros.

-Claro que precisa!

-Que se lixe, são só uns jeans. - Murmuro envergonhada.

Pela hora do almoço toda a gente sai menos eu, claramente Mr.Pella não se sentiu com pena de mim pelo que aconteceu no fim de semana e deu-me mais de três propostas para rever. Quando finalmente aparece novamente chama-me até ao seu escritório. Sento-me e observo o espaço que me rodeia, é tudo castanho e cabedal aqui dentro e ele têm uma vista incrível nas janelas panorâmicas.

-Essas calças são altamente inadequadas.

-Tenho uma lesão no joelho.

-Eu sei que tem, eu estava lá!

-Podia ter-se esquecido.- Encolho os ombros e ele ignora-me.

-Vamos ter que tratar do seu projeto.

-Hum?- Olho para ele distraída.

-Concentre-se Julieta!

-Ok.

Ok podes parar de ser um idiota!

-Vou entregar-lhe uma conta, vamos dar-lhe um nome e têm seis meses para a terminar, uma apresentação, vai escolher um dos livros que chegam para editar pelos editores chefes e vai trabalhar o seu lançamento, desde logística, maketing, vai convencer-me de que aquele livro é o próximo best-seller, e se conseguir o lugar é seu sem discussão.

Pisco os olhos e curvo-me para a frente, as minhas mãos esfregam o joelho que arrefeceu desde que entrei aqui.

-Seis meses?

-Bom, agora são só cinco, mas sim...

Inclino a cabeça.

-Quando é que me ia dizer isto?

-Não ia.

Levanto as sobrancelhas, e ele senta-se finalmente à minha frente.

-Se vamos ser honestos um com o outro Julieta eu não a queria aqui, não queria aqui ninguém, e a razão pela qual a sua antecessora se foi embora foi porque eu não lhe dei nada, ela precisou de se virar e o trabalho dela não foi bom.

Este é um grande filho da mãe que tenho à minha frente. Ele ia deixar-me ficar aqui seis meses à deriva até que me ia meter na rua, dar-me uma palmada nas costas e dizer "boa sorte falhada", este é o maior parvalhão que já conheci e mesmo o Harry, que me dificultou a vida, nunca, mas nunca me deixou às cegas como este idiota estava a planear deixar.

-E porque é que mudou de ideias?

Estou zangada, zangada até ao osso.

-Porque...porque vejo potencial em si.

Levanto-me e ele levanta-se a seguir, o meu joelho falha e descaiu para a frente, quando ele me tenta amparar empurro-lhe a mão.

-Está com pena de mim ou assim?

Os olhos dele brilham em compreensão e reviro os meus em diversão amarga. Eu tenho isto dentro de mim, atraio estes homens que se acham melhores que eu.

-Não me toque, e deixe-me só dizer que esta atitude foi de longe a mais...sinceramente nem sei o que lhe dizer, isto vai abaixo dos níveis da compreensão, porque é que lhe dão estagiários se está só a empatá-los?- Abano a cabeça.- Nunca teve que passar por isto pois não? A incerteza de não saber o que vai fazer a seguir, se encontrou o seu lugar?

Viro-me e fecho a porta devagar, não sem antes o ver zangado, a olhar para mim, mas estou tão furiosa que não me importo que ele ache que fui insolente. Ele foi absolutamente horrível e devia ser denunciado.

Agarro no meu telemóvel e saio pela porta de emergência, sinto-me tonta, e o meu joelho doí-me, no entanto a força e a raiva levam-me a subir. Sei que temos uma varanda lá em cima e não me apetece ir lá para baixo ver toda a gente. Uma porta bate e espero que não seja Mr.Pella a dizer que fui mal educada, porque juro que lhe vou dizer das boas...

-Julls ...

Viro-me e vejo o Harry a olhar para mim. Os olhos verdes lavam-me a raiva e deixo-me cair no degrau sentando-me. Ele apresasse para cima de mim e ambas as suas mãos estão nas minhas bochechas.

-O que se passa?

-Tenho o joelho magoado. - Não afasto o toque dele e isso de alguma maneira surpreende ambos.

-Queres que te leve até ao teu piso? A casa?- A voz rouca dele é baixa, sussurrada como se ele não me quisesse assustar. No fundo ele tem medo que eu empurre. Estou chateada com ele, mas estou mais chateada com o meu chefe.

-O que é o teu projeto?- Sussurro-lhe e o semblante dele descontrai. Senta-se ao meu lado e pergunta-me qual joelho está magoado. Digo-lhe que é o direito e ele puxa essa perna para cima das suas. Não sei porque o deixo tocar-me desta maneira mas de alguma maneira, isto apaga o fogo que arde dentro de mim, por isso deixo-o. Ele massageia-me com cuidado a área magoada e encosto a cabeça à perde.

-Estou a fazer uma pesquisa sobre os gastos e lucros da GQ.- Ele sussurra.- Tu?

Riu-me.

-Sabes porque é que estou tão chateada? Porque senão me tivesses dito que só duas pessoas de todos os estagiários iam ficar eu ia ser mandada para a rua daqui a cinco meses, o meu chefe não me ia dizer nada.

Esfrego os olhos e sinto os dedos dele amaçarem-me e a desconcentração rebenta-me pelas veias.

-Estás a gozar?

-Antes estivesse.

Abro os olhos e vejo-o a olhar para mim, ele aproxima-se de mim e se uma parte de mim quer recuar outra quer ficar.

-Pensa em algo bom. - Vejo o sinal que ele têm na cara, é proeminente, e antes pensava que era uma borbulha, até um dia o esmagar como dedo.

-Não me acontece algo bom há muito tempo. - Os nossos olhos estão trancados e respiro fundo, o sangue aquece e quero tocar-lhe.

-Pensa em algo bom, pensa em nós, pensa em como gostavas quando eu te beijava mesmo aqui.- A sua voz torna-se sexy e quente, e ele levava-me à loucura quando me falava assim. O seu dedo traça o ponto abaixo do meu queixo. O problema com o Harry é que para além de eu o conseguir ver como um homem com quem tenho que lidar durante o dia, também o vejo de outra maneira, quando ele me sussurra coisas que não devia, e se torna tão quente por cima da minha pele que eu faria qualquer coisa para o agradar.

A biblioteca vai fechar e estou desesperada, a tentar chegar até à ultima prateleira. Espreito por cima do ombro à espera de ver Miss.Beatrice, mas ela não está por isso é com culpa que meto um pé em cima de uma das prateleiras e subo até ao livro, assim que o agarro sinto um par de mãos na minha cintura. Assusto-me e desequilibro-me, acho que fui apanhada, no entanto quando o cheiro familiar me chega ao cérebro percebo que é o Harry.

-Quem diria que podias ser tão má! - Tento virar-me para ele, mas não consigo, estou paralisada, a sua cabeça está ao lado da minha quando passa os seus braços à minha volta e abre o livro que tirei da prateleira.

A sua cabeça está ao lado da minha e sinto o seu cabelo na minha bochecha. O ar nos meus pulmões parece pouco e depois ele vira a cara para mim, o seu nariz está frio.

-Ainda estás zangada comigo?

Limpo a garganta antes de falar.

-Estás a referir-te a quando me apertaste o dedo?- Viro a cara para ele e temos os narizes a tocarem um no outro.

-Estou, mandei-te uma mensagem a pedir desculpa, para além de todas as vezes em que te pedi desculpa pessoalmente.

Encolho os ombros e ele sorri. Sabe que não estou zangada, ou que pelo menos não estou zangada.

-Vim à tua procura, estava a ir-me embora quando vi o teu cabelo por cima das outras estantes.

Os meus olhos vão da sua boca aos seus olhos em frações de segundos.

-O que é que querias? - Estou a sentir-me demasiado confinada nos braços dele.

Ele sorri.

-Dolcezza.- Ele murmura e quando me volto para a frente as mãos dele viram-me contra a prateleira dos livros.

Estamos longe do sitio onde deixei as minhas coisas e neste momento sinto-me totalmente enfeitiçada pelo toque dele. Ele sorri, um sorriso torto, os olhos negros que comem o verde selvagem que geralmente carregam. A sua cabeça baixa-se em direção ao meu pescoço e quando os seus lábios me tocam a pele sensível o ar dos meus pulmões é expulso violentamente cá para fora. Os meus olhos fecham-se e as minhas mãos procuram pelo cabelo dele. Ele respira-me e sinto que estou a flutuar. Os caracóis envolvem os meus dedos e quando a sua língua toca na minha pele o feitiço quebra-se.

-Julieta? Querida vou ter que fechar.- A voz de Miss.Beatrice faz-se ouvir por cima de nós, umas filas de livros mais à frente.

Empurro o Harry rapidamente e sinto as bochechas arder. Ele pega num livro e começa a falar.

-Esse livro não é o melhor se queres mesmo ler sobre a construção naval.

Dá-me o livro para a mão e Miss.Beatrice vê-nos.

-Harry! Não te vi entrar.

-Estava no arquivo e só vinha perguntar de a Julieta precisava de boleia.

-Mas eu estou bem, vou sozinha.

Ela olha para nós e o Harry não revela nada, gostava de ter esta capacidade de esconder sentimentos.

Afasto-me dele, abano a cabeça e oiço-o suspirar.

-Porque é que tens que te prender?

Riu-me e tiro a perna de cima dele.

-Não me estou a prender Harry, aproveitaste-te de mim, ainda há três dias estavas a beijar a Megan, eu não funciono assim...

Levanto-me e ele faz o mesmo.

-Mas mesmo quando eu não beijo a Megan...

Fecho os olhos, coço-os e depois quando os abro sinto a dor vibrante que se alastra por dentro do meu corpo.

-Eu estou a fazer aquilo que nenhum de nós nunca teve coragem de fazer!

É a primeira vez que o vejo perder a paciência.

-Mas e se eu não quiser fazer nada daquilo que tu queres merda?!

A voz dele voa pelos corredores e oiço uma voz.

-Julieta?

-É o idiota do teu chefe?- Ele pergunta e desce um degrau. Paro-o.

-Vamos parar isto agora mesmo Harry! Isto foi um erro... não te podes aproximar tanto, e eu não te posso dar estes sinais contraditórios.

Ele desce as escadas e vou atrás dele, o meu joelho dói-me mas preciso de o impedir de se cruzar com Mr.Pella.

-Para! Para com isso agora Harry! Isto acabou, acabou agora!

Paro no andar dele e abro-lhe a porta, ele entra mas fica parado, quase consigo ouvir Mr.Pella atrás de mim.

A porta fecha-se e viro-me para ver William com as mangas arregaçadas e os braços cruzados. A expressão dele é calma e ele afasta-se como se a mandar-me passar, o que eu acabo por fazer, ele vem devagar ao meu lado, pelo menos têm a decência de parecer envergonhado pelo que fez.

Quando chegamos ao nosso piso vejo que tenho comida na secretaria. É um prato de tortellini alla panna e preciso de me virar para ele.

-Está a tentar dizer-me alguma coisa?

Ele acena com a cabeça.

-Estou a tentar pedir desculpa pela forma vergonhosa como a tratei.

Abano a cabeça.

-Isto é muito pouco profissional.

-É só comida, aproveite.

Vai para o gabinete dele e tenho a sensação de que se está a esconder de mim. Sento-me e levo uma garfada à boca. Fecho os olhos e gemo, está ótimo! Não tão bom como o da minha avó, mas está quente e faz-me sentir em casa.

Abano a cabeça a perguntar-me porque é que os homens são tão complicados.

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