03 | Um, Dois, Três e... Droga!
você acha que eu te ignoro também, mas
sério, estou tentando viver minha própria vida
ser mais presente e você deveria fazer o mesmo
está tudo bem
Fire Drill || Melanie Martinez
A pista de dança era toda minha, meus colegas haviam saído há poucos minutos. Não dispensei a oportunidade de treinar mais, claro.
Eu nunca me cansava de fazer isso — de me entregar à dança. Era espontâneo, fluía como a água corrente em um rio calmo. Mas isso, infelizmente, não estava acontecendo hoje, e supus que o motivo fosse a mente não estar aqui no momento, e aí estava o problema — na dança, corpo e mente precisavam estar em sincronia, a entrega era completa, uma via de mão dupla. E agora, entretanto, não conseguia pensar totalmente no que meu corpo estava fazendo, mas sim no jantar desastroso da noite passada.
O início havia sido estranho, mas agradável. Bom, isso durou apenas até o momento em que minha mãe questionou Trevor sobre sua vida acadêmica - oh!, e que surpresa: ele estava seguindo os passos do papai com perfeição, em um curso "sério", e estava indo bem no que fazia. O Prince primogênito que era motivo de orgulho. Isso foi combustível suficiente para a conversa se voltar para mim e tomar um caminho nada agradável.
— Um... dois... três. — Movi meus quadris em sincronia com a batida calma que vinha dos alto-falantes, moldando-me em volta de uma das minhas músicas preferidas da Sabrina Claudio. Você não poderia me dar mais desgosto, Kim, a memória voltou. Droga. — Quatro, cinco, seis... — Efetuei um giro sutil, ou tentei, uma lágrima descendo sobre meu rosto. O que pretende fazer após se formar? Shows no semáforo? — Sete, oito...
— Kim, ei. — Quase me assustei com a voz calma e próxima ao meu ouvido, mas relaxei no momento em que reconheci os toques em minha cintura. — Acho que é hora de parar por hoje, hum? — Cessei minha performance, virando-me e encarando Holder Fisher, uma das pessoas mais especiais da minha vida. Ele abriu seus braços imediatamente, reconhecendo que eu precisava disso.
Um sorriso fraco escapou de mim quando ele proferiu um convite: vamos para casa.
— Sério que o tapado do Trevor te ajudou? — indagou, incrédulo, ao encher a boca com um punhado de pipoca.
— Sim. — Imitei seu gesto. — Quando tudo estava indo para o pior caminho, ele lançou do nada um "alguém quer torta?". Na hora serviu um pouco, e na volta para casa eu quase morri de rir, apesar do fiasco da noite.
Eu estava na cama Holder, assistindo algum filme da franquia da Marvel e vestindo uma roupa sua após um banho que lavou me cansaço.
Quem nos visse agora deduzira que somos um casal fofo e apaixonado — esqueci de ressaltar o detalhe que também estávamos abraçados. Mas a verdade passa bem longe disso. Holder Fisher não era meu namorado, mas meu melhor amigo. Não como a Scarlett ou a Olívia, nossa amizade era diferente daquilo, vinha desde a infância e era especial. Com ele, eu poderia ser apenas a Kim, assim como ele era transparente comigo.
Por sermos claramente afetuosos demais e tão próximos, muitos levantaram a hipótese de que estávamos juntos. Mas logo esqueceram quando nos viram envolvidos com outras pessoas. Bem, "envolver" é uma palavra muito forte para ele, que nunca namorava e só saía pegando todas. O loiro tinha mestrado em ser cafajeste, apesar de não ser um babaca como vários que eu conhecia.
— Odeio sua mãe — pontuou, suspirando.
— Eu sei. — Dei de ombros. Ele sempre deixava aquilo claro quando me via abatida por causa da Cara Prince. — Mas não quero falar sobre isso. Como estão as coisas? Mal nos falamos nesses últimos dias.
Em seu rosto bonito e másculo se formou uma careta, e seus olhos rolaram. Ele cursava em Wisconsin, em Superior, o que era, em parte, o motivo de nos vermos tão pouco ultimamente.
— Estou tendo que trabalhar em dobro no escritório. E ponto final. Minha vida está se resumindo a isso, nem lembro da última vez que tive tempo para ao menos uma rapidinha. — Drama. Acho que essa era sua principal característica. — Se soubesse que Direito era uma via de masoquistas, nunca teria me metido nisso.
Gargalhei com sua confissão.
— O celibato é um estilo legal, deveria tentar. Vai te ajudar a manter energias para as provas.
— Você é uma coisinha maléfica. — Apontou para minhas meias coloridas e temáticas. — Te vendo assim, nunca te dariam a imagem de uma garota que é fã dos Minions.
— Você prometeu que nunca mais me zoaria por isso. — Eu sabia fazer melodrama também, o crédito vinha todo das aulas de artes cênicas. — E os Minions são legais, perfeitos!
— Claro — resmungou, torcendo os lábios. — Então é por isso que você tem blusas, moletons, pantufas e três pelúcias enormes deles no quarto? A vida adulta caiu tão bem em você, Prince. — Fisher realmente estava debochando das minhas paixões.
— Pelo menos eu não tenho tesão por bolas de futebol. — Referi-me à sua fascinação pelos objetos de partidas de futebol americano. O cara realmente tinha uma coleção em casa.
— Não é tesão! — rebateu, tomando o balde de pipoca de minhas mãos e comendo mais. — É colecionar artefatos de momentos históricos. — Parecia ter orgulho.
— Sem chance, Holder. — Peguei o balde de volta. — São só bolas que passaram pelo chão e por mãos sujas de jogadores. — Aproximei-me de seu ouvido para sussurrar: — Você tem uma coleção de bactérias.
Seus olhos pretos se voltaram para mim, mortíferos.
— Eu te odeio.
— Então estamos no caminho certo para o amor. — Ri, maligna.
— ...então ele me deu o carro. Disse ser o presente antecipado, mas tenho certeza que o vovô não vai se contentar apenas nisso e no meu aniversário me presenteará novamente — Scarlett cantarolou pelo corredor.
— Meu Deus, seu avô é demais! — Olívia cantarolou, aparentemente eufórica com o relato. Em suas roupas sempre finas e em compasso com a moda, Wander ostentava sua beleza, e nos olhos castanhos brilhantes estavam o apreço por nossa amiga.
Apostava minhas fichas que o senhor Morissette só havia dando um novo brinquedo à neta para deixá-la entretida em algo e se livrar dos aparates dela por um tempo. Como dar um rolo de lã a um gatinho — é uma comparação baixa, mas não deixa de ser verdade, afinal.
Como eu sabia? Bem, eu o conhecia há anos, nossas famílias eram sócias e em muitos jantares tive a oportunidade de observar o necessário, logo percebendo que ele era um homem impaciente e nada caloroso ou algo do tipo, indiferente à Scarlett em todos os eventos.
— Jess Odell. — Fui tirada dos meus pensamentos com a voz da morena, que gotejava desprezo. O nome era desconhecido para mim, mas ao erguer os olhos o reconhecimento me bateu.
Era a garota a qual esbarrei dias atrás. Elas estava com livros nos braços e, como naquele dia, ostentava um semblante carrancudo.
Mas, cedo o suficiente, deduzi que o motivo dessa vez era outro.
— Eu. — Seus olhos queimavam na pele da garota ao meu lado, pareciam rivais mortais.
Eu era acostumada com isso isso. Mesmo não compactuando, as duas pessoas ao meu lado por vezes eram hostis, e eventualmente isso me rendia olhares atravessados dos outros.
— Soube dos seus recentes desencontros. — Parecia ter gosto no que falava. — Como foi ver o seu amado quase fodendo outra no Trivia?
Porra, isso era muito pesado.
Mas Jess não se abalou — pelo menos não transpareceu, apesar do movimento de apertar mais seus livros com força contra o busto —, ela ergueu a sobrancelha bem delimitada e balançou a cabeça, com claro desinteresse.
— Como você se sentiu ao levar um bolo do Trevor e, mais ainda, como foi fechar os olhos para a orgia que ele participou junto do time na comemoração do jogo? — Meu Deus, eca. Tudo o que eu menos queria nessa manhã era ouvir isso e imaginar meu irmão nessa situação. — Eu e Callen não temos mais nada, e, mesmo se tivéssemos, meu nome é tudo o que menos quero nessa sua boca suja. E não desconte suas dores de vadia nas outras, Morissette.
— Sua...
— Scarlett. — Tentei apaziguar a situação, mas Olívia tinha outros planos.
— Você é uma cadela ressentida, Odell, deveria tomar cuidado com o que diz.
Será que se eu saísse daqui sorrateiramente, alguém iria perceber?
— E você também pode ir se foder, Wander. — Dito isso, ela foi embora de queixo erguido, não antes de direcionar um olhar obtuso para mim.
— O que foi isso? — exigi, agradecendo internamente aos céus pelo fim do início da terceira guerra mundial.
— Como ela pode ser tão ridícula?! — xingou Morissette.
— Você não sabia? A Jesse é uma traíra, ela ficou com o Matt enquanto ele ainda namorava a Scarlett — Olívia esclareceu-me. E não me surpreendi de nenhuma forma, Matt Carter tentava vez com tudo o que usasse saia. O que me surpreendeu foi o nível que a morena desceu ao implicar com outra garota por causa disso.
— Oh, não fazia ideia. — Então lembrei de algo. — O que é Trivia?
Tirando os olhos do fim do corredor, Scarlett se voltou para mim, olhando-me estranho.
— Esqueci que você não sabe. — Sua expressão, pois, se modificou para algo que não pude discernir, como triunfo. — Trivia é o playground dos jovens universitários de Duluth, é uma pista de corrida onde também acontecem boas festas. Você deveria ir qualquer dia, garanto que gostaria.
— Como nunca soube desse lugar? — Era a primeira vez que ouvia sobre, o que era estranho, considerando a forma que ela estava dizendo.
— Crédito do seu irmãozinho. — Rolou os olhos. — No próximo final de semana vai ter um encontro, pode ir com a gente se quiser.
O que Trevor tinha a ver com isso?
— Sim, acho que seria uma boa — confirmei, a curiosidade camuflada em minhas palavras.
Só espero não estar me metendo em problemas.
aaaaaaa, quem tá aparecendo novamente depois de séculos??? it's me
teorias quanto o trivia? ansiosos pra conhecer? e, ainda mais, o que acham dessas amizades?#souteamholder
mil perdões pelos erros ortográficos grotescos e alguns furos, assim que possível vou revisar o cap direito kjdkjksjd
até mais, e bebam água!
de sua autora,
K. L. Lawrence
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