Não se esqueçam de comentar suas partes preferidas :D
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Na quadra poliesportiva, os alunos se agrupavam ansiosos para o desfile que estava preste a começar. A trave metálica branca deu espaço para uma estrutura que suspendia uma cortina aproveitada do teatro do ano passado. De lá, saía um tapete vermelho em direção ao centro da quadra com alguns vasos de flores brancas na lateral espaçados de metro a metro. Na arquibancada, Tiago deu um cutucão em Fábio.
— O que você tem? — indagou ele incomodado com o silêncio do amigo que não dissera quase nada desde que a aula começou naquela manhã.
— Nada.
— A gente percebeu que você está estranho, Fábio. Pode se abrir conosco — Matheus acrescentou, incentivando-o.
— Não se preocupem — Fábio se limitou em respondeu.
— Já sei! Amanda é o nome do seu problema, né — Marcelo disse. — Eu te entendo porque Rebeca é o nome do meu.
— Ah, Marcelo, Rebeca não é o seu problema. A frescura dela sim — Tiago falou na lata.
— Exatamente! Por isso que os homens estão preferindo as mulheres mais velhas — Matheus acrescentou.
— Eu sei! Meu primo se casou com uma mulher quarenta anos mais velha — Marcelo disse. — No caso dele não fez tanta diferença, porque na época ele tinha cinquenta.
— Ual! Ele casou com uma mulher ou com o pó dela? — Tiago fez seu comentário.
— Com a fortuna mesmo!
— Galera, vamos focar no problema do Fábio. Ele está muito mal, está ouvindo a gente dizer besteiras e não está reagindo a nenhuma delas — comentou Matheus notando que o amigo não esboçou um sorriso sequer.
— Fale, Fábio, o que você tem? — Marcelo pediu.
Fábio se retraiu em pensamentos, sem saber se dizia a verdade a eles, por medo do julgamento, mas, por fim, proferiu com a voz embargada:
— Vocês estão certos. Ainda sofro pela Amanda.
— Eu sabia — Tiago disse comemorando, mas percebendo logo depois que o ato não era necessário. — Mas acho que você tem que seguir em frente e esquecê-la.
— Me fale uma novidade — retrucou Fábio.
— Precisamos aumentar a sua autoestima, isso sim. Você se acha feio, magrela e indigno dela — Matheus disse vendo o amigo balançar a cabeça negativamente. — Vamos fazer exercícios esta semana. Ir à academia, correr. Injetar um pouco de endorfina nesse seu corpo travado.
— Eu me alongo todos os dias.
— E depois, vamos arranjar uma mulher mais velha para você — disse Tiago.
— Sei o endereço de um asilo ótimo — completou Marcelo.
— Idiotas! — falou Fábio rindo pela primeira vez no dia.
Atrás da cortina, as duas melhores amigas se agitavam ansiosas e fazendo exercícios de respiração. Rebeca chacoalhava as mãos na tentativa de esvaziar-se da tensão.
— Estou com medo de cair e pagar mico na frente do colégio inteiro — disse Daniele contraindo a testa. — Sei que eles vão rir um monte se isso acontecer, porque quando vejo alguém cair na rua, eu mijo de dar risada antes de ajudar a pessoa.
— Relaxe, Dani. É só manter a calma e tentar fortalecer os pés. As modelos que caem na passarela, caem porque tem as pernas finas e não almoçam.
— Ufa! Pelo menos eu comi.
— E outra, já dei uma olhada em nossas concorrentes e já deu para perceber que nenhuma chega aos nossos pés. A disputa ficará entre mim e você.
— Você se esqueceu da Anna Luíza? — Daniele indagou levando os braços para cima se alongando como se fosse começar uma maratona.
— Não! Só estou praticando algo que aprendi. Estou exercitando o pensamento positivo. A Anna Luíza não irá aparecer, pois neste exato momento lhe deu caganeira.
— Não deu certo não. Olhe lá quem se livrou da caganeira e está pronta para competir — falou Dani vendo Anna Luíza se aproximar toda arrumada e com seu cabelo ao vento.
— Droga! Quem está com dor no estômago agora sou eu — confessou Rebeca ficando mais nervosa ainda.
Sentado em uma mesa, do outro lado da quadra e de frente para o tapete vermelho, o senhor Diretor se pôs em pé com o microfone em mãos:
— Atenção, alunos, alunas, professores e mendigos que vivem no pavilhão abandonado — começou ele ficando ereto e encarando todos que ali estavam. — Estamos dando início ao nosso desfile para escolhermos a menina que irá representar o colégio neste final de semana. Então, como sempre digo ao meu intestino depois de comer carne de porco, solta o som DJ.
Um homem barbudo, de aparentemente sessenta anos e com fones enormes ao ouvido, apertou o play na mesa de som começando a tocar um remix de música pop que ele mesmo fizera.
Na estrutura montada na quadra, acortina se abriu e Leci, vestindo um maiô dos anos setenta e com óculos Ray-ban preto, apareceu dando longas pernadas na tentativa de imitar alguma modelo famosa. Ela caminhou até o final do tapete fazendo todos os alunos ficarem boquiabertos.
— Leci! — gritou o Diretor no microfone tão forte que perdeu o ar desafinando o grito.
Logo depois, ele correu até a vice-diretora com um casaco em mãos, já jogando sobre ela.
— Você está louca! Coloque isso — disparou ele.
— Por quê? Em um concurso de beleza temos que mostrar nossos melhores atributos — garantiu ela estufando os peitos.
— Que no seu caso, não é seu corpo em um maiô — retrucou o Diretor. — Pare de causar e vá logo para o seu lugar de jurada.
— Ah! Ninguém me deixa viver meus sonhos — resmungou ela colocando o casaco e seguindo para sua cadeira ao lado da professora Linda, que se moveu para o lado com medo da vice-diretora.
— Bom, agora sim vamos dar início ao nosso desfile com concorrentes abaixo dos vintes anos e que não têm princípio de osteoporose — afirmou o Diretor olhando a Leci, que revirou os olhos.
E novamente a música pop começou. Desta vez, as alunas do colégio Pedro Álvares Cabral é que começaram a sair por trás da cortina felpuda.
Daniele foi a primeira a aparecer da Turma 201, andando graciosamente em cima de sua sapatilha rosa e ondulando sua saia quadriculada. Quando chegou ao fim do tapete, deu duas piscadelas aos jurados e tornou a caminhar rumo à cortina. Em seguida, Rebeca adentrou com um carão impresso em sua expressão. Na arquibancada, alguns alunos maldosos comentaram que ela estava se inspirando no Osama Bin Laden.
— Cala a boca, Tiago. Respeita minha namorada — Marcelo respondeu o amigo que fez a piada.
Logo depois, que o projeto de terrorista saiu de cena, Anna Luíza fez sua entrada parando logo que se descobriu da cortina. Ela levou a mão ao cabelo, jogando-o de lado, e começou a caminhar colocando um pé na frente do outro, como se tivesse observado atentamente o jeito que uma Top Model faz. E Anna fez direito, pois quando chegou no fim do tapete, os jurados eram só sorrisos. Menos Leci, que contraiu os lábios com inveja:
— Caminhar de calça é fácil, quero ver de maiô — comentou a vice-diretora.
Anna Luíza deu meia volta e marchou para trás da cortina finalizando o desfile no mesmo momento que o DJ idoso encerrou sua playlist.
Momentos depois, Anna Luíza estava debruçada na bancada de mármore verde da cantina. Ela alongava seus dois braços pavorosa e afoita, gesticulando como se sua vida dependesse disso.
— A esfirra! — gritou ela. E moça da cantina lhe deu aquele triângulo de massa assado exalando um odor de carne bem temperada. — Obrigada.
— Estava presa? — indagou a moça assustada contorcendo o nariz.
— Não! Em um desfile — respondeu Anna dando uma longa mordida em seu lanche.
Matheus, contando os passos, chegou ao lado dela, observando-a devorar o que, aparentemente, parecia ser a sua primeira refeição do dia.
— Comer rápido demais faz mal.
— É que a única coisa que estou comendo em horas, tirando o capim com sal que a Amanda injetou na minha goela. — Matheus a encarou com confusão nos olhos. — Estudos dizem que reduz a barriga. — E ela deu mais uma mordida generosa no salgado de carne moída.
— Por isso que cavalos são magros — Matheus murmurou irônico. — Você foi muito bem no desfile. O pessoal do meu lado vibrou bastante.
— Vibrou? Achei que estavam cantarolando: "Cai! Cai! Cai!".
— Essa era a professora Silva, mas que bom que se manteve em pé.
— Aquela professora me odeia.
— Eu estava torcendo muito para você. Na verdade, é algo que ando fazendo muito ultimamente, torcendo por você, por nós — confessou ele analisando a expressão de Anna que se retraiu.
— Matheus,...
— Eu sei o que você irá falar! Está insegura comigo, com medo de eu te decepcionar de novo, mas eu não vou.
— Não tenho garantias disso.
— Mas tem garantia do quanto gosto de você — Matheus abriu sua carteira e retirou de lá uma foto de Anna bem dobrada. — Isso é o mais próximo que consigo chegar de você.
— O que é bem estranho — Anna contraiu sua testa vendo a foto toda amassada. — E esta foto não faz jus a minha beleza. É da minha identidade?
— Peguei da mesa do Diretor. Aparentemente ele estava fazendo um boletim de ocorrência no seu nome.
— Mas a polícia não aceitou. Ele não conseguiu provar que fui eu quem descongelou toda a carne moída da cantina, só para eles serem obrigados a fazer lasanha no almoço — confessou Anna.
Amanda apareceu correndo, chegando ao lado da amiga transparecendo uma animação contagiante.
— Saiu o resultado, Anna — Amanda falou quase gritando. — Você ganhou! Você estará no desfile sábado!
— O quê? — Anna Luíza falou incrédula.
As duas amigas se juntaram em um forte abraço de felicidade dando pequenos saltos, saindo centímetros do chão.
— Sabe o que isso significa Amanda?
— Que se você fosse dez centímetro mais alta, você teria futuro no mundo da moda?
— Não! E minha altura está ótima para ser modelo... infantil, mas, enfim, significa de que estaremos em um backstage real.
As duas amigas novamente não se aguentaram de emoção e se juntaram novamente em um abraço.
— Parabéns, Anna. Você mereceu — Matheus disse quebrando o abraço das duas.
— Obrigada!
Anna estendeu a mão a ele, que agarrou. Havia muito tempo em que a pele dela não tocava a dele, fazendo-a agora sentir saudades da época em que os dois eram como cão e gato, pois pelo menos eles se beijavam com uma maior frequência.
Enquanto isso, Rebeca cruzava a quadra poliesportiva a passos largos e firmes, tentando controlar a ira que lhe tomava desde a ponta dos pés até seu último fio de cabelo.
— Exijo uma recontagem dos votos! — disparou ela entre os dentes fazendo o senhor Diretor a olhar sem nenhuma paciência.
— Tudo bem, senhorita! Aqui vai — ele encarou a professora Linda.
— Votei na Anna — disse a professora.
— Votei em mim — avisou Leci.
— Votei na Anna para que ela não se vingasse de mim. Da última vez que fui contra ela, meus pares de sapatos foram parar na fiação de energia elétrica — o Diretor concluiu. — Como pode ver, senhorita, sua recontagem foi feita. Vá pela sombra.
— Ah! Eu odeio este colégio — gritou Rebeca dando as costas e marchando de volta até Daniele, que estava sentada na arquibancada derrotada.
— E então? — indagou Dani esperançosa.
— Eu fiquei em segundo mesmo — falou Rebeca inventando. — Não acredito nisso. A gente sempre vai perder para essa menina?
— Pois é, a partir de hoje não participo de mais nenhuma competição, só vou participar se eu for do time dela — confessou Daniele se pondo de pé.
— Você quer saber de uma coisa, Dani, a gente vai a este desfile. Nós vamos invadir, roubar o lugar dela e desfilar.
— Como?
— Não sei, mas não deve ser difícil invadir, tem gente que invade terra.
— Eles usam camionetes — Daniele murmurou ficando pensativa. — Meu pai tem uma.
— Não vamos usá-la, Dani. Vamos usar algo muito mais poderoso.
— Dinheiro!
— Não! Cérebro. O meu, é claro.
Rebeca sorriu para sua amiga, pois uma ideia acabara de entrar em sua mente, o que a animou. De certo, Rebeca tinha um bom plano para, desta vez, sair na frente de Anna.
Marcos rodopiava na cadeira no escritório de sua casa quando Dona Carla adentrou carregando uma bandeja prateada equilibrando duas xícaras de cafés extremamente quente.
— Vi que entrou correndo e já veio para o escritório trabalhar — murmurou ela depositando a bandeja na mesa de madeira envernizada.
Marcos, quando ouviu a voz de sua sogra, pigarreou virando-se para encarar Dona Carla.
— Sim! Conversamos depois — falou Marcos ao telefone e, logo depois, desligou-o.
— Atrapalhei?
— Não! Nada de mais.
Dona Carla recebeu essa resposta arcando uma de suas sobrancelhas, praticamente evidenciando a sua desconfiança.
— Até que enfim encontrei vocês — Anna Luíza disse entrando no escritório. — Já estava ligando para polícia achando que tinham sido sequestrados.
— Ah, querida, se tivéssemos sido sequestrados, eles já teriam ligado para você e pedido o resgate — falou Dona Carla.
— E eu já teria oferecido o dobro para eles não me devolverem — Anna respondeu aos risos.
— Isso que eu ganho sustentando você, né — protestou Marcos.
— Não! O que você ganha é um convite para ver a sua filha desfilar. Ganhei um concurso no colégio e neste final de semana participarei de um desfile.
— Ah, que maravilha. Sempre quis ir em um — Dona Carla informou abrindo um largo sorriso.
— Eu acho um tédio, mas por você aceito o convite — Marcos falou se pondo de pé.
— Para comemorarmos, poderíamos comer um bolo de cenoura com chocolate que preparei — disse a avó animada.
— Ah, vó. Logo o meu preferido. Não posso, segundo um site na internet tenho que perder dois quilos até sábado, fazer uma cirurgia no nariz e depilar o buço.
— Você está ótima, Anna Luíza. E pare com essas neuras — Dona Carla a avisou em um tom de repreensão. — Aqui em casa ninguém vai fazer regime nenhum. Quem precisa não está fazendo.
Quando ela terminou de dizer, as duas mulheres da casa encaram Marcos que quase deu um salto para trás.
— Eu não preciso! Gosto do meu corpo como está — afirmou ele olhando para saliência que se destacava na camisa azul-marinho lisa.
— Talvez só por saúde mesmo, pai. O senhor já tem cinquenta anos e Deus já está quase te puxando.
— Nem cheguei aos quarenta ainda!
— Sério? Então comece a usar alguns cremes também. Veja a vovó, pele de cinquenta. Ninguém fala que está com cento e dezoito — Anna finalizou com uma risada.
— Sua hora irá chegar — Dona Carla falou. — E sem bolo para você. Vamos, Marcos.
Marcos e Dona Carla saíram correndo fechando a porta antes que Anna pudesse sair do escritório.
— Não! Eu retiro o que disse. Eu quero bolo, um pedacinho só — gritou ela sem sucesso. Seus entes queridos a deixaram lá por, pelo menos, dez minutos para ela aprender a não ir tão longe com suas piadas.
Já na academia, os meninos se amontoavam em um canto em meios aos aparelhos ergométricos, anilhas e caras musculosos gritando a cada levantada de peso, como se o grito influenciasse em sua força.
Matheus, o mais animado de todos, terminara de ajeitar o supino reto com anilhas de cinco quilos em cada lado da barra.
— Vamos começar devagar para você não se machucar, Fábio — ele disse indicando o lugar onde Fábio deveria se deitar, aprumando-se para iniciar os exercícios.
— Não sei o porquê aceitei fazer isso — respondeu o menino retirando seus óculos quadrados.
— Para ficar musculoso e mostrar a Amanda o que ela perdeu — Tiago disse de canto no mesmo instante que um rapaz grunhiu ao finalizar um exercício. — E para ficar com a voz mais grossa.
— Ainda não atingi a minha puberdade — Fábio respondeu deitando-se no banco preto e firme. — E é normal demorar. Meu tio é médico e me falou que os meninos levam mais tempo para amadurecer, engrossar a voz e perder o BV.
— Perder o BV? — Tiago indagou contraindo a testa.
— É que meu tio só deu o primeiro beijo oficial aos trinta anos, mas segundo ele foi por opção.
— Das mulheres, claro — Matheus concluiu rindo. — E oficial?
— Sim. Os não-oficiais foram com maçãs.
Fábio agarrou a barra metálica e fria com uma força que, até então, ele desconhecia. Com algum esforço, ele a levantou até seu braços finos ficares eretos e, logo depois, os abaixou até a altura de seu peito, repetindo esses movimentos por mais umas oito vezes.
— Não é tão ruim — Fábio concluiu se levantando.
— Minha vez, mas pode colocar mais peso. Estou acostumado a carregar balde de água — Tiago disse recebendo uma encarada estranha de Matheus. — É que meu banheiro sempre entope, então acabo voltando aos anos sessenta e dando descarga manualmente.
— Me poupe, Tiago — Matheus pediu indo buscar mais duas anilhas de cinco quilos.
— Perdi alguma coisa? — Marcelo falou chegando até os meninos carregando em mãos um sanduíche de presunto e suco de maracujá com leite.
— O que é isso? — Fábio proferiu encarando-o.
— Li em um site que é importante consumir carboidratos antes dos exercícios.
— Um carboidrato e não todos de uma vez — Tiago avisou o amigo que não gostou da piada.
— Desse jeito, Marcelo, a gente não vai ter que se inscrever na academia e, sim, no médico para redução de peso — Matheus disse aos risos e adicionando os quilos extras na barra.
— Vocês não entendem nada — Marcelo falou dando uma mordida no seu carboidrato recheado.
— Tá! Vamos lá, hora de soltar o monstro da jaula — Tiago deitou-se no banco agarrando a barra e se esforçando para tirá-la do apoio. — Você amarrou a barra? — indagou ele não conseguindo movê-la nenhum centímetro.
— Não — respondeu Matheus.
— Então diminui o peso — pediu Tiago desistindo.
— E como está se sentindo, Fábio? Já vê alguma melhora? — Marcelo indagou tomando a última gota do suco.
— Sim! Minha autoestima está se elevando, igual meus músculos — respondeu ele tentando fazer uma pose de fisiculturista.
— Pare de se exibir, senão o pessoal logo logo vai ficar com inveja do seu físico de vareta — Tiago falou.
— Quando você conseguir levantar a barra, você fala comigo — retrucou Fábio tirando um riso dos outros dois amigos.
No outro dia, durante o primeiro intervalo, os meninos sentiram o impacto do primeiro dia deles na academia, enquanto confabulavam sentados no banco de concreto em meio ao pátio descoberto.
— Nunca mais vou em academia alguma. Não estou conseguindo mexer meus braços, pernas, tronco. Até respirar dói — Fábio falou quase não fazendo movimento algum.
— Nem me fale — Tiago disse. — Não consegui nem dormir direito. Tive que cochilar em pé atrás da porta.
— Por que atrás da porta? — indagou Matheus já se arrependendo da pergunta.
— Para ver se alguém a abrisse e acertasse meu nariz, pois é o único lugar que falta para eu sentir dor.
— Eu não estou sentindo nada — Marcelo falou.
— Óbvio! Você não malhou, só ficou comendo — Fábio disse sentindo uma pontada de dor no abdômen.
— Melhor exercício — confirmou Tiago.
— Vocês são muito fracos. Eu gostei e vou voltar hoje à noite. Vocês topam? — Matheus indagou se pondo de pé, nem ligando para a dor latejante no peito.
— Hãn, não — responderam os meninos em uníssono.
— Frangotes — Matheus concluiu.
E de certo, Matheus foi de longe o único que gostara da experiência, comprometendo-se em voltar todos os dias.
Do outro lado do pátio, Anna Luíza conversava com Amanda sentada em outro banco, uma de frente para outra.
— Estou tão ansiosa — Anna disse a amiga, que também se demonstrava bem animada.
— Nem me fale. Estou curiosíssima para saber mais sobre os bastidores da moda.
— Será que vai ter alguma modelo famosa?
— Mesmo se tiver, não vou reconhecer. Não conheço nenhuma.
As duas amigas riram no mesmo instante que Rebeca e Daniele as abordaram.
— Ansiosa, "Anta" Luíza? — indagou ela com um sorriso forçado no canto da boca.
— Claro que não — mentiu Anna. — Porque eu sei como desfilar e, com certeza, farei muito sucesso. Só para você saber, depois que ganhei, o evento vendeu mais de cinquenta ingressos. Parece que a sociedade paulistana está louca para me ver na passarela.
— Ou estão achando que será uma performance circense — Rebeca retrucou. — Enfim, espero que tudo dê certo para você.
— Como você é falsa — Amanda disparou.
— Ela não é falsa não. Nem no Paraguai ela nasceu — Daniele respondeu. — Talvez a cor do cabelo seja, mas não podemos julgar as pessoas por isso. Tá na bíblia.
— Quieta, Dani — pediu Rebeca. — Aproveite seus poucos minutos de fama porque eu vou acabar com eles.
— Estou morrendo de medo.
— Deveria mesmo. Vamos, Daniele — Rebeca deu as costas e se afastou de Anna, juntamente com sua amiga.
— Ela é louca — Amanda afirmou.
— Não sabe lidar com a perda — Anna disse aos risos. — Eu sei que vai dar tudo certo.
AnnaLuíza assentiu acreditando nos dizeres que disparara, certamente confiante queseria um experiência única em sua vida.
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