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Capítulo quatorze

Deixo um beijo suave na testa de Jéssica, tomando cuidado para não a acordar. São raros os dias em que acordo antes dela, cumprindo minha cota diária de oito horas de sono. Normalmente, quando chego à cozinha, ela já está de volta da corrida, com o chá pronto em suas mãos. Então, ciente de que é domingo e ela não precisa trabalhar, levanto-me devagar, sorrindo para o resmungo baixinho que solta.

Remédios-banho-café da manhã-comida nova para Alexia-meditação depois, alcanço meu celular, girando o aparelho entre os dedos por alguns instantes. A conversa da tarde anterior, que se estendeu noite adentro, ainda está na minha mente. Jéssica foi categórica, e não posso discordar dela, então decido, por fim, fazer a ligação. O telefone toca algumas vezes antes que ela atenda.

Alô?

Hesito por um instante antes de dizer qualquer coisa.

— Oi — murmuro. — Podemos conversar?

Ouço seu suspiro do outro lado da linha e Danielle demora alguns segundos para responder.

Claro. O que aconteceu?

— Na verdade, só queria perguntar por que você ligou — digo, absorvendo seu silêncio por alguns instantes, até que uma risada invade a linha.

Mesmo, Henrique? — A doçura tão característica da sua voz dá lugar a uma acidez conhecida a qual há muito não era exposto. — Liguei porque estava arrumando a casa e achei a porcaria da sua jaqueta.

— Dani...

Qual é o seu problema? — Fecho os olhos quando sua voz vacila. — Você aparece na minha casa sem qualquer aviso depois de uma maldita década, querendo minha bênção depois de... — Ouço sua respiração profunda e fico em silêncio. — Eu não achei que ainda te odiasse, sabe? Não depois desse tempo todo. Mas como foi que você disse? "A gente não controla o que sente"? É bem por aí mesmo.

Há um momento muito longo de silêncio, e não tento me defender, porque lembro exatamente de quando disse isso, lembro dos seus olhos, lembro da sua dor. Não me lembro muito bem de como a conheci, contudo, não tenho memórias precisas do dia; não tenho certeza se estava bêbado demais ou chapado demais, mas era uma das duas coisas, sem dúvidas. Era a única forma que eu conhecia de lidar com tudo que não entendia naquela época. Tudo que sei foi que acordei um dia com Danielle na minha cama, e foi ali que ela permaneceu pelos anos seguintes. O problema foi perceber tarde demais que eu não a amava; minha loucura amava sua instabilidade, e quando finalmente me vi sob controle pela primeira vez na vida, rapidamente percebi que não havia nada que me prendesse a ela se não o puro senso de obrigação moral.

Danielle esteve ao meu lado nos meus piores momentos, e gostaria de poder dizer que sua raiva é injustificada, mas não é. Não fui pedir sua bênção, fui pedir desculpas. Desculpas por não ter sido capaz de amá-la como desejava, como merecia. Desculpas por estar bem agora, e não quando estávamos juntos. Desculpas por não ter sabido lidar melhor com o término inevitável. Desculpas por... a vida ser tão complicada. Foi egoísta, sei agora. Era a paz de espírito que eu precisava às custas de reabrir uma ferida antiga que ela ainda carrega.

— Como eu conserto isso? — questiono, muitos anos tarde demais. — Como faço as coisas serem... menos piores?

Ela solta uma risada baixinha do outro lado da linha e posso visualizá-la esfregando um olho antes de prender o dedo mindinho entre os dentes, em um tique tão característico seu.

Você não pode. — A voz recheada de uma condescendência acidental não me irrita, não dessa vez. Danielle suspira e pausa por um instante, deixando o silêncio se estender entre nós dois. Quando volta a falar, parece ter momentaneamente desistido de me odiar, porque me oferece o tom calmo tão familiar. — Nem tudo tem conserto, Henrique. Nem tudo é resolvido com meia dúzia de comprimidos e uma conversa civilizada. Olha...

Recosto a cabeça no sofá, encarando o teto branco.

Você me fez sofrer como um cão...

— Me perdoa — murmuro, apertando os olhos fechados, sentindo-me um menino perdido sem saber o que fazer.

É aí que está o problema, Rique. Já perdei. Não significa que eu te quero de novo na minha vida, tenho menos intenção ainda de ficar orbitando ao seu redor fazendo papel de ex louca. E nós dois sabemos que você não me quer na sua vida também.

— Você foi a pessoa mais importante da minha vida. Sabe disso, não sabe?

Ela confirma, e sinto os olhos marejarem. Não é mentira. Ela foi. Amo Jéssica com cada célula minha, com cada gota de sentimento que muitas vezes não sei como expressar, com cada grama da racionalidade que tento tanto manter. Desde que coloquei os olhos no seu sorriso abusado e fui arrebatado pelo seu atrevimento, passei a pertencer a ela, mas Danielle foi a pessoa mais importante da minha vida. Esteve lá quando tudo estava caindo aos pedaços, quando o mundo de desfazia em frangalhos ao meu redor, enquanto eu aprendia a colar cada pedaço de volta. Quando, tantos meses atrás, disse a Jéssica que uma parte minha sempre amaria Dani, era a isso que estava me referindo: posso nunca ter sido verdadeiramente apaixonado por ela, posso não a amar como um homem ama uma mulher, mas ela sempre vai ter minha mais profunda gratidão e admiração.

Só me faz um favor — pede. Pergunto "o quê?", e ela continua. — Não fode com tudo de novo. Não sei como você está, honestamente não quero saber. Mas você veio aqui, Rique. Na minha casa. Me procurou depois de uma vida inteira porque essa sua namorada nova é importante o suficiente para isso. Você claramente a ama. Não. Fode. Com tudo.

Solto uma risada baixa pela forma pausada com que ela me oferece a última frase.

— Sabe que nem tudo está sob meu controle.

Você não consegue controlar muita coisa, é verdade. Mas eu te conheço. Você é muito bom em afastar as pessoas, e isso não tem nada a ver com a sua doença. Não coloca tudo na conta da esquizofrenia, Henrique. É só covardia sua mesmo.

Ouço ao fundo o som de vozes finas e agitadas chamando "mamãe", e lembro das duas garotinhas que conheci da última vez que a vi. Danielle larga o telefone e conversa com as filhas em uma voz amorosa e baixa, pedindo que digam ao papai que ela já está indo. Alguns segundos depois, volta à ligação.

— Preciso ir.

— Tudo bem — digo, tendo a sensação de que não é só uma ligação de telefone que estamos encerrando. — Se cuida, Dani. E me desculpa mais uma vez.

Ela desliga o telefone sem se despedir ou dizer qualquer outra coisa. Continuo com a cabeça recostada no sofá, os olhos fechados. Poucos segundos depois, sinto o toque de uma mão delicada no meu antebraço. Não abro os olhos, apenas deixo que tire o celular da minha mão e a envolvo a cintura quando monta no meu colo, uma perna de cada lado do meu corpo. Apoio o rosto no seu ombro quando me puxa para perto, sorrindo para o arrepio que sente quando beijo seu pescoço.

— Dormiu bem? — pergunto, sem me preocupar em perguntar o quanto da conversa ela escutou. Não me importo que tenha ouvido. Jéssica responde um uhum manhoso e se acomoda um pouco mais a mim. — Seu aniversário é daqui a umas semanas. Já decidiu o que quer fazer?

Ela solta um resmungo baixo e estranho a falta de disposição matinal quando normalmente beira o irritante tamanha a energia logo que acorda. Com delicadeza, faço com que tire o rosto do meu ombro e me encare.

— Que foi? — pergunto, vasculhando o rosto dela em busca de algo errado.

Jéssica faz um bico.

— Cólica — reclama, voltando a se enroscar em mim.

Rio, e ela belisca minha cintura com força. Com alguma dificuldade, consigo levantar nós dois do sofá. Jéssica é leve, mas não estou exatamente no pico da minha forma física, então não é tão simples carregá-la de volta para o quarto pendurada em mim como um bebê coala. Não protesta quando a deito novamente na cama, rapidamente enroscando-se no lençol. Abaixo-me ao seu lado, beijando sua testa.

— Hoje é dia de sorvete? — pergunto, sabendo como ela cuida da alimentação e se permite doces somente quando, palavras dela, seu útero está revoltado e punindo-a por todos os pecados do mundo. Ela assente, e espero pela instrução.

— Becs sabe meu sorvete preferido — reclama, fingindo uma careta irritada.

— Rebecca volta mês que vem. Até lá, você está presa comigo. É o que tem pra hoje — brinco, acariciando seu rosto. Jéssica sorri, um sorriso genuíno, apoiando o rosto na minha palma.

— Posso viver com isso. — Deixo um beijo na sua testa e ameaço me levantar, mas ela segura meu braço. — Não precisa sair só pra isso, guri. Aquieta o facho.

Desvencilho-me dela, ficando de pé.

— Me deixa cuidar de você, só para variar.

É com outro sorriso que ela assente, e logo saio de casa. No caminho ao mercado, as palavras de Danielle reverberam em minha mente. É covardia minha, sim, ela tem razão. Autoisolamento é menos doloroso que desprezo, e sempre optei pelo caminho mais curto. Esconder-me, afastar-me é mais fácil do que arriscar ver pessoas afastando-se, e foi isso que fiz com Jéssica por tanto tempo. Não acho que consiga mais mantê-la longe de mim, contudo. Não mais. Então, quando volto para casa com um pote de sorvete de passas ao rum, perguntando-me quem em sã consciência gosta disso, deito-me na cama ao seu lado.

Jessi se acomoda em meu copo, sentando-se entre minhas pernas, as costas apoiadas no meu peito, o sorvete em seu colo. Rio quando Alexia aparece, atraída pelo doce, e ela murmura um "não conta pro seu pai" enquanto estende a colher para a gata lamber.

— Não acredito que você vai colocar isso de novo na boca — repreendo quando a vejo se preparar para outra colherada do sorvete.

Jéssica dá de ombros.

— Ela é mais limpinha que tu e eu te beijo — justifica.

Espero-a acabar de comer, acariciando seu cabelo um tanto embolado.

— Não sei bem como fazer isso — murmuro ao seu ouvido, movendo seu cabelo de lugar, deixando o lado esquerdo da sua nuca exposto. — Faz tempo que não tenho um relacionamento e...

Jéssica bufa.

— Por que homem é assim? — pergunta, olhando-me de lado. — Sério, quem acorda um dia e fala 'é isso, agora estou pronto para casar, sei absolutamente tudo sobre como ser o melhor marido do mundo, nada vai me impedir'? Ninguém! — Ela joga os braços para o alto abruptamente, assustando Alexia, que salta para longe. — Ninguém sabe o que está fazendo. Eu também não tenho ideia, e não é como se não tivesse muita experiência nesse assunto.

Ela vira a cabeça de leve na minha direção, arqueando as sobrancelhas sugestivamente e oferecendo-me um sorriso travesso. Aperto os olhos.

— Está tentando me fazer ciúmes?

Ela dá de ombro e pisca os olhos angelicalmente.

— Funcionou? — pergunta, travessa.

— Um pouco — murmuro, balançando a cabeça para sua risada descarada.

Jéssica está calada.

Talvez seja uma reclamação um tanto peculiar se incomodar porque sua namorada não está gritando a cada oportunidade que tem, mas a preocupação é real. Jéssica grita. Ela é uma pessoa dada a tons agudos e animados. Qualquer coisa é motivo para um surto bonitinho, desde coisas importantes e justificadas, que vêm acompanhadas de uma revolta verdadeira, até coisas bobas e sem importância, geralmente seguidas de mãos se movimentando rapidamente, gritinhos agudos e reviradas de olhos. Jéssica grita. É como ela se comunica, seja para dar bronca, parabéns ou dizer que gostou do sapato novo que comprou.

Embora meu senso de urgência agradeça a ausência dos sons estridentes — porque eles fazem com que seja muito difícil entender o que de fato é uma emergência e o que é apenas espontaneidade descabia —, o silêncio que ela vem apresentando nas últimas semanas é ainda mais ensurdecedor.

Ela não gritou quando Viviane ligou para atazaná-la com alguma coisa, nem quando a prima apertou todos os botões da sua paciência. Não gritou quando Rebecca se desculpou, dizendo que não conseguiria chegar a tempo para o seu aniversário, daqui a três dias. Não gritou quando seu coordenador marcou reuniões absurdas, não gritou quando seus alunos a tiraram do sério.

Não reconheço a mulher calada demais, contida demais, sentada na mesa da cozinha corrigindo relatórios.

Aproximo-me, servindo-me de um copo largo de água, e recosto na pia, encarando-a com estranhamento.

— Não sou obra de arte pra tu ficar parado me encarando — ela reclama sem tirar os olhos da folha à sua frente, a caneta trabalhando rapidamente para riscar parágrafos inteiros.

— Vou ter que discordar disso — comento, e ela me olha por um segundo apenas com um leve repuxar de lábios antes de voltar sua atenção para o relatório. Balanço a cabeça ao ver um 2.5 aparecer no canto da página em tinta vermelha. — Quer chá?

Ela nega com a cabeça, e é quando decido que algo está realmente errado. Não acho que isso tenha acontecido antes. Deixo o copo vazio na pia e vou até ela, agachando ao seu lado. Seguro sua mão para que pare de corrigir o texto, e ela olha para mim com uma interrogação nos olhos. Acaricio o dorso da sua mão direita, brincando com o anel que coloquei ali.

— Você ainda não me disse o que vai querer fazer no seu aniversário — comento, e ela dá de ombros, recostando na cadeira.

— Eu disse que nada, tu que está insistindo nisso — responde com uma sobrancelha arqueada.

Trago sua mão à boca e beijo sua pele.

— Jéssica, ano passado você fez as comemorações do seu aniversário durarem a semana inteira. Ninguém aguentava mais você — brinco, e ela balança a cabeça. — Sei que não é a mesma coisa sem a Rebecca... — Abaixo o tom de voz e acaricio sua mão com os lábios. — Sei que não é a mesma coisa sem sua tia. Mas...

— Eu só não quero fazer nada, Henrique — ela me corta, soltando a mão da minha. Suspira, coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha e volta sua atenção para o trabalho.

— Posso te levar para jantar pelo menos?

Jessi me oferece um sorriso fraco e um leve acenar positivo de cabeça. Escorrego a mão até sua coxa e aperto-a por cima do pijama fofo que usa.

— Por que você não vem para a cama? — ofereço. Ela ameaça negar com a cabeça, e insisto: — Já está tarde, você precisa descansar. Além do mais, faz semanas que você não me ataca.

A frase sai como uma piada, uma tentativa de arrancar um revirar de olhos ou resposta malcriada, já que ela sempre tem uma pronta para mim. Assim que as palavras me escapam, contudo, noto a veracidade delas. Faz semanas. Semanas que não a vejo desfilar em lingeries minúsculas, semanas que não me atinge com provocações divertidas, mãos bobas, insinuações descaradas.

Jéssica não ri, apenas ergue meu queixo na sua direção e deposita um beijo suave nos meus lábios.

— Tu quer me deixar trabalhar em paz, criatura? — brinca, mas não há a força de sempre na sua voz.

Assinto e me afasto, recostando no batente da porta, sem ser capaz de tirar os olhos dela. Busco na memória e encontro com facilidade quando isso começou a acontecer. Jéssica queria saber sobre o meu passado, então contei. Não há nenhum segredo misterioso, apenas histórias desastrosas das quais me envergonho, das quais prefiro não falar caso possa escolher.

Ela mal piscou quando contei da minha vida errática quando mais novo, inconstante e imprevisível, louco. Não soltou minha mão quando a guiei pelo inferno que foi até que eu aceitasse o diagnóstico, até que eu aceitasse qualquer tratamento — e pelo outro inferno que foi encontrar a combinação mágica que funcionasse. Não perdeu o brilho nos olhos durante os relatos extensos, detalhados e doloridos de cada surto, de cada vez em que o mundo deixou de fazer sentido, de cada momento em que a realidade me escapou. Mas então, aconteceu. Achei ter sido impressão minha, um oferecimento especial da minha péssima capacidade de interpretar corretamente suas expressões faciais, mas agora acho que entendi certo. Vi quando tudo finalmente a atingiu: quando eu disse que não tenho ideia de com quantas pessoas traí Danielle.

Consegui ver as engrenagens da sua cabeça girando em cento e oitenta graus ao se dar conta de que o filho da puta da história fui eu, que não podia odiar a mulher sem qualquer motivo, mas tinha alguns de sobra para me odiar se se permitisse.

Expliquei, mas não acho que tenha adiantado. Não sei se ela parou de ouvir depois daí ou se é realmente muito complicado de entender. Nunca foi um esquema elaborado de mentiras, embora tenha me perdido nelas. Muito menos era algo que eu conseguisse controlar. Sei exatamente que tipo de desculpa esfarrapada isso soa ser, mas é o que é: um vício como qualquer outro.

Da mesma forma que um alcoólatra não para de beber mesmo que todo seu dinheiro tenha ido embora, que sua família esteja sofrendo, que esteja bêbado o suficiente para sequer conseguir levantar o próximo copo. Da mesma forma que um drogado continua injetando mesmo que sinta a overdose assombrando a próxima esquina. Eu não conseguia parar, e só muito tempo depois o termo hipersexualidade entrou no meu vocabulário, mais uma porcaria de um sintoma da esquizofrenia que eu me recusava a admitir ter.

Uma compulsão que eu simplesmente não conseguia controlar. Passava o tempo inteiro pensando em sexo, buscando sexo, expondo-me a situações de risco — fosse pela falta de proteção, fosse pelo local pobremente escolhido para tal. Não havia uma gota de prazer envolvida, por mais contraditório que possa parecer. Sentia-me cansado o tempo inteiro, porque era incapaz de dormir o suficiente (o que por si só jamais ajudou a manter afastado o quadro de psicose tão fácil de me alcançar). Não me sentia saciado por um minuto inteiro que fosse; não era raro que meus pensamentos me levassem a indagar quem buscaria mais tarde enquanto ainda estava dentro de alguém.

Quão irônico é que o tratamento que me permite continuar inteiro me leve ao extremo oposto.

Chorei na frente do espelho mais vezes do que posso contar, envergonhado. Senti mais repulsa por mim mesmo do que qualquer um poderia sentir, enjoado — mas isso veio depois, quando a razão me voltou e tive ciência da profundidade do buraco em que estava afundando.

Ainda assim, Danielle ficou. Então, agora, suas palavras da ligação de algumas semanas atrás revolvem minha mente. Não foi a esquizofrenia que nos separou, fui eu. Agora, aqui, parado, encarando Jéssica concentrada demais no seu trabalho, percebo que Danielle tem razão: eu sou muito bom em afastar as pessoas e isso pouco tem a ver com a doença. É meu próprio medo que me permite deixar escorregar dos meus dedos quem quer que eu ame.

Essa certeza me vem certeira quando percebo meu impulso por me afastar, com que Jéssica saia da minha vida, porque não preciso de voz nenhuma na minha cabeça para me dizer que é minha culpa esse seu estado tão apático dos últimos dias — embora elas estejam aqui para reforçar isso. Tentei ao máximo evitar que ela entrasse na minha vida para começo de conversa, porque estou bem, é verdade, mas posso não ficar para sempre; e vi em primeira mão o quanto tudo isso pode machucar alguém.

Não quero machucá-la, não acho que suportaria isso.

Mas não sou mais uma garotinho assustado de vinte e poucos anos que não entendia o que estava acontecendo. Tenho quase quarenta. E não pretendo viver os próximos quarenta mergulhado no arrependimento de tê-la perdido. Pretendo viver os próximos quarenta com ela do meu lado, sorrindo e gritando; e essa última parte não é negociável.

— Jessi? — chamo, e ela me olha por sobre o ombro. Estendo a mão. — Vem pra cama.

— Henrique...

— Por favor — insisto. Ela hesita por um instante, mas assente e se levanta da cadeira, vindo até mim.

Ela alcança minha mão e enrosco nossos dedos, impedindo-a de se afastar. Giro nós dois, prendendo-a à parede, calando a confusão dos seus olhos com um abraço apertado. Conto cinco segundos infernais antes do seu corpo relaxar e dos seus braços me envolverem a cintura.

— Eu sei o que você precisa de presente de aniversário — digo ao seu ouvido.

— O quê? — Ela desencaixa o rosto do meu ombro e me encara. Toco a ponta do seu nariz com os lábios.

— Confia em mim?

Seus lábios se entreabrem, e espero o tempo que ela precisa para formar a resposta. Por fim, Jéssica revira os olhos e abre um sorriso de lado.

— Confio, criatura. — Solta uma risada baixa. — Eu confio. 

Desculpem a demora e não desistam de mim!

Maio está um mês daqueles, mas prometo fazer o meu melhor para manter as atualizações constantes.

Amo vocês, até breve <3

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