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Capítulo dois

Lembro quando o vi pela primeira vez.

Eu estava no último ano da minha faculdade, histérica porque tinha encontrado um programa de mestrado em astrofísica aqui mesmo, em Rio Grande. Poderia ter esperado chegar em casa para contar a Rebecca, mas minha animação ultrapassava as barreiras do bom senso. Sendo assim, achei de bom tom invadir o laboratório onde minha amiga havia acabado de começar um estágio.

Rebecca havia me contado todas essas histórias sobre o homem com quem estava trabalhando, seu orientador que imediatamente se tornou seu super-herói particular. Tive certeza que estava exagerando em cada palavra, impressionável como aquela guria era, mas não.

Ele era tão bonito quanto Rebecca descreveu, com seus olhos claros, fios castanhos, barba bem-feita, sorriso carinhoso e sotaque carioca. Quando saímos para almoçar, os três, em uma sugestão dele para comemorar a minha boa notícia, descobri rapidamente que toda a candura, cuidado, apoio e calmaria que minha amiga jurou exalar dele realmente estavam ali. Depois, quando Rebecca precisou ir embora, eu fiquei.

Perdi minhas aulas naquele dia, porque perdi noção do tempo conversando com ele; ainda perco com muita facilidade. Eu, que sempre desprezei a ideia absurda de amores à primeira vista, me peguei sorrindo boba, o coração descompassado, absorvendo cada detalhe seu. Ofereci sorrisos atrevidos para os seus retraídos, flertei com a seu acanhamento, deliciei-me com o interesse incondicional que mostrou a tudo que eu tinha a dizer.

Então, nada. Pelos próximos meses, almoçamos às terças, jantamos às quintas, trocamos mensagens. Desenvolvemos uma amizade inofensiva, onde Henrique nunca deu qualquer espaço para algo além. Rapidamente esqueci o assunto, porque tenho mais o que fazer da minha vida do que gastar minha preciosa energia vital sofrendo por homem.

Até aquela porcaria daquela noite de quinta-feira em que ele me levou para jantar para celebrar minha formatura, bons quatro anos atrás. Após vinho e mais comida do que normalmente consumo sem culpa, confessei, entre risos desavergonhados, a quedinha que tive por ele quando nos conhecemos anos antes.

Eu só estava fazendo graça, rindo de mim mesma pela paixonite que senti, há muito tempo esquecida. Mas Henrique desviou o olhar e soltou um riso nervoso, a mão, em um tique conhecido, percorrendo a barba.

— Achei que tinha entendido errado — comentou, as mãos indo aos bolsos do sobretudo que vestia enquanto caminhávamos pelas ruas do centro de Rio Grande, circundando a Praça Tamandaré em direção à minha livraria preferida, um bloco abaixo. Apertei os olhos, e ele abriu um sorriso meio sem jeito. — Achei que você estava dando em cima de mim quando a gente se conheceu, mas...

Ele deu de ombros e eu parei de andar, mordendo o canto da boca, subitamente muito interessada nessa timidez dele. Henrique nunca foi expansivo como eu, mas parecia ainda mais acanhado que o normal.

— Eu estava arrastando uma bela asa pra ti. Descaradamente. Mais que aquilo, só se eu tirasse a roupa e deitasse pelada na sua mesa — interrompi, a cabeça inclinada para o lado. Diante da mais absoluta incapacidade dele de formar uma frase inteira depois disso, soltei uma risada. — Capaz... Tu não percebeu mesmo?

— Você era aluna, mesmo que eu tivesse percebido...

— Tu não era meu professor! — reclamei.

— Mas era aluna da faculdade onde dou aula — rebateu com um levantar de ombros, encerrando o assunto. — Não te olhei desse jeito.

Verdade seja dita, a paixonite havia passado por completo; conheci Henrique do avesso e passei a admirar o homem que ele é. Mas ali, diante da quase admissão de que ele me queria, eu me vi me aproximando dele.

— Não sou mais — apontei o óbvio, tocando seu ombro. Toques não eram comuns entre nós dois, não como são hoje. Senti Henrique retrair sob minha palma, levando alguns segundos para relaxar. Projetei-me na sua direção, e ele me parou quando minha boca estava a alguns poucos centímetros da sua, rindo nervoso, uma mania recorrente.

— Mas agora é minha amiga.

Afastei-me o suficiente para encarar seus olhos um tanto erráticos, o suficiente para notar o quanto ficou aflito por um instante. Com a mão apoiada em seu peito, senti seu coração batendo firme contra minha palma, e sorri.

— Tua amiga é uma menina grandinha. Prometo que uns beijos não vão estragar a amizade — provoquei, subitamente desejosa do toque dele como se fosse a única coisa que eu precisava para viver.

Houve um momento, um segundo somente em que vi uma sombra atormentada cintilando nos seus olhos sempre tão cálidos. Henrique acariciou meu rosto, segurou meu queixo com uma força comedida, fazendo-me encará-lo.

— Não — declarou, enfático. Revirei os olhos, e ele acariciou minha bochecha. — Me escuta. Você é linda e atrai literalmente qualquer homem que quiser. Já que o interesse que teve em mim quando a gente se conheceu passou — ele pausou, esperando por uma confirmação, que concedi a contragosto —, então não tem motivo algum para complicar as coisas.

— Te ofereci uns beijos, guri, não minha mão em casamento — brinquei, tentando e talvez conseguindo fingir indiferença. A honestidade bruta e recusa obstinada me pegaram de surpresa.

A honestidade bruta e a recusa obstinada dele me pegam de surpresa até hoje.

Henrique não me beijou naquela noite, nem em noite nenhuma por outro ano inteiro, quando venci o pobre coitado pelo cansaço.

Sou arrancada do meu devaneio matinal quando ouço o som de passos aproximando-se. Olho por sobre o ombro para ver Henrique aparecer, o rosto um tanto amassado, cabelo rebelde e meu celular na mão.

— Bom dia, Bela Adormecida — cumprimento, olhando de revesgueio para o relógio na parede, que marca nove e meia da manhã, antes de me permitir alguns muitos segundos de apreciação ao seu tronco descoberto que não exibe qualquer forma firme e bem definida em excesso.

— Viviane estava te ligando — anuncia, aproximando-se de mim. Deixa um beijo no topo da minha cabeça e acaricia meu ombro, estendendo-me o aparelho. Ergo minhas mãos, mostrando a ponta dos dedos cobertas da cebola que estou cortando.

— Coloca no viva-voz? — peço.

Com um aceno, ele retorna a ligação, apoiando o aparelho em uma área segura e limpa da bancada. Alguns toques depois, ouço a voz da minha prima do outro lado da linha.

— Viva-voz, Vivi. Henrique está aqui — aviso antes que ela desembeste em falar algo particular. Para minha surpresa, sua reação é outra.

Ótimo! Preciso de alguém que tenha um coração. Henrique, me ajuda!

— Como você está, Vivi? — ele pergunta com um sorriso na voz, balançando a cabeça quando ofereço uma língua malcriada.

Luana me chamou para morar com ela. Eu não...

É tudo que diz, invocando a namorada que sequer conheço ainda. Trocamos um olhar recheado de entendimento diante da pausa tensa que ela oferece: tia Cida. Mordo a parte de dentro da bochecha e volto a encarar a tábua de legumes à minha frente, os olhos fixos no movimento da faca enquanto a ouço falar com Henrique, desenfreadamente abrindo seu coração em detalhes íntimos demais.

Sinto as mãos quentes de Henrique se embrenharem por dentro da camiseta que visto, percorrendo minha cintura e pousando em minha barriga quando se posiciona atrás de mim, a boca no topo da minha cabeça, o peito colado às minhas costas enquanto segue conversando com Viviane, prendendo-me em um abraço.

— Conversa com ela — Henrique recomenda. — Mentir nunca é uma boa opção, e normalmente é um caminho sem volta. Se essa menina realmente te ama, ela vai entender.

Com um agradecimento choroso, minha prima se despede, diz que está ansiosa para me ver e encerra a ligação. A cozinha agora em silêncio se faz opressiva demais, então disparo:

— Desde quando eu não tenho coração? — reclamo, fazendo um bico manhoso que arranca dele uma risada.

— Vocês duas são muito diferentes. É impossível saber o que se passa aqui. — Ele sobe a mão por dentro da minha blusa, pousando-a precisamente onde meu coração bate apressado. — Você desconversa, finge que nada nunca é um problema, que consegue lidar com tudo e qualquer coisa, que nunca precisa de ajuda. Ela, não. Viviane não pensa duas vezes antes de gritar aos quatro ventos que está perdida e fazer um estardalhaço. Ela me lembra a Rebecca nisso.

Reviro os olhos com um sorriso, porque isso não poderia ser mais real. Minhas duas mulheres preferidas no mundo são um poço lindo de drama e desespero.

— O que você teria aconselhado, aliás? — pergunta, o nariz afundado em meus fios.

Bah, pra que a pressa? As duas estão juntas tem nem cinco meses e já querem morar juntas? — Henrique ri e giro a cabeça, olhando-o com os olhos cerrados. — Tá achando graça do quê?

— Você é pragmática demais, Viviane sabe disso — diz, a ponta dos dedos acariciando minha barriga. — Vê um problema e tem uma solução perfeitamente racional, sabe o jeito que as coisas deviam ser e o jeito que não deviam, e para você não tem motivo nenhum para simplesmente não tomar uma decisão. A vida às vezes é mais complicada que isso.

Solto uma risada seca. Tenho plena ciência de que a vida é complicada. Não significa que eu tenha que me render à complicação. Não significa que eu possa me dar a esse luxo. Um problema é tão grande quanto a importância que se dá a ele, é sob essa premissa que vivo. Render-me ao caos e subjugar-me a sofrimentos jamais me trouxeram resultados bons.

— Minha vontade é trancar vocês todos em um quarto e deixar para que se matem. Nunca vi caçarem tanto drama! — desconverso.

Ele parece a ponto de dizer alguma coisa, mas desiste no meio do caminho. Ao invés disso, deixa um último beijo na minha cabeça e me solta, indo até a fruteira para pegar uma banana.

— O que você está cozinhando? — pergunta.

— Arroz carreteiro para levar para minha tia mais tarde. Se tu te comportar, te dou uma marmita.

Ele solta um gemido de satisfação que me faz morder a ponta do lábio e prender meu olhar no dele. Se Henrique nota, não interage com a reação carnal que tão prontamente me desperta, transformando-me em uma adolescente com hormônios voláteis.

— Deve ser a melhor coisa que você cozinha — comenta, aproximando-se e assumindo a árdua função de descascar alho.

— Receita de família, uma preciosidade — comento, o sorriso saudoso crescendo em meu rosto sem que eu perceba. — Meu avô quem me ensinou, sabe? Ele era carreteiro, lá pras bandas fronteiriças com Santa Catarina. Passava meses a fio na estrada tocando boi. É uma das melhores lembranças que tenho da minha infância, vendo vô chegando em casa e cozinhando comigo. O pobre do velho não devia aguentar mais comer arroz, mas sempre fazia pra mim, porque eu adorava.

Seu braço roça no meu, e ergo o olhar na sua direção, deparando-me com um brilho curioso e admirado, um sorriso pequeno e convidativo.

— Você nunca fala deles — comenta, o olhar atento a mim enquanto surrupia a cebola da minha mão e assume a função de picá-la. — Da sua família além da sua tia e da sua prima, de quando você era pequena, da sua cidade.

Sinto uma pontada no peito, como sempre é quando penso nisso, quando penso em como sinto falta deles. Há uma camada de mágoa que tento dissipar há anos, mas nunca me abandona. Tia Cida me criou com tanto amos quanto dispendia a sua própria filha. Sei que foi a melhor escolha, vir para cá ao invés de continuar na cidadezinha onde nasci, com meus pais e meus avós, depois do que aconteceu. Sei disso, e Henrique tem razão ao dizer que pragmatismo é uma qualidade que carrego com orgulho, então logo trato de dispensar o incômodo momentâneo que surgiu com as lembranças, oferecendo-o um sorriso arteiro.

— Não acontecia nada de interessante naquele fim de mundo. Mas se tu quiser fofocas da faculdade, tenho várias.

Ele aceita minha tentativa pífia de desconversar, e agradeço por isso, já que tenho plena consciência que Henrique sabe o que estou fazendo. Indica com o queixo para que eu fale, e mergulho em uma conversa banal, divertida e gostosa. Comemos e assumimos a tentativa vã de terminar o filme que mal começamos noite passada; quaisquer atividades paralelas são facilmente dispensadas quando tão facilmente nos perdemos um no outro: ele, mergulhando-me no seu amor pelo mar, eu, trazendo-o para o meu pelas estrelas.

Algumas horas depois, quando a comida está pronta e o pote recheado com uma generosa porção para que ele leve para casa, decreto iniciado meu dia de princesa. Minhas unhas não vão se fazer sozinhas e minhas sobrancelhas estão um terror. Não demora para que Henrique estacione em um beco vazio perpendicular aonde o salão de beleza é, banho tomado, mesma roupa de ontem.

— Entregue — anuncia, sorrindo. — O planetário está de pé na quinta?

Assinto e olho ao redor, constatando que estamos sozinhos, antes de tirar o meu cinto e me embrenhar para o seu colo. Esbarro na buzina antes que ele consiga reagir e arrastar o banco para trás.

— Doida — acusa com um sorriso.

Minha resposta é beijá-lo, e Henrique deixa que eu faça, mas demora a corresponder. As mãos levam bons segundos para alcançar meu corpo, a boca leva o mesmo tempo para assumir controle do ritmo.

— Jéssica. — Meu nome sai da sua boca quando desabotoo sua calça, em um aviso claro para que não continue. Suspiro, frustrada pela negativa, mais uma, já que noite passada nada aconteceu. Pendendo a cabeça, apoio a testa em seu ombro. — Jessi... — diz, a voz mais mansa, os dedos acariciando minha pele.

Tento sair do seu colo, mas Henrique me prende. Quando me recuso a olhar para ele, seus dedos erguem meu queixo. Sei que ele pode ver a frustração, irritação e desapontamento em meus olhos; não faço questão de escondê-los. Não consigo entender, contudo, o que vejo nos seus: assemelha-se demais a angústia e medo.

Ele segura meu rosto, uma mão de cada lado da bochecha, e o traz para o seu. Não fecho os olhos, perco-me nas íris que me encaram como se sentissem a necessidade de dizer algo que nunca encontra seu caminho em palavras, os lábios pousados sobre os dele, perto o suficiente para fazer cócegas.

— Lembra o que eu disse quando te beijei pela primeira vez? — pergunta, a seriedade em sua voz fazendo-me ajeitar a coluna.

— Que tu não queria que isso fosse mais importante que nossa amizade — digo com um rolar de olhos, repetindo suas exatas palavras daquela noite. — Que eu era importante demais para que isso fosse a coisa mais importante da nossa amizade.

— Lembra do que você me prometeu?

— Que não seria.

Ele acena com a cabeça, os polegares acariciando minhas bochechas. Vejo-o respirar fundo e engolir em seco, os cílios bonitos tremeluzindo.

— Isso mudou? — pergunta, olhando-me como se minha resposta fosse o que de mais importante tenho para oferecê-lo. Franzo o cenho, confusa. — Parece que toda vez que a gente faz qualquer coisa junto, esse é o único objetivo. Se você concorda em sair para jantar, ir ao cinema, tomar café que seja, e eu não tento te levar para a cama no instante seguinte, você fica brava comigo.

Desvio o olhar, balançando a cabeça, odiando como ele está certo, odiando que não entenda o motivo. Não é sexo, é sexo com ele. Não é que sexo seja mais importante que todo o resto, mas é a única mínima centelha que tenho como prova de que não sou somente uma maldita amiga. Embora eu seja. Ir para a cama com ele esporadicamente não muda isso.

— Jéssica, se a única coisa que você quer comigo é transar, a gente...

— Para de doideira, guri — interrompo, balançando a cabeça. — Claro que não.

Ele me encara com desconfiança no olhar, silenciosamente questionando se minhas palavras são verdadeiras. Elas são. Não poderiam ser mais verdadeiras que isso. A necessidade física que sinto por ele é apenas uma tentativa banal de suprir a falta emocional, ou ao menos foi o que minha psicóloga disse na última consulta.

Rio comigo mesma, dando-me conta do absurdo patético da situação. Uma amizade descomplicada virou assunto a ser tratado na terapia porque eu, por algum motivo, fiz de Henrique o único homem por quem vale a pena sofrer.

— Não é minha culpa tu é mais bonito que laranja de amostra — brinco, tentando clarear o ambiente. Funciona. — Planetário na quinta.

Henrique me puxa para um abraço e acomodo-me aqui. Montada em seu colo, palmas apoiadas em seus ombros, sinto um braço seu em volta da minha cintura, prendendo-me a si, a outra mão firme em meu pescoço. Respiro fundo, acalmando meu coração errático.

— Preciso ir para casa — ele sussurra no meu ouvido, sem me soltar. Suspira, e consigo reconhecer o cansaço nos seus gestos quando apoia o queixo no meu ombro. — Não tinha percebido do quanto de coisa Rebecca estava cuidando até ela viajar.

Afasto-me, e ele recosta a cabeça no banco, fechando os olhos por um instante. Só agora olho para ele, olho para ele de verdade. As olheiras são visíveis, destacadas pela pele clara. A barba, sempre tão bem-feita, começa a dar sinais de que precisa de cuidado. Henrique não me segura como se quisesse evitar que eu vá embora, me segura porque parece se apoiar a mim para que ele mesmo não desabe.

Por algum motivo, decidi que Henrique é o único homem pelo qual vale a pena sofrer, mas isso não é verdade. Ele nunca fez nada para que esse fosse o caso, pelo contrário. Estou fazendo isso comigo mesma, e, no processo, preocupando-me tanto com o que poderia ser que encontro-me negligenciando o que já é. Faz sentido Henrique ter chegado à conclusão absurda de que meu único interesse nele é sexual, porque não tenho sido uma boa amiga. Ele não está bem. Tem alguma coisa errada, e só percebo agora.

— Tu assumiu a turma dela — comento; ele assente. — E a Mel.

— Os trabalhos de campo, as reuniões...

— E tem a sua turma da pós, as bancas de mestrado...

Ele acena de novo.

— Eu realmente não estou dando conta de tudo — murmura. As mãos, até então pousadas em meu quadril, encontram seu rosto, as palmas pressionando os olhos fechados. — Era para ser só por um ano, mas agora que ela decidiu estender o projeto por lá...

— Por que eu não ajudo a Melissa com o projeto? — ofereço. Henrique me encara por entre os dedos. — De tanto ouvir aquela matraca da Becs, já sei do avesso o que é. Posso ajudar com a parte de estatística, isso te dá um ou dois dias mais tranquilos na semana. E tem um módulo de bioestatística na ementa da pós-graduação que eu sei, posso dar algumas dessas aulas também.

Ele me olha incerto, e reviro os olhos.

— Aceita que o peso da idade está chegando, vovô. Hora de passar o bastão.

— Você não é tão mais nova que eu assim, implicante — rebate.

Meneio a cabeça.

— Dez anos fazem diferença, bonitão — decreto, acertando um peteleco em seu nariz. — Depois dos trinta, é só ladeira abaixo. Tu está quase batendo os quarenta.

— Não sei como vocês contam o tempo aqui, mas de onde eu venho trinta e sete não é quarenta — brinca, mas o sorriso em seu rosto é visivelmente forçado e desconfortável.

Dessa vez, quando o abraço, dou a ele exatamente o que Henrique sempre pediu de mim: apoio, carinho e amizade. Há essa voz no fundo da minha mente dizendo que não é só isso, que ele não está apenas sobrecarregado com trabalho; a confirmação vem quando ele me abraça de volta e murmura um agradecimento em meu ouvido. Demoro a me mover, mas, eventualmente, levanto-me de seu colo, deslizando novamente para o banco do carona.

— A partir de segunda, Melissa é minha — determino. Depois, ergo um dedo, corrigindo-me: — A partir de terça. Segunda-feira não piso naquele lugar nem se o cometa Harley resolver aparecer mais cedo e parar para tomar um chá!

Diante de sua risada tranquila, assopro um beijo para ele e abro a porta do carro. Saio e, quando estou pronta para fechá-la, ouço-o chamar meu nome.

— Obrigado — diz quando enfio a cabeça para dentro. Dispenso com um acenar de mão.

— É para isso que amigos servem.

Dessa vez, não há qualquer ressentimento ao dizer isso. 


OI, MENINES!

Me contem o que vocês estão achando dessa história enrolada desses dois. Teorias sobre o que está por vir? Alguma sugestão do que se passa na cabeça do Henrique? Ele realmente só está interessado em amizade sincera e nada mais? Ou tem coisa aí? Abram seu coração para mim.

Amo vocês!

Até breve <3

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