Beatriz - 1
Hoje tenho 27 anos e estou me formando em relações públicas.
Dizer que tem sido fácil, seria loucura, minha vida é muito agitada.
Não sou casada e nem quero isso, mas tenho meus pais e irmãos, para piorar gêmeos e com 15 anos de idade. Eles me deixam maluca.
Trabalho da Ribeiro há nove anos e adoro ter Luíza como chefe, se bem que os últimos meses ele resolveu parar de ser minha chefe e está dando uma de cupido.
Sei que ela tem feito de propósito na maior parte das vezes, e confesso que Gabriel é o sonho de consumo de qualquer mulher, mas mesmo assim, ela deveria saber que ele não é para mim.
Gabriel é lindo e todo poderoso, não existe mulher no mundo que não ficaria babando ao vê-lo, mas ele é um dos Diretores da Ribeiro, quase sócio e melhor amigo dos donos, eu sou uma simples secretária que está lutando para conseguir finalizar a faculdade e ser alguém melhor. Além disso, não tenho corpo de modelo e menos ainda dinheiro suficiente para ficar gastando com roupas da moda.
E Ele nem me nota.
Semana atrás, Luíza me mandou ir a uma reunião com Gabriel, mas como sempre, ele deu um de gostosão. Tá certo eu sei que ele é isso mesmo, mas não gosto de caras que se acham demais, ele realmente me irritou quando ficou fazendo gracinhas e disse mesmo que não sou como as mulheres que ele vive pegando por ai, não quero casar, é claro, mas exijo respeito e não quero sair por aí desfilando com chifres.
Desde aquele dia ele está ainda mais estranho, por exemplo, chega sério e para na minha frente quando precisa falar com Luíza e me pede para avisá-la, o que não é algo comum já que sempre entrou sem avisar.
O problema é que sua voz grave toda vez que diz "senhorita Costa" me arrepia e começo imaginar como deve ser excitante ele sussurrando em meu ouvido depois de um sexo quente...
— Senhoria Costa, está me escutando? — Volto à realidade rapidamente.
— Desculpe, senhor Romano, escutei sim. — Paro de fantasiar com coisas impossíveis, e o encaro.
Por um instante imagino ter visto ele passar língua sobre os lábios de uma maneira bem provocante. Devo estar ficando maluca mesmo.
— Luíza pediu para que eu fosse te pegar na sua casa, pode me passar o endereço, por favor.
— Não precisa ir até lá, senhor Romano, posso te encontrar em algum lugar que seja a caminho do local. — olho o endereço novamente. — Posso te encontrar na travessa da Telinson, o que acha?
— Senhorita Costa, estou de carro, seja lá onde mora não pode ser uma eternidade a mais, passa logo o endereço. — diz impaciente.
— Como quiser, Senhor Romano, só não queria atrapalhar tanto. — Escrevo o endereço e lhe entrego o papel.
— Não atrapalha, senhorita Costa, estamos trabalhando e nada mais que isso, não é?
Já ouvi rumores que ele apesar de mulherengo, não sai com nenhuma mulher da Ribeiro, nenhuma mesmo, ele diz que não mistura as coisas. Segundo me disseram, claro.
...
As coisas estão cada vez mais complicadas de entender.
Desde que iniciou o namoro com William, Luíza tem mudado sua agenda com frequência e para piorar sempre me coloca em reuniões com Gabriel, muitas das vezes em restaurante caros como o de sexta-feira à noite.
Só que isso está me matando, Gabriel é gentil e educado, tem um ótimo senso de humor e nunca mais fez gracinhas comigo, depois do que eu lhe disse a primeira vez, só que estou completamente caída por ele. Que droga! Sou muito idiota, eu sei.
Ele com certeza está apenas fazendo o seu trabalho, e claro, é gentil por que no mínimo foi educado assim.
O problema é que sua gentileza está me fazendo ficar apaixonada, e não posso permitir isso em minha vida, nunca mais, não vou mais cometer esse erro, ainda mais com pessoas como ele que são cheios da grana. Recuso-me aceitar que estou sendo mais uma vez idiota.
Já era para ter aprendido, lugar de pobre é trabalhando muito e conquistando suas próprias coisas, às vezes, casar e ser feliz sim, só que com alguém da sua classe, que entenda seus problemas. E Gabriel definitivamente não é esse.
Me atraso para o bendito jantar com Gabriel, não tive culpa, juro que não, um dos meninos fez a gentileza de sujar meu vestido preto que havia separado e tive que pegar outro de última hora, o pior, é que nem foi um dos meus melhores.
— Desculpa, senhor Romano. — Vejo Gabriel, encostado no capô do carro, possivelmente me xingando mentalmente. — Acabei atrasando. — Vou até ele e justifico. — Aconteceram uns imprevistos — Paro na frente dele, mas ele continua sério e olhando minha roupa, como eu disse não é das melhores. — Senhor Romano? Oi? Tem alguém aí? — Mexo minha mão na frente do seu rosto, mas ele parece imóvel, olhando minha roupa. Ai como esse cara é irritante, nem está tão ruim assim. — Afff, Gabriel não estou tão horrível assim. — Saio de perto para não socar a cara de almofadinha dele. — Você consegue ser um completo idiota, sem mesmo abrir a boca, sério mesmo. — Sei que é meu chefe e que lhe devo respeito, mas ele pede para escutar.
— Desculpe, senhorita Costa é que você chegou assim toda linda e sugou todo meu oxigênio — Ele faz graça e fico irritada.
— Senhor Romano, não precisava tanta encenação, bastava ter dito que estou apresentável. — Reviro os olhos, impaciente. — Sabemos que não estou à altura dos Bretanha, mas foi o que consegui. — Abro a porta do carro dele. — Espero não ter te decepcionado como acompanhante.
Gabriel justifica me dizendo que estava apenas sendo educado e que não queria ser um babaca, assim como Luíza lhe pediu, mas confesso que era melhor quando agia como babaca, assim não corria o risco do meu coração estúpido ficar dando esses saltos. Toda hora.
Chegamos ao restaurante e Gabriel assume sua postura de executivo, mostrando o motivo de Luíza e Vitor confiar tanto em seu trabalho, como minha função, auxílio como sempre faço com Luíza durante a reunião lhe lembrando pontos importantes, quando ele os esquece.
Quando ele me diz que vamos jantar, fico receosa, essa é a quinta vez que saímos, em nome da Ribeiro, e comemos fora, se resolverem descontar do meu salário dez por cento disso, estou ferrada, vou ter que pedir emprestado para pagar minhas contas, o valor desses restaurantes nunca são baratos.
— Algum problema, Beatriz?
— Não — respondo, mordendo os lábios —, mas essa é a quinta vez esse mês que comemos em restaurante desse tipo, a conta nunca fica barata.
— Acabamos de fechar um contrato milionário para a Ribeiro, senhorita Costa — diz feliz chamando o garçom. — Vamos comemorar. — O garçom vem, sorrindo para mim e olhando para meu decote, Gabriel parece não gostar muito e diz sério. — Um champanhe, por favor.
— Você foi incrível, tinha certeza que conseguiria. — digo ainda pensando como pagar isso, se pedirem.
— Obrigado, senhorita Costa. — diz me olhando estranho e voltamos a conversar sobre o novo contrato.
No caminho para casa, Romano está mais relaxado, talvez pelo champanhe que tomou, mas acaba de me perguntar sobre onde moro e o motivo de ser daquele jeito, explico que moro com meus irmão e pais, e que a casa é alugada.
Acabo lhe dizendo que queria muito ter um tempo de sossego, e surpreendo-me, ele está me oferecendo uma solução que me deixa bem desconfiada.
— Que tal umas horas de sossego e tranquilidade? — Para no acostamento, me encarando. — Não será sua casa dos sonhos, mas garanto que é sossegado.
— Do que está falando, senhor Romano? — Olho a estrada. — Porque parou aqui?
— Você disse que queria muito um lugar calmo e como você mesma disse essa semana promete com Luíza fora e as viagens ao exterior se aproximando... — Suspiro concordando, vai ser complicado. — Viu, estou tentando ser legal com você, e te levo para um lugar sossegado.
— São 22h, amanhã trabalhamos à tarde, eu sei, mas onde está querendo ir?
— Para minha casa. — diz sorrindo e fico rígida na hora. Ele só pode estar brincando. — Relaxa, senhorita Costa, não sou seu tipo, lembra? — Pisca para mim, repetindo o que eu lhe disse mais cedo.
— Nem eu o seu, não é?! — concordo rápido. — Porque está oferecendo isso, Gabriel? — O encaro.
— Estou tentando não ser um babaca, você parece cansada. — Dá de ombros, parecendo indiferente. — Só estou te oferecendo horas de tranquilidade.
— Uma hora, seria suficiente para meus neurônios descansar. — Suspiro e fecho os olhos. — Pode ser?
— Uma hora, então. — Sai do acostamento, indo para outra rua. — Ainda bem que Maria, limpou ontem. — Brinca, mas ainda estou apreensiva. — Beatriz, você precisa relaxar um pouco.
No mínimo só está fazendo isso para me levar para cama, mas ao mesmo tempo ele não misturar as coisas. E isso não faz sentido, já combinamos que não somos o tipo um do outro.
MENTIROSA. — Minha mente grita.
Mesmo não sendo o certo e minha mente me condenando, imagino como deve ser estar nos braços dele, sentir seu corpo ligado ao meu... Mas não posso, somos de mundo oposto demais.
— Ainda não sei, se ir à sua casa é bem uma ideia relaxante, nem amigos somos.
— Nossa essa doeu. — Brinca, sorrindo. — Achei que me amava. — Acabo rindo. — Está certa... Eu não sou a melhor companhia do mundo...
— Desculpa, Gabriel não quis te ofender, é só que...
— Relaxa, Beatriz já disse que hoje estou tentando não ser um babaca, estou feliz com o novo contrato e não vou a lugar algum, minha casa é grande e te deixo a vontade para relaxar sozinha.
Desde a hora que nos encontramos para o jantar de negócios, que ele está estranho, tem sido... Como posso dizer... Um cavalheiro.
No jantar com nossos clientes, sempre tocava minha mão quando pedia opinião, quando ficamos sozinhos foi uma ótima companhia e me fez rir por diversos momentos, depois de umas taças de champanhe ficou ainda mais solto, porém, não me desrespeitou em nenhum momento.
Confesso que senti um frio na barriga quando ele me propôs ir a sua casa, não consegui acreditar que ele estava falando sério. Estava preparada para lhe dizer que não estava a fim de dormir com ele, quando ele me convenceu que estava apenas tentando ser gentil.
Pego o celular para mandar mensagem ao meu pai, mas como não vamos passar a noite juntos, vou só dizer que a reunião demorou mais que o necessário.
O modo como Gabriel disse "ser sossegado", já me deixou relaxada.
Quando ele chega ao prédio onde mora, me surpreendo. É um dos bairros mais nobres da cidade, fica a dez minutos da Ribeiro, no máximo. Descemos do carro, vamos ao elevador e quando ficamos mais próximos, meu raciocínio para por completo, ao sentir o cheiro do perfume dele.
Preciso parar com isso... Eu sei... Preciso parar de fantasiar que um dia eu possa chamar sua atenção, que um dia possa gostar de mim. O problema é que, quanto menos idiota ele fica, mais acho isso possível. Paramos no andar e só agora volto a realidade e falar que estou paralisada é pouco, não consigo acreditar que ele mora na cobertura. Tá certo que ele é praticamente sócio dos Ribeiro, mas ainda assim, me surpreendeu.
Ele entra e tira o paletó jogando sobre o sofá, começa afrouxar a gravata, mas para me encarando.
— Fique a vontade... Como te disse, a casa é só minha e como pode escutar. — Faz uma pausa. — Silêncio total. — Mostra ao redor. Ainda estou tentando entender o que ele está pensando. — Se quiser pode ir a varanda, tem vinho no bar ou outra bebida se quiser, vou estar no fim do corredor.
Ele diz saindo pelo corredor. Fico ainda admirando o local. É simplesmente incrível!
Nunca estive em um apartamento luxuoso, apenas quando vou a viagens com Luiza, mas ainda assim, não parece nada com isso aqui.
A sala é ampla e bem masculina, não tem móveis em exagero, mas ainda assim parece aconchegante, os sofás são de couro e na mesa de centro tem vários arquivos em baixo. Aparentemente Gabriel não para de trabalhar nem mesmo em casa. Entre a sala e a cozinha tem um "minibar" com algumas garrafas de bebidas e a cozinha parece bem moderna.
Vou até a sala, e antes mesmo de notar estou segurando seu paletó, sentindo seu cheiro mais perto. Quando noto o que estou fazendo, coloco rapidamente no local onde ele deixou, imaginando que se tiver câmeras ele deve estar rindo da minha cara onde quer que esteja.
Vou à varanda onde ele me sugeriu, abro as portas de vidro, sentindo o ar fresco da noite beijar meu rosto... Faz quase dez anos que não sei o que é ficar em silêncio sentindo o ar fresco, menos ainda ficar em silêncio. Depois que os gêmeos nasceram, não sei mais o que é isso, e quando nos mudamos para aquela coisa que chamamos de casa, ficou ainda pior.
Adoro meus irmãos e também gosto das crianças que são nossos vizinhos, mas às vezes, queria um pouco de paz.
Vou à ponta da varanda, olhando as estrelas e respiro fundo, em baixo vejo diversas luzes de carros em várias direções e seus sons me lembram de que estou na cidade grande ainda. Fecho os olhos com força, tudo isso é incrível, mas me sinto um pouco culpada por desejar esse sossego, amo meus pais e meus irmãos, e isso me deixa mal.
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