O barulho de passos era visível no andar de cima, estava encolhida com Rebecca no colo, estava em plantos, preocupada com GW. De repente tudo parou e escutei os gritos felizes dos vapores.

- Acabou - Franciele se levantou e me abraçou de lado, me ajudando a subir.

- Me dá ela - Pedi, Franciele me entregou Rebecca, que dormia.

A porta bateu, GW havía saído, fiquei mal.

- Não liga para isso, ele sempre fica assim depois que um ataque - Explicou.

- Hum - Murmurei, subindo as escadas.

Após colocar Rebecca no berço, me lembrei das minhas compras e sai correndo para a rua, paralisando com a cena vista. Havia vários corpos espalhados pelo chão, levei as mãos a boca.

- E ai novinha, pode ficar aqui não - Um vapor falou alto, se me lembro seu apelido era TC.

- Eu... Eu esqueci as minhas compras na rua - Falei atrapalhada.

- PP, acompanha a patroa ai - TC falou alto, um homem magrelo se aproximou, ele parecia uma largatixa gigante.

- Onde tu deixou as compras?

- Hum... Acho que na rua estreita - Falei.

Seguimos em silêncio até o local, encontrei várias crianças pegando os danones e salgadinhos que haviam ali, fiquei com pena.

- Corre, a tia!! - Uma criança gritou e em seguida todas correram com as minhas sacolas.

- Acho que já era - O senhor largatixa conhecido como PP comentou.

- Pois é, valeu ai - Acenei para ele e sai dali.

- E ai - Encontrei TG por ali, ele vagava com a fuzil nas costas.

- E ai - Sorri de lado.

- Lana? - Ouvi a voz de GW, nem precisei virar para trás - E ai, TG.

- Foram três, mano - TG falou, suspirando.

Vi os ombros de GW caírem, não estava entendendo nada.

- Quem foram? - GW perguntou friamente.

- Os moleques novos, PLAY 1, PLAY 2 e PLAY 5. - TG falou, fiquei confusa.

- Beleza - Falou e me encarou - Vamos?

Caminhávamos lado a lado, em um silêncio.

- O que significa PLAY 1, PLAY 2 e PLAY 5?

- São os vapores novos - Comentou vazadamente - Significa começar, jogar. É assim que chamamos os treinados, e logo depois receberiam os seus apelidos.

- Você sabe o nome verdadeiro deles e como se chamariam?

Eu só queria puxar assunto mesmo.

- Bom... O PLAY 1, se chamava Pedro Augusto, provavelmente seria PA, o PLAY 2 se chamava Gian Bordes, GB - Pausou - Acho que o PLAY 5 se chamava Henri, ele queria se chamar Magrinho.

- Ah - Abaixei a cabeça triste, eram tantas pessoas que perdiam a vida no tráfico.

- Preciso conversar contigo, vem aqui - Ele me puxou para dentro de uma casa, nem sabia que havia uma ali, na verdade nem estava prestando atenção no caminho, apenas o seguia.

- De quem é esta casa? - Perguntei após um tempo analisando-a, era enorme.

- Minha - Respondeu por fim.

Encarei-o com as sombrancelhas arqueadas, quantas casas ele tinha, afinal?

- Vem - Me puxou até as escadas, subindo rapidamente.

- Espera - Resmunguei tentando acompanhar os seus passos - Não vai me sequestrar, né?

- Tenho cara de sequestrador?

Apenas ri da sua "piada" sem graça, e deixei que ele me arrastasse escada acima.

- Aqui - Entramos em um quarto, encarei o mesmo desconfiada, ele nos levou até a escada e me deparei com uma vista incrível de todo o morro.

- Uau - Foi o que consegui dizer.

- Lindo, né? Por isto comprei esta casa, por que daqui posso ver tudo o que conquistei, por que toda a porra desse morro é meu!

Permaneci em silêncio por um tempo, sem saber o que falar.

- E por que me trouxe aqui? - Perguntei.

- Eu sei que pisei na bola contigo, mas eu não posso ter uma fiel, tá ligada? Só que ao mesmo tempo não consigo ficar longe de você.

- E...?

- Eu vou realizar o seu maior sonho, me diz qual é.

- O meu maior sonho você já deixou mais do que claro que não é possível - Falei baixo.

GW ficou em silêncio.

- Também sonho em aprender a dirigir - Falei para não deixar um clima mal.

- Beleza, amanhã mesmo vou atrás disso - Falou e se aproximou mais de mim - Você me perdoa?

- Pelo que? - Questionei, me auto abraçando.

- Por tudo que eu te causei - Falou - Volta para mim?

- Estou cansada de ser humilhada - Falei.

- Dá uma chance, vai - Pediu

Suspirei.

- Tudo bem.

Até por que não conseguiria ficar longe dele.