Sozinha...
Lola
O castelo se resumia em puro caos, as buscas por Mary não paravam, mas sabia dentro de mim, que de nada isso adiantaria, Mary foi sequestrada, e sinto a culpa me consumir lentamente, sabia que ela iria se esconder no castelo, em vez de ir com ela... Eu não a segui, fui na direção oposta! A ideia da brincadeira de Mary me trouxe um momento de distração, talvez de alegria, algo que não sentia desde que perdi Connor, um dos poucos dias que exibi um sorriso verdadeiro... Agora, andando sozinha pelo castelo, vendo os servos correrem de um lado para o outro, sussurrando sobre o ocorrido, me dei conta da péssima Lady que sou, o pior, péssima amiga... Primeiro a julguei por não ter conseguido libertar Connor a tempo, e agora? A deixei seguir sozinha, onde estava com a cabeça? Ela é uma Rainha! Nunca deveria ficar sozinha...
Segui sozinha para a sala do trono, olhava para o chão, sem pressa de chegar, com medo de encarar os olhares de julgamentos de Aylee e Greer, fiquei próxima a porta, torcendo para não ser notada em meio aos nobres e soldados que faziam a guarda do local, distraída, ouvi ao longe, passos apressados, observei um dos guarda irromper as portas, com uma expressão grave, de puro medo, trazia em suas mãos tremulas uma carta grosseira e suja.
- O que foi? O que é isso? Trouxe notícias? É sobre Mary? Responda! - A Rainha perguntava, querendo notícias do homem que mal tinha fôlego para falar.
- Encontrei isso, as portas, do Palácio, não tive coragem de ler majestade. - O soldado baixou sua cabeça, afim de encarar apenas os próprios pés, ainda com a respiração ofegante, enquanto estendia a carta em direção a rainha, uma sensação ruim tomou conta de mim. Catherine lentamente esticou a mão para pegar a carta, correu seus olhos por ela, o silêncio aumentava ainda mais a tensão do lugar.
- Tudo bem... Eu leio, pode se retirar. - A Rainha correu os olhos nas primeiras linhas da carta em silêncio, todos os olhares estavam voltados para ela, aguardando apreensivos, enfim ela tomou fôlego e começou a ler em voz alta.
A todos que ainda não entenderam, estamos com sua Rainha, e não a entregaremos facilmente, nem tentem nos localizar, sua busca será em vão, libertaremos a Rainha com vida, desde que entreguem toda riqueza da Escócia, e nós sabemos quanto é. A Rainha Regente deve partir em um navio em direção a França, e os melhores soldados devem estar com ela, bem como o carregamento da riqueza do país deve estar com eles, tenho informantes em toda a Escócia e França, se não começar a ver as providências serem tomadas dentro de 10 dias, bem, começarei a devolver rainha por partes... Começando com a mão prometida ao seu príncipe.
Catherine sentou-se pesadamente na escaria do trono, a expressão de horror em seu rosto, cobriu a boca com uma das mãos enquanto uma lágrima rolava por seu rosto. - Pobre Mary... - Sussurava quase inaudível. Servas corriam em sua direção com água e insistindo para ela sentar-se em seu trono, visivelmente abalada ela balançava sua cabeça em sinal de negação.
- Parem! - Ela gritou, com a respiração alterada, por um minuto, todos realmente pararam. Até que o comandante do exército entrou apressadamente, indo em direção a Rainha, sem olhar para mais ninguém.
- Majestade... - Catherine ergueu sua mão o interrompendo.
- Por favor, diga que me trás ao menos uma boa notícia. - Ela aguardava ansiosa, assim como todos presentes ali. Com uma expressão séria o comandante falou uma frase incompreensível para mim, mas que amenizou a expressão da Rainha.
- Sim majestade, ele chegou.
◇ ◇ ◇
Kenna
Sentia que estávamos correndo contra o tempo, buscando por Mary, lutando contra o desconhecido, não entendia o porquê de estar ali, adoraria ajudar, mas não faço ideia de como...
- Está tudo bem Kenna? - Questionou Henry, sem olhar para mim, fazendo observações no mapa da região.
- Ainda não acredito no que está acontecendo... Só isso. - Dei as costas para Henry, quase esquecendo que se tratava de um rei, olhei pela janela, olhando para o bosque, sem forças para lutar contra o sentimento de impotência que só aumentava com o passar das horas. - Como ela desapareceu tão perto, em uma festa lotada, me sinto tão culpada. - Henry parou de olhar para o mapa.
- Kenna. - O tom de voz dele era sério, me chamando, mas o ignorei. Pude ouvir seus passos cada vez mais próximos. - Olhe para mim Kenna, é uma ordem. - A frase me surpreendeu. - Nada, entendeu? Nada disso é culpa sua, vamos trazer ela de volta e você fará parte disso! Faça por Mary. - Não pude desviar o olhar do dele, era sério e ao mesmo tempo transmitia uma calma que me faltava.
- Majestade! - Sarah entrou na sala, sem avisos, ela parou um minuto ao nos ver tão próximos, então parecendo um pouco envergonhada desviou o olhar e continuou sua frase. - Majestade, ele chegou.
◇ ◇ ◇
Mary
Pelas frestas da parede eu pude ver a luz do dia voltar aos poucos, essa sem dúvida foi a noite mais longa da minha vida, o terror me dominava, tento pensar com clareza, mas é difícil quando se sabe que a data de sua morte já está marcada. Sozinha no meio de uma floresta, esperando que meu principe "encantado" venha me salvar, mas sei que ele não virá, sinto meus olhos se encherem de lágrima em pensar nisso, sou tão ridícula... Se não fosse pela piedade de um desconhecido que me protege, estaria fadada ao fracasso, arruinada, estava agindo como uma donzela indefesa, e apenas uma pessoa acredita que sou mais que isso, não por coincidência o mesmo que me presenteou com uma coroa de flores, abençoado seja, um ato que considerei exagero mas agora pode ser minha salvação. Uma carta presa na tampa da caixa revelava um segredo...
Querida Mary, mesmo eu não estando em suas lembranças, eu sempre a protegerei, esta coroa é especial, olhe na parte de dentro, na base das rosas encontrará uma lamina escondida, use caso precise. Ela é pequena, porém é um veneno, literalmente, não toque em sua lâmina, fiz para só você percebê-la, use com sabedoria.
Infelizmente minha coroa nem comigo está, foi jogada no chão, por aquele maldito... Só preciso dela de volta, antes que seja tarde. Ouvi Josephy e Adrian conversando, sei que sairão no fim da tarde, cortarei as cordas mas as deixarei presas, quando Josephy vir me ver, pensará que está tudo bem, não posso deixar de sentir muito por ele ter tomado um caminho tão sombrio, tão distante daquilo que sonhou. De vez em quando ele vem ver como estou, olhar meu curativo improvisado, me dar água e comida, é um bom homem, vejo os olhares de pena que ele me dirige, cuidou de mim, se importou comigo, talvez por saber de meu destino. Se pudesse ajudá-lo, teria sido um bom soldado...
Kenna
- Majestade, quem estamos esperando? - Perguntei observando Sarah abrir o portão principal, assim como fez há algumas horas para Henry e eu.
- Um aliado, muito importante, amigo de meu filho, veio de longe para cá. E ajudará no resgate, é ótimo estrategista, tem seus próprios guardas, treinados para qualquer situação. - Pude ver de longe, na entrada do castelo um grupo de cavaleiros, com armaduras que sem dúvida, não eram francesas. A frente deles estava um rapaz, jovem e com a postura imponente, cabelos louros, mas de um tom mais escuro, era muito bonito, desceu de seu cavalo e dirigiu uma leve reverencia ao Rei, em seguida parou em minha frente e perdi o ar com a visão dele, alto, com um porte físico muito atraente, com um sorriso ele beijou gentilmente minha mão, e brincou com Henry.
- Esta sequestrando belas moças também Henry? - Perguntou ele ainda sorrindo, e que belo sorriso, seus olhos castanhos tinha um ar de mistério, uma leve barba por fazer lhe dava um charme.
- Permita que eu lhe apresente, esta é Lady Kenna, amiga de Mary, virá conosco no resgate. - O jovem olhou para mim surpreso.
- Ela vai? É uma moça de coragem.
- Digamos que eu não tenho outra opção. - Sorri timidamente, nervosa com a situação.
- Ótimo, vocês dois voltarão para o castelo, Sarah, traga um cavalo para Kenna, vá e traga roupas, acessórios, até servas se precisar, traga para você e Mary, além de suprimentos para caso a encontremos ferida, cuide de tudo por favor. - A ideia de encontrar Mary ferida me assustava, enquanto eu me perdia imaginando as piores cenas, meu cavalo chegou, o jovem me conduziu até o cavalo e me ajudou a subir.
- Pronta? - Perguntou ele, já em seu cavalo.
- Sim, vamos logo, até logo. - Falei para ele começando a me afastar, sentia Henry nos observando até passarmos pelo portão principal. O rapaz logo quebrou o silêncio.
- Então Kenna, é sua primeira vez na França?
- Sim, vim por Mary, e você? Vem muito aqui? - Perguntei, tentando não demonstrar muito interesse.
- Ah não, venho aqui com certa frequência, desde minha infância é um ótimo país. Meus pais são amigos da realeza francesa desde muito antes do meu nascimento.
- É mas não imaginava que fosse tão agitado, tudo na Escócia era de certa forma calmo, sem toda essa "ação" sem um príncipe traindo sua noiva... Ou... sequestros. - Falei com certa amargura.
- Espera, Francis traindo Mary? Ele sempre foi meio rude, mas trair? - O jovem parecia confuso mas não tão surpreso.
- Isso mesmo, desde que Mary chegou, ela o pegou com outra moça em seu quarto. E o pior é que todos no castelo sabe do caso que Francis tem com a moça. É humilhante...
- E Catherine não fez nada? Ela adorava Mary na infância.
- Bem, não mas o Rei fez. Na hora do sequestro a moça chamou Francis para... bem você pode imaginar para que, o fato é que quando percebemos o sumiço de Mary encontramos Francis e ela na cama. Henry mandou prendê-la no calabouço.
- Oh! - Ele riu, visivelmente feliz com a notícia. - Fez muito bem! Francis é um canalha, e ela também deve ser.
- E você fala assim de um amigo?
- Eu? Amigo do Francis? Nunca, desde criança nos damos mal. - Fiquei calada depois disso pensando que Henry saberia se o filho e ele são amigos ou não, as vezes da maneira que falam até parecem que estão falando de outra pessoa. - E a propósito não sei seu nome.
- Me chame de Cristopher.
- E você veio sozinho...? - Perguntei tentando saber se ele era comprometido.
- Não, minha irmã está aqui, mas ela veio primeiro.
- Irmã? Quem é? Como é o nome dela?
- Alícia.
Continua...
◇ ◇ ◇
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