O Piquenique
O Sol encobria os jardins Franceses, as flores espalhavam seu aroma, um piquenique enorme havia sido preparado, para comemorar o sucesso do noivado de Madelaine e Charles, seria uma boa oportunidade para os pequenos se aproximarem, ou pelo menos é isto que a Rainha deseja, lembro-me de Catherine ter feito isto por mim, quando cheguei a esta corte, e Francis mal falava comigo, e eu pequena e tímida não conseguia falar com ele até nossa primeira festa. Lembro-me como se fosse ontem, Catherine me conduzira até um espaço preparado para mim e Francis em meio ao piquenique, todo cheio de almofadas em cima de uma linda tapeçaria, uma grande armação fora preparada para fazer sombra, mas era toda aberta, o que dava um ar de leveza ao lugar, as servas, tão gentis, passavam servindo guloseimas para nós, foi a primeira vez que me senti realmente feliz na corte, Francis começou a brincar comigo neste dia, antes disso ele me rejeitara, de certo modo parecido com o que fez quando retornei ao Palácio.
Eu admirava pela janela dos meus aposentos a perfeição do dia lá fora, a temperatura era agradável, as servas não paravam nem por um minuto, preparando brincadeiras, e arrumando cada detalhe, a Rainha é exigente, os servos passavam a vida sussurando pelos corredores, pensando que nós não ouviamos. As enormes mesas que por enquanto estavam vazias mas espalhavam a promessa de doces e mais doces, não pude deixar de imaginar tudo que desejava comer, mas deixei isto para mais tarde, ontem enquanto Francis e eu atuavamos para Saimon, prometi que usaria um vestido branco, as servas conseguiram um lindo para mim de última hora, este tinha um fundo bage claro de mangas compridas todo rendado, conforme me movimentava fendas deixavam transparecer o bage, uma maquiagem leve ajudará a disfarçar o cansaço que sentia, depois que fui para meus aposentos ontem, custei a pegar no sono, pensando em como melhorar minha situação na corte, mas como tenho que fazer constantemente, afastei estes pensamentos de mim e fui tomar um bom banho, não precisava de mais preocupação do que já tinha.
Enquanto estava na banheira, me senti a vontade o suficiente para relaxar, fiquei um tempo distraída brincando com a água, livre de qualquer tormento, como se fosse apenas uma moça da nobreza, livre de preocupações, e não com uma nação para guiar.
- Mary! Já acordo? - Quando estava praticamente pegando no sono, ouço a voz de Kenna. - Ainda tomando banho? - Kenna entra sem cerimônia no banheiro, interrompendo minha paz.
- Bom dia Kenna, estou bem sim, obrigada por perguntar. - Disse soando despreocupada.
- Olhe se depois de ter feito as "pazes" com Francis você não estivesse bem, eu mandaria chamar um médico.
- Bem, ainda não acredito que Francis resolveu me ajudar, é um tanto difícil saber qual será seu próximo passo, mas espero que seja ao meu favor. - Sai da banheira e vesti um roupão preto que caia até meus pés, Kenna deixou o banheiro enquanto eu secava o cabelo.
- Mary. - Kenna volta para o banheiro e rapidamente tranca a porta. - Acho que estamos com problemas.
- O que houve? Por quê? Sente-se você está tremendo. - Falei sussurando e tentando manter a calma, a guiei para um banco e me agaixei a sua frente.
- Alguém esteve aqui, mas eu tranquei a porta, tenho certeza. - Kenna sussurava apressadamente. - E o que vamos fazer agora?!
- Como sabe que esteve aqui? E se ainda estiverem? Os guardas onde estão? - Continuavamos a sussurar, mas o medo em meu rosto começava a transparecer, mas então lembrei de uma coisa.
Fui até a enorme cômoda de madeira que eu tinha em meu banheiro, e afastei um pouco a mesma, cuidando pra não fazer barulho, então tirei de lá uma pequena adaga.
- Depois do incidente com Connor eu fiquei um tanto paranóica, escondi essa no banheiro e tenho outra atrás da cômoda do lado da minha cama. - Expliquei brevemente a Kenna.
- Mary... Não tinha ideia de como isso mecheu com você. - Kenna suavisou sua expressão.
- Estou bem, apenas para emergências, vamos fazer o seguinte, irei na frente, com a adaga escondida no roupão, se não tiver ninguém ótimo, mas tire os sapatos, se alguém vier pra cima de mim, corra e grite o máximo que puder fora do quarto. - Com um aceno de cabeça Kenna tirou o sapato e colocamos nosso plano improvisado em prática.
A passos lentos e silenciosos sai do quarto, meu coração batia forte, movido pelo meu medo, mas não via ninguém, aparentemente, apenas uma caixa grande, a tampa da caixa era cheia de detalhes dourados, um pequeno cartão pousado em cima da tampa.
- A Rainha Mary.
Dizia o cartão, e a letra me deu uma sensação familiar, de reconhecimento, fui direto a gaveta de uma mesa e retirei de lá os outros cartões que me ajudaram tanto antes, e percebi os mesmos traços de letra no novo cartão, Kenna ainda me olhava entre as portas do banheiro sem entender, abri com a ponta da adaga a caixa e para minha surpresa vi rosas, no início mesmo sem entender li outro cartão, que estava dentro das rosas.
A mais bela Rainha,
com a mais bela coroa,
apenas por um dia troque a beleza do ouro pela beleza das rosas.
Kenna se aproximou de mim e leu o cartão em minha mão. - Nossa, por essa eu não esperava, é linda... Se você não usar eu uso. - Acrescentou Kenna animadamente.
- Pelo menos é uma coroa de flores, acho que você sabe de quem é. - Disse a Kenna com alívio, feliz por apenas uma vez ter recebido um presente.
◇ ◇ ◇
Já estava pronta pra descer, a coroa de flores combinou com meu vestido, e de certa forma me lembrava que não estava sozinha, da estranha proteção que eu tanto contava, de um desconhecido, Francis me esperava no fim da escada, vestido com um casaco vermelho, o cabelo com um ar de natural como se não o arrumasse, seus olhos brilhavam com a claridade do dia. Me senti feliz por vê-lo ali.
- Nossa, você está linda. - Francis me olhava de cima a baixo admirado. - Da uma voltinha pra mim. - Ele segurou minha mão enquanto eu rodava e ria desse Francis divertido, que eu havia me esquecido que existia.
- Você ficou muito bem de vermelho. - Comentei segurando o braço de Francis.
- Um elogio? De sua parte? Isso sim é um acontecimento para se registrar. - Riamos como um casal feliz, quando entramos no jardim, a imagem dw nós dois, um casal feliz, rindo de algo a toa, de braços dados. Isso causou uma boa impressão, percebi os olhares dirigidos a nós, Saimon e Alícia cochichavam em um canto mais afastado.
- O que aqueles dois estão conversando? - Perguntei a Francis.
- Difícil saber, mas não deve ser nada importante, Alícia está chateada comigo, por conta de ontem.
- Me desculpe, agradeço pela sua ajuda, mas não posso dizer que sinto muito Francis.
- Eu entendendo... Sei que fui rude e não devia ter sido tão descuidado com Alícia, parte disso tudo é culpa minha, estou tentando me redimir. - A expressão de Francis era séria.
- Está tudo bem, vamos desfazer essa confusão, quando Saimon for embora no final da semana ele acreditará que somos realmente um casal apaixonado.
- Então vamos atuar Rainha. - Francis me puxou pela mão até a mesa de doces, Saimon olhava discretamente, Madelaine brincava com Charles, os dois pareciam próximos, Francis e eu conversávamos enquanto caminhávamos pelo jardim.
- E como era no convento? - Perguntou Francis.
- Era bom, e ruim ao mesmo tempo. As freiras eram severas, mas muito gentis, as outras meninas e eu brincávamos juntas, não era tratada como a Rainha da Escócia, por um tempo eu fui livre de preocupações era apenas Mary, e devo admitir que sinto certa falta disso. - Francis prestava atenção em tudo o que eu dizia, até chegar um cartão, entregue por uma serva, que me olhou com um olhar de medo e rapidamente desapareceu na multidão.
- Mary... desculpe terei de me ausentar, volto logo.
- Mas Francis... - Ele saiu sem esperar eu terminar, o observei sair a passos largos em direção a outra parte do castelo. Logo notei alguns olhares por parte dos nobres, e vi que não podia ficar ali com expressão chocada, sai calmamente afim de me misturar a multidão. Quando vi Madelaine quase agradeci a menina por estar ali.
- Madelaine? O que faz sozinha? Onde está Charles? - A menina estava sentada em baixo de uma árvore olhando o piquenique a certa distância.
- Charles não quer bricar comigo. - E com a fala de Madelaine ri sem querer, ao ver como os problemas pequenos podem se tornar tão grandes quando somos crianças.
- Me de a mão, vamos procurá-lo. - Fomos atrás de Charles, mas logo o vimos com dois doces na mão.
- Eu trouxe pra você Madelaine, desculpe Mary, não trouxe um para você, achei que estava com meu irmão, mas eu pego Você quer? - Greer apareceu atrás do menino.
- Você é muito gentil Charles, bom menino. - Charles sorriu timidamente.
- Que tal brincarmos? Eu e as outras meninas corremos e Charles tem que nos pegar. - Sugeriu Greer, logo Kenna, Lola e Aylee se juntaram a nós.
- Gostei da ideia, eu aceito. - Sorri. - Charles, conte até 10. - Então todas corremos sem direção certa, era um bom jeito de melhorar as coisas, logo vi que Madelaine foi pega e se juntou a Charles na "caçada".
- Charles está vindo, Mary corra! - Lola gritou enquanto corria.
- Ele pegou Aylee, esse garoto é bom. - Lola falou sem fôlego. Estavamos escondidas atrás de uma das cabanas.
- Vou correr pro castelo isso sim. Venha. - De imediato comecei a correr, corria o mais rápido que podia, a certo ponto, quando pensei ser seguro, parei.
- Acho que o despistamos Lola. - Me virei rindo. - Lola? - Mas percebi que estava sozinha. Onde ela foi, me perguntava.
- Lola não está aqui mas espero que eu sirva. - Um homem alto e encapuzado surgiu a minha frente.
- E quem é você? Retire o capuz, é uma ordem. - Aquele homem estava me assustando, mas tentei manter a pose.
- Você não precisa saber majestade.
- Ora, eu orde... - Alguém me segurou, senti um pano sendo colocado em minha boca. Tentava gritar mas não conseguia, o pano abafava, e o cheiro era tão forte.
- Levem-na daqui. Antes que alguém chegue.
Em meus últimos traços de consciência tentava desesperadamente me debater e gritar, estava desesperada, Francis sumiu, Lola também, estava sozinha e sem saber o que fazer, sentindo minha própria respiração enfraquecer, e minha visão se tornar escura até tudo desaparecer.
◇ ◇ ◇
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