Morta?
- Como assim ela ainda está viva? Eu mandei você matá-la! - Ouvi enquanto acordava, lentamente abrindo os olhos, a cabeça doia tanto, aos poucos percebi que estava amarrada em uma cadeira, a boca amordaçada, o lugar era escuro e quente, poucos feichos de luz entravam pelas frestas das paredes de madeira.
- Está louco? Ela é uma Rainha! Tem ideia de quanto ela vale? - Eu tentava prestar atenção em tudo que eles diziam, mas era difícil, minha cabeça latejava de dor, estava amarrada mas sentia como se estivesse girando. As cordas estavam tão apertadas que meus pulsos já estavam marcados.
- E qual seu plano? Dizer me entreguem o país e eu devolvo a Rainha? - Um dos sujeitos debochou.
- E se pedissemos o dinheiro para a Escócia, uma quantia tão alta, que deixaria o país enfraquecido, depois matamos ela e atacamos uma Escócia fraca e pobre.
- Tenho que admitir que é uma ideia a se considerar... Só temos que pensar em um jeito de pedir a quantia.
- Depois pensamos nisso, mas primeiro vamos ver como ela está agora.
Pendi a cabeça para frente, como se ainda estavesse desacordada, a ideia deles descobrirem que eu estava acordada, e que ouvi o que falaram, me aterrorizava. A porta se abriu e os passos pesados estavam cada vez mais próximo, meu coração batia forte, pelo medo.
- Ela deveria ter acordado a essa altura não acha? - Perguntou um deles.
- Acho que não, respirando ela está. É uma bela garota não acha? - Perguntou um deles, passando a mão em meu cabelo.
- Pare de admirar, só será mais difícil na hora de matar ela. Venha. - Falou ríspidamente o outro.
Em poucos instantes os homens saíram do quarto, e pouco depois ouvi o barulho de outra porta se fechando, presumi que fosse a entrada da pequena e suja cabana que me encontrava, o pânico dentro de mim crescia ao saber o que eles pretendiam fazer, eu precisava fazer alguma coisa, qualquer coisa. Tentei me soltar mas as cordas eram fortes demais para mim, eles amarraram minhas mãos a frente do meu corpo, minha cintura estava amarrada a cadeira, a primeira coisa que eu deveria fazer é tentar me soltar, mas eu não conseguia, estava entrando em pânico, quanto tempo eu fiquei aqui? E alguém percebeu? Aonde estou? Estava quase chorando pensando no que poderia acontecer comigo, tentei me acalmar e poupar minhas forças. Esperar até que se dêem conta de que sumi era a unica coisa que me restava a fazer.
◇ ◇ ◇
Kenna
Era um lindo fim de tarde, começava a anoitecer e todos iam embora felizes depois do piquenique, Lola disse que Mary havia ido para o castelo a tarde ainda e não tinha mais voltado, foi uma tarde boa, mas acho que Mary está triste, Francis a deixou no meio da festa e simplesmente sumiu, não apareceu mais o resto da tarde, Greer e eu decidimos ir até os aposentos dela, mas chegando lá é que percebemos.
- Mary? Está aqui? - Perguntei, e pra minha surpresa, não tive resposta.
- Olhe no banheiro, eu vou olhar na outra sala. - Greer falou indo apressadamente para o resto do quarto.
- Greer! Achou? - Perguntei saindo do banheiro vazio.
- Não, ela não está aqui, estranho... Lola disse que ela veio para o castelo.
- Onde está Francis? - Perguntei a Greer e sua expressão mudou.
- Bom... Eu fui ver onde ele estava e você não vai gostar, já adianto. - Olhei para Greer confusa e ela logo continuou. - Subornei uma serva para entrar "por engano" nos aposentos do Francis e advinha? Ele não estava lá. Já ta imaginando onde isso vai dar né? Se pensou na cama da Alícia acertou.
- Vá procurar Mary pelo castelo, vou por aqui e você procura no andar de baixo.
- Tudo bem, avise se encontrá-la. - Com um aceno de cabeça confirmei, e tomamos direções opostas, chamando por Mary pelo castelo, olhava de sala em sala. Até me deparar com o quarto que encontrei no dia do casamento da princesa. Fiquei com certo receio de entrar, parada em frente a porta com a mão pairando no ar, tentando decidir se abria ou não.
- Por favor esteja aqui Mary. - Sussurei para mim mesma. Abri a porta lentamente, sem fazer barulho.
- Mary? - Falei baixo demais, ouvi então um suspiro, e logo pensei que fosse ela.
- Mary! - Entrei na sacada e um tanto surpresa e um tanto decepcionada por não ser ela, me desculpei.
- Me desculpe majestade, pensei que poderia ser Mary. - Ele olhava para o jardim distante, com a expressão pensativa, como se mal tivesse me ouvido. Seus cabelos loiros arrumados, levemente presos sob sua coroa, lhe davam um charme especial, eu olhava para baixo, envergonhada de certa forma.
- Sem problema Kenna. - Ele tomou um gole de seu vinho. - Quer um pouco? - Perguntou me estendendo sua taça.
- Não majestade obrigada. - Levantei o olhar e vi que ele ainda me olhava, com seus olhos, lindos olhos verdes... - Estou procurando Mary. - Tive de me esforçar pra desviar o olhar.
- Mary não está com Francis? - Perguntou ele se aproximando de mim, tornando a diferença de altura mais perceptível.
- Infelizmente seu filho escolheu outra compania majestade. - O encarei sem pensar.
- Bem, o que posso fazer? Meu filho tem mal gosto.
- Não posso discordar majestade. - Sorri levemente. - Mas Mary não está nos aposentos dela, não estava no piquenique, e não está com Francis.
- Quando a viu pela última vez? - Perguntou.
- Faz algumas horas, por quê? Acha que fizeram algo com ela? - Minha preocupação se tornou medo.
- Vamos acha-la Lady Kenna, venha. - Senti sua mão pousar em minhas costas já me conduzindo para fora do aposento.
- Onde vamos? - Saimos disparado pelo corredor, o Rei caminhando rápido demais, levantei um pouco meu vestido para tentar acompanhá-lo respondeu com a voz baixa.
- Aos aposentos daquela garota, Alícia, vou atrás de Francis, ele é um homem, tem que começar a agir como um. - Pouco depois paramos em frente das portas do quarto, eu ofegava pela distância, o Rei aparentemente nem notou, muito menos parecia ter se abatido pela caminhada.
- Afaste-se um pouco. - Recuei obediente.
- O que vai fazer? - Ele olhou rapidamente para mim, mas não respondeu, voltou seu olhar para as pesadas portas. E então deu um chute tão forte que se abriram imediatamente, com um enorme estrondo, pedaços da fechadura do quarto ficaram em estilhaços no chão.
- Entre. - O Rei parou segurando a porta quebrada para que eu entrasse. Entrei sem pensar duas vezes, o Rei logo atrás de mim, chegamos até a cama a cena não poderia ser mais constrangedora, e infelizmente previsível. Alícia e Francis, cobrindo sua nudez com um lençol de seda. Desesperadamente Alícia tentava ageitar o cabelo com uma das mãos enquanto a outra estava agarrada ao lençol.
- Pai, o que, o que faz aqui? - Gaguejou Francis, visivelmente assustado, até eu estava na verdade, a expressão de Henry era fria, sua coroa brilhando, a luz do fim da tarde, mas podia ver a veia de sua testa sobressaltada, os punhos cerrados, em um sinal de raiva. Francis se limitou a esperar paralisado a resposta de seu pai, mas a resposta não chegou.
- Majestade eu...
- Calada, se eu quiser falar com você eu digo, Alícia. - Alícia olhou para baixo envergonhada.
- Não pode falar com ela assim! - Explodiu Francis. Henry então se aproximou da cama, indo para ficar frente a frente com Francis.
- Cale essa boca, não passa de um menino, já tem 16 anos deveria estar se tornando um homem, mas não vejo nem sombra disso em você.
- O que a Lady da Mary está fazendo aqui?
- Lady Kenna, me alertou sobre algo que você, mais do que ninguém, deveria saber.
- O que houve? - A expressão de Francis ficou séria.
- Mary desapareceu.
◇ ◇ ◇
Não havia muito que eu tinha notado que a pouco luz que vinha das frestas da parede sumiu, só me restava a escuridão. O silêncio foi quebrado por galopes de cavalos, uma parte de mim tinha a esperança que fosse Francis, e seus guardas, vindo me resgatar, me senti um tanto tola pela visão que eu imaginava, mas eu me agarrava a esperança de sair daqui. Quando notei as vozes sussurrando atrás da porta onde eu me encontrava, as reconheci de imediato, e perdi as esperanças de ser Francis. Com um rangido lento a porta se abriu. Uma chama surgiu, estava a tanto tempo naquele quarto escuro que meus olhos doeram ao olhar pra ela.
- Finalmente acordada Rainha. - O homem falou com calma.
- Onde estou? - Perguntei com receio, a voz baixa tentando não demonstrar o medo que sentia.
- Escondida, claro. - Falou o outro sujeito entrado no quarto apertado.
- Isso não é um tanto vago? - O respondi fracamente.
- Não seja sarcástica! - Com passos firmes o sujeito veio em minha direção, entrando em frente a luz, tornando tudo escuro novamente, o que me impediu de ver seu rosto, provocando uma onda de medo em mim, levantei um pouco o rosto, e o que eu não esperava aconteceu. Com um movimento rápido ele bateu em minha cabeça, com algo que não consegui distinguir. A dor não demorou a chegar, e com ela mais xingamentos. - Você não é Rainha aqui! É minha prisioneira, não ouse... - Ele foi interrompido pelo outro cúmplice, que o segurava e o puxava para longe de mim.
- Esta louco?! Saimon disse para não tocar nela! - Até o momento olhava para o lado, me faltava coragem de olhar novamente, estava desconcertada pela dor e pela brutalidade, mas o nome de Saimon trouxe de volta a realidade.
- Me solta, idiota. - Ele saiu batendo a porta atrás de sí.
- Desculpe Mary, ele é um tanto bruto e explosivo. - Disse o que ficou levantando minha cabeça e analisando o corte em minha testa, deixando meu cabelo molhado. Senti as lagrimas começando a cair pelo meu rosto, toda minha sorte e meu azar de ser Rainha se misturavam e não era de hoje. Com medo olhei para os olhos negros me analisando.
- Por quê? Por que estão fazendo isso comigo?
◇ ◇ ◇
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