Parte 1
O maravilhoso por do sol não pode ser visto naquele dia, pois as nuvens cobriam toda a vila, deixando o local mais frio, Caio voltava a pé do "Clube da Mata" junto de Ana, sua amiga, por vontade dela, é claro, pois, se dependesse do garoto, seria um belo casal. Caminhavam por uma estrada de terra que cortava um desfiladeiro, a baixo havia um rio, a cima, uma pequena pedreira com algumas de cavernas.
Discutiam sobre as brincadeiras e desafios do dia, e do quanto era legal ser membro do clube da mata, que era apenas um grupo de jovens que se reunia nos fins de semana. Levavam o que comer, algo para beber, e passavam o dia inteiro lá, mas naquele dia, Caio levou em sua mochila outra coisa além de comida, um anel que ele mesmo fez, ou melhor, personalizou.
Catou um anel velho da mãe todo desbotado e o poliu, ficou, horas à beira do córrego que passava ao fundo do sítio onde morava, até encontrar um belo Jaspe vermelho. Trabalhou naquela pedra com as ferramentas do pai e colocou-a no anel.
A intenção era declarar seu amor por Ana e pedi-la em namoro, isso na ida para a mata pela manhã, mas não teve coragem o suficiente. Durante as atividades no clube, sem chance, ficava com vergonha em meio aos demais membros, principalmente os irmãos Bily e Marco, eram os mais velhos, e sempre zoavam com os mais novos, ou quem quer que eles achassem estranhos.
No fim da tarde, quando estavam sozinhos, Caio sentia um aperto no peito, o que ele julgava ser a coragem em excesso, lutando para sair, pediu então para que Ana parasse, e ela o fez. A garota ficou encarando o amigo, enquanto ele fuçava a mochila, tentando encontrar a caixinha do anel.
— Caramba, onde está você? — disse o garoto, um tanto sem graça. — Espere só um pouco, deve estar... aqui, achei! — Alegrou-se.
Fechou a mochila rapidamente, mas invés de colocá-la nos ombros, a deixou no chão. Olhou nos olhos castanhos claríssimos de Ana, e disse o que sentia. Confessou gostar dela desde que a conheceu, e que pensava na garota diariamente.
— Lembro-me quando você chegou — comentou Caio.
Apertando a caixinha ainda fechada em suas mãos
— Era uma segunda-feira, eu acho, não sei bem, só sei que, era aquele tipico de dia chato, em que você só deseja estar em outro lugar, ou ter outra vida.
Pausou a fala, desviando o olhar, voltando a fitar o chão, um tanto tímido.
— Quando a vi entrando pela porta da sala, larguei o lápis sobre o caderno, se bem me lembro, até borrei meu desenho.
Sorriu, voltando a olhar nos olhos de Ana, que escutava paciente.
— Naquele momento senti algo diferente. Quando você escolheu a cadeira ao meu lado, e falou comigo, nossa! A sensação só aumentou.
Ora olhava nos olhos da garota, ora encarava o chão.
— E em todos esses 3 anos venho cultivado esse sentimento sozinho, porém, prometi para mim mesmo que não seria um covarde. Prometi que falaria com você, e aqui estou eu — enfatizou —, e digo que gosto muito de você, eu te amo, na verdade, e estou disposto a fazer qualquer coisa por você!
Completou, ofegante, abrindo a caixinha diante da garota, desconsertada pela declaração. Ana sorria sem graça, totalmente desconcertada, fingia surpresa, ajeitando os cabelos cacheados por trás das orelhas.
— Bem, o que posso dizer? É... então...
Gaguejava enquanto procurava as palavras certas para sua resposta, que pela expressão em seu rosto, seria: "desculpa, mas gosto de você, como amigo.
Contudo, o gaguejar sumiu, tornando-se apenas silêncio. A falsa surpresa foi-se embora, dando lugar a uma genuína perplexidade, ao observar o anel quando Caio abriu a caixinha que tinha em mãos trêmulas. Ana se lembrou de quando eram mais jovens e saíam pelas margens dos rios e córregos da cidade, a procurar pedrinhas bonita, a fim de produzirem algumas peças, como colares e pulseiras.
Ana retirou o anel da caixinha, Caio pretendia fazer as honras assim que ela aceitasse, mas a garota não deu resposta, apenas pegou o anel e ficou encarando-o, maravilhada com a beleza, com o brilho da peça, era como se estivesse hipnotizada
— Nossa, você ficou bom mesmo nisso — comentou Ana com um pequeno sorriso, boquiaberta observando o anel —, é lindo.
— Que bom que, gostou — disse Caio coçando a nuca.
Havia um som se aproximando, mas eles ignoraram.
— Minha resposta é...
Antes que pudesse dar a respostas e dar fim na aflição do garoto afoito, Ana foi surpreendida por um rapaz que passou em alta velocidade, montado numa bicicleta amarela, tomando-lhe o anel.
— Ei, me devolve isso!
— Merda, é o Marco — sussurrou Caio, descendo a mão da nuca, para coçar o pescoço.
— Olha, Bily! Um anel de noivado! — Gritou o garoto gordinho da bicicleta amarela, ao irmão que aproximava em uma bicicleta vermelha.
— Tá me zoando cara, o Caio mané quer namorar a Ana Gatinha? — Caçoou o outro, ainda mais magro que o Caio.
Fizeram toda espécie de piada de mal gosto possível, até inventaram músicas e paródias na hora, o que deixou Caio constrangido à beça. O garoto reclamava e reivindicava o anel, isso, enquanto corria de um lado para o outro, tentando pegá-lo, já que os irmãos, jogavam-no um para o outro. Numa ideia maléfica comum vinda de garotos quanto querem demonstrar que são os mais fortes, Marco levantou o anel em sua mão, e enquanto Caio pulava para tentar pegá-lo, disse:
— Se quer tanto essa droga, vá buscar!
O garoto branco, de sardinhas no rosto, sorria escandalosamente como uma hiena.
— Ah, droga! — Comentou o magrelo colocando uma mão no rosto, tapando a visão. — Que mancada, Marco, seu animal.
— Que merda, Marco! Olha o que você fez!
Esbravejou Ana apontando com a mão onde o valentão jogou o anel.
— Eita! Foi sem querer! Foi sem querer! — desculpava-se o loirinho de olhos verdes, e olhar espantado. — Eu não reparei onde estávamos, ok, foi sem querer.
— Que-grande-bosta! —
Aos berros, Caio grasnou pausadamente, e diferente de antes, pôs-se a coçar o pescoço com às duas mãos, apertando, como se fosse se enforcar.
— Eu, não posso acreditar nisso, Marco! Tudo tem limites, seu grande filho da mãe!
— Ei, relaxa, cara, eu te compro um anel novo para você dar para sua garota.
Disse Marco fazendo um sinal com a mão., na tentativa de apaziguar a situação.
— Eu não quero um anel novo, quero aquele, aquele — esbravejou Caio, com suas veias da testa saltando de sua pele morena, que brilhava pelo suor. — Vocês são uns imbecis, só sabem encher o saco dos outros e nada mais, só porque são mais velhos, agora terei que buscar o anel.
— Você ficou louco pirralho? — Bradou Marco — Mas nem a pau que você vai entrar naquela merda!
— É proibido — complementou Billy —, sabe que é proibido.
— Não me interessa!
— É só um anel, o importante é a minha resposta.
Ana estava assustada com a reação de Caio, e mais ainda pelo fato do garoto querer ir atrás da peça.
— Não é só um anel, Ana — Caio interrompeu o garoto a fala da amiga —, deu um trabalhão para fazer, e eu vi o quanto gostou dele, eu vou até lá, e vou recuperá-lo.
— Garoto, você só tem 13 anos, pirralho, não pode fazer isso.
— Você tem 17 Marco, deveria vir comigo já que foi você quem jogou.
— Droga! — Murmurou Marco.
O valentão estava com medo, trêmulo e com os olhos esbugalhados, suando frio até. Isso porque estavam numa parte da estrada, onde a pedreira era repleta de pequenas cavernas, umas mais próximas do chão, outras mais para cima.
Marco havia jogado o anel em uma caverna alta, que tinha a maior entrada dentre todas ali. Existia uma história naquela pequena vila, que dizia que no passado, exploradores, bandeirantes, desbravaram as cavernas, porém, em todas as cavernas exploradas houve relatos de criaturas estranhas após o início dos trabalhos.
Seres pequenos, um metro talvez com dentes afiadíssimos como piranhas. Segundo as histórias possuíam quatro braços e quatro olhos, além de chifres.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro