Capítulo 37 - CATARINA
Ele está aqui! Ele está aqui! Ele está aqui! O frio na barriga parecia não acabar nunca e eu não poderia deixar Henrique perceber minha ansiedade.
O desencontro e as suposições erradas tinham sido expostos, embora não tivessem sido discutidas. Se é que valia a pena ser debatida. Como eu disse, ele não me devia explicações.
Mas o que eu deveria fazer? Mandar ele pastar depois de falar aquelas coisas lindas e virar a página? Eu era louca? Claro que não!
Eu gostava dele, estava encantada por toda essa paixonite aguda e Henrique não saia mais dos meus pensamentos desde o primeiro dia. Eu estava apaixonada e isso não era mais uma surpresa para mim.
O que eu tinha a perder? Algumas noites de sono? Algumas lágrimas depois que ele for embora? Eu sei que não iria me magoar a ponto de não levar a vida adiante. Ou iria?
Eu fazia algum comentário abusado para ele apenas por diversão. Gostava de ver aquela carinha de questionamento.
Olho para Henrique, parado em frente à churrasqueira. Ele fala no seu celular meio baixo e depois desliga. Sirvo as crianças e aos poucos adultos que vieram. Só o sorriso de Ana já faz meu coração transbordar de alegria.
— Quem diria? — Marlon para ao meu lado e fica observando Henrique junto comigo.
— Quem diria.
— Garota, você pegou o homem de jeito.
— Peguei?
— Pode apostar. Ele está caidinho.
Respiro fundo.
— Eu também estou, Marlon. Só não sei no que isso vai dar.
— Cata, liga o fode-se e parte para o abraço.
Dou um tapa em seu braço.
Henrique nos olha e sorri para mim.
— Agora me dá licença.
— Toda, gata! Vai lá partir para o abraço.
Mando beijinho e vou até Henrique.
— Problemas? — pergunto, olhando para o celular na sua mão. — Ou mentiu para mim que é bom churrasqueiro?
Ele sorri, com a testa um pouco suada. Pego um guardanapo e o seco. Ele corta uma carne no prato e me dá um pedaço na boca.
— Está ruim?
— Hum. Mas... hum.
Ele me olha aflito.
— Fala logo, mulher! Está ruim?
— Eu quase duvidei desse seu dom, viu! Mas está delicioso.
Ele sorri aliviado e vem até o meu ouvido.
— Não mais do que você.
— Você está me seduzindo, senhor Soares?
— Por quê? Estou conseguindo, senhorita Catarina?
Sem pensar duas vezes, retiro a faca da sua mão e o garfo.
— Marlon, dá uma olhadinha na churrasqueira um segundo! — grito e ele faz um sinal de ok.
Conduzo Henrique até o meu quarto e fecho a porta. Seu sorriso é lindo e fico encantada.
— Esse é o meu quarto.
Ele dá uma olhada rápida e sorri. Ele é todo cor de rosa.
— Meu e da Ana — explico.
— Catarina, eu...
— Eu queria te mostrar meu quarto porque tenho uma queda por churrasqueiros de festa infantil, sabia?
— Ah! Eu sabia... — Seu sorriso se abre e quase entro em pane.
— Me beija, Henrique — peço e logo sua mão segura meu rosto.
Ele me beija ardentemente. Um beijo forte, intenso, instigante.
— Deus, eu queria fazer isso desde que cheguei. Aliás, eu quero fazer isso o tempo inteiro.
— Cala a boca e me beija mais.
Ele obedece, me deixando alucinada.
— Eu te amo — sussurra beijando meu rosto até o meu ouvido.
— Não diz isso.
Sua mão passeia pelo meu corpo e a excitação é imediata.
— Eu te amo, Catarina. Eu sou louco por você.
Antes que pudéssemos continuar eu paro.
— Temos que ir. Tem uma festa no outro lado dessa porta.
Ele faz beicinho, mas concorda. Ameaço abrir a porta e ele me puxa novamente para os seus braços, mordendo meus lábios.
— Catarina...
— Hum...
— Tenho uma festa para ir hoje à noite.
Paro de beijá-lo.
— Calma, é a trabalho. É de uma patrocinadora minha. Preciso ir.
— Claro. Eu já disse que...
— Queria que você fosse comigo.
— Eu?
— Sim, você.
— Como assim?
— Quero que vá como minha acompanhante. Minha namorada.
Nego com a cabeça e me afasto um pouco.
O pedido, a forma como ele fala, calmamente, me faz feliz, porém a possibilidade de ser o foco dos holofotes, não.
— É muito cedo para isso, Henrique.
— Não é.
— Eu não quero isso agora. Você entende?
Ele abaixa a cabeça.
— Não fique chateado — continuo. — Vamos com calma, ok? Quem sabe um dia.
— Não fale como se isso pudesse não acontecer. Quero você por completo. Quero mostrar ao mundo que o meu coração te pertence.
— Não podemos nos precipitar.
— Precipitar?
— Desculpe, não era essa a palavra que quis dizer. Eu preciso primeiro ir com calma, eu tenho uma filha. Esqueceu que fui eu que tirei aquelas fotos da Luciana? As especulações que vão rolar no jornal não serão boas. Além disso, tenho alguns problemas para solucionar antes disso acontecer.
Se isso acontecer os meus problemas vão triplicar. Não posso pôr em risco tudo outra vez.
— Quero te ajudar no que for preciso.
Sorrio. Ele queria. Eu sentia isso.
— Eu sei, não estou dizendo que isso não vá acontecer, ok?
Ele concorda.
— Eu te amo — diz, segurando meu rosto. — Porra! Não consigo parar de dizer isso.
— Não pare. Não pare porque eu amo ouvir — digo e logo sou preenchida pela sua boca.
Minutos depois entre abraços e beijos, saímos do quarto e no corredor Henrique me puxa, me beijando novamente.
— Eu sabia! Seus danadinhos! — A voz de Ana nos assusta.
Pegos no flagra.
— Ana! Eu e o Henrique, nós... eu...
— Eu vi, mãe! Eu vi o tio te beijando. Vocês estão namorando!
— Estamos, Aninha — conta Henrique e quase dou um empurrão nele.
— Eba! — Ana pula feliz e nos abraça. — Eu tô feliz demais.
Bufo. Não esperava reação diferente.
— Eu acho que você vai ficar mais feliz ainda quando o seu presente chegar — informa Henrique, pegando Ana no colo.
— Presente? — ela indaga com os olhos brilhando.
Presente?
— Mas mamãe me entregou o cachorrinho de pelúcia que você me mandou. Eu amei, tio. Ele dorme abraçadinho comigo. Às vezes, mamãe dorme também.
— Ah é?
Sorrio sem graça.
Essa menina não é mole!
Posso ter dormido com o cachorrinho de pelúcia uma noite ou outra durante essa semana, lembrando do Henrique. Só! Que mal havia nisso?
— Obrigada, tio.
— De nada, Aninha. Mas agora eu acho que você vai gostar ainda mais do presente que vai chegar.
— Uau!
— Henrique, não precisa. A Ana já está feliz com o...
— Eu já pedi para entregarem aqui.
— Entregarem aqui? Quando? — ela pergunta animada.
— Hoje. Acho que já deve estar chegando.
— Hoje é o melhor dia da minha vida! — grita Ana, saindo em disparada para o quintal.
As músicas do filme Frozen tocam ininterruptamente e Henrique volta à churrasqueira para evitar contato visual com as pessoas. Ele tinha que manter o disfarce.
— Ele gosta mesmo de você, não é? Fazendo churrasco nesse calor — diz Leandro, largando um pouco a namorada.
— Acho que sim.
— E aí?
— E aí o que?
— Pelo visto já se acertaram! — fala, bebendo seu refrigerante.
— Estamos namorando — conto e ele quase cospe o líquido.
— Está de sacanagem?
— Bom, acho que não.
— Caralho!
Olho assustada para ele. Leandro não fala palavrão. Não como eu.
— Minha irmã? Minha irmã desajeitada, desorganizada, estressada... namorando o melhor jogador de futebol do mundo?
— Chega de elogios, Leandro. — Faço uma careta para ele. — Muito bom saber o que você pensa de mim.
—Isso é muito doido, mana!
— É. Agora vamos manter o disfarce. Temos que ir com calma.
— Se está entrando nessa, tem que ser cem por cento, logo será celebridade. Tem noção de quanto isso vai mudar sua vida? Nossa vida?
A frase do Leandro me faz ponderar. A resposta era não. Eu não sabia o que isso iria dar.
Meus pensamentos são interrompidos por Marlon abrindo o portão e uma caixa sendo entregue por um homem.
A caixa é enorme e tem alguns furinhos. Um laço rosa imenso me deixa intrigada. Ana fica eufórica.
— Parabéns, Aninha.
Assim que ela abre a caixa algo pula para cima dela e me assusto. Um cachorro!
Um labrador lindo. Todos babam pelo pequeno cãozinho que mais parece o de pelúcia.
Eu poderia bater o pé, falar que não quero um cãozinho agora, mas é simplesmente impossível vendo o sorriso feliz da minha filha.
— Olha só, mamãe, que lindo! Eu amei, tio!
Henrique abraça Ana e sem querer se expor demais, agradece o homem que deixou a encomenda antes dele partir.
— O nome dela vai ser Elsa.
— Elsa? Mas é fêmea?
— Sim.! Da Frozen, mãe! Seremos as irmãs Ana e Elsa!
Levanto os ombros. Quem sou eu para questionar?
Chego perto de Henrique e sem alardear demais, aliso sua mão.
— Obrigada.
— Não foi nada — diz, rindo da Ana com a cachorrinha. — Eu sabia que ela iria gostar. Só não sabia se você iria.
— Ela está surtando. Não poderia ter dado presente melhor.
Ele se vira para mim e sorri.
— Eu tenho que te agradecer pelo dia de hoje. Obrigado por me deixar participar da sua vida, desse dia especial para Ana.
— Foi tudo muito simples.
— Mas o amor é o que tem de sobra nesse lugar. Eu não estou muito acostumado com isso.
— Bem-vindo, então, bonitão. — Chego perto e percebendo as crianças entretidas com o cãozinho, dou um beijo rápido em seus lábios.
A tarde passa rapidamente e logo o sol se põe. Já cantamos parabéns, Ana fez seu pedido e Henrique conseguiu manter o disfarce diante das crianças, que aos poucos foram embora.
Leandro leva sua namorada para casa e depois que retorna, ele e Marlon batem papo com Henrique. Dava para perceber a cara de bobo dos dois enquanto isso acontecia.
Após um telefonema, Henrique levanta da cadeira, segurando minha mão.
— Preciso ir.
— Eu sei.
— Não queria.
— Eu acredito — digo e ele sorri.
— Tem certeza de que não quer ir comigo? — pergunta, colocando meu cabelo para trás do ombro.
Faço que não.
— Tudo bem, dessa vez eu relevo, meu amor.
— Repete — peço, inebriada.
— Dessa vez eu...
— Não, as últimas palavras.
— Meu amor. — Ele sorri. — Vai demorar muito, Catarina?
— Demorar para o quê?
— Para entender o quanto eu amo você.
Sorrio.
— Eu me rendi, não percebeu? Se for para tudo dar errado quero que seja com você. — digo, acanhada.
— Mas pode ter certeza de que farei o possível e o impossível para que isso não aconteça.
Acompanho Henrique até o seu carro, depois sou surpreendida por um beijo de tirar o fôlego.
Eu estava nas nuvens, parecia uma adolescente encantada pelo primeiro namoradinho. Bom, no auge dos meus vinte e quatro anos, acho que não tinha passado tanto tempo assim da idade de suspirar pelo primeiro namorado. Na prática, ele era sim, o meu primeiro namorado, meu primeiro amor.
Entro em casa com um sorriso bobo e logo sou interceptada por Marlon.
— Cata! Milano acabou de ligar. S.O.S urgente, amiga!
***
Eu não queria ter que ir à festa que Henrique estaria, ainda mais a trabalho.
Primeiro, neguei. Depois repensei. Preciso do trabalho. Preciso focar no plano B.
Dei uma ajeitada rápida na casa. Leandro ficou de colocar Ana no banho e cuidar do novo integrante da família. Milano gritou no telefone dizendo que havia depositado um dinheiro para irmos até a loja mais próxima e comprasse algo que prestasse para uma festa de gala.
Marlon estava escalado. Por sorte, ele iria me acompanhar nessa tarefa.
— Ligou para Henrique?
— Não. Acho que vou fazer uma surpresa. Ele me convidou, mas neguei. Não é hora disso, Marlon, preciso preservar Ana e resolver o que ainda está por vir.
— Dr. Goulart deu alguma notícia do caso?
— Ainda nada — digo, colocando um vestido de malha bandagem que é justo no corpo.
— O decote ombro a ombro é lindo. Perfeito em você, Cata. Sinto muito, mas não é só Soares que vai estar aos seus pés.
Sorrio, agradecendo o elogio.
Marlon escolhe um terno simples e agradeço por ele ser proativo mesmo com o curto espaço de tempo. Assim que chegamos à minha casa, Ana já está deitada. Dou um beijinho de boa noite e deixo Elsa dormir ao seu lado.
Cobriríamos o evento com credencial de jornalistas. Milano foi categórico: Quero fofocas! Fofocas!
Era a primeira vez que eu estava animada em ir atrás do Henrique Soares.
Olho para o espelho e me sinto linda. Dou um jeito rápido na cabeleira e faço uma maquiagem rápida, já que o salão do shopping estava fechando.
Meu vestido era vermelho sangue e ia delineando todo o meu corpo.
Eu estava ansiosa. Meu único desejo era terminar o dia perfeito nos braços do homem que dizia me amar.
***
Chegando ao hotel em São Conrado, onde aconteceria o evento, pegamos nossas credenciais e entramos. Nosso foco era ficarmos de olho em algum mico dos famosos. Quase surto ao ver minha apresentadora favorita de telejornal passar por mim. Isso sim era jornalismo!
O local é lindíssimo, digno de um evento de gala. Todos muito bem vestidos e a música de ótimo gosto. Pegamos um champanhe, Marlon tira uma foto nossa e posta no seu Instagram com a seguinte hastag: #TudoMeu #CataDiva #DivandoNoRedCarpet.
Quase gargalho e ele comemora as dez curtidas recentes.
Minutos depois, apreensiva por ver Henrique, já consigo ver os burburinhos dos jornalistas que vão até a entrada da festa.
— Soares chegou! — diz um deles, passando pela gente.
— Céus, ele chegou!
— Calma, Cata. Bebe isso aqui.
Marlon me entrega outra taça de champanhe e viro de uma vez.
— O que esse homem está fazendo comigo?
— Você está apaixonada e de boy novo. Não sente vontade de gritar para todos que ele é seu?
— Eu não sei... nesse momento sim.
— Acho que vou até lá fotografar e já volto.
— Vou com você. Também estou a trabalho. — digo, entregando a taça para um garçom que passa.
— Nem pensar, Cata. Fique aqui e espera o seu príncipe encantado. Quero que essa noite seja especial para você.
Beijo o rosto do meu amigo e ele saí em direção a multidão de jornalistas.
— Não vai até lá também? — Um jornalista vindo da direção contrária do Marlon, sorri, mexendo na sua câmera profissional. — Bomba boa. Já está na rede!
— O que foi?
— Henrique Soares chegou acompanhado.
— Acompanhado?
— E pasme, com Luciana Santana! Ela acabou de revelar que estão juntos. Eu sabia que era ele naquelas fotos da Fatos & Fotos!
Sinto minhas extremidades formigarem.
Como é que é?
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