Capítulo 12 - HENRIQUE SOARES
Mãos me segurando, meus olhos revirando, sirenes, algumas perguntas que não soube responder, uma mão pequena segurando a minha, uma mão sedosa alisando meu cabelo, frio, calor, luz forte nos olhos, dor no braço, dor de cabeça e sono. Sono profundo.
Abro meus olhos devagar. Demoro um pouco a me acostumar com a claridade e a recapitular os últimos acontecimentos.
Camarão.
Observo o quarto cor de creme vazio, um cobre-leito pesado sobre as pernas e uma televisão ligada sem som.
Era fácil adivinhar onde eu estava. Não era a primeira vez que eu parava no hospital por causa de camarão. Quando criança, eu e meu irmão ficamos internados porque roubamos do prato do Jaime., Sempre tomo cuidado para não vacilar, mas dessa vez me ferrei bonito.
A porta próxima a TV se abre.
— Ah! Olha só quem acordou! — Jaime, meu irmão, entra segurando um copo plástico.
— Onde estou? — pergunto sentindo ainda minha cabeça doer.
— Hospital.
— Isso eu já percebi. Mas onde?
— Agora está no Copa D'Or. — responde, colocando o copo na boca e sentando na poltrona ao meu lado.
— Agora?
— Antes estava em um hospital público em Duque de Caxias.
Bufo, deixando a cabeça cair novamente no travesseiro.
— Que merda!
— Põe merda nisso. Você quase morreu, Henrique.
Fecho meus olhos e coço a cabeça.
Aperto um botão ao lado da maca e fico na posição sentada.
— Cadê ela? — pergunto pela Catarina.
— Olha... — Jaime coloca os pés sobre a cama e o copo na mesinha ao meu lado. — Devo confessar que você foi rápido. Quer dizer que encontrou a menina?
— Não fale como ela se fosse uma garotinha, ok? Ela não é.
— Imaginei que fosse novinha, até uma adolescente, sei lá.
— Que nada. Ela é bem espertinha por sinal e irritante, às vezes. Ela não está aqui?
— Não. Quando cheguei ao hospital já estava aquele reboliço.
— Reboliço?
— O que está acontecendo? A alergia agora é cerebral? É claro que te reconheceram!
Nesse momento vejo a televisão ligada e reconheço Jaime passando na tela. Peço para ele aumentar o volume.
— Caralho, Jaime. O que você fez?
Jaime aparece com óculos escuros em frente ao que me parece o hospital.
— Henrique Soares está medicado e se recupera bem — diz ele em um dos microfones.
— O que ele teve? — Alguém pergunta.
— Foi apenas uma reação alérgica.
— Por que ele estava em Caxias?
— Soares tem algumas escolinhas de futebol que patrocina, ele estava indo visitá-las. Apenas sentiu um mal-estar.
— Ele estava sozinho? Quem o socorreu?
— Soares já está bem. Quero agradecer o carinho de vocês. — Jaime agradece, ignorando as demais perguntas. — Em breve o hospital emitirá uma nota com o estado dele. Obrigado e boa noite.
Ele sai e a apresentadora do telejornal volta a aparecer. Jaime abaixa novamente o volume.
— Bem na hora. Eles são rápidos, não é? Acabei de dar essa entrevista. Não disse o motivo da sua alergia para não dar problema com os dirigentes do Barcelona. Sabe como são chatos? É bem capaz de quererem repetir a bateria de exames novamente.
Faço careta.
— Mandou bem. Obrigado.
— Não agradeça muito — diz e pela sua fisionomia, sei que não é coisa boa.
Olho novamente para a televisão e ele volta a aumentar o volume com o controle remoto. A apresentadora começa a gesticular bastante animada.
— Será que era o Henrique Soares na cama com Luciana Santana?
Uma foto aparece. Puta que pariu!
A foto de Luciana em pé com chicote na mão e eu pelado e preso. Por sorte não mostra o meu rosto, mas metade da foto está embaçada. Pelo menos tiveram a decência de ocultar o meu pau.
— Algumas fontes dizem que sim! As fotos para lá de calientes foram divulgadas hoje na capa da Fatos & Fotos. A festinha íntima de jogadores de futebol aconteceu em uma mansão alugada na Barra da Tijuca. Para quem se recorda, Soares teve um vídeo de sexo explícito divulgado na internet há algum tempo, no qual causou um grande transtorno para o jogador ameaçando sua carreira.
O vídeo passa embaçado também.
— Que filha da puta! — praguejo. — Ela disse que não ia divulgar minha foto!
— Bom, essa não é sua foto. Pelo menos não aparece nada que prove ser você.
— Sinceramente não entendo por quê. Ela tirou uma foto mostrando muito bem o meu rosto. De frente, cara!
— Luciana está louca. Ligou e disse que vai te matar. Só não veio até aqui porque seria sua carta de confissão.
— Que merda! Isso não podia ter acontecido novamente. O pior que Catarina disse que não ia divulgar. Eu ainda agradeci!
— Talvez ela tenha ficado puta de você quase ter morrido na frente dela ou de você ter aberto essa boca suja.
— Cara, isso é sério. Ela vai divulgar essa merda. O jornal deve ter dividido as fotos em mais de uma edição para ganhar audiência.
— Eu acho melhor não nos envolvermos nisso. Por enquanto é só especulação. Nada prova que é você, então vamos manter tudo sob controle.
Faço que sim.
— Mas Luciana não teve essa sorte. O corno está revoltado — conta Jaime. — Ele já está dizendo por aí que eles não estavam mais juntos. Aquele papinho de sempre, a mesma tática que a Luciana usou quando você pulou a cerca em Barcelona e foi parar nos jornais. Só que no mesmo dia ele estava em um evento de moda e depois ele foi para o apartamento dela. Na cara que foi lorota.
— Preciso ficar na cola dessa Catarina. Ela não vai parar por aí!
— Se eu fosse você me preocupava com a porra da sua saúde. Essas coisas só aconteceram porque você foi irresponsável.
— Ah, valeu por lembrar.
— Esse é o meu papel. Limpar a sua barra. A menina salvou a sua vida, sabia?
Eu sabia. Pelo menos ela teve a decência de fazer isso.
— Eu não acho que o jornal tenha escondido a pior foto — continua Jaime. — Eles iriam jogar tudo rápido na mídia, não iam correr o risco de outra divulgar antes.
Jaime tinha absoluta razão.
— Eu preciso me aproximar, cara. Preciso evitar que essa foto chegue às mãos deles.
— Você não vai maltratar aquela menina, Henrique. Eu não vou deixar isso.
— Ei, porra! Você me conhece... eu tenho cara de que vou maltratar alguém? Posso até te dar uma forcinha, o que acha?
— Forcinha? — Ele cruza os braços.
— Confessa, vai! Confessa que gostou dela.
Ele faz uma careta e depois sorri. Babaca!
— Gostei. Ela me pareceu uma mulher doce, delicada. Sei lá, cara... senti uma parada estranha quando vi aqueles... aqueles...
— Lindos olhos castanhos — completo, lembrando perfeitamente daqueles olhos grandes e expressivos. Ele me olha meio furioso. — Cara, eu enxergo, ok? Ela é muito bonita, mas não faz o meu tipo!
— É, eu sei bem qual é o seu tipo. O tipo cretina.
— Fazer o quê?
— Fazer o quê? Tem que guardar esse pau dentro dessa cueca, filho da puta, e parar de me dar trabalho como um bebê chorão.
— Você está me magoando, cara! — sorrio sozinho. — Quero ver você me tratar assim quando eu conseguir alguma coisa entre você e a Catarina. Mas saiba que ela vem com bagagem.
— Bagagem?
— A filha. Ela tem uma filha. Até que é engraçadinha, mesmo sendo a propulsora do meu atual estado. Ela me deu camarão!
Ele agora gargalha.
— Você é mesmo um idiota, Henrique.
— Sou um idiota que vai querer cobrar pelos serviços prestados depois de ganhar a garota marrenta — brinco.
A ideia era legal. Estava jogando o jogo dele. Jaime não me deixaria em paz ao saber que eu estava atrás da Catarina para não deixar que aquela merda vaze por aí, e percebendo seu interesse pela garota resolvo mergulhar nessa história. Sabia o quanto Jaime era inteligente para os negócios e até mesmo em ser um pai para mim, mas também sabia o quanto ele era paranoico em encontrar a mulher certa e ser um homem sério.
Jaime chega perto e dá um tapa na minha cabeça.
— Aí — continuo. — Quero ver você fazer isso na frente da Catarina... você vai é ficar assim... óh...
Com mímica fingindo que estou segurando o rosto dela, beijando sua boca, com olhos fechados, com uma voz melosa, e sacaneio:
— Catarina! Linda, Catarina! Me beije, Catarina. Seus olhos são lindos! Você tem um peitão, Catarina! Quero casar com você, Catarina!
A risada do Jaime para e abro meus olhos.
Catarina!
Engulo a seco, explicitamente envergonhado. Puta merda, ela estava aqui!
— Ah, oi, Catarina. — digo, forçando um sorriso mais encabulado do mundo.
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