《Oi, amores, seguinte. Decidi que irei repostar a versão antiga mesmo por motivos que agora não estou conseguindo revisar. Espero que me perdoem:( 》
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- Bom dia, senhorita - saudou Martha com vigor. - Que bom que acordou, assim podemos trocar esta roupa. Não se preocupe, pois hoje logo pela manhã o Sr. McFarland, o Sr. Radford e alguns homens saíram à procura da carruagem e trouxeram seus pertences. Graças a Deus ninguém os havia levado.
A voz da governanta martelou na cabeça de Jane que ainda estava meio tonta devido ao fato de tê-la batido na noite anterior. Sentia-se confusa sem saber onde estava ou o que havia acontecido. Fitou, com um olhar perdido, a senhora sorridente que trazia uma bandeja com frutas e um copo de leite.
- O que houve? Onde estou...?
- Acalme-se, querida - pediu a governanta. - Beba alguma coisa antes.
- Desculpe, mas quem é a senhora? - ela quis saber num misto de curiosidade e agitação.
- Sou a governanta dos McFarland, Martha Rivers - respondeu, ainda tentando fazer com que Jane tomasse o copo de leite.
- Então estou na casa dos McFarland... Acho que começo a me lembrar de como vim parar aqui. Foi um acidente, não? - inquiriu sem tocar em nada do que Martha lhe oferecia.
- Sim, a senhorita sofreu um acidente de carruagem e foi trazida pelo Sr. Radford.
- Sr. Radford... - repetiu e apertou os olhos como se estivesse começando a se lembrar de tudo. - Oh, céus! Vim para Shropshire, pois me disseram que Dayse estava muito doente. - Ergueu os olhos suplicantes para a governanta. - Como ela está? Como Dayse está?
Martha ficou indecisa sobre o que responder. Toda informação que possuía sobre Dayse era que ela era a mais nova das irmãs McCarthy.
- Irei me informar a respeito, Srta. McCarthy - garantiu a governanta. - Mas coma algo - insistiu.
- Não, eu não posso, Dayse precisa de mim... - murmurou consigo mesma.
Mesmo sob os protestos da governanta, Jane tirou as cobertas que estavam sobre ela e colocou os pés no chão a fim de se levantar, no entanto não conseguiu manter-se firme e acabou caindo mais uma vez na cama.
- Por Deus, Srta. McCarthy, está ardendo em febre e muito fraca, continue deitada para que eu possa cuidar da senhorita - resmungou Martha, ajeitando Jane sobre os travesseiros e tornando a cobri-la.
- Alguém por aqui está querendo fugir? - ecoou uma voz masculina que vinha da porta.
Jane virou-se para fitar o rosto do cavalheiro que lhe dirigia a palavra. Ele parecia-lhe familiar.
- Sr. McFarland? - tentou.
- Ao seu dispor. - Ele inclinou-se numa vênia majestosa; em seguida, seu olhar caiu sobre a bandeja. - Srta. McCarthy, não comeu nada! Se o que trouxe a Sra. Rivers não lhe agrada, diga o que quer e mandarei que façam.
As faces de Jane enrubesceram pela maneira infantil como estava se comportando. Sentiu-se envergonhada pela forma como estava ocupando o tempo do cavalheiro e de seus empregados.
- Tem toda razão, Sr. McFarland, estou me comportando pior que minha irmã mais nova. Desculpe-me, mas é que estou tão preocupada! - confessou sem conseguir esconder a ansiedade.
- Não se inquiete assim, Srta. McCarthy, afinal as doenças e os acidentes não nos avisam com antecedência, apenas acontecem quando menos esperamos. Não quero que se sinta mal aqui então, por favor, peça o que precisar e prometo que cuidarei para que seja feito. Com relação à sua irmã mais nova, espero que isso a tranquilize, mas Edward foi visitá-la agora mesmo para ver como está e logo virá trazendo notícias.
Jane assentiu e comeu um pouco. Sentia frio e calor ao mesmo tempo e a sensação ruim e latejante em sua cabeça parecia ganhar força conforme ia tomando consciência de tudo.
❀
Não foi difícil encontrar o local do acidente. A carruagem destruída ainda estava no mesmo lugar. Edward e alguns homens foram até ela e ficaram impressionados que nada de pior tivesse acontecido ao cocheiro e a mais velha das irmãs.
Perscrutaram o coche e encontraram as valises de Jane. Edward pediu aos homens que levassem os pertences da Srta. McCarthy a Corn Lane, pois imaginava que ela gostaria de tomar um banho e trocar de roupa. Não voltou com eles - seguiu direto para Worthen.
As irmãs estavam tendo aula de piano, e Edward foi ao encontro delas. Logo que adentrou a sala, os olhares curiosos caíram sobre ele. Um silêncio instalou-se e até mesmo a professora parou de explicar, pela milésima vez a Kimberly, o tempo de uma semicolcheia para prestar total atenção a ele.
- A senhorita poderia me conceder um minuto do seu tempo? - inquiriu Edward e aproximou-se de Anna que estava de pé ao lado do piano.
A presença de Edward preenchia a sala e a forma como ele permanecia parado à sua frente, a postura e o olhar sérios fizeram o coração de Anna disparar como se soubesse que ele fosse dizer algo ruim.
- Vamos, Anna, não vê que o Sr. Radford quer falar com você? - Kimberly soltou, fazendo a irmã corar por ser tão tola de continuar plantada ali.
Antes de sair da sala com Edward, lançou um olhar enviesado à Kimberly que não fez nada além de dar de ombros. Durante o pequeno percurso, sua mente foi tomada por mil pensamentos. Teria Edward se arrependido de tê-las em Worthen? Será que iria mandá-las de volta a Chesterfield? Seria péssimo ter que regressar, não pelo conforto ao qual estavam se acostumando, mas por Dayse estar tão doente. Céus, fazia frio, mas suas mãos já começavam a suar.
Quando Anna se deu conta, ela e Edward já se encontravam na biblioteca e ele já estava falando.
- Srta. McCarthy - ele indicou o assento do sofá para que ela se sentasse e assim ela o fez.
- Aconteceu algo, Sr. Radford? Foi alguma coisa que Kimberly ou nós tenhamos feito? - Anna não conseguia parar de falar quando sentia-se nervosa. - Sei que ela é uma jovem e um tanto agitada...
- É sobre sua irmã mais velha - interrompeu-a.
- O quê? O que houve com a Jane? - Anna se ergueu do sofá, o desespero evidente em sua voz.
- Acalme-se, Srta. McCarthy, por favor - pediu ele e, caminhando até ela, tocou seu cotovelo gentilmente, fazendo com que ela tornasse a sentar.
Anna ergueu os olhos aflitos para ele e manteve-se em silêncio até que ele lhe dissesse o que estava acontecendo.
- Sua irmã sofreu um acidente de carruagem, mas ela está bem - ele enfatizou antes que Anna pensasse o pior. - Está aos cuidados dos McFarland que estão fazendo de tudo para que ela melhore.
- Melhorar do que se ela está bem? - perguntou em dúvida.
Ele explicou que Jane havia batido com a cabeça e carregava um corte na testa, e que por ter ficado por muito tempo exposta ao vento frio talvez tivesse contraído uma gripe, mas garantiu-lhe que estava cuidando dela e que ela não apresentava graves sinais.
- Que alívio, Sr. Radford - disse levando a mão ao coração como se anunciasse que ele já podia se tranquilizar.
Os olhos de Anna se iluminaram e seu rosto ficou radiante ao saber que tudo estava bem, afinal. Edward a observou e sentiu algo estranho que não soube identificar. Não era atração, ainda que a achasse muito bonita, mas uma certa admiração, talvez até mesmo inveja. Nunca tivera irmãos e não sabia como era receber aquele tipo de amor. Balançou a cabeça tentando fazer que com aqueles pensamentos fossem embora.
- Vou ao quarto de Dayse para ver como ela está - anunciou.
- Eu posso ir com o senhor? - Edward fez que sim e Anna o seguiu.
Dayse ainda permanecia deitada sobre suas fofas almofadas. Parecia não ter progredido nada. Edward sentou-se lado dela na cama e mediu sua temperatura, mas ela continuava com febre.
- Sr. Radford - a menina sussurrou e mostrou um sorriso amarelo.
- Sabe, Dayse, vejo que você não tem se alimentado direito e isso me deixa muito triste. - Ele torceu o lábio como se estivesse decepcionado com ela.
- Desculpe-me, Sr. Radford, sei que não estou sendo uma boa menina.
Edward sorriu com a simplicidade da garota. Notou que ela se parecia muito com a irmã mais velha, os cabelos escuros e cacheados, os olhos cinza, até mesmo os traços como o nariz delicado, as sobrancelhas que possuíam uma curva sutil, as maçãs do rosto coradas com um tom sutil de rosa.
- O que você acha de nós dois fazermos um acordo? - ele propôs e exibiu uma expressão pensativa.
Dayse franziu o cenho de maneira interrogativa, curiosa para saber que proposta seria essa.
- Você come tudo ou ao menos a metade do que Helen lhe trouxer e eu a levo para ver sua irmã em... Corn Lane. - Ele ergueu as duas sobrancelhas como se tivesse dito a garota onde ficava a localização de um valioso tesouro.
E para Dayse foi quase a mesma coisa, pois, quando soube que a irmã se encontrava tão perto, no mesmo instante animou-se.
- E por que ela não vem até Worthen? - quis saber.
Edward deu de ombros.
- Você vai ter que sarar e perguntar a ela pessoalmente.
E com aquele estímulo, Dayse se esforçou para comer e obedecer todas as recomendações de Edward. Não demorou muito para que a menina ficasse boa e cobrasse a promessa que lhe fora feita. Logo Corn Lane recebeu sua visita.
❀
Alguns dias haviam se passado desde que Jane sofrera o acidente, e ela já se encontrava impaciente de ficar enfurnada no quarto. Martha não economizava em atenções, trazia-lhe livros para que ela pudesse se distrair, mas Jane lia todos com rapidez e tudo que sobrava era a paisagem que contemplava através das janelas. Não via sentindo em continuar ali se já se sentia muito melhor.
- Não perde nada lá fora, Srta. McCarthy, o mês de fevereiro é extremamente frio e tudo que se vê é um grande tapete branco de neve.
- Sei disso, Sra. Rivers, mas estou cansada e me sinto um fardo para a senhora e o Sr. McFarland.
- Não se preocupe, Srta. McCarthy, pois é com muito prazer que faço esse serviço - disse e baixou os olhos para a costura em suas mãos. Jane podia garantir que viu um indício de sorriso brotar nos lábios da mulher.
A verdade é que qualquer um dos empregados poderia estar cuidando de Jane, mas Martha insistiu para Harrison que ela é quem deveria zelar pela jovem, pois os outros não saberiam como mantê-la devidamente aquecida ou fazê-la comer. Além do mais, aproveitava aquele tempo de quietude para ficar sentada numa cadeira ao lado do leito dela e costurar, coisa que não fazia há anos. Cuidar de Corn Lane era uma tarefa que consumia seu tempo.
Sempre que conseguia, Harrison aparecia no quarto em que Jane repousava para se assegurar de que ela sentia-se bem, ou de que precisava de algo e até conversavam um pouco. Emma se esforçava para fazer o mesmo, porém seus assuntos eram sempre a respeito de coisas que mais cansavam Jane do que a entretinham. Não conseguia enxergar divertimento em falar sobre vestidos, penteados; comentar sobre condutas indesejáveis, até porque pouco se interessava pela vida alheia. No entanto, tentava ser agradável e concordar com tudo que a jovem McFarland lhe dizia.
Mas as tardes de Jane foram melhores preenchidas com a chegada de uma prima dos McFarland vinda de longe, que acabou se instalando em Corn Lane. A jovem chamava-se Charity e, assim que Jane a conheceu, logo ambas tornaram-se amigas. Ela era o completo oposto de Emma. De aparência refinada, embora não possuísse uma beleza estonteante, era muito comunicativa e parecia apreciá-la de verdade.
Os pais dela haviam morrido quando ela nascera e Charity fora morar com seus tios no campo. No entanto, eles haviam se mudado há algum tempo para Londres e Charity fora convidada a passar alguns dias em Corn Lane. Com saudades de ares mais tranquilos, a jovem não pensou duas vezes e aceitou de pronto.
- O que acha, Srta. McCarthy? - Charity perguntou, estendendo para ela uma coleção de poemas.
- Ora, me chame de Jane ou apenas você - ralhou ela, travessa.
Charity sorriu e concordou.
- Bem, depois que eu terminar de ler, caso queira eu lhe emprestarei - disse Charity, animada. - Currer, Ellis e Acton Bell* não são autores conhecidos, pelo menos eu nunca ouvi falar deles, mas não resisti quando vi o volume e precisei levar!
Apesar de não apreciar tanto poemas, Jane ficou bastante curiosa.
- Têm o mesmo sobrenome. Será que são irmãos? - cogitou Charity.
- Ou irmãs - sugeriu Jane já que muitas autoras usavam pseudônimos masculinos para terem mais espaço na literatura e não serem julgadas por seu sexo ou pelo trabalho de escrever.
- Seria muito estranho saber que eles são na verdade mulheres. - Charity fez uma careta. - Mas é bom nunca desconsiderar a hipótese - ponderou.
As duas riram e continuaram a falar, mas a conversa foi interrompida com uma batida na porta que encontrava-se entreaberta. Charity virou-se na cadeira, pois estava de costas para a entrada e logo uma figura pequena, com traços muito parecidos com os de Jane, surgiu.
Jane sentiu seu dia se iluminar ao ver o rosto de sua querida Dayse. A menina correu para o colo da irmã que encheu sua bochecha de beijinhos. Em seguida, entraram as outras. Charity se levantou e Jane fez as apresentações.
Oh, ela estava tão feliz! Era tão bom poder revê-las. Sentira, de fato, muitas saudades.
- Graças a Deus nada de mais lhe aconteceu, minha irmã - Anna soltou e Kristen concordou, alegre por vê-la se recuperar.
- Bem, a Jane ficou com essa cicatriz horrível na testa, mas nada que seu cabelo não possa cobrir - Kimberly disse, fitando a testa de Jane com um esgar.
- Não seja tão grosseira, Kimberly - ralhou Anna.
Uma discussão se iniciou e Jane observou a cena com um sorriso no rosto, porque até daquilo sentira falta. Mal havia reparado que Edward estava à soleira da porta observando a cena também.
Assim que seus olhos encontraram os dele, Edward inclinou-se em cumprimento e todas as outras ficaram em silêncio ao perceber a presença dele.
- Eu preciso verificar se a senhorita está bem - ele justificou-se.
- Sinto-me muito melhor - garantiu-lhe com um sorriso animado. - Acho que até já posso voltar!
- Espero que ao dizer que já pode voltar - disse Edward com um sorriso de canto - esteja se referindo a ficar em Worthen.
As irmãs deitaram seus olhares sobre ela em expectativa. Todas elas desejavam que Jane não regressasse mais e ficasse de vez com elas. Kimberly não conseguiu segurar a língua.
- Não será tola de voltar a Chesterfield, não é? Ora, Jane, pelo menos seja agradecida por tudo que o Sr. Radford tem feito por você e passe um tempo em Worthen!
De fato, Edward havia sido muito bom para ela cuidando de sua saúde e da saúde de Dayse e dando a chance de suas irmãs terem uma boa educação. Talvez fosse justo que aceitasse o pedido.
- Está bem - ela cedeu e viu um sorriso de satisfação brotar no rosto de Edward. Aquele gesto pareceu deixá-la mais contente do que deveria.
As irmãs e Charity comemoraram a decisão e Edward prometeu que logo elas todas estariam juntas de novo. Sentia-se aliviado por aquilo. Enfim teria todas as irmãs em Worthen e não precisava mais se preocupar com os termos propostos por sua mãe.
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*Currer, Elis e Acton Bell eram os pseudônimos que as três irmãs Charlotte, Emily e Anne Brontë usaram para escrever o primeiro livro de poemas delas. As obras mais conhecidas das irmãs são Jane Eyre (Charlotte); "O Morro dos Ventos Uivantes" (Emily); "A Moradora/Inquilina de Wildfell Hall" (Anne).
Espero que tenham gostado do capítulo de hoje. No próximo teremos mais interação entre Jane e Edward e outras surpresas ;)
Obrigada por estarem acompanhando.
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