3
— Meu Deus! Que horas são?
Fiona despertou de sobressalto. Ela ainda podia sentir todas as sensações prazerosas em seu corpo depois de muitos anos havia deixado de sentir. Não era dessa forma que planejou inibi-lo, mas aquela noite nada fora planejado e esse despertar ainda no final da madrugada cortava toda sua satisfação, mas Fiona tinha compromissos e eles deveriam ser executados.
— Não podia ter dormido. — Fiona encarou o homem com ar de confusão deitado ao seu lado em uma cama de casal velha que rangia a cada movimento que faziam. — Meu pai vai me matar.
— Calma! Que horas são? — Ted olhou para o relógio digital que tinha na mesinha de canto ao lado de sua cama. — Ainda são cinco da manhã.
— O que para uma fazenda é muito tarde! Meu pai já deve ter acordado e vai ficar louco quando não encontrar seu café da manhã pronto.
Ted pode ver toda a preocupação nos olhos de Fiona que voltaram a ficar como antes, tristes e sem vida. Ele não tinha ideia de como funcionava a rotina em uma fazenda, mas sabia que começava muito cedo e por conta disso entendeu a apreensão que ela demonstrava e não insistiu que ficasse pelo contrário, também levantou da cama a ajudando a encontrar suas roupas que ficaram espalhadas por todo seu quarto. Após uma hora da partida dela ele ainda sentia o seu aroma impregnado em seus lençóis de quinta categoria e desejou ficar ali pelo resto daquele dia, e assim o faria se não fosse pelos apelos de seus fieis amigos que reclamavam de fome e da volta rotineira que Ted fazia com eles pela manhã e depois no final de cada tarde.
Fiona se vestiu tão rápido que nem percebera que tinha colocado o suéter do avesso e seguiu igual uma louca pelas ruas e depois rodovia até a fazenda. A velha caminhonete parou bruscamente pelo cascalho e Fiona desceu correndo em disparada até a casa de seu pai. O homem estava lá, Robert sempre teve um semblante fechado, mas naquela manhã bateu seu recorde. Não disse nada quando viu Fiona ofegante entrando pela porta da cozinha lhe pedindo desculpa pelo atraso, apenas limitou-se a sentar-se a mesa e esperar que ela terminasse o que ele tinha começado a fazer. Em alguns minutos estava desfrutando dos seus ovos mexidos com torrada e uma caneca generosa de café com o olhar atento sobre o suéter do avesso de Fiona.
— Quando resolver sair para transar da próxima vez presta atenção na hora de se vestir de novo. — Robert enfiou um pedaço generoso de torrada com ovos na boca encarou a filha nos olhos, ele pode ver todo o constrangimento que lhe causou e sentiu-se satisfeito com aquilo, até seu humor mudou.
Fiona imediatamente tentou olhar para a gola do suéter e constatou que o pai estava certo. Estava com tanta pressa para lhe fazer o dejejum que colocou suas roupas de qualquer jeito, mal tinha amarado seus cabelos.
— Acredito que os animais estão tudo sem tratamento também. — o homem continuou com sua arrogância costumeira.
— Não se preocupe pai, eu já vou fazer isso.
Fiona levantou da mesa sem ao menos ter tocado na comida e correu para o celeiro e depois para o estábulo, a cada animal que alimentava pedia desculpas pela demora e quando finalmente estava com Raio acariciando seus pelos pode pensar no que tinha vivido na noite anterior e o sorriso retornou em seus lábios.
— O que foi patroa?
— O que foi o que Bruno? — Fiona sentiu-se vergonha de ter sido pega no pulo em seus devaneios com Ted. Ela já sentia falta dos seus braços em volta do seu corpo.
— A senhora tá rindo e eu praticamente nunca te vi rindo antes. — Bruno parou e tornou a encara-la. — Não teve aquela vez em que o moço que consertou sua camionete, a senhora também riu aquele dia.
— Bruno! — Fiona falaria mais alto com ele. — Deixa de ser enxerido e vai fazer seu trabalho!
Bruno pegou o carrinho de mão cheio de feno que trouxera e saiu rapidamente dali. Mais uma coisa que estava diferente na patroa que gostava tanto, ela gritou com ele e nunca tivera feito isso antes, somente seu Robert tinha esse hábito e por conta disso gostava quando era Fiona que dava as ordens e para não correr mais riscos de repreensão aquele dia se manteve longe e ocupado pelo resto do seu dia. Fiona agradeceria por aquilo. Voltou para casa do pai e limpou a mesa do café da manhã e como Bruno tratou de se ocupar pelo resto daquele dia ficando o mais distante possível do seu pai. Ele sabia que ela estivera com um homem, e a última coisa que desejava naquele momento era lhe dizer com quem.
— Sua irmã virá no próximo fim de semana, precisa fazer uma faxina completa nos quartos.
Aquela informação pegara Fiona desprevenida enquanto terminava de preparar o jantar para seu pai. Kristen e Reese raramente se davam ao trabalho de vir visitar seu pai na fazenda, normalmente Robert ia até Cheyenne onde suas filhas mais velhas viviam e ficava alguns dias entre uma ida e outra até as outras fazendas. Geralmente elas vinham no seu aniversário, ação de graças e natal, mas após o diagnóstico, estavam vindos com mais frequência para o desespero de Fiona. Se seu pai sozinho com ela já a tratava com indiferença, com as outras filhas na casa piorava, só não era um verdadeiro inferno por conta dos seus sobrinhos que simplesmente a amavam e ficavam agarrados em sua calça o tempo todo. Raio não gostava muito, cavalo velho, gostava apenas que só sua dona o montasse, mas Fiona o fazia cavalgar com esses forasteiros que puxavam com mais força em sua crina.
— Está certo, vou pedir para Paulina vir fazer uma faxina completa. — Paulina era a esposa de Bruno o capataz da fazenda que estava nessa função a pouco menos de três anos e do qual Robert ainda não gostara. A verdade é que depois que Joe McCarthy foi embora nenhum outro prestou, tanto que em vinte três anos da sua partida o capataz anterior a Bruno fora o que durou mais tempo, cinco anos na função. Quando Fiona contratou o casal era para Paulina ficar responsável além da faxina na casa como também da alimentação, não adiantou tudo que a moça fazia ele colocava defeito e não comia então por conta disso, Fiona não teve alternativa senão assumir também essa tarefa, mais uma das tantas que ela carregava em suas costas sem poder reclamar, apenas se resignar. — Quem vem? Reese ou Kristen?
— Reese e você têm de supervisionar porque essa moça é uma incompetente, da ultima vez que Reese esteve aqui o quarto dela estava mal limpo.
— Ai pai! Reese reclama de tudo mesmo, estando limpo ou não ela vai acabar colocando defeito.
— Olha como fala da sua irmã! Ela tem razão olha a porcaria de limpeza que essa imigrantezinha faz! — Robert apontava para o chão completamente limpo.
— Tudo bem pai. Eu fico com ela na limpeza tudo vai estar na mais perfeita ordem quando eles chegarem.
— Assim espero! E falta muito para isso ficar pronto? Estou morto de fome.
Robert não esperou resposta seguiu de volta para sala sentando em sua poltrona ficando atento no noticiário e Fiona deu graças por aquilo, finalmente poderia respirar e terminar o jantar em paz. Após o jantar e ter deixado tudo limpo e organizado para o dia seguinte pode finalmente ligar para Ted e agradecer pela noite que tiveram.
— Mas você está bem? — Ted a questionava do outro lado da linha.
— Estou sim não precisa se preocupar só um pouco cansada, afinal não dormi quase nada na noite anterior.
— Minha culpa.
— A culpa mais doce desse mundo. — Fiona respondia com um sorriso bobo em seus lábios e se pudesse ver Ted constataria que o dele estava igual.
— Quando vou poder te ver de novo? Não diga que terei de esperar uma semana inteira!
— Gostaria de poder estar aí agora Ted, mas eu realmente estou cansada e não seria uma boa companhia.
— Posso te sequestrar algumas horas amanhã? Vamos é domingo!
— Acho que consigo escapar por algumas horas.
— Você nunca para?
— Trabalho de fazenda nunca tem fim.
— Mas você precisa poder descansar.
— É tudo tão complicado Ted, ainda mais que na próxima semana uma das minhas irmãs vai aparecer por aqui.
— Com ela aí não consegue mais tempo?
— Só se for de horas a mais de trabalho. Reese mal lava a louça que come. Ela e Kristen nunca trabalharam em uma fazenda, são garotas da cidade, acostumadas com tudo na mão.
— Entendo. — Mas Ted não entendia e como podia, não tinha a menor ideia de como funcionava a dinâmica da família Calloway. Fiona estava certa quando disse que as duas estavam acostumadas com tudo na mão. Mesmo tendo crescido em uma fazenda, nas quais viveram com o pai sempre tiveram uma empregada para fazer tudo por elas e nessa em que Fiona vivia, ela era a empregada que estava ali unicamente para servir.
— Preciso mesmo desligar, amanhã meu dia começa muito cedo.
— Durma bem.
Ela dormiu e ele também como há muito anos ambos não dormiam. Nos sete anos de retorno de Ted do Afeganistão a noite anterior e esta foram sem sonhos. Sem sonhos do terror que viveu em conflito e que trazia toda noite para sua cama. Foram duas noites sem sobressaltos ou despertar eufórico. Estava tranquilo, sereno e revigorado. Apollo e Zeus sentiram essa mudança e passearam com ele naquela manhã com mais ânimo e disposição com até uma corrida perto do final. Ganharam petiscos a mais e Ted preparou um café da manhã farto, normalmente pulava essa refeição e seguia para o restaurante local na hora do almoço, apenas no jantar é que se arriscava em preparar alguma coisa mais rápida. Quando era perto das três da tarde receberia outra ligação dela. Fiona o convidava para se encontrarem na fazenda e às quatro e meia já estava passando pelos portões da propriedade Calloway indo em direção ao celeiro onde Fiona também o aguardava.
— Sabe montar?
Ted mal tinha desligado o motor de sua moto e Fiona chegou ao seu lado com um olhar de curiosidade misturado com excitação. Ele gostava daquele olhar, teve igual quando a penetrou pela primeira vez há duas noites.
— Sei. Faz tempo que não monto, mas sei sim.
— Ótimo. Selei uma égua para ti, fica tranquilo que ela é bem mansa.
— Se você diz acredito.
— Perfeito! Espere aqui.
Ela voltaria em questão de minutos puxando dois lindos cavalos. Um caramelo com uma mancha branca em formato de um raio em sua fronte que descia por entre seus olhos e outro pouco menor todo branco. Já vinham selados prontos para serem montados.
— Você tem Apollo e Zeus e eu tenho Raio. — Fiona acariciou no focinho o cavalo com a mancha. — E esta aqui é Blanca e é nela que você irá montar.
— Muito prazer Blanca. — Ted aproximou do animal pela sua lateral esquerda com cautela, tal como Fiona havia feito com seus cães. Blanca estava acostumada com estranhos, era sempre ela a égua selecionada para levar as crianças para um passeio em todo fim de ano se o tempo permitisse. Ele acariciou em seu pelo grosso e Blanca balançou sua crina em agradecimento.
— Ela gostou de você.
— Me dou bem com os animais.
— Não apenas com eles. — Fiona o encarou com um olhar maroto e Ted retribuiu com um sorriso. — Vamos?
— Você quem guia.
Ela o guiou pela propriedade. Ele pode ver toda grandeza e beleza do lugar. Passaram por campos em que vários gados de corte pastavam outros vazios que esperavam para serem devorados pelos animais. Passaram por uma casa de madeira em ruínas que ficava próximo ao riacho que cortava toda a propriedade.
— Foi aqui que tudo começou. — Fiona apontou para o casebre de madeira deteriorada pelo tempo. — O avô do meu pai a construiu sozinho, assim me disseram. — Fiona se aproximou um pouco mais de Ted que observava com tristeza a construção deixada para trás. — Parece que ele teve de construir a pressas, pois precisou se casar com muita rapidez com minha bisavó, ela esperava meu avô.
— Uma pena terem abandonado ela assim.
— Também acho. Mas meu pai proibiu quem quer que fosse de consertá-la. Joe uma vez tentou, queria poder viver aqui, pelo que me contaram foi à única briga feia que ele teve com meu pai. Quase saíram na mão.
— Quem é Joe?
— Joe McCarthy foi o braço direito, esquerdo e o que mais poderia ser de meu pai até os meus dezesseis anos. Foi ele quem me criou. Ele que amansou essa lindeza aqui e me deu. — Fiona passou as mãos em Raio e este respondeu ao afago balançando a sua crina caramelo.
— Pelo seu tom não está mais aqui.
— Não. — o olhar de Fiona mudou, voltou a ser triste. — Foi explorar o mundo, bom foi isso que ele me disse quando partiu e desde então não tive mais notícias. Eu sei que meu pai de tempos em tempos se comunica com ele, mas comigo ele nunca mais falou.
— Acho melhor mudarmos de assunto vejo que esse te deixa triste.
Fiona não respondeu, apenas esboçou um sorriso forçado e apertou o galope para trás do velho casebre lá tinha um cercado mal cuidado onde as plantas já tomavam conta, ali ficavam contidos os corpos dos Calloway.
— Minha mãe está aí. — Fiona apontou com a cabeça para as lapides. — Em breve meu pai também. Venha quero te mostrar um lugar.
Raio saiu em disparada assim que sua dona deu o comando com batidas leves de sua bota em seu corpo. Ted a seguia de perto. Ele gostava dessa sensação do vento em sua face. Sentia-se livre. Era o que acontecia com Fiona quando pegava Raio e corriam pelo pasto até chegarem à colina. De lá tinha vista para toda a propriedade e de uma parte de Green River.
— Aqui é muito lindo. — Ted descia de Blanca que logo procurou um mato mais alto para pastar.
— Gostou? — ela chegou ao seu lado segurando uma de suas mãos que ele imediatamente retribuiu no gesto. — Aqui é o meu lugar favorito nesse mundo. É para onde venho quando tudo fica difícil demais para suportar. — as mãos dela apertaram a dele com mais força e ele a encarava nesse momento. Ele tinha visão do seu lindo e delicado perfil com a marca do seu sinal no canto da boca para onde ela repuxava seus lábios. Seus doces lábios. — Bom vinha até te conhecer. — e novamente ela tomaria a frente no gesto colocando-se a frente dele e reivindicando seus lábios e ele como outrora retribuiu com delicadeza.
— Obrigado por me trazer aqui.
Ted disse ainda com sua boca colada a dela. Com seus braços fortes envolta do seu corpo frágil a trouxe para o mais perto que podia do seu com todo o vigor que um ex-combatente possuía, mas que sabia dosar a força para não machucar a bela mulher que se rendia aos seus apelos lascivos. Ela deixou que ele a amasse ali no seu lugar favorito, no mesmo lugar que havia sido amada pela primeira vez pelo até então seu único amor que hoje dividia além da cama, mas também sua vida com sua irmã do meio aquela que chegaria dali uns dias. Mas naquela tarde a sua mente era toda de Ted. Era final de tarde quando retornaram. Fiona se despediu dele já em cima de sua moto com outro beijo demorado e o viu partir e só então entrou no casarão de seu pai e lhe preparou o jantar.
— Então é isso? — Robert sentou a mesa com a tigela de sopa já pronta para ser devorada. — Está de saliência com o homem que arrumou a sua caminhonete. É assim que tá pagando ele?
— Pai, vou fingir que não escutei isso. — Fiona abaixou a cabeça levando a colher com sopa quente até perto de sua boca assoprando.
— Não sei por quê. De que outra forma poderia pagá-lo sendo que disse que com meu dinheiro isso não aconteceria.
— Porque é tão cruel comigo? — Fiona largou a colher dentro da tigela e o encarou com o mais profundo olhar de tristeza que possuía. — O que eu te fiz para me odiar tanto?
— Nasceu. — Robert sorveu o primeiro gole de sua sopa a encarando com crueldade. Ele viu as lágrimas se formando dentro dos olhos de sua caçula e aquilo veio como alimento para sua alma podre. — Se vai chorar é melhor sair daqui.
Fiona limpou com as costas da mão a lagrima que escorreu e deixou seu pai sozinho em sua cozinha e seguiu para seu quarto ao lado do celeiro. Tudo de bom que tinha passado com Ted naquela tarde se esvaíram como a chama de uma vela sendo apagada. Ela não conseguia entender tamanho ódio e desprezo que ele possuía por ela e ali deitada em sua cama no escuro desejou mais uma vez ter morrido no lugar dela. No lugar de sua mãe.
A semana passou e aquela conversa no jantar não saia dos pensamentos de Fiona. Seu único alento era os momentos que passava com Ted jogados nus em sua cama. Naquele quarto masculino até a última molécula ela sentia-se livre e principalmente amada. Não era apenas desejada como aconteceu no passado com os poucos amantes que teve. Ted era o quarto homem com quem chegou a ter relações sexuais. Durante esses quase quarenta anos de vida Fiona teve apenas cinco homens em sua vida.
Com o primeiro, e hoje marido de sua irmã mais velha, não passou de apenas alguns amassos. Com Kristen que Ben fora recompensado pelos seus apelos e não precisou se esforçar tanto. E dessa forma passeava de mãos dadas pelas ruas de Green River com a ingênua Fiona com seus catorze anos contra os seus dezenove e se deitava no celeiro com Kristen toda vez que ela voltava nos finais de semana da faculdade, até serem pegos por Fiona em uma noite de verão extremamente quente para os padrões normais do Wyoming e ali a caçula dos Calloway enfrentou sua primeira desilusão amorosa. E levou apenas três anos para que outra desilusão amorosa acontecesse em sua vida. Porém esta veio mais arrebatadora do que a primeira. Esta mais sentida pela garota de dezessete anos recém-completados quando escutou da boca do seu grande amor escolar que ele havia se apaixonado por outra Calloway. Adam foi mais decente que Ben. Não chegou a trair a garota com quem ele perdeu a virgindade um ano antes. Mas não conseguiu resistir à beleza exótica da irmã do meio. Reese com aqueles olhos de um personagem de mangá o arrebatou com um simples piscar. E naquele momento ele soube que não poderia mais ficar com Fiona. Seu corpo. Sua alma desejava a outra e esta dava indícios que também o correspondia. Para se consolar Fiona acabou saindo com outro colega de colégio e com ele foi ao baile de formatura e também para o lago aonde todos os casais recém-formados iam para transar. Depois daquele dia nunca mais falou com o moço que tão pouco se importou. Ele não ficaria em Green River no próximo semestre e desejava nunca mais voltar e de fato depois que foi para faculdade nunca mais regressou. Ela entraria em um hiato de abstinência por quase quatro anos. O quebrou um dia após saber da chegada do primeiro filho de Adam com Reese. Deitou-se com o primeiro homem que lhe abordou no bar do Wayne lugar que ela ia todas as sextas-feiras e nos sábados no final da tarde. Fiona gostava de escutar as bandas que ali tocavam nesses dias. Em alguns momentos mais felizes, e digamos mais embriagada deixava-se levar pelas melodias e dançava. E foi o que aconteceu naquela noite. Revoltada em saber que depois daquela notícia de que Adam seria pai de um filho com Reese toda sua esperança em ficar com ele morria, consolou-se na bebida e na pista de dança deixou que Matt lhe abordasse correspondendo aos seus apelos. Acordou sem muito entender como havia parado no chalé da família do rapaz totalmente nua com ele por cima do seu corpo.
Matt Davis, filho de John Davis um dos poucos e bem sucedidos empresários de Green River. John é dono da única concessionária de automóveis da cidade e Matt seu único filho varão, mas nem por isso o seu favorito. O velho tinha adoração por sua filha Angel irmã gêmea de Matt. Ambos estudavam na mesma sala na época de colégio com Fiona e Matt desde daquele tempo nutria admiração e uma paixonite pela caçula dos Calloway. Talvez se ele fosse do contingente atlético como Adam era nessa época Fiona o teria notado, era o que o rapaz rechonchudo pensava. E por estar acima do peso e não fazer parte do time de futebol do colégio que seu pai não o tratava com pé de igualdade com a sua irmã.
Independente de Matt estar ou não acima do peso ou fazer parte de um time de futebol, Fiona não o notaria de toda forma. Ela se apaixonou instantaneamente por Adam no momento em que ele pediu para ser par dela na aula de ciências e desde aquele primeiro dia não se desgrudariam mais até Reese aparecer em um dos feriados na folga da faculdade. Então aquela noite no bar foi uma surpresa para Matt quando Fiona aceitou dançar com ele.
O rapaz de um metro de setenta e com seus muitos quilos a mais comprou sua coragem no balcão do Wayne a virando de uma vez ajeitou as calças que insistiam em cair para baixo de sua barriga saliente e se aproximou da pista. A banda tocava às clássicas country e Fiona jogava seu corpo de um lado para o outro em um dos seus momentos raros que se permitia usar vestidos – depois desse dia nunca mais usou. Seus cabelos um pouco abaixo do ombro também seguiam o ritmo que seu corpo impunha.
— Também gosto dessa música. — Matt encheu-se de coragem e fez sua primeira abordagem.
— Eu não. — Fiona respondeu o encarando séria, estava alguns centímetros mais altos que ele. — Eu não gosto desta música, eu simplesmente amo essa música! — e então sorriu naquela época o sorriso ainda vinha fácil.
— Gostaria de dançar? — Matt um pouco sem jeito estendeu tímido sua mão, desejando dentro do peito não ser rejeitado na frente de todos ali no bar mais famoso e frequentado de toda Green River. Se ela dissesse não no dia seguinte todos naquela cidadezinha estariam sabendo e isso incluía o seu pai e com ele viria o zombo misturado no desdém e Matt não gostaria de dar esse gostinho ao seu velho.
— Claro!
Aquela resposta com tanto entusiasmo escondia de Matt a sua verdade. De que a moça ali a sua frente deixando ser guiada escondia um coração despedaçado sem possibilidade de reparos. Uma alma que havia se embriagado para manter-se entorpecida e assim não sentir mais tanta dor. Dançaram aquela música, a próxima e a próxima. E todos dentro daquele salão os observavam com interesse e atenção. Um acontecimento improvável. As belas filhas de Robert Calloway jamais dariam conversa ao rapaz mais desinteressante de Green River. Pelo menos Kristen e Reese não fariam e Fiona era isso, uma inconstância. Definitivamente a mais parecida com a mãe não apenas fisicamente, mas também em atitudes.
Estavam todos certos. Fiona mal sabia o que estava fazendo. Sua cabeça lhe mandava informações desconexas e seu coração inútil comandava as emoções latentes de desprezo por si mesmas.
Rindo seguiram para o balcão onde beberiam por mais uma hora. Matt naquele momento já se sentia confiante e conversava abertamente com ela sem se preocupar ou se intimidar.
— O que acha da gente sair daqui? — Fiona sugeriu virando o último gole da cerveja em seu copo.
— Ah! Sim. — Matt respondeu em meio a um engasgo. Ter dançado com ela, sentido o seu corpo ali perto do seu já era suficiente então não conseguia acreditar na proposta que se seguia. Era isso que ia acontecer mesmo? Questionava-se internamente ao mesmo tempo em que a guiava para o estacionamento.
— Onde está o seu carro? — Fiona demostrava dificuldade em manter-se em pé e por conta disso apoiava com mais força em um dos braços de Matt.
— Ali na frente. — Matt apontava para um Toyota Corolla zero que tinha acabado de chegar até a concessionaria do seu pai e que o rapaz pegou sem seu consentimento.
— Seu pai sabe que você tá com um carro desse bêbado em um bar?
— Vamos torcer para que ele nunca fique sabendo.
— Em que mundo você vive? — Fiona se dirigiu para o lado do carona assim que Matt destravou o carro. — Estamos em Green River aqui todo mundo sabe da vida de todo mundo. — e então Fiona recebeu momentaneamente um choque de realidade lembrando-se do motivo que a tinha levado até ali e a feito beber tanto. — Me tira rápido daqui, por favor!
Matt rapidamente fez o que ela solicitava, não podia perder aquela oportunidade por nada, mas a questão era ir com ela para onde?
Matt apesar de já estar como Fiona com vinte dois anos morava ainda na casa dos seus pais. Sua irmã estava casada a pouco menos de um ano e tinha deixado o lar aos dezoito assim que se formou no colégio. Não dava para levar Fiona para lá e também não poderia sugerir deles irem até a fazenda, Robert se soubesse certamente o mataria. A fama de protetor do senhor Calloway com suas filhas o precedia. Então para onde ir? O lago era uma de suas opções e começou a pegar o caminho em sua direção.
— Para o lago não. Detesto aquele lugar.
Matt começou a entrar em desespero internamente. E então uma luz sobre a colina que vinha de alguns chalés lhe fez lembra que o pai tinha um para quando ia caçar ou simplesmente passar uns dias longe das cobranças de sua mãe. Lá o senhor Davis encontrava com suas diversas amantes com a desculpa de que ia caçar.
— A gente tem um chalé perto das colinas...
— Isso vamos para lá.
Fiona não o deixaria concluir e tomou para si a decisão de onde terminar aquela noite que nem deveria ter começado. Rapidamente chegaram ao seu destino. Matt estacionou o carro novinho em frente à varanda do chalé e correu para abrir a porta para Fiona que desceu cambaleante sendo amparada por ele.
— Tá tudo bem, Fi?
— Sim! Só um pouco zonza. Será que tem mais cerveja aí? Podíamos ter comprado.
— Tem sim. — Matt não desejava beber mais, porém faria de tudo para agradá-la com o que ela desejasse e ele sabia que o pai mantinha alguns suprimentos no chalé, o filho sabia dos maus passos que o pai dava esse era um dos seus segredos. — Espera que vou pegar a chave.
Matt soltou Fiona que se apoiou no parapeito da varanda enquanto o rapaz se abaixava perto do capacho erguendo um dos vasos. De lá ele tirou uma cópia da chave e a inseriu na fechadura e agora os dois olhavam para o interior escuro daquele chalé que cheirava a mofo.
— Deixe-me acender a luz.
No instante que Matt acionou o interruptor e a luz iluminou a saleta que se integrava a cozinha Fiona fecharia seus olhos indicando que a claridade devido a sua bebedeira a incomodava.
— Então? Tem cerveja? — Fiona tirou o casaco que tinha colocado assim que saiu do bar pouco antes de entrar no carro com Matt e o jogou sobre o sofá e logo em seguida fez o mesmo com o seu corpo.
O rapaz afoito correu até a pequena geladeira voltando para junto de Fiona com duas garrafas em sua mão. Sentou-se ao seu lado e lhe entregou uma. Brindaram. Beberam. Matt deu um pequeno gole. Fiona quase terminou com a sua garrafa em apenas um. Ele a encarava com preocupação enquanto ela bebia.
— Vai ficar só me olhando? — Fiona o encarou de volta com suas sobrancelhas juntas demonstrando irritação. — Eu sei que você sempre quis me beijar...
Dessa vez Matt não a deixaria terminar a frase e tomou seus lábios. O beijo era um desastre. Não tinham coordenação. Não havia alinhamento. Matt estava ansioso para ir mais devagar e Fiona bêbada demais para demonstrar qualquer reação ao contrário. Em um determinado momento ela apenas o lembrou de que ele deveria usar preservativo. O rapaz correu nu com seu corpo gordo e flácido e voltou com o item solicitado. Se pedissem para Fiona relatar como fora ela não saberia descrever momento nenhum. Aquela noite era um verdadeiro borrão em sua mente, o que ela se lembrava com nitidez até os dias atuais foi o seu despertar no dia seguinte a vergonha que sentiu a se ver nua embaixo de Matt. Não por ser Matt, mas por não ser capaz de lembrar absolutamente de nada. Sentia pior do que lixo naquele momento e sabia que tinha usado o rapaz. Fiona sempre soube dos sentimentos de Matt por ela e por conta disso não se suportava naquela posição.
Com dificuldade conseguiu sair debaixo dele que estava completamente desmaiado tanto pelo seu cansaço quanto pela sua realização. Fiona recolheu suas roupas que estavam espalhadas por todo assoalho do chalé se vestindo rapidamente. Desejava estar o mais longe dali o mais rápido que pudesse e sem acordar Matt. A última coisa que precisava naquele momento era encará-lo. Desceu a colina andando por entre as árvores do bosque evitando a estrada principal. Evitando ser vista por quem quer que fosse. Entrou em sua propriedade pulando uma das cercas correndo para o celeiro. Vestiu uma de suas roupas surradas que usava para cuidar dos animais e iniciou seus afazeres e então ele chegou com o seu olhar de repulsa e a encarou de cima embaixo.
— Você é patética demais. Bem fez Adam de te trocar por Reese. — Robert estava com um dos seus braços apoiados sobre a cerca de uma das baias que Fiona limpava. — Matt Davis quem diria! Bom pelo menos esse gosta de você. Dois patéticos juntos.
Robert se afastou da filha batendo as botas, Fiona não levantou, permaneceu abaixada junto ao feno que forrava o chão. As lágrimas desceram quentes pelo seu rosto. Elas desciam em acordo ao que seu pai havia lhe dito. Era isso uma patética. Uma patética desprezada pelo grande amor de sua vida que agora teria um herdeiro com sua irmã. Com sua linda e estonteante irmã Reese, aquela que sempre lhe tratou com desdém, que sempre a culpou pela morte da mãe, que nunca lhe ofertou uma palavra amiga ou de consolo, que sempre fez da sua vida um inferno. Aquela que teve todos os privilégios e que nunca lhe fora negado nada. De quem o pai não arrancou o sonho de seu uma veterinária, de quem o pai não destruiu a autoestima a limitando ou explorando. A irmã que tinha tudo e mesmo assim quis a única coisa que a fazia feliz e inteira naquele seu papel de caçula rejeitada. Reese podia ter tido o rapaz que desejasse, mas ela quis e conseguiu o seu Adam, o seu primeiro, verdadeiro e único amor. E por isso que chorava, porque mais uma vez seu pai estava certo. Dois patéticos. E então decidiu naquele momento que não lhe daria este gostinho de vitória. Não ia ter mais Adam, mas também não teria Matt. Não teria ninguém.
Então quando na noite de sexta-feira seguinte depois de ter evitado Matt a semana toda fez o que achou correto para mantê-lo afastado ou qualquer outro homem que desejasse abordá-la. Gritou para todos no bar do Wayne que não seria mais a Calloway de trampolim. Não seria mais aquela que perderia seus amores para irmãs, mas na verdade ela dizia que também não perderia mais para o pai dando lhe o gostinho de dizer que ela era patética com seus amores. Não iria existir mais amores e assim foi por dezenove anos e então Ted apareceu sem pretensão. Apenas como um homem que ajudou uma mulher na beira da estrada e que a deixou a vontade para ser uma pessoa que ainda tem sentimentos mesmo que estes estiveram a tanto tempo guardados. Ele com sua calma e paciência a conquistou e ela estava ali de novo sentindo sensações que a muito haviam adormecido e que a aqueciam e confortavam. E mais. Ela sentiu pela primeira vez reciprocidade. Retorno na mesma intensidade. Era assim que o amor devia funcionar. Era isso. Estava apaixonada e estando assim já não se importava em ser taxada de patética de novo. Fiona novamente decidiu como outrora. Iria viver aquele momento com ele o máximo que pudesse. Ela merecia. Ela estava ciente dessa vez que merecia aquele amor e também de amar, por isso, quando a irmã mais afrontosa desceu do seu SUV com seus óculos escuros, cabelos platinados e roupa de grife não se sentiu menor, intimidada ou inferiorizada. Estava plena. Estava feliz.
— Boa tarde, Reese. — Fiona sorriu para irmã depois de vinte um anos sem o fazer.
— Onde está papai? — Reese como de hábito não retribuiu a saudação e seguia para a entrada do casarão.
— Tia!
— Oi meus amores. — Fiona abraçou seus três sobrinhos dando beijos no topo de suas cabeças. — Como vocês cresceram, estão quase do meu tamanho.
— Então onde papai está? — Reese insistiu atrapalhando aquela confraternização que era sempre calorosa entre Fiona e seus sobrinhos Luke, Abigail e Becky.
— Nessa hora deve estar com Bruno lhe dando alguma ordem no celeiro, mas já deve estar voltando para casa, ele estava ansioso por sua chegada, me fez limpar o seu quarto de cabo a rabo. — Becky continuava abraça as pernas da tia, no auge dos seus cinco anos. Luke de quinze anos e Abigail de dez já seguiam em direção ao casarão revirando os olhos para as atitudes da mãe.
— E ele está errado? — Reese deu de ombros. — Vá lá e avise que chegamos.
— Mãe eu vou com a tia Fi... — Becky não desejava soltar a sua tia favorita por nada.
— Não vai não! — Reese agora sem os óculos encarou a filha com seu olhar de mãe brava e se voltou para os outros dois maiores — E vocês carreguem suas malas até o quarto agora! — Reese olhou novamente para Fiona. — Tá esperando o que?
Fiona piscou para os garotos que reviraram os olhos sem que a mãe os vissem e seguiram para o interior da casa e Fiona fez o mesmo indo em direção até o celeiro e lá encontrou o pai deixando Bruno louco com suas ordens de um homem velho e rabugento que tinha no seu único prazer nesse ponto da vida infernizar a dos outros.
— Pai! — Fiona o chamou da entrada do celeiro e Robert a encarou. — Reese chegou com as crianças, estão esperando por você.
— Já não era sem tempo. — Robert bateu as botas e seguiu em direção a Fiona. — Lembre-se de deixar tudo pronto até amanhã Bruno. E você... — encarou a filha nos olhos. — supervisiona porque não confio nele.
— Tudo bem pai. — o homem já havia lhe dado às costas quando ela prosseguiu. — Ah! Não vou jantar com vocês hoje, acredito que queira ficar sozinho com Reese e as crianças.
Robert parou no meio do caminho, voltou-se novamente para a filha caçula com aquele olhar que ela detestava. O olhar de quem a subjugava, de quem não aceitava o que havia sido dito e que iria fazer a sua vontade. Esse olhar ele só destinava para Fiona.
— Posso saber quem vai preparar o jantar?
— Já deixei tudo combinado com Paulina...
Robert deu três longos passos o que não era muito difícil para um homem de sua estatura. Robert era considerado alto nos seus um metro e oitenta e três de altura. Depois que a doença se alastrou e suas consequências instalaram passaria andar mais curvado, mas no auge de sua saúde era um homem de porte, como muito dizem de presença e naquele momento encarando a filha a um palmo de sua face demostrava de novo.
— Que porra você estava pensando? Aquela mulher é uma inútil eu só a mantenho aqui por causa de Bruno que mesmo lerdo ainda faz um bom trabalho, não fosse isso já estava no olho da rua. Você fará o jantar e ponto final.
— Não pai. Dessa vez eu não vou fazer. — Fiona respondeu assim que o pai se afastou e seguia dando aquele assunto como finalizado. — Se não quer que Paulina cozinhe peça para Reese, ou melhor, podem pedir o que desejarem em algum dos restaurantes de Green River todos eles passaram a ter serviço de delivery.
— Você perdeu a noção ou quê?
— Não perdi absolutamente nada, apenas vou deixar vocês livres de mim por apenas uma noite. E eu já tenho compromisso.
— Com aquele bosta? As pessoas já começaram a falar.
— A falar o quê? Que a mais nova dos Calloway depois de dezenove anos está namorando novamente? Bom se for isso eles estão certos.
Fiona não acredita no que dizia e nem da força que surgiu para enfrentar seu pai desse jeito. Robert também estava como ela, até mais, a sua caçula nunca havia falado com ele dessa forma desde o dia que aprendera falar até aquele momento. Ele a encarou com a boca aberta, as palavras não se formavam em sua mente, estava atônito.
— Vô!
Luke vinha correndo ao encontro dos dois no caminho entre o casarão e o celeiro parando ofegante ao lado do avô em que podia observar que já em seus quinze anos faltavam apenas um palmo para alcançá-lo o que destoava dos seus pais. Reese era a mais baixa dos Calloway, media apenas um metro e cinquenta e cinco e seu marido Adam não estava na faixa de estatura considerada alta para um estadunidense padrão media um metro de setenta e seis sendo apenas seis centímetros mais alto que Fiona esta sim a filha mais alta de Robert. Kristen a sua mais velha tinha exatamente a estatura de sua falecida esposa Cora um metro de sessenta, redondos. Apesar das suas duas filhas mais velhas compartilharem a baixa estatura de sua amada esposa, fora Fiona que herdara suas feições como em retrato pintado por um excelente pintor e era justamente isso que incomodava Robert, ela ter sido a escolhida para carregar o melhor do que teve em sua vida e que deixou escapar por entre seus dedos grandes, grossos e calosos. Toda vez que olhava para Fiona via todos os seus erros cometidos por sua ignorância e ciúmes desenfreados que levaram a sua esposa a buscar por alternativas condenáveis a uma mulher casada.
— Vô a mamãe está igual uma louca te esperando, vamos? — Luke o abraçou apertado e fez sinal para que ele o seguisse.
— Essa nossa conversa não acabou. — Robert ainda encarando Fiona a alertou. — Vamos ver o que a minha filha favorita... — deu uma forte ênfase na palavra favorita ainda com seus olhos pequenos, raivoso e com fortes marcas de olheiras sobre Fiona. — deseja.
Abraçou o neto e seguiu com ele até o casarão. Fiona ficou ali observando os dois se distanciando ainda absorvendo sua afronta com satisfação, tanto que dessa vez escutar que Reese era a sua favorita nem a machucou como sempre acontecia nas outras vezes que aquilo era evidenciado. Ela não era a filha favorita, mas das três era a única que cuidava dele com todo carinho e afinco mesmo sendo repelida e menosprezada dia após dia. Bruno a tirou do seu momento vitória e ela o seguiu nos afazeres, desejava terminar antes que seu pai pudesse confrontá-la e obriga-la a fazer o jantar, quando isso acontecesse já desejava estar entrelaçada nua nos braços de Ted.
— Que papelão foi aquele de ontem Fiona. Deixou o pai irritadíssimo e com razão essa tal de Paulina é um verdadeiro desastre.
Reese não se deu ao trabalho de desejar um bom dia para irmã mais nova que bem cedo abandonou os braços quente do homem que vinha a fazendo sorrir e correu de volta a fazenda do pai para manter a ordem e tudo dentro da rotina esperada, um delicioso café da manhã para a sua adorada filha favorita Reese.
— Bom dia para você também Reese. — Fiona respondeu deixando sobre a mesa uma fornada de broas recém-assadas.
— Não dê uma de dissimulada.
— Não estou dando, minha irmã, apenas quis deixa-los à vontade ontem a noite e eu sugeri para papai que pedisse o jantar em um restaurante para entregar aqui.
— Você só pode estar de brincadeira né.
— Não vejo por que. Se não gosta da comida da Paulina era só ter pedido fora ou você mesmo poderia ter feito.
— O quê? Eu!? Você só pode estar louca.
Fiona parou de observar a água quente descendo pelo coador de pano enquanto fazia o café e se voltou para irmã que estava no meio da cozinha com seu robe de seda e pantufas de pelinhos rosa onde seus dedos ficavam amostra. Reese tinha pés pequenos e dedos todos alinhado, eram muito bonitos e delicados e naquele dia estavam pintados de vermelho como as unhas de suas mãos, percebia que ela cuidava muito dessa parte indo regularmente a manicures, totalmente diferente de Fiona que nem lembrava a última vez que ela mesma fizera a suas unhas. O máximo que se dava ao trabalho era cortá-las deixando bem rentes a carne. A postura da irmã do meio era de afronta com as mãos na cintura e queixo para cima. Mesmo muito centímetro menor que Fiona, Reese sabia intimidá-la.
— Talvez esteja. — Fiona deu de ombros e voltou a cuidar do café. — Vai querer ovos mexidos com bacon?
— Não mude de assunto!
— O que tem mais para falar Reese? — Fiona agora despeja o café passado na cafeteira, a fumava embaçava um pouco suas vista e o cheiro adentrava sua narina, Fiona amava o cheiro do café mais do que toma-lo. — Não fiz o jantar, o de Paulina foi uma porcaria, você não se dispõe a fazer absolutamente nada, a não ser reclamar de tudo, isso sim, você faz que é uma beleza e nada do que dissermos vai fazer o tempo voltar e remediar o que aconteceu na noite anterior, então sugiro que sente e tome o seu café da manhã e não se preocupe que hoje farei o almoço e também o jantar. Está bom assim para você?
— O que aconteceu com você? — Reese não acreditava no que estava acontecendo. Fiona nunca em seus trinta e nove anos de idade tinha agido daquela forma e aquilo lhe assustava.
— Ovos mexidos com bacon, ou está de regime? — Fiona olhou para irmã de cima embaixo. — Apenas ovos mexidos. Sente tome o café aproveita que está quentinho.
Fiona colocou dois ovos na frigideira e fez com esmero para irmã que emudeceu de tal maneira que nenhuma das duas conseguia acreditar e para aproveitar a sua boa sorte Fiona terminou de colocar a mesa e partiu para seus afazeres retornando apenas perto do horário do almoço. Becky e Abigail fizeram companhia para ela durante a preparação contando tudo que acontecera desde a última vez que se viram no aniversário do avô alguns meses. As meninas estavam entusiasmadas e uma atropelava a outra na hora de falar ocasionando algumas briguinhas entre elas que Fiona contornava dando beijos e abraços em ambas. Com o almoço pronto e mesa posta deixou que aquela parte da família desfrutasse de todo mau humor que Robert exalava e foi comer com Bruno e Paulina em seu casebre.
Durante a tarde como acontecia toda vez que seus sobrinhos estavam na fazenda Fiona selava Raio e Blanca e também o pônei Honey para cavalgar com seus sobrinhos. Luke já tinha aprendido a cavalgar sozinho e por isso ia com Blanca, Abigail estava aprendendo, se viesse mais a fazenda como aconteceu na época de Luke talvez Fiona a deixasse montar um cavalo maior, mas não ia correr esse risco, portanto selou Honey e Abigail adora aquele pônei. E Becky ia com ela em Raio. Voltaram com o sol já querendo se esconder e com Reese gritando para que fossem tomar banho.
— Vamos ter de nos virar novamente no jantar? — Robert chegou ao lado da filha quando ela colocava o último animal em sua baia.
— Não pai, hoje eu vou fazer o jantar e vamos ter um lugar a mais na mesa.
— Você só pode estar de brincadeira.
— Achei melhor apresenta-lo de forma tradicional assim os falatórios param, não é isso que está incomodando o senhor?
— O que está incomodando é esse rapaz zanzar pela minha propriedade e ainda por cima nos meus cavalos.
— Vamos parando com isso pai. — Fiona deu o ultimo afago em Raio e foi em direção ao pai na entrada do estábulo. — O senhor nunca se importou com pessoas usando nossos cavalos, tanto que me deixa fazer as atividades com as crianças na semana da independência.
— Você disse bem: crianças. E crianças carentes, ele é um homem adulto do qual nunca ouvi falar andando por minha propriedade sem a minha autorização.
— Pois então vai conhecê-lo esta noite no jantar. Agora se o senhor permitir preciso tomar um banho para começar os preparativos, tudo bem?
Robert não respondeu e jamais o faria. Desde que colocou os olhos em Ted no dia que trouxe a caminhonete que Fiona usava não gostou do rapaz e se ele estava gostando de Fiona era mais um motivo para rejeitá-lo. Se ela queria trazer ele para o jantar que faça, assim já deixava claro que não era bem vindo ali e quem sabe ele desistia de vez de sua caçula para ela voltasse a ser como antes. A submissa e calada Fiona.
Ted recebeu o convite do jantar durante uma das pausas do sexo com Fiona na noite anterior. Ela estava deitada sobre seu peito passando seus dedos finos e compridos sobre algumas de suas cicatrizes. Ela foi à única mulher que Ted deixava fazer isso, normalmente depois que o ato acabava colocava sua camiseta de volta. Ele não sabia explicar o motivo de deixar ser assim tão vulnerável com Fiona ao ponto de não se importar com ela passando seus dedos sobre seus segredos mais obscuros.
— Tem certeza de que é isso que você quer?
— Tenho. Assim ele para de fazer insinuações sobre nós, até porque já não é nenhum segredo que ando vindo aqui ficar com você.
— Isso te incomoda?
— De forma alguma, eu me sinto em paz aqui com você.
Ted gostou de ouvir aquilo. Então estava decido mesmo sabendo que talvez não fosse bem recebido aceitou o convite da mulher que também o deixava em paz. E dessa forma as oito em ponto como havia sido o combinado Ted bateu a porta do casarão dos Calloway.
Foi uma batida precisa. Forte e seca que ressoou por todo casarão alertando que o convidado misterioso tinha chegado. Robert havia dito por cima sem muito detalhe para sua filha do meio que o rapaz que transava – usou essa palavra – com Fiona iam jantar com eles. Ela teria a prova quando o prato a mais foi posto por sua irmã caçula na sala de jantar juntos com as louças especiais e não as do dia a dia sobre a mesa.
Desta forma ela fez questão de atender a porta. Aproximavam-se de novembro e por isso o tempo já mudava e naquele horário da noite já trazia um ar gelado e por conta disso Ted colocou sobre seu suéter de lã preta, aquele da primeira noite com Fiona e o único em bom estado que possuía uma jaqueta de couro também na cor preta. Os cabelos penteados e com um pouco de gel, barba feita. Estava bonito e Reese também achou isso quando abriu a porta e deu de cara com ele.
— Você deve ser o cara com quem Fiona anda saindo.
— Ted. — com o semblante travado respondeu a Reese que o encarava com interesse.
— Me perdoe, mas Fiona não se deu ao trabalho de dizer seu nome, venha, entre.
Reese nesse momento quase uns oito centímetros a mais por conta das botas de salto alto que decidiu usar junto com sua calça de couro branca e um suéter muito bem confeccionado com traçados lindíssimos na também cor branca, naquele dia ela lavou os cabelos platinados e fez uma escova, caprichou também na maquiagem. Reese queria estar impecável, bonita e atraente para receber o novo namorado da irmã. Atitude que se repetia quase vinte anos depois, desde a vez que veio para a ação de graças quando ainda era uma estudante de administração e sabia que iria conhecer o tão falado e adorado pelo pai o namorado de Fiona, Adam. Talvez fosse um teste para seu ego tentar seduzir outro namorado de Fiona, mas ao ver Ted aquilo se transformaria em uma missão.
Ela abriu espaço para ele entrar que o fez sem ressalvas. Caminhou com seu porte adquirido no exército: altivo. Ela o passaria apressando seus passos assim que fechou a porta o conduzindo até a sala de estar em que seu pai estava sentando na sua poltrona costumeira vendo o noticiário. Luke e Abigail sentados lado a lado no sofá de três lugares estavam entretidos em seus smartfone. A pequena Becky fazia companhia a Fiona na cozinha de onde podia de tempo em tempo escutar seus gritinhos e risos de criança pequena.
— Pai. — Reese tocou no ombro de Robert. — O convidado de Fiona chegou. — e ao terminar de dizer isso deu um sorriso largo para Ted que permaneceu passivo sobre o portal de entrada para aquela sala. Ele não gostou nada daquela mulher, sentiu nela o mesmo desdém de quando topou com Robert a primeira vez.
— Quer que eu faça o que? O abrace? — o velho respondeu a filha sem tirar os olhos da tela da televisão fazendo questão de ignorar a presença do outro homem.
— Não espero que faça isso, não tenho o hábito de abraçar outros homens. — Ted se manifestou deixando claro que pouco se importava com o que Robert achava dele, a única pessoa naquela família que importava para Ted era Fiona.
Robert saiu de sua indiferença movendo sua cabeça para trás ainda sentado em sua poltrona em direção a Ted. Ambos se encararam de forma dura com algo que lembrava uma aceitação para o duelo. Houve um aceno de ambos e Reese pediu que ele se sentasse e saiu de encontro a Fiona.
— Foi uma ideia e tanto trazer esse homem aqui irmãzinha. — Reese entrou na cozinha despejando seu veneno. — Espero que não demore, pois, não sei se ele ou papai vão estar inteiros até o jantar. Vem Becky. — Reese estendeu a mão para filha menor.
— Quero ficar aqui com a titia. — Becky se agarrou as pernas de Fiona que terminava de decorar a carne que havia assado.
— Você vem comigo agora! — Reese enraivecida foi até a filha e a puxou pelo braço. Becky soltou instantaneamente a tia assim que sentiu a pressão da mãe e com ela foi choramingo até a sala.
Fiona observou aquela cena com um nó em seu coração e lembrou-se de algo parecido em sua infância quando seu pai a puxava pelo braço e a colocava para fora da sala de jantar a levando para fazer a refeição na cozinha e lá sentia o alento e o conforto do abraço de Joe que para lhe agradar depois do jantar lhe dava escondido a sua sobremesa. Certamente mais tarde longe dos olhares de Reese faria o mesmo com Becky.
Na sala de estar o clima estava pesado, apenas a voz do apresentador do telejornal podia ser ouvida e também os resmungos de Becky. Ted os observava atento. Sentiu falta da sua irmã e desejou um dia poder levar Fiona até ela. Lá ela saberia como é estar em uma família unida e amorosa de verdade, apesar dos seus sobrinhos terem idades próximas aos dois que estavam com os narizes enfiados em seus celulares os de Ted nesse momento estariam enchendo dele de perguntas ou contando como fora seus dias. Ali nessa cidade isolado era disso que sentia mais falta. Ele desejou ir até a cozinha ajudar Fiona, mas manteve-se sentado como um convidado, um convidado não apreciado.
— Está pronto! Podemos jantar. — Fiona colocou a cabeça para dentro da sala de estar ao mesmo tempo em que tirava o avental.
Robert foi o primeiro a se movimentar. Passou por Fiona resmungando qualquer coisa e se posicionou na ponta da mesa. Reese ainda puxando Becky pelos braços seria a próxima seguida por Abigail. E então na sala restaram Luke e Ted que permaneceram sentados lado a lado. Ted se moveu primeiro e foi em direção de Fiona que o olhava com ar de suplica, como se lhe pedisse desculpas.
— Desculpa, não consegui deixar tudo pronto a tempo de te receber.
— Não tem problemas. — Ted segurou o rosto dela entre suas mãos. — Está tudo bem com você?
— Está sim, por incrível que pareça está. — ela lhe respondia com surpresa, pois era um fato novo para ela, mesmo com o clima pesado que sempre ficava quando Reese aparecia estava tudo bem com Fiona. — Vamos? Eles não vão ficar nada felizes em nos esperar.
— Já não estão por outros motivos.
Fiona não tinha como responder aquilo, sabia que Ted estava certo e se arrependeu de fazê-lo enfrentar tudo aquilo. Então ela fez outra coisa, voltou-se para o sobrinho que permanecia aéreo totalmente entretido com seu jogo.
— Luke! Vamos jantar.
— Ah! — Luke olhou para os lados e se viu quase sozinho naquela exceto pela tia e por um homem que nunca vira antes e não tinha ideia de como tinha parado ali. — Estou indo.
Os três entrariam juntos na sala de jantar em que Robert já havia se servido e começava a degustar da refeição. Reese terminava de fazer o prato de Abigail que reclamava do fato de ter de comer legumes enquanto a menor sentada sobre duas almofadas para ficar na mesma altura da mesa seguia como seu avô devorando tudo que a mãe já havia colocado.
— Desculpa... É Ted né? — Reese dirigiu-se a ele que sentou praticamente a sua diagonal enquanto Fiona ocupou a outra ponta da mesa. — As crianças não aguentam esperar e papai nessa idade já damos um desconto.
— Não dê desculpas por mim! — Robert retrucou com a filha. — Não sou obrigado a esperar por ninguém dentro da minha própria casa.
— Não me importo com isso. — Ted respondeu para Reese.
— "Não me importo com isso". Bah! — Robert retrucou e seguiu comendo.
— Por favor, apenas ignore. — Fiona disse baixo aos ouvidos de Ted que fez um sinal em concordância com a cabeça. — Posso fazer seu prato?
— Não precisa fazer isso.
— Eu insisto.
E Fiona sorriu para Ted e nesse momento Reese deixou seus talheres caírem ao chão. Definitivamente aquele homem tinha mudado a sua irmã, até sorrir ela estava e sem esforço. Não eram os risos forçados que às vezes ela encenava para alguma foto, era um sorriso genuíno. Verdadeiro. E mais era exatamente o mesmo sorriso que ela tinha na memória mesmo que muito pequena da sua mãe.
— Nossa mãe! Presta atenção. — Luke com ar de brincalhão repreendeu a mãe.
— Olha como fala comigo seu moleque. Já que é tão espertinho vá pegar talheres limpos para mim.
— Mas eu não sei onde ficam.
Fiona fez menção em levantar para pegar os talheres, mas por baixo da mesa Ted a segurou pelas pernas, quando ela sentiu a mão dele apertando sua coxa ela o encarou e no olhar dele estava escrito a palavra não, então ela limitou-se em apenas dizer ao sobrinho onde os talheres ficavam e Ted começou a se servir e assim que terminou de arrumar aquele prato passou para Fiona pegando o vazio dela e fazendo o mesmo. Pela primeira vez na sua vida adulta alguém teve esse gesto carinhoso com ela e naquele instante Fiona o amou mais ainda.
— Então Ted o que você faz? — Reese não deixaria escapar nenhuma oportunidade para vasculhar a vida dos dois pombinhos, nem quando viu a irmã com Adam sentiu tanta sintonia assim e ela sabia do amor que Fiona tinha por ele.
— Sou mecânico.
— Hum interessante. Mas não é daqui, pelo seu sotaque me arrisco a dizer que é do sul.
— Florida.
— A porcaria de um imigrante. — Robert se pronunciou deixando claro todo seu desdém.
— Pai! — tanto Fiona quanto Reese se pronunciaram em uníssono assim que o pai fez aquele comentário.
— Não senhor Calloway. Nasci e fui criado tanto quanto todos aqui presentes. Sou tão ou mais americano daqui.
— O que te faz pensar que é mais americano que nós? — Robert pousou seus talheres sobre o prato praticamente vazio naquela altura do jantar e aguardou com interesse a resposta do homem que terminava tranquilamente de mastigar sua carne.
— Talvez pelos dezoito anos que servi ao exercito em atividade no Afeganistão me façam tão ou mais patriota do que aqueles que ficaram com suas bundas sentadas em suas cadeiras no conforto e segurança do lar.
— Não sabia que tinha servido o exército. — Fiona o encarou com surpresa.
— Como não Fiona? — Reese a questionava com um sorriso vitorioso. — Do momento que bati meus olhos nele assim que abri a porta já soube que ele tinha estado no exército e você dormindo com ele não notou? Francamente.
— No que essa estúpida presta atenção. — Robert enfim destilou seu veneno até seu alvo costumeiro.
— Não fala assim da sua filha. — dessa vez foi à vez de Ted largar seus talhares.
— Quem é você para dizer como eu devo ou não falar com minha filha? — Robert levantou e Ted o seguiu no gesto.
— Meu Deus! Vovô e esse moço vão brigar. — Luke que observava com diversão a briga não aguentou mais ficar quieto.
— Cala a boca moleque! — Reese repreendeu o seu filho e fez um sinal para o pai se sentar. — Pai senta. — e voltou-se para Ted. — Ted você também, sente-se. Meu pai já está velho e Fiona já está acostumada com isso.
— Não deveria estar. Ela não merece ser tratada dessa forma. — Ted voltou-se a Fiona que o encarava com lágrimas contidas apenas por uma tensão dentro dos seus olhos. — Desculpa, mas não consigo. Você merece mais do que isso, porque você é muito mais do que isso.
Então Ted segurou novamente com as duas mãos no rosto frágil e delicado de Fiona e depositou em seus lábios um beijo rápido e partiu. Ele podia escutar Robert lhe deferindo desaforo e também a voz aguda de Reese pedindo calma ao pai. O que ele não escutava ou mesmo sentia era Fiona e ele sabia que naquele momento ela não conseguiria fazer nada, aquelas pessoas haviam a quebrado demais e a cura para isso é lenta e dolorosa, mas ele estaria ali para ajuda-la no que fosse necessário e a ajuda que ele podia dar nesse momento era se retirar.
Fiona não saberia dizer quanto tempo havia se passado quando conseguiu levantar-se da mesa e recolher os pratos. Eram sete ao todo e todos estavam com migalhas, exceto um, o seu. Este permaneceu da mesma forma como Ted a entregara. Tinha também em sua mente lembranças vagas do seu pai e sua irmã gritando com ela assim que Ted foi embora, mas agora a casa estava em silêncio. Todos já tinham se retirado para seus aposentos e ali sozinha no escuro guardou o alimento que sobrara e lavou todas as louças e limpou o que ficara sujo. Seguiu para seu quarto perto do celeiro e deitou na cama sem tirar a roupa escolhida para aquela ocasião. Um vestido. A peça de vestuário que ela quase nunca usava e que escolheu para aquela ocasião. Desejou estar bonita para ele e para seu pai. Mas ambos nem notaram, apenas Reese havia feito um comentário sobre tal façanha e não havia sido agradável ainda mais depois de ver como a irmã estava impecável na roupa escolhida e na maquiagem feita. Por mais que Fiona tentasse jamais conseguiria competir com a elegância de Reese. Ficou deitada e o dia anuncia clarear, trocou o vestido pelas calças jeans surradas, a camisa de flanela e a jaqueta jeans revestida com pelo de ovelha e seguiu até o estábulo e iniciou seus afazeres, Bruno apareceu com seu ar de descansado meia hora depois, e então Fiona retornou ao casarão para fazer o café da manhã, saiu de lá sem que nenhum residente estivesse acordado e então subiu em sua caminhonete e deixou a fazenda para trás do seu retrovisor, quando estacionou do lado de fora da oficina de Ted já não tinha certeza se o que fazia era certo, apenas desejava ser abraçada por ele e nada mais.
Ted acordou com Zeus lhe chamando e Apollo correndo e voltando em direção a entrada da oficina. Ele soube que ela estava ali, descalço mesmo correu até a entrada e abriu o portão. Apollo e Zeus saíram a sua frente pulando alegremente em Fiona que se abaixou e deixou ser lambida pelos cachorros. As lagrimas delas já não podiam ser mais contidas naquele momento e se abraçou aos animais em desespero Ted veio em seu auxílio e lhe enlaçou pelas costas a fazendo apoiar sua cabeça em seu peito.
— Chora Fiona. Deixa tudo sair, eu estou aqui. Eu nunca vou sair daqui.
E Fiona chorou e ele ali ficou junto dos seus cães dando apoio e afeto. Carinho e amor sem desejarem nada em troca, apenas que ela se sentisse amada e protegida e era assim que ela se sentia e era assim que desejava ficar.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro