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Sexta-feira amanheceria conforme todas as outras. Não para Fiona. Esta era uma sexta-feira diferente, ou pelo menos, pretendia ser. Acordou às quatro da manhã como o habitual. Depois da higienização matinal seguiu para o estábulo e de baia em baia alimentou os cavalos e Raio como de costume ganhou afagos de sua dona e uma promessa de que ela o levaria para um passeio mais tarde. De lá seguiu com a alimentação dos outros animais da fazenda encontrando Bruno no meio desse processo com os cuidados dos gados, a principal fonte de renda dessa sede. As outras fazendas Calloway se ocupavam com agricultura e criação de búfalo e eram mais rentáveis, porém a de Green River seguia sendo a menina dos olhos de Robert por vários motivos e um deles estava lá enterrado há quase quarenta anos e todos os dias o homem amargurado ia visita-la. Oras como adoração, em outras como repulsa, fato é que nunca deixava de ir. Fiona ia lá algumas vezes. Sentia-se em paz ali com a mãe que nunca conheceu, já suas irmãs nunca mais foram desde o sepultamento ainda muito pequenas e perdidas com o que tinha acontecido.

Terminou de ajudar Bruno a cuidar do gado e seguiu para o casarão em que seu pai ainda dormia. Quando a doença se alastrou levou dele todo seu vigor deixando apenas um homem fatigado que mesmo que não desejasse não tinha mais controle sobre os anseios de seu corpo, que naquele momento era de lhe deixar adormecido a maior parte do tempo, como se o preparasse para o seu futuro próximo, o futuro que ele lutava contra. Rapidamente Fiona colocou a água para ferver enquanto preparava os outros mantimentos à mesa. O pão caseiro comprado no dia anterior foi colocado no forno para ser aquecido. A manteiga tirada da geladeira, junto com o pote de geleia de damasco, a favorita de Robert. Colocou um pouco de leite para ferver, leite fresquinho que ela acabara de trazer de uma das vacas da fazenda. Os ovos que ela batia na tigela também eram de lá e logo o seu cheiro preencheria o ambiente. A chaleira da água apitou avisando que estava pronta para ser despejada no coador já com o pó de café a sua espera e esse outro aroma – o mais apreciado por ela – tomou conta daquela cozinha rústica que precisava de reparos. Quando estava terminando de virar os ovos mexidos na frigideira escutou o rangido das toras sobre sua cabeça, era o sinal de que o pai estava de pé e que em breve ele desceria e assim mais um dia começaria de fato.

Robert apareceu na cozinha já arrumado, com sua calça de trabalho e camisa xadrez de flanela com alguns botões abertos mostrando que por baixo usava uma de suas camisetas brancas que Fiona trocava de tempo em tempo conforme ia ficando encardidas. Nos pés suas botas surradas de anos a fio no trabalho com o gado, o trabalho que já não podia mais exercer, a força em suas mãos já não estavam mais ali e ele se ressentia por isso. Ela sentiu o cheiro da loção pós barba dele como um alivio. Ele ainda estava ali, mesmo que ele a importunasse ou lhe ofendesse, ele ainda estava ali e ela não estaria sozinha.

— Bom dia pai.

Robert respondeu com um murmuro indecifrável, mas que Fiona encarou como sendo um bom dia de volta, afinal era assim em todas as manhãs. Ele sentou no seu lugar a mesa e serviu de uma caneca generosa de café e sem que ela visse colocaria uma colher a mais de açúcar. Fiona estava pegando em seu pé com esses excessos.

— Onde encontrou aquele rapaz? — e finalmente quando ela sentou ao seu lado com o pão aquecido Robert chegou ao assunto que desejava desde o dia anterior, o qual ela conseguiu escapar por conta do sono prematuro que lhe assolou.

— Que rapaz? — Fiona finge que não entendeu de quem ele estava falando e começou a passar geleia em um pedaço de pão para logo em seguida colocar no prato de seu pai.

— Não se faça de sonsa. O que trouxe a caminhonete.

— Ah! Sim. O nome dele é Ted. É um mecânico que me ajudou no dia do temporal, lembra? — Fiona encarou o pai como se fosse algo corriqueiro, sem importância. Já Robert a encarava com desconfiança e esperou que ela continuasse para só então dar a primeira mordida no seu pão com sua geleia favorita. — A caminhonete pifou novamente quando estava entrando na rodovia, eu sei que tinha de ter levado no seu Johnson semanas atrás, mas estava tudo tão corrido por aqui...

— É exatamente isso que quero saber porque não foi seu Johnson quem arrumou a caminhonete e esse moleque desconhecido que o fez.

— Então... — Fiona também deu uma mordida em seu pão, que diferente do pai estava recheado com os ovos mexidos e seguiu com a boca pouco cheia: — como disse ele me socorreu me rebocando e quando soube que ele era mecânico não achei justo tirar dele o serviço.

— Justo o serviço. — Robert respondia com desdém. — Quero ver o quão justo isso vai me custar.

— Não se preocupe pai, eu vou pagar, já está tudo acertado.

— Você quer dizer eu vou pagar.

— Não pai. Eu vou, com meu dinheiro.

— E de onde vem seu dinheiro sua estúpida! — Robert afastou de forma irritada seu prato que apenas continha migalhas que caíram do seu pão e levantou-se da mesa terminando em um gole seu café sobre os olhares atônitos de sua caçula que ainda tentava processar o que ele havia lhe dito. — E que seja a última vez que você fez isso.

Robert deixou a caneca vazia sobre a mesa e saiu porta a fora, o sol já começa a ganhar força e Fiona conseguia ver os raios incidindo sobre o corpo alto e agora muito magro de seu pai. Também sentiu uma sensação de queimação vindo do seu estômago. Ele conseguiu estragar o café da manhã, normalmente era apenas o jantar, talvez aquela sexta-feira não fosse como as outras, assim pensou Fiona quando terminou de recolher e lavar tudo antes de voltar aos seus afazeres na fazenda.

Na hora do almoço Fiona conseguiu dar uma escapada até a cidade, não sem antes deixar o alimento pronto para seu pai, seguiu direto para o banco retirando o valor que precisava para pagar o conserto de sua caminhonete, Fiona constatou nesta saída que a caminhonete tinha ficado melhor do que quando começou a dirigi-la nos seus dezesseis anos. Retornou para fazenda apenas com um lanche no estomago que comprou pelo caminho e seguiu para o pasto com Bruno. A promessa a Raio teria de ser cumprida em outro dia, a outra promessa tinha mais urgência e era nela que Fiona estava concentrada quando saiu apressada já com o sol indo dormir ao horizonte, precisava tomar um banho e ficar apresentável.

A última vez que sua cama ficou forrada com praticamente todas suas roupas sobre ela foi quando ainda namorava com Adam e se importava em ficar atraente para um rapaz. Isso tinha sido há muitos anos, há uma década atrás, ou até mais e desde então Fiona desistiu de buscar por relacionamentos afetivos e era por isso que não entendia tamanha indecisão em decidir qual calça jeans e camisa usar, afinal o guarda roupa dela limitava-se a esse estilo de vestimenta.

Decidiu por um jeans de lavagem mais escura, um que ela havia usado poucas vezes e que não tinha nenhum resquício de um dia de trabalho pesado na fazenda. A camisa também era nova também em tecido jeans só que em um tom mais claro e continha flores bordadas seguindo o caminho dos botões. Fiona enrolou a manga até o meio do ante braço, o clima ainda permitia isso, dali a um mês não seria mais possível sair sem um agasalho mais pesado. Seus cabelos castanhos ainda estavam um pouco úmidos na parte debaixo próximo a sua nuca, dessa forma preferiu deixá-los soltos, mas levaria consigo um elástico, caso sentisse a necessidade de prendê-los, o que era algo desnecessário, os cabelos de Fiona eram tão lisos e finos que raramente precisavam ser domados ou mesmo penteados. E então para finalizar fez algo inédito até para quando ainda era uma jovem de vinte e poucos anos, passou batom, e um batom puxado para o vermelho. Tinha ganho recentemente de uma de suas alunas de equitação. Fiona encarou o espelho e praticamente não se reconheceu nele. Seu olhar normalmente entristecido dava lugar a seus olhos castanhos, quase negros cheio de brilho e aqueles lábios aumentados pelo carmim do batom. Sentiu-se exagerada com ele e removeu com um pedaço de papel higiênico, mas não adiantava, a cor permaneceria ali mesmo que de maneira suave e respirando fundo partiu.

Fiona raramente saia de sua rotina. A vida dela praticamente girava entorno da fazenda e da necessidade desta. Portanto suas saídas dos limites daquelas cercas brancas que demarcavam os campos dos Calloway eram para ir até a cidade comprar mantimentos e utensílios que seriam usados no trato com o gado e campo. Desde o diagnóstico de câncer em estágio avançado do seu pai, incluiu em sua rotina as idas até o hospital e consultas médicas toda semana, fora isso, Fiona terminava seus afazeres, pegava Raio e cavalgava com ele pelos limites da propriedade, fazia o jantar, tomava seu banho e às vezes ia até a colina e tomava algumas cervejas e então dormia para começar tudo de novo, e de novo. Estava assim havia vinte e dois anos desde que se formou no ensino médio e não lhe foi permitido seguir com seu sonho de cursar a faculdade de veterinária, diferente de suas irmãs que se formaram no curso que escolheram, mas que não exerciam a profissão. A mais velha dedicava-se exclusivamente a vida de dona de casa, sendo aquela mãe engajada nas atividades escolares em que fica responsável pelos eventos estudantis e o que aparece. Kristen é a mãe que as outras mães gostam de seguir e ela ama esse papel, já Reese dedica-se a decoração e é muito bem sucedida nisso, deixando a cargo do marido Adam a responsabilidade pela criação dos filhos a qual ele não reclama, Adam é daqueles pais de dar inveja, não apenas isso, é um marido que qualquer esposa adoraria ter. Amoroso, compreensivo, companheiro e o principal ainda é completamente apaixonado pela mulher que escolheu para ser sua esposa e mãe de seus filhos, e por ela ele faz tudo, até deixa seus desejos e anseios de lado tudo para agradá-la e faze-la feliz. Fiona se ressentia por isso, afinal, ele foi o homem por quem se apaixonou e ainda não conseguiu esquecer, mas era a irmã do meio que ele amava e tinha de aceitar esse destino.

O caminho que a levaria até a oficina mecânica de Ted ficava em uma parte da cidade poupo explorada por ela, podemos dizer por qualquer Calloway. Ted vivia na parte feia, na parte necessitada de atenção, na parte em que os trabalhadores braçais viviam com suas famílias pouco afortunadas. Toda a beleza era praticamente negada aquele pedaço de terra e de gente. Fiona depois de ter parado no mercadinho que sempre ia buscar suas cervejas favoritas sentia-se mal por nunca ter dado atenção a aquele bairro deplorável. Não era medo que sentia e sim uma tristeza pelo descaço dos representantes legais daquele povo que tal como ela pagavam seus impostos e mereciam melhores condições, mas que estavam lhe sendo negado. Casas mal cuidadas, ruas mal sinalizadas e iluminadas.

Fiona estacionou do outro lado da rua da oficina de Ted junto com o crepúsculo. Olhou-se no espelho retrovisor. Ajeitou seus cabelos, agora completamente secos. Resolveu fechar mais um botão de sua camisa, julgou que estava mostrando mais do que deveria, afinal aquilo não era um encontro e sim uma visita de transação comercial, apenas isso e por conta disso sentiu-se ridícula ao olhar para o fardo de cerveja que havia comprado com o intuito de convidá-lo para beber com ela. Resmungando consigo desceu da caminhonete e seguiu com seu passo cabisbaixo até a entrada da oficina que já se encontrava fechada.

A oficina de Ted ficava no final de uma rua sem saída. Era um galpão estreito na frente e atrás deste ficava a sua residência uma casa simples de madeira de dois quartos. Ted nem precisava de tanto, afinal morava sozinho ali. Dizer que morava sozinho era um exagero, tinha Zeus e Apollo como companhia, dois cães da raça Pitt Bull. Zeus o mais velho veio com ele da Florida sua pelagem negra já vinha desbotando junto com a sua idade ficando mais para cinza e Apollo ainda um garotão caramelo que Ted não resistiu e acabou comprando para evitar que animal tivesse um destino de maus tratos nas mãos de uma molecada das redondezas. Eles eram os verdadeiros donos daquela casa e da vida de Ted nesses últimos anos.

Sem rodeios, Fiona deu batidas no portão de ferro, barulho que alertaria os cães que em seus latidos graves informavam a Ted que a visita tão esperada havia chego, mas diferente dela não teve tempo hábil para ficar apresentável, ainda tentava a todo custo tirar algumas manchas de graxa presas em seus dedos. Em passos largos e rápidos retornou para entrada que havia acabado de fechar, se ela tivesse estacionado ali cinco minutos antes ainda o teria pego debaixo de algum dos carros que ali permaneciam esperando seu conserto.

— Apollo! Zeus! — Ted gritou com os cães que saíram em disparada pela oficia adentro. — Voltem! — os animais pararam e encararam o dono que se mostrava sério e o tom de sua voz indicava uma ordem que eles resignadamente obedeceram insatisfeitos. Ted fecharia a porta atrás de si impedindo uma nova aproximação e seguiu para a porta lateral do portão principal e ao abri-la pode vê-la novamente com toda a sua graciosidade que ele tanto apreciou desde a primeira vez que se viram.

— Desculpa pela hora, não consegui vir antes. — Fiona abaixou momentaneamente o olhar assim que o avistou passando mecanicamente as mãos sobre os cabelos colocando atrás da orelha.

— Não tem problema. Vantagens de se morar no trabalho. — Ted sorriu encorajando a moça a fazer o mesmo, a última vez que se viram na fazenda ela lhe brindou com um sorriso tão largo que mostrou lindas covinhas de brinde. Só que desta vez não foi o que aconteceu, a moça estava séria.

— Bom aqui está seu pagamento. — Fiona completamente sem jeito e incomodada ali na presença dele, definitivamente havia algo nele que mexia com ela e não estava sabendo lidar com isso e então ela enfiou a mão no bolso traseiro para pegar o dinheiro.

— Não faz isso aí. — Ted abriu espaço para que ela entrasse. — Sou um desajeitado e nem te chamei para entrar, por favor.

Ted deu alguns passos para trás e acionou o interruptor, imediatamente as luzes incandescentes se acenderam iluminando todo o recinto. Fiona ficaria impressionada com a limpeza e organização nem de perto lembrava a oficina bagunçada e suja do senhor Johnson. Sentiu-se até envergonhada o seu celeiro era um verdadeiro caos diante do que Ted mantinha ali.

— Aqui é bem organizado, meus parabéns.

— Tenho algumas manias e organização é uma delas.

— Uma ótima mania.

— E o que me diz?

— Do que? — Fiona ainda estava impressionada com a arrumação onde tudo se encaixava, as ferramentas bem posicionadas, sentiu que ela poderia achar o que fosse ali sem muito esforço.

Ted a observa com interesse. Via os olhos castanhos dela indo e vindo por todas as direções, sentiu-se envaidecido: — A caminhonete. O conserto.

— Ah sim! — e então ela finalmente deixou que seus olhos se encontrasse pela primeira vez naquele fim de dia. — É praticamente outra caminhonete. Está como zero.

— Não precisa exagerar.

— Mas é verdade! — e sem perceber ela lhe tocou no braço. Fora um toque rápido e totalmente inocente de sua parte, mas que de alguma forma a incomodou por dentro de tal forma que ela retirou sua mão tão rápido quanto colocou. — Bom aqui está. — e para se livrar daquele desconforto decidiu acabar logo com aquilo e lhe entregou o pacote com o dinheiro do conserto.

Ted pegou sem que seus dedos se encontrassem, ele pode ver o constrangimento no olhar dela quando esta se adiantou em pagá-lo após o toque sutil no seu antebraço.

— Não vai contar?

— Preciso?

— Não sei, vai que estou te dando calote. — e então ela esboçou um comecinho de sorriso, mas que não foi terminado ficou ali apenas na intensão.

— Confio em você.

— É então é isso. Obrigada de novo Ted pela dedicação, pelo conserto daquela velharia.

— O prazer foi todo meu.

E sem demonstrar qualquer tipo de abertura Ted a levou de volta até a porta. Ela estava muito diferente do dia na fazenda, quase não reconheceu a moça que lhe deu vários sorrisos e gestos animados. Talvez devesse estar mais apresentável como ela demonstrava. Ele assim que abriu a porta pode sentir o cheiro de banho tomado. Aquela mistura gostosa de sabonete com shampoo e o que ela estava tendo dele era o resquício de um dia árduo com muito suor e graxa misturado, fora a roupa limpa e bem cuidada que ela vestia contra a toda suja e encardida dele. De toda forma não achava que a mudança em seu comportamento fosse apenas por causa disso, havia mais camadas a serem descascadas. Ele sabia que tinha diante de si uma mulher com feridas, sabia reconhecer aquele olhar meio perdido que ela carregava e que às vezes, levemente deixavam ser guiados por emoções amenas, mas agora ela estava lutando contra elas, deixando apenas o lado obscuro lhe guiar. Ted estava certo. Quando ela o viu assim que este abriu a porta sabia que estava perdida. Aquele momento fora crucial para saber que ele atraia de todas as formas. Ele podia estar com o cabelo ensebado e a roupa suja com o cheiro de um dia de trabalho e mesmo assim sentir-se compelida a jogar-se em seus braços e deixar com que fizesse dela o que bem quiser e então por conta disso deixou que seu instinto de proteção tomasse conta dos seus anseios, vontade e desejos. Lembrou de todo sofrimento da última vez que se permitiu ser guiada por esses sentimentos travessos e não estava disposta a passar por uma nova decepção, não mais. Seguiria fechada e o melhor que podia fazer era dar o fora dali o mais rápido. E como um alívio caminhou rapidamente para o lado de fora daquele recinto impregnado de desejos.

Não havia mais palavras a serem trocadas. Então se despediram apenas com olhares. Ele esperou que ela entrasse na caminhonete para fechar novamente o portão e escutar os grunhidos de lamentação de seus cães.

— Calma. Já estou indo.

Antes deixou o envelope dentro da gaveta de sua mesa no escritório sem conferencia, apenas com a certeza de que desejava vê-la novamente e quem sabe acontecesse de outra forma.

— Quanta reclamação! — Ted disse rindo a Apollo que pulava em suas pernas em agradecimento quando este liberou a barreira que o impedia de ir e vir com toda a liberdade que seu dono lhe criou. Apesar de ser de uma raça assustadora para a maioria das pessoas a criação de Ted com estes animais os faziam o ser mais doces de que se podia imaginar. — Vem pra dentro Zeus. — Ted chamou o mais velho e experiente que diferente do seu irmão mais novo ficou apenas pulando em seu dono seguind com seu faro apurado pela oficina indo direto para a entrada onde a dona daquele cheiro novo e intrigante tinha estado pela última vez. O cachorro arfou um pouco mais alto e raspou suas patas na porta. Era um gesto conhecido de Ted quando o animal indicava que alguém estava ali. — Vem Zeus! A moça já foi.

Ted bateu as mãos na perna chamando Zeus que ainda com relutância voltaria para perto do dono o seguindo para os fundos em direção a casa. O dono afagou sua cabeça e seguiu para o chuveiro, não se demorou muito no banho e quando saiu notou que o cachorro velho não estava onde costumava ficar e fora encontrar novamente na entrada da oficina, farejando e arfando para algo que não deveria estar ali, mas que de certa forma ainda estava.

Zeus estava certo em suas suspeitas o cheiro novo que lhe atraiu ainda permanecia nas redondezas, se o seu dono tivesse suas habilidades também saberia. Fiona seguiu para a caminhonete, mas não deu partida assim que entrou. Ela encarou demoradamente o céu crepuscular que escurecia lentamente. Suas duas mãos chegaram a agarrar aquele volante redondo e grande e deixou sua cabeça pender ali por alguns instantes. Primeiro de olhos fechados e quando abrir viu o fardo de seis garrafas de cerveja long neck abandonados no assento ao seu lado. Necessitou de uma para lhe dar coragem de partir dali e nunca mais voltar. Tomou rapidamente nessa necessidade cortante, mas não fora suficiente, ainda não tinha forças para girar a chaves e partir. A segunda garrafa bebia com resignação. Saboreando o seu amargor, tal qual a vida vinha lhe oferendo. Já tinha perdido a pressa, a necessidade de abandonar seu estado de hesitação diante da sua vontade. Ele tinha se fechado. Estava em outro lugar à espera de coisas novas e mais importantes do que ela, assim supunha e por conta disso o susto que levava era genuíno.

O homem estava ali batendo com os nos do seu dedo em sua janela fazendo sinal para que permitisse a sua entrada do lado do passageiro. Ele estava um pouco diferente de minutos atrás. Ainda tinha água acumulada em seus cabelos que desciam em pingos molhando sua camiseta preta. Fiona liberou a passagem para ele segurando firme a garrafa pela metade em sua mão.

— Aconteceu alguma coisa? — Ted segurava a porta da caminhonete aberta encarando Fiona com surpresa. — Vai dizer que não pegou.

— Não. Está tudo certo com ela. — Fiona com a mão livre acariciou o volante.

Ted permaneceu lhe olhando sem entender o motivo dela ter permanecido ali e Fiona também não saberia explicar e por conta disso fez o que tinha vontade de ter feito, quando parou no mercadinho e comprou aquelas cervejas.

— Quer tomar uma comigo? — Fiona mostrou a garrafa em sua mão para Ted.

Ted não respondeu em palavras, mas em gesto. Pegou o que sobrava do fardo e sentou em seu lugar. Retirou uma garrafa e as outras acomodou no assoalho próximo aos seus pés descalços e deu um longo gole. Fiona o observava atentamente até que deixou-se levar sentando de forma mais relaxada e tornando a beber de sua garrafa.

— Eu trouxe para nós. — Fiona quebrou o silêncio.

— E o que te fez desistir? — Ted não a encarava, apenas apreciava a lua que despontava no horizonte.

— Que talvez você não bebesse. — Fiona mentiu e Ted percebeu na entonação de sua voz.

— Agora sabe que bebo. — Ted lhe entregou outra garrafa e se serviu de uma nova. — Quando precisar de companhia estou aqui. — Ted deu um longo gole em sua garrafa, mas não o suficiente para acabar com todo o seu conteúdo e então desceu da caminhonete e ao fechar a porta se despediu de Fiona: — Tenha uma boa noite e cuidado... — apontou para a garrafa em sua mão. — Dirija com cautela para nenhum policial te parar no caminho, mas se acontecer, me ligue que vou te buscar.

Ele não esperou que ela lhe dissesse algo. Seguiu seu caminho de volta ao lar terminando de tomar sua bebida e descartar a garrafa próximo ao meio fio. Ela o observava atentamente e quando se encontrou novamente sozinha terminou o que restava da sua e partiu com todo o cuidado.




Uma semana havia se passado e em todos os finais de tarde, mesmo ao galope com Raio, Fiona pensou sobre aquele lance da cerveja. Se questionava se ele estivesse falando sério ou apenas disse aquilo para que ela não se sentisse patética. De toda forma ela gostaria de vê-lo novamente, nem que fosse ao longe, mas não esbarrou com essa possibilidade em nenhuma das vezes que fora até a cidade e não seria por falta de procurar. Fiona olhou atentamente por todas as ruas, vielas e estabelecimentos que passou, talvez ele fosse como ela, focado demais no trabalho para ficar zanzando por aí.

— Sua burra! Surda! Me passe a droga das ervilhas! — Robert com toda a grosseria que lhe cabia tiraria Fiona de mais um dos seus constantes devaneios desde que conhecera Ted.

— Desculpa pai. — Fiona resignada passou a tigela com as ervilhas para seu pai. — Estava com o pensamento longe.

— Posso saber no que a mocinha tanto pensa? Nem sabia que era capaz disso.

— Pois é! — Fiona alterou seu tom de voz para um grau mais alto. — Eu também consigo pensar, ficar preocupada, essas coisas.

Dizendo aquilo levantou da mesa levando seu prato ainda cheio para a pia. Novamente Robert conseguira fazer com que ela perdesse a fome.

— Não vai comer?

— Não. Vou deixa-lo em paz. Depois eu volto para limpar.

Ela deixou a cozinha escutando murmúrios de algo que parecia injurias e com passos largos seguiu até o celeiro, entrou em sua caminhonete e partiu com um destino certo em sua mente e como na semana anterior parou na mercearia que ficava a caminho da cidade. Comprou um fardo de cerveja e seguiu até a oficina de Ted. Em menos de trinta minutos estava ali estacionada encarando a fachada descascada do local de trabalho do homem que não saia de seus pensamentos e se questionando se estava fazendo a coisa certa e novamente seria surpreendida por batidas no seu vidro. Ele estava ali com aquele olhar que a penetrava e intrigava ao mesmo tempo. E antes que pudesse abaixar seu vidro assustou-se com o pulo de um belíssimo cachorro de cor caramelo. Ted vendo que Fiona se encolheu puxou Apollo para mais perto do seu corpo permitindo assim que ela abrisse sem medo sua janela.

— Desculpa por esse rapaz aqui que não tem muito modos. — Ted lhe ofereceu um sorriso largo como recompensa.

— Como esse garotão xereta chama? — Fiona recuperada do susto abriu toda a sua janela e se permitiu debruçar encarando o animal que tinha lhe afrontado.

— Apollo. — Ted respondeu afagando seu amigo.

— Não temos apenas um... — Fiona com a cabeça apontou para o outro mais contido que estava na guia da outra mão de Ted. — e esse quietinho é quem?

— Esse senhor de idade é Zeus. — Ted retribuiu o gesto que havia feito no outro em Zeus que apenas grunhiu em agradecimento ao receber o carinho de seu dono.

— São lindos. Mas ao mesmo tempo assustadores.

— Infelizmente essa é a impressão que essa raça passa e o motivo de tantas pessoas odiarem.

— Concordo. Pitt bull acabam levando má fama por conta de muitas criações. Malditas rinhas.

— Fico feliz em saber que pensa assim e que não tenha preconceito.

— Eu tenho respeito. Sei que sou uma pessoa estranha a eles e que talvez hajam de forma agressiva para se protegerem e aos seus donos, então é sempre bom chegar com cautela e não porque são dessa raça, qualquer uma pode ser um perigo quando confrontada, mas é óbvio que um pitt bull causaria mais estragos do que um chihuahua.

Ted riu alto e Fiona não resistiu e acabou rindo um pouco mais contida, mas de toda forma rindo com ele.

— Vou deixá-los lá dentro e já volto.

Ted correu com eles até o outro lado da rua, abriu a portão da oficina, retirou as guias das coleiras liberando os animais para a busca de água, estavam sedentos após uma longa caminhada seguida de uma corrida com seu dono. Este fechou o portão e correu de volta para a mulher que o aguardava do outro lado da rua sem saída em que morava. Fiona o esperava com ansiedade segurando o fardo que trouxera em seu colo e então Ted sentou-se ao seu lado e ela sentiu uma calma lhe preenchendo a alma. Estendeu a ele uma garrafa e também se serviu de uma. Bateram ambas de leve uma na outra e juntos tomariam o primeiro gole.

— Fiquei contente que voltou. — Ted quebrou o silencio logo após desfrutar do sabor amargo da sua bebida favorita.

— Sério? Fiquei na dúvida se devia. Talvez você tivesse falado aquilo só para ser gentil, mas eu realmente precisava sair de lá hoje e respirar.

— Semana difícil?

— Está mais para um pai difícil.

— Percebi que ele não é fácil naquele dia que estive na fazenda.

— E com a doença só tem piorado. Desde o diagnóstico tá ficando insuportável viver lá com ele.

— O que ele tem? Desculpa se for um incomodo para você...

— Câncer em estágio terminal sem tratamento. — Fiona foi despejando aquilo como em um alívio depois de espirrar. — Eu sei que receber uma notícia dessa deixa qualquer um transtornado, mas que culpa tenho?

— Nenhuma.

— Pois parece que ele acha que a culpa é minha, pelo menos é assim que ele achou que deve lidar. E eu estou tão cansada.

Ted viu os olhos de Fiona ficando marejados. Ele também viu quando uma lagrima isolada rompeu o obstáculo que aqueles olhos triste impunham e desceu marcando sua bochecha chegando ao canto de seus lábios, os quais ela abriu apenas o suficiente para sorver mais um gole da cerveja que carregava em sua mão. Ele não sabia como agir naquele momento. Sentia vontade de lhe abraçar, dar conforto em seus braços, mas a postura rígida dela mostrava que ainda não era o momento certo para essa aproximação, portanto apenas permaneceu quieto ali ao seu lado enquanto ela terminava aquela garrafa e encarava o horizonte que como da primeira vez que ali estiveram seguia com a mudança de suas cores se tornando cada vez mais e mais escuro. Terminariam em silêncio cada um a sua bebida e então Ted sentiu que devia se despedir. De novo fez recomendações de cuidado para Fiona em sua jornada de volta ao seu lar, mas diferente da outra vez permaneceu ali na calçada até ela sumir de suas vistas e então só depois entrou em casa e para a recepção calorosa dos seus dois amigos fieis.

Ela seguiria mais leve para a fazenda, apenas com um pouco de compreensão e bons ouvidos sem julgamentos fez com que todos os desaforos que escutou naquela semana se dissipassem do seu peito e ali observando seu pai adormecido na sua velha poltrona sentiu que podia amá-lo como quando ainda era uma criança inocente e ingênua. Desligou a televisão e colocou sobre o corpo daquele homem grande e truculento uma manta, assim o manteria aquecido até que ele acordasse e fosse para a cama. Guardou os alimentos que sobraram e após deixar tudo limpo seguiu para o seu descanso tão merecido e naquela noite adormeceu quase que instantaneamente. E assim mais uma semana passou e conforme o tempo corria a necessidade de renovar suas forças se tornava mais intensa e de novo estava lá estacionada do outro lado da rua com um fardo de cerveja esperando o homem para com ele trocar meia dúzia de palavras e então voltar renovada para sua morada.

Ted seguia com sentimentos muito próximos ao dela. Aqueles poucos momentos dentro da caminhonete velha, mesmo que em silêncio bebericando cerveja já fazia toda a diferença. Porém Ted andava precisando de mais, apenas não sabia como abordar aquilo com ela. A garota se mostrava ainda muito acuada e na defensiva e então naquela noite de quinta-feira, a qual sempre ia até o bar do Wayne assistir algum jogo não resistiu e perguntou sobre Fiona.

— Faz séculos que não escuto esse nome por aqui. — respondeu Wayne para Ted quando este lhe perguntou sobre Fiona. — Depois da confusão que ela armou nunca mais apareceu por aqui.

— O que ela fez? — Ted sentou-se direito na banqueta e tomou um gole de sua cerveja, estava interessado na história que viria a seguir já que o velho barman também se ajeitou do outro lado do balcão.

— Bom deixe-me ver... — o homem se mostrou pensativo. — Isso já tem uns bons anos, Fiona ainda era uma mocinha, se bem que ela ainda conserva esse ar de garotinha, como consegue não sei, já suas irmãs são mulheres deslumbrantes.

Ted não conhecia as irmãs de Fiona, mas mesmo assim discordava da comparação feita pelo velho bêbado. Desde quando viu Fiona com os cabelos molhados em um rabo de cavalo na beira da estrada com o nariz enfiado em um motor do qual ela nem imaginava como funcionasse, achou ela uma das coisas mais bela que já vira na vida e Ted entendia da vida, até mais do que gostaria.

— Ela tinha um namoradinho naquela época e o rapaz se engraçou pela sua irmã...

— Não apenas esse o outro também. — um dos bêbados costumeiro daquele recinto se meteu na história que estava sendo iniciada, este pelos anos de canto naquele balcão descascado e velho, sabia praticamente de todas as histórias vividas pelos moradores de Green River.

— Ah! Sim, mas do outro ela nem se importou tanto assim, deste Fiona gostava. E quando falo que gostava é daquele tipo de gostar de verdade, daquele que daria a vida pelo outro sabe? — aquela era um tipo de pergunta que não necessitava de resposta e por conta disso prosseguiu: — Acredito que ainda goste, por isso nunca mais aceitou homem nenhum em sua vida.

— Tá! Mas o que aconteceu aqui? — Ted com aquela menção de que Fiona poderia estar apaixonada por outro se mostrou inquieto.

— É conta o que aconteceu. — novamente o bêbado entra na conversa e dessa vez recebe de volta um olhar amedrontador de Ted.

— Ela veio beber aqui. Nessa época costumava fazer isso, mas depois desse dia nunca mais e não foi mais em lugar algum, pelo menos não mais em Green River. — o barmam fez sinal para saber se Ted queria outra cerveja já que a sua tinha terminado e para que o homem continuasse aceitou. — Toma. — entregou a garrafa a Ted. — Então onde estava? Ah! Sim. Ela estava bem aí onde você está agora e Matt o filho caçula do John veio abordá-la. O que sei é que ela deu um chega pra lá nele e o rapaz insistiu e então ela começou a gritar com ele e com todos aqui. Dizia que eram para deixa-la em paz, que já não tinha mais nenhuma Calloway disponível se era isso que eles buscavam indo querer algo com ela. Repetiu diversas vezes que as irmãs já estavam casadas e que eles tinham chegado tarde. — o homem parou para respirar e também tomou gole em sua cerveja, Ted o encarava atento tentando digerir tudo que ele havia lhe dito. — Sabe até entendo a revolta da moça, perder um namorado para a irmã não é fácil, imagina dois e um deles ser aquele namoradinho de escola com quem tu acha que vai casar e passar sua vida. Depois disso ela nunca mais voltou. Talvez por vergonha, ou porque desistiu mesmo de tentar arrumar outro namorado. O que sei é ela é a pessoa mais triste que conheço, mas também a mais generosa, o que ela faz pelas crianças da comunidade todo ano na época da independência é muito legal.

Ted sabia disso e concordava com barman. Fiona levava as crianças até a fazenda para uma tarde com os cavalos. Todas que quisessem ganhavam um passeio e depois era servido lanche com bolo e tudo aquilo que as crianças gostavam. Era sempre uma data esperada por todos.

— Já o seu pai. — Wayne recolhe a outra garrafa vazia de Ted fazendo o mesmo gesto para saber se ele desejava outra a qual ele recusou. — As irmãs também não ficam atrás, apesar de lindas são mimadas e arrogantes. Fiona saiu à mãe que Deus a tenha.

— Tá afim dela? — o bêbado novamente entrou na conversa e de novo recebeu um olhar nada agradável de Ted.

— Obrigado. — Ted paga pelas duas garrafas de cerveja levantando para ir embora, já tinha conseguido tudo que viera buscar.

— Olha rapaz, te conheço há pouco tempo e gosto de você, mas pense bem antes de se meter com os Calloway e principalmente com essa garota. A moça já sofreu demais, às vezes é melhor deixa-la assim como está.

Ted não respondeu e seguiu para o lado de fora do estabelecimento. Em suas costas as luzes do letreiro do estabelecimento piscavam dando contorno colorido aos carros ali parados. Antes de subir em sua moto Ted acendeu um cigarro e ficou ali digerindo tudo que havia escutado sobre Fiona. Muito do comportamento recluso e introvertido dela estava explicado depois do que tinha ouvido. Ela também tinha feridas, não como as dele, mas que certamente machucavam e para se manter segura se fechava. Como ele poderia julgá-la, também fugiu dos seus traumas indo para o mais longe que conseguiu. Cada um tinha seus fantasmas e talvez Wayne estivesse certo sobre deixa-la em paz. Era o que faria, não desejava ser responsável por mais feridas, já tinha feito muito estrago nesse mundo. Já tinha muitas vidas para carregar. Muitos fantasmas para lhe observar, não precisava mais de um se pudesse evitar.




Outra sexta-feira. Seria a quinta desde que tomaram cerveja pela primeira vez e então praticamente se tornaria uma regra em sua semana. Porém nesta fechou a oficina mais cedo, logo após o começo da tarde. Foi até a mercearia comprar mantimentos e os ingredientes que precisava para fazer a massa que sua mãe fazia e havia lhe ensinado quando ainda era um garotinho e precisava de disciplina para manter-se calmo e dona Ava descobriu que a culinária para seu Ted era um bom exercício terapêutico. Ali ele podia canalizar suas frustrações e ansiedade batendo seus punhos amassando a massa para uma bela de uma macarronada. Ted era filho de uma filha de imigrantes italianos que com muito orgulho mantinha algumas tradições de família viva, como ali no preparo desde a massa até a pasta com porções generosas de manjericão. Gostavam tanto que Ted tinha plantado em um vaso que ficava na janela de sua cozinha. E com algumas folhinhas finalizou o molho e o reservou para mais tarde. Tinha uma ideia sobre aquela sexta-feira e torcia para que Fiona aceitasse.

Passeou com seus fiéis escudeiros e tomou um banho demorado lavando bem debaixo de suas unhas, seguindo esfregando forte por seu antebraço e onde mais podia conter graxa. Aproveitou e fez também a barba, os cabelos ele já tinha dado um trato no barbeiro amigo ali do bairro. Pediu para que Xavier deixasse as laterais mais baixas, mas sem raspá-la, desde que voltou do Afeganistão nunca mais raspou seus cabelos e talvez nunca mais o fizesse. Finalizou com uma loção pós-barba, sentindo um pouco de ardência em seus poros ainda abertos. O clima já começa a ficar mais frio, por isso, Ted colocou uma de suas blusas de lã na cor preta, a qual tinha um bonito trançado em seus fios, por baixo notava-se que vestia uma camiseta de algodão branca. O jeans escolhido também seguia uma lavagem que se aproximava da cor preta e nos pés manteve sua inseparável bota de camurça na cor bege. Estava bem apresentável e era assim que deseja parecer para ela. Fiona acharia que estava bem mais do que isso. O acharia bonito e atraente como em todos os outros momentos em que passaram juntos, mesmo ele estando suado e sujo ela o achava incrível, mas diferente dele não estava tão arrumada e era disso que ela gostava quando estava ao seu lado. Ela sentia que podia ser ela mesmo sem precisar ficar se arrumando como as suas irmãs faziam para irem em qualquer lugar, mesmo que fossem apenas até a mercearia comprar pão para o café da manhã elas se arrumavam e Fiona achava aquilo um completo exagero. E com ele podia simplesmente entrar em sua caminhonete com seu rabo de cavalo e suas camisas xadrez de flanela e calças jeans que ele a faria sentir-se bem e acolhida, a verdade é que Fiona mesmo estando interessada ignorava que talvez ele sentisse o mesmo por ela.

Há muito tempo não se via dessa forma como um ser atraente para quem quer que fosse, se soubesse, talvez se preocupasse em arrumar seus cabelos e colocar outras roupas mais atrativas como fizera da primeira vez que fora em sua oficina. Por sorte ou por conta do tempo acabou trocando dessa vez suas camisas de flanela e como ele usou um suéter de lã que tinha desde quando era uma adolescente. Época em que passou a usar roupas mais largas. Fiona diferente de suas irmãs não gostava naquela época de roupas grudadas que marcassem seu corpo magro, hoje em dia já não se importa tanto com isso, com a idade adquiriu um pouco mais de curva, sua cintura mais afinada em relação aos seus quadris, mas seu ponto alto sem dúvidas ficava em seus seios mais generosos do que das suas irmãs. Fiona tinha um colo lindíssimo e nunca ter sido mãe fazia com que ainda em sua idade mantivessem em pé e firmes. Ted já tinha notado esse atributo graças às camisas que ela usava com os botões mais abertos, e o cordão que caia entre eles que em diversas vezes escondia o pingente de uma gota de safira que fora de sua mãe. Só que naquela noite quando Fiona estacionou e Ted veio como de costume em sua direção lhe fazendo o convite para que jantassem juntos ele apenas viu o filete deste cordão perto da gola daquele suéter azul escuro que escondia aquele belo corpo, mas ele não se importou, afinal para ele, Fiona era linda de qualquer forma.

Ela fora pega de surpresa com aquele convite. No começou sentiu relutância em aceitar. Ted insistiu alegando que mais dois nobres convidados Apollo e Zeus estavam loucos de vontade de conhecê-la.

— Isso é jogo baixo! — Fiona respondeu tirando a chave da ignição e pegando o fardo de cerveja que trouxera.

— Desculpe, mas é verdade. Eles ficam o tempo todo perguntando quando vão te conhecer.

— Para com isso. — ela riu. — Pronto já estou indo.

Ted deu um soco no ar como se comemorasse uma competição em que havia vencido em primeiro lugar. Com ela ainda sorrindo com suas covinhas amostras a guiou para dentro do seu lar. Passaram pelo arco de entrada e Ted fechou o portão e então em poucos passos Apollo e Zeus já estavam de prontidão e interessados na forasteira que entrava em seu território.

— Sejam bons meninos. — Ted com dedo em riste apontou para ambos que permaneciam em seus lugares, eram bem treinados e somente fariam algo se o dono lhe dessem essa ordem.

— Deixa ver se lembro? Aquele mais novo e clarinho é Apollo?

Ted confirmou com a cabeça, fazendo sinal para o cão e este sentou.

— Hum...então esse com os pelinhos ficando branco no peito é Zeus! — Ted novamente confirma e torna a fazer sinal para o cão e este repete o gesto do seu parceiro mais novo. — Como são bem treinados! E lindos! Será que posso? — Fiona encarava Ted indicando que gostaria de acaricia-los.

— Zeus! Vem cá. — Ted agachou ficando quase da altura do seu cão que parou diante dele. — Essa moça linda quer te fazer carinho. — ele encarava com respeito o seu cão que o olhava da mesma forma. — Vem Fiona.

Fiona agachou ao seu lado e ainda com um pouco de receio passou sua mão timidamente sobre o dorso do cão. O cachorro permaneceu quieto atento ao seu dono que lhe segurava apenas como uma alerta pela coleira. Fiona ia ficando mais confiante e Zeus também mais relaxado e agradecido pelo carinho que recebia. Então Ted fez sinal para que Apollo juntasse a eles, este diferente de Zeus veio mais afoito e quase derrubou Fiona com a sua alegria de poder juntar-se a ele. O novo balançava euforicamente o rabo e queria lamber Fiona a todo custo, e esta passou a rir das investidas do jovem.

— Tá muito saliente rapaz. — Ted o repreendeu dando alguns tapinhas em seu dorso.

— Já sabemos qual é o mais espertinho.

— O mais safado isso sim. Vem vamos senão eles vão te roubar de mim. — Ted levantou e não conseguiu ver o olhar de surpresa que Fiona lhe deu após ouvir o que ele havia lhe dito. — Espero que goste de massa.

Fiona estava ali dentro do lar do homem e tudo ali mostrava que o homem vivia sozinho sem quaisquer vestígios de uma mulher. Ela gostou daquilo. Era uma sala simples, com um sofá de três lugares bem velho, ela podia jurar que ele havia comprado em uma dessas liquidações de garagem, e de fato tudo que estava ali Ted havia comprado dessa forma, até a sua televisão que ainda era daquelas de tubo e que para ele estava de bom tamanho contanto que ele conseguisse ver os jogos de futebol americano do campeonato mais nada lhe servia. Ted gostava mesmo de música e até arranhava algo em seu velho violão o último presente que ganhou de seu pai e o qual foi seu alento longe de casa nos anos que passou de base em base em uma guerra insana.

— É bem aconchegante aqui.

— Não precisa ser educada, é tudo velho e feio isso sim.

— Não acho isso. — Fiona não achava mesmo, ela gostou da simplicidade e isso fez com que gostasse dele ainda mais. — É tudo prático como deveria ser, a gente fica acumulando coisas e mais coisas e para quê?

Ted a encarou com admiração.

— Garota você é incrível. — e de novo ela a pegaria de surpresa com aquele comentário. — Olha eu preciso colocar a água para ferver senão não vamos comer hoje, se importa de me fazer companhia na cozinha? É que quero muito tomar essa cerveja.

Ted apontou para o fardo que Fiona carregava e pegando de suas mãos foi guiando até a sua cozinha estreita. A cozinha era praticamente um corredor retangular estreito, na parede da janela no meio fica a pia e em cada lateral a geladeira e o fogão que sobre ele havia uma panela média e outra grande já com água. Ted depositou o fardo sobre a mesa saída dos anos oitenta, aquelas de fórmica com os tampos coloridos, a de Ted era verde e ficava encostada na outra parede de frente a pia e seguiu ligando o fogo.

— Sente-se.

Ted apontou para uma das cadeiras do conjunto da mesa, com seu assento na cor verde. Basicamente apenas duas pessoas poderiam comer ali e era justamente isso que aquele objeto teria pela primeira vez desde que chegou nesse novo lar. Fiona sentou na que ficava próxima a entrada e Ted lhe estendeu uma das garrafas de cerveja que ela trouxe e também se serviu de uma e como de costume bateram ambas uma na outra desfrutando juntos do primeiro gole.

— Estava precisando disso. — Ted respondeu deixando sua garrafa sobre a mesa, levantou a manga de sua blusa de frio até o meio do antebraço e foi ver a panela no fogão.

— Se soubesse tinha trazido vinho.

— Posso ser sincero?

— Por favor!

— Não gosto dessa frescura. Minha bebida é cerveja.

Definitivamente Fiona gostava daquele homem e toda a sua simplicidade e autenticidade.

— Que bom. Eu também. Quer que te ajude?

— Não senhora! — Ted estendeu seu dedo da mesma forma que fez com Apollo e Zeus que estavam deitados próximo aos pés de Fiona. — É minha convidada, fica aí quietinha bebendo sua cerveja. E também não quero que conheça os segredos de minha mãe.

— Hum! Então temos aqui uma receita de família.

— Pode apostar que sim!

A massa já estava quase no ponto então Ted tornou a ligar o fogo para esquentar o molho e ralou o queijo parmesão reservando em uma tigela. Fiona observa o homem atenta. Concentrado. E por disso sua testa franzia e ela achou ainda mais atraente se é que era possível. O cheiro do manjericão já estava por todo o ambiente e ambos sentiram suas barrigas roncarem. Ted escorreu a massa que havia cortado um pouco mais grossa que um espaguete e rapidamente colocou na travessa de porcelana antiga que sua irmã havia deixado reservada para ele, afinal, esse prato era algo entre ele e mãe e ela sempre servira nessa travessa. O molho fumegante veio logo em seguida pintando tudo com o seu vermelho.

— Isso está cheiroso demais! — Fiona elogiou de forma sincera e Ted com seu sorriso largo colocou a travessa sobre a mesa e sentou de frente para Fiona.

— Bon apetiti!

— Bon apetiti!

De barriga cheia e depois de darem boas risadas juntos Ted começou a recolher a louça suja, Fiona o seguiu com alguns itens e começou a lavá-los.

— Não precisa fazer isso. — Ted diz fechando a torneira logo em seguida.

— É o mínimo que posso fazer em agradecimento.

Fiona respondeu de onde estava, com sua barriga grudada na pia observando a vista que tinha para o quintal de Ted. Aquele terreno se transformava em uma incógnita para ela. Pela fachada não dava para perceber seu tamanho real e era uma propriedade grande. De onde estava tinha vista para um campo com uma linda Álamo que nessa época do ano seguia com a sua coloração ferrugem. Apollo e Zeus adoravam correr por aquele quintal. Ted quando fechou a torneira se posicionou atrás de Fiona e ali também permanecia, sentindo o cheiro de maçã verde quem vinha de seus cabelos. Ela podia sentir que a respiração estava ficando mais pesada e ofegante e seu calor aumentar. Alguns fios de cabelo que se soltaram do seu rabo de cavalo frouxo se arrepiaram junto do seu couro cabeludo conforme o ar quente da boca dele encontravam com sua pele.

Nesse instante ambas mãos dele se apoiaram sobre a pia uma de cada lado do seu corpo. Fiona abaixou os olhos e as observou com cuidado. Grandes de dedos longos de unhas roídas e com veias saltadas. Subitamente ela desejou ser enlaçada por elas e acariciada. Permaneceu ali estática em seu desejo quase prendendo sua respiração com medo daquela sensação de borboletas no estomago irem embora da mesmo forma que apareceram: de repente.

Fechou os olhos, desejou ficar ali com ele daquela forma pelo resto de sua vida. Ela podia sentir a ponta do nariz achatado dele roçando em seu cabelo. Ele a cheirava como se fosse uma flor exótica, um cheiro nunca antes sentido por ninguém. Ted de olhos fechados, também sentia algo diferente e bom passando pelo seu corpo e tal como ela desejava permanecer ali o máximo que pudessem. Fiona deixando o instinto lhe guiar ofereceu a ele um pouco mais da pele do seu pescoço alongado. Uma pele muito branca com vários sinais. Pintinhas espalhadas como uma constelação, guiando o lábio do homem para o prazer, para lhe dar prazer. E os lábios dele tocaria pela primeira vez nessas semanas de encontros despretensiosos, de encontros muitas vezes silenciosos, mas principalmente de encontros desejados por ambos, os encontros que acalmavam suas solidões e que naquela noite estava alcançando objetivos maiores.

Por um breve momento Fiona subiu seus olhos quando os lábios dele comprimiram o lóbulo de sua orelha esquerda e ela viu a ambos pelo reflexo no vidro da janela a sua frente. Ele todo em sua volta de olhos fechados lhe lambendo na orelha enquanto também ofegava, a excitação já estava em toda Fiona depois de ter se visto daquela forma tão completamente desejada por aquele homem, virou rapidamente o seu corpo ficando diante dele e reivindicou aqueles lábios carnudos para o seu. Sem a gentileza que ele fazia. Ela fazia com urgência como uma necessidade extrema. Ted correspondeu aquele apelo e enlaçou o corpo magro e aparentemente frágil dela trazendo para dentro de si, entre seus músculos e seu calor, no seu aconchego e proteção e principalmente para sua mais completa excitação.

Ele a quis desde o momento em que tomou com ela o primeiro gole de cerveja. Ele a quis quando ela baixou a guarda e esboçou o começo de um sorriso lá no estacionamento da loja do senhor Maxwell. Ele a quis quando ela finalmente gargalhou pela primeira vez mostrando a ele que possuía o sorriso mais lindo de todo o mundo. E ele estava ali a querendo, a desejando mais e mais conforme os lábios dela pediam mais pelos seus. Quando o corpo dela tremia a cada toque de suas mãos por suas costas, ou quando essas suas mãos largas, fortes e firmes seguraram em seus cabelos a fazendo gemer. E ele a teve quando a levou para seu quarto e tirou sua roupa casual, comum, de todo dia. A roupa sem pretensão, a roupa que não indicava em nada de que a noite poderia acabar dessa forma, a roupa que o excitou ainda mais justamente pela surpresa do acontecimento. Do inesperado com ela sobre seu corpo jogando seus quadris para frente e para trás, lhe encarando com seus olhos grandes e redondos, ali sem a marca da tristeza costumeira, mas com a luxuria estampada. E então depois de tudo com ela deitada ainda ofegante sobre seu dorso nu, sem pelos e suado e mais tarde lado a lado adormecidos e encaixados em compasso. 

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