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Capítulo 40

— Acho que vai ter que por rodinhas para ele conseguir pelo menos ficar em cima dela. - Meu irmão zomba.

Me sento na calçada de algum vizinho, cansado de todas as tentativas. Limpo o suor que escorria pela minha testa, ainda escutando a risada do meu irmão.

Fiquei feliz pela Ruivinha ter ficado até tarde para eu não correr o risco de passar tanta vergonha com as pessoas andando na rua.

— Dessa vez você andou por .... Dois metros? Já é alguma coisa. - Ela tenta me animar.

— Eu acho que esfolei minhas mãos nesse chão de tanto que cai. - Ironizo.

— Você não tá conseguindo, porque está com medo. - afirma meu irmão, pegando a bicicleta jogada no chão. — Se uma barata entrar no meu quarto e eu ficar com medo de matá-la, ela nunca vai sair.

— Você nunca matou uma barata na sua vida, garoto. -Bufo, achando graça na comparação dele.

— Porque eu tenho você para matar. - Ele se justifica. — Então se você tivesse medo, ela nunca sairia.

Ed se concerta, inclinado a bicicleta na minha direção.

— Acho que já estou ralado o suficiente por hoje. - Invento uma desculpa, minha motivação agora está focada em outra coisa, ou pessoa.

— Posso andar nela então? - Pergunta, claramente mais animado que eu.

— vinte minutos.

— Trinta? - Retruca.

— Vinte e cinco.

Não precisou ser dito mais nada para ele pular em cima dessa coisa que não gosta unicamente da minha pessoa.

A Sam ri, observando meu irmão sair na maior velocidade possível.

— Você foi incrível. - Ela murmura, se sentando ao meu lado. — Para quem nunca andou.

— Me diz uma coisa que eu não sou incrível? - Brinco, ganhando uma gargalhada suave em troca.

— Conselhos péssimos? - Ela sugere, tombando a cabeça para o lado, me olhando.

— São horríveis, mas podem funcionar. - Dou de ombros. — Você pode comprovar isso.

— Quê?

— Naquele dia no boliche, eu disse que transava para esquecer, e advinha só? Você usa muito bem o meu corpinho.

— Ele serve mais do que isso pra mim. - Ela suspira.

— Isso significa que eu sou muito bom?

— Você é um convencido, nada humilde e... não poderia estar mais certo. - Ela diz, pegando uma das minhas mãos. — Não dói?

Pergunta, passando os dados pelos arranhões minúsculos na palma da minha mão.

— Não. - Fixo o olhar nos dedos dela passando pela minha mão cuidadosamente. — Você não deveria ir embora? Está tarde.

— Deveria. - Ela responde de maneira simples, sem dar muita atenção. — Por que você disse que não voltaria para a faculdade naquele dia?

Seus olhos curiosos focam em mim.

— Eu tinha esse sonho bobo da faculdade a muito tempo, mas tive que abrir mão pelo Ed, prometi a mim mesmo que quando eu tivesse condições, tentaria novamente, mas meus sonhos de anos atrás não são o mesmos de agora.

Ela me ouve com atenção com as sobrancelhas franzidas.

— E quais são seus sonhos agora?

Desvio o olhar dela, tentando pensar em algo, depois de alguns segundos em silêncio eu percebi que sou um homem sem sonhos.

— Acho que nenhum.

— Isso me parece deprimente. - Sam murmura, olhando para frente. — Eu também não.

— Acho que demos tudo de nós para as pessoas em nossa volta e nos perdemos por completo. - Suspiro, vendo meu irmão andando de um lado para o outro com a bicicleta, como se fosse a coisa mais legal do mundo. — Mas eu faria tudo de novo.

— Ele tem sorte de ter você. - Ela comenta, olhando para o mesmo lugar que eu.

— Ou ao contrário, Já pensou eu ter que viver tudo sozinho? Seria mil vezes mais triste.

— Dois sortudos então. - Ela me olha. — Vou sentir sua falta lá, quem mais vai me distrair nas aulas chatas?

— Está tentando me comover? -Pergunto num tom sarcástico, me levantando logo em seguida.

— Eu? Jamais. - Ela responde no mesmo tom. — Acho que essa é a hora que eu me despeço de você.

Acho que era para ser uma afirmação, mas soou como uma lamentação.

— Poxa, Quem vai me consolar caso eu fique muito triste? - Faço a mesmo que ela, ganhando uma sorriso travesso em troca.

— Já que você insiste, não precisa se ajoelhar.

— Depois eu sou o convencido.

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