❥ CAPÍTULO UM
Em um dia, você conhece uma pessoa, se apaixona por ela, por todos os seus detalhes e em um dado momento decidem juntos que é hora de dar um passo a mais na relação. Você tem medo, porém cede, acreditando que na vida as vezes é necessário correr certos riscos.
E eu estou correndo.
Meu sonho está arruinado, meu coração está destroçado, a dor em meu peito é dilacerante. Sinto que o chão foi tirado dos meus pés e estou sendo engolida por uma densa massa de tristeza e decepção.
Nem consigo descrever ao certo os meus sentimentos.
Continuo correndo sem direção, ao fundo ouço as vozes de pessoas que se importam comigo gritando o meu nome, mas não dou ouvidos.
Sinto olhares piedosos e curiosos me seguindo enquanto corro. Eu entendo, não é todo dia que você vê uma garota usando vestido branco de seda, luvas e véu correndo por aí com os cabelos bagunçados, maquiagem borrada e com lágrimas molhando todo o seu rosto.
Minha respiração está ofegante, paro de correr e respiro fundo, passando as costas das mãos em meu rosto secando as lágrimas que insistiam em cair.
Percebo que estou bem longe da capela em que iria acontecer a minha tão sonhada cerimônia de casamento e sinto novamente meus olhos marejarem.
Em gritos internos e abafados rasgo todo o maldito vestido, o qual eu sonhei e planejei durante seis meses, foram várias idas a costureira. Ele tinha ficado perfeito.
Por mais que eu gritasse ou sussurrasse, ele não ia entender a dor que está me causando. Ele destruiu todo o conto de fadas que havíamos construído em cinco anos de relacionamento.
Guiada pelo sentimento de anestesiar a minha dor, estou sentada em uma mesa de bar.
— Dia ruim? — Ouço uma voz e me assusto olhando para frente. Um homem me analisa por entre os fios de cabelos castanhos que lhe caiam em frente aos olhos, o mesmo me serve uma dose de um líquido transparente. — Por conta da casa.
Estive divagando em meus pensamentos que esqueci de fazer o pedido.
— Você não faz ideia. Obrigada. — Agradeço, virando todo o líquido de uma vez. Torço o nariz fazendo uma careta, não estou acostumada com bebidas alcoólicas.
— Ei, vai com calma. — O homem diz, me servindo mais uma dose. Aceito de bom grado e mais uma vez devolvo rapidamente o copo vazio.
Olho ao redor e, mesmo estando em um bar, consigo visualizar alguns casais felizes e isso me fez lembrar de Richard e da minha humilhante situação. As lágrimas voltam a banhar o meu rosto e rapidamente eu as limpo.
— Não precisa se envergonhar delas, querida. — O barman diz, me oferecendo um lenço.
Apanho o tecido e seco as lágrimas, aproveitando para limpar um pouco da maquiagem que provavelmente está sujando todo o meu rosto.
— Obrigada. — Falo ao devolver o lenço.
— Não por isso. — Ele sorri e guarda-o no bolso da frente do uniforme preto.
— Me chamo Jane e acabo de ser abandonada no altar. — Sorrio sem ânimo — Por isso a roupa e a maquiagem borrada.
— Isso nunca teria passado pela minha cabeça. — O barman diz, enchendo o meu copo mais uma vez. — Quer saber o que pensei?
Aceno que sim com a cabeça e bebo o líquido do copo.
— Imaginei que você tivesse saído de uma festa a fantasia e você estivesse fantasiada de "A Noiva Cadáver." — O homem sorri e percebo como ele é bonito, seus cabelos castanhos enrolados nas pontas insistiam em cair sob seus olhos. — Me chamo Jack, o barman.
Jack adiciona mais um pouco do líquido em meu copo e sou surpreendida ao vê-lo apanhar mais um copo e o enchê-lo também com o líquido transparente. Leva o copo até os lábios e ao tomar o conteúdo joga a cabeça para trás. Quando volta a me olhar, seus olhos castanhos estão em um tom mais forte. Desvio meus próprios olhos, bebendo o álcool do meu copo.
— A pessoa que te deixou não sabe o que está perdendo. — Diz Jack, sorrindo.
Solto uma risada fraca, eu odeio frases feitas.
— Claro.
— Você é uma mulher muito bonita. — O barman diz, pegando em minha mão. Olho para o gesto sem saber ao certo que tipo de reação era suposto eu ter, deixo meu olhar pousado em nossas mãos até que Jack as retire. — Acredite, você não perdeu nada.
— Obrigada, Jack. — Respondo, olhando bem em seus olhos negros. — Você encontra muitas histórias como está nesse balcão?
— Você ficaria surpresa com as histórias que eu escuto por aqui. — Fala rindo. Jack volta a encher nossos copos e o silêncio paira entre nós dois; é um silêncio confortável.
— Obrigada mesmo, Jack. Eu não pensava em encontrar palavras de consolo em uma mesa de bar, vindas de um desconhecido. — Digo, quebrando o silêncio.
Jack sorri abertamente.
— Não sou mais um desconhecido, você sabe meu nome. — Ele ri erguendo o copo para a boca e jogando a cabeça para trás, isso faz seus cabelos castanhos serem levados para trás também e essa cena me tira toda a força.
— Você me entendeu! — Exclamo, batendo em seu peito. De onde tirei coragem para tocá-lo? Jack sorri e umedece os lábios.
— Eu entendi, minha querida, estava apenas brincando com você. — Seus olhos castanhos me olhavam com intensidade.
A cada virar de copos minha dor se amenizava e Jack se mostrava um homem incrível e muito gato. Ali, entre suas pausas para atender os clientes, mantivemos uma conversa animada e descontraída. Ficamos até o bar ficar vazio.
Estou parada com Jack em frente ao bar, vendo-o passar a chave no cadeado.
— Me sinto levemente alto. — Ele diz, suspirando e passando as mãos pelo cabelo.
— Eu também, no fim o dia não terminou completamente ruim. — Falo, sem pensar.
— As coisas acontecem como devem acontecer. — Nos olhamos e caímos na gargalhada.
— Jack? — O chamo.
Não sei ao certo para quê.
— Hum? — Me olha diretamente e seus olhos são de um negro muito intenso. Devido a quantidade de álcool em que ingerimos, eles possuíam leves traços de vermelho onde deveriam ser brancos.
— Posso te beijar?
— Esperei por isso a noite toda, querida.
Continuo encarando aquela imensidão escura de seus olhos, meu coração está acelerado, minhas mãos tremiam e eu as sentia suar frio. Me pego lembrando da sensação de estar no altar, esperando quem eu até então pensava ser o meu príncipe encantado. Sinto as lágrimas brotarem em meus olhos novamente.
— Eu não consigo. — Minha voz sai embargada.
— Jane. — Ouço-o me chamar, não dou ouvidos e me afasto, caminhando para longe dele. — Jane! — Ouço-o gritar meu nome e passos apressados estão atrás de mim. Jack me puxa pelo braço e me pega em um abraço caloroso.
— Jack... — Tento dizer, mas não consigo, sou tomada por uma enorme onda de choro.
— Shh... Deixa sair. — Ele me mantinha em seu abraço, fazendo carícias em meus cabelos.
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