Cap. 08
DUAS semanas tinham se passado e, por incrível que pareça tudo estava tão normal quanto antes. Todos viviam suas vidas normalmente, inclusive Quele, ela ainda permanecia em minha casa e custei para perceber o quanto o paradeiro nela era nítido esse tempo todo.
Ver meu lar movimentado me trouxe uma sensação prazerosa de paz, Pandy estava amando toda aquela bagunça, Diana todos os dias ficava conosco e eu nem preciso dizer o quanto as duas se tornaram grandes amigas em tão pouco tempo. Estamos indo ao shopping no carro de Diana e Quele não parava de falar o quanto São Vicente lembra algumas cidades de época, ela parecia deslumbrada com tudo e bem confortável por não estar em sua matilha.
Diana também se aproveitou da oportunidade para colocá-la em sua lanchonete como atendente e a mesma volta todos os dias contando suas histórias de trabalho, acredito que por ser irmã do alfa, ela não podia fazer quase nada e viver apenas em uma casa servida de tudo e por todos. A admiração em saber que é capaz em seus olhos, aqueceu ainda mais meu coração e me faz questionar o quanto ela deve ter se sentido sozinha esse tempo todo, assim como eu.
— Será que podemos comer aquelas comidas? — Indagou Quele.
— Quais? — Perguntou Diana.
— Acho que é Burguer King o nome, meu irmão nunca deixou eu comer essas coisas. — Revirou os olhos e se jogou no banco. — Segundo ele, isso mata os lobos e que comida de humanos são nojentas.
— Como se não fizéssemos coisa pior. — Disparei.
— Realmente. — Rimos.
Estávamos nos aproximando do shopping e um cheiro delicioso subiu pelas minhas narinas, Rubi se animou e eu realmente pensava se teria que me trombar com ele justamente na presença da minha amiga e de sua irmã. Quele é um pouco ousada e não tem medo dos desafios, tenho certeza que ela daria a vida para qualquer decisão que ela tomasse. Ela sempre está a com os pés no chão sobre o que pensava e não voltaria atrás.
— Ele está por perto.
— Eu achei que foi apenas um reflexo, não queria falar para não te deixar mal. — Segurou minha mão em conforto.
— Mas ela iria sentir de longe, não? Afinal, são companheiros. — Mencionou Diana.
— Faz sentido. — Quele inclinou a cabeça para o lado. — Mas vamos ignorar ele o máximo que pudermos.
— Reinam também está aqui. — Inspirou o ar e se virou para nós encarar. — Parece que estão juntos, podemos ir a outro lugar se quiserem.
— Relaxa, podemos ficar e poupar gasolina. — Finalizei tendo confirmação das meninas.
A verdade é que, eu precisaria enfrentar o que quer que fosse algum dia, certo? Então fugir não seria a solução, essas duas semanas me fizeram perceber que eu não seria rejeitada e que eu não poderia rejeitar ele de qualquer forma, o que me restava era ser resistente como fui esse tempo todo.
Quatorze dias foram o suficiente para me convencer a deixar tudo o que me fazia mal para trás, inclusive aquele passado. Ainda tinha coisas que me faziam questionar tudo o que aconteceu desde que me conheço por gente - até porque a aparição de Danilo não significa que irei ceder tão fácil assim -, mas não poderia ficar o tempo todo presa onde eu sabia que se eu caísse novamente, não conseguiria mais sair daquele fundo de escuridão.
Saímos do carro assim que fora deixado em uma vaga no estacionamento e caminhamos em direção ao elevador. Fomos para o último andar para fazer compras e de verdade, não achei que iria encontrar alguém que amasse fazer compras mais do que Diana, por sorte tem Quele para nos surpreender.
— O que vocês acham de comprarmos vestidos? — Quele se pronunciou enquanto nossas pernas nos levavam para algum lugar sem um rumo específico. — O verão está chegando, então é melhor estarmos preparadas.
— Estou precisando da uma repaginada em meu guarda-roupa, ele está bem cafona. — Diana deu de ombros e entrelaçou nossos braços.
— Eu não sou muito exigente, então o que vocês acharem melhor, irei. — Mandei por vencida sendo arrastada pelas meninas.
Ficamos horas escolhendo entre vestidos lisos e estampados, acabou que levamos metade de cada e saímos cada uma com quatro sacolas em mãos. Caminhamos em direção à praça de alimentação, especificamente para o Burguer King e Quele não parava de respirar fundo suspirando pelo lanche que foi pedido, ela parecia muito empolgada e com razão, sempre que eu tinha a oportunidade também ia correndo me lambuzar no BK.
Estávamos na fila quando senti o cheiro de Danilo ficar mais intenso e próximo demais, fingi que nada estava acontecendo até ouvi a voz de Reinam.
— E aí, meninas? — Diana se jogou nos braços dele, o fazendo pender um pouco para trás.
— Olá, alfa Reinam! — Eu e Quele o cumprimentamos sorrindo.
— Sem formalidades. O que pediram? — Disse após beijar uma carrapata que estava em sua cola.
— Eu pedi um whopper. — Disparou Diana parecendo uma criança.
Tinha esquecido do quanto ela era bobona com seu companheiro. Não era sempre, mas sempre que ficavam separados por muito tempo, era essa melação.
— Eu também pedi o mesmo que ela e um balde de batata frita! — Quele falou batendo palma e dando pulinhos, ela realmente estava muito empolgada com os lanches.
— Você não deveria comer isso. — Revirei os olhos sem perceber, estava demorando para alguém aparecer.
— Não, mas é algo que eu quero e você não vai me impedir! — Ditou firme.
Olhei por cima do meu ombro para o ver o loiro atrás de mim e ele me encarava sem expressão, porém seus olhos variam meu corpo e comecei a sentir arrepios por minha espinha e antebraços. Desviei o olhar para qualquer outro coisa que não fosse ele, mas meu corpo só esquentava e eu sabia que ainda tinha seus olhos percorrendo por mim.
Nossos nomes foram chamados depois do que pareciam ser tortuosas e longas horas, entretanto foram apenas seis minutos. Pegamos nossas bandejas e nos acomodamos em uma das mais um pouco mais afastadas dos restaurantes, sendo seguida pelos alfas. Quele mal tinha sentado quando começou a devorar o hambúrguer, seus olhos criaram um brilho especial após a primeira mordida, parecia realizada e maravilhosa com a sensação de comer besteirnhas pela primeira vez.
Seus dentes alternavam entre cravá-los no hambúrguer ou nas batatas, sério ela tava devorando tudo como se fosse a última gota de água do planeta. Eu fiquei um pouco horrorizada, mas parei com o julgamento apóse lembrar que quando pedia e levava para casa, comia exatamente dessa forma.
Diana e Reinam estavam comendo e conversando sobre alguma coisa, pareciam dois adolescentes fofocando. Decidi começar a comer mesmo sentindo que estava sendo observada, não me incomodei e nem me deixei abalar, Quele tinha levantado para ir pedir mais e depois de um tempo, o casal também se levantou para ir em algum lugar, restando apenas eu e Danilo na mesa.
— Você está induzindo-a para fazer coisas que podem fazê-la mal. — O encarei em descrença, logo na minha hora de comer isso tem que acontecer?
— Ela quis experimentar e não vejo mal algum nisso, talvez seja você quem estava a fazendo mal. — Provoquei com um sorriso ladino, ouvindo um inspirar pesado vindo de si.
— Não brinca comigo, Athena. — Ameaçou. — Não posso manter o controle sempre e não queira me ver sem ele.
— Se sente melhor me ameaçando depois de tudo o que aconteceu?
— Não fiz por querer.
— Jura? — Ri de escárnio.
— Não devo explicações por agora, não é o momento.
— E tem momento? — Retruquei.
— Você sempre teve resposta na ponta da língua para tudo, sempre admirei isso em você. — Apoiou os braços na mesa e se aproximou fixando os olhos em mim. — Mas quando tudo for resolvido, talvez você entenda.
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