𝒕𝗿𝗶𝗻𝘁𝗮 𝗲 𝒔𝗲𝗶𝘀. oceano
❛ assim que o dia amanheceu lá no mar alto da paixão, dava pra ver o tempo ruir. cadê você? que solidão. esquecera de mim. enfim, de tudo que há na terra não há nada, em lugar nenhum, que vá crescer sem você chegar. longe de ti, tudo parou. ninguém sabe o que eu sofri ❜
oceano, djavan
Eu queria que minha mente estivesse tão bem organizada quanto minha aparência está. Ou tão bem quanto minhas expressões e reações. Por alguns segundos, penso em ser atriz, porque acredito que esteja fazendo um ótimo trabalho de fingir naturalidade com toda a estranheza que meu coração e cérebro começam a sentir. É um peso miserável e lidar com ele é pior ainda.
Mas a pior parte de toda essa encenação fantasiosa é quando você não só precisa estar bem para um grupo seleto de pessoas, como meus amigos, mas agora também para o mundo todo porque no momento que pisamos nossos pés fora de casa - acompanhadas de jogadores famosos como eles - sofremos com especulações para dar e vender na internet.
Sei que estou fazendo uma grande performance para milhares de pessoas que tiram fotos e vídeos nossas andando pelos lugares mais famosos do Rio de Janeiro. O Cristo Redentor está em frente a mim e estou o encarando há bons 2 minutos, como se suplicasse para que ele me enviasse qualquer mensagem divina de que estou tomando a melhor decisão quando se trata de Jude, porque não parece na maioria das vezes que penso sobre.
Sinto uma mão abraçar o meu corpo de lado e o cheiro baunilha entra nas minhas narinas.
— Você está bem? — Luana me pergunta, olhando para frente e para cima como eu. Estamos encarando a face do glorioso Senhor como se fosse piscar para nós a qualquer momento.
— Estou. — Respondo, sorrindo e segurando a mão que me cerca, apenas para acariciar o espaço como retorno de carinho.
— Você 'tá olhando tem um tempinho. — Ela dá uma risadinha desprendida, o que é muito difícil de não acompanhar quando se escuta.
— Eu tô. — Me sinto meio envergonhada quando penso no ponto de vista de outras pessoas que me olhariam.
Por sorte, no dia de hoje os meninos conseguiram fechar o Cristo para visitação então não preciso inventar sorrisos falsos e atitudes bem desenhadas. Uma vez Jude me disse que não quer fingir nada em frente as câmeras, mas quando penso as consequências da nossa atual situação de forma transparente na internet, meu corpo entra em pânico.
Eu não posso ser mais um motivo de polêmica para Jude, nunca conseguiria me perdoar por não conseguir evitar que coisas negativas sejam atreladas ao seu nome.
— Eu 'tava buscando por uma resposta. — Confesso, evitando olhar nos olhos da minha amiga porque sei que iria vacilar e ficar ainda mais envergonhada do que já estou. — Besteira minha.
— Sobre- — Ela começa mas não precisa terminar quando olho para ela com aquele sorriso amarelo, como se fosse óbvio. — Ah... Sobre ele.
— Gosto demais dele para aceitar essa distância estupida em que estamos. Por culpa minha, claro. — Respiro fundo. — E não é como se eu não tentasse estar bem, mas tudo me parece tão estranho agora.
— Talvez seja porque você não quer só uma amizade com ele. A possibilidade de algo além disso cria toda a tensão entre vocês. — Lu está sendo sincera e adoro isso porque não precisa medir palavras para dizer algumas verdades de uma forma bem tranquila.
— Talvez. Mas não posso evitar, esse é o melhor pra a gente não sair machucado. Eu acabei as coisas por uma razão.
— Entendi... — É perceptível que Luana tinha mais coisas para dizer, apenas pela intonação que saiu da sua boca.
Espero que ela não guarde seus pensamentos, então deixo minha vergonha de lado e a olho. Ambas damos risada da situação e voltamos a olhar o Cristo em nossa frente. Novamente, me vejo suplicando por uma mensagem que me diga o que deveria fazer.
Me lembro do momento que percebi que Jude - sóbrio - sabia que eu queria algo exclusivo. Quando tivemos "A" conversa e me contou minhas palavras da noite retrasada, tão incomodada com o fato de que ele poderia se quer ter beijado outra pessoa e, no momento que eu disse isso bebada - porque confio nas palavras dele -, o jogador inglês soube do meu desejo de exclusividade. Então, entrei em pânico porque isso significaria algo a mais.
Essa era uma clara chance dele me machucar.
Eu tinha o cenário desenhado na minha cabeça. "Sabe que somos apenas amigos, né?" "Olha, acho melhor pararmos por aqui." "Eu não sinto a mesma coisa, Bells." Estava tudo alinhado para que escutasse as coisas mais bizarras e que com certeza desmontariam meu coração em pedaços suficientes para nunca mais por os pés em novas relações.
Fui mais rápida.
Palavras bobas saíram da minha boca e a passagem delas pela minha língua tem um gosto amargo agora que revejo toda aquela cena. Não é arrependimento o termo certo - por mais que também sinta isso - porque
talvez tenha sido necessário para que eu conseguisse (tentativa sem sucesso) me desgrudar da ideia linda que aquele homem está criando dele mesmo na minha cabeça. Não é uma fantasia criada por mim - como na maioria das vezes faço e quebro minha cara - mas sim a verdade nua e crua sobre ele.
Agora, essa distância nascida de não conseguirmos lidar com a tensão me incomoda e fere minha alma. O nosso jeito comum impregnou em mim e não consigo desassociar daquela realidade tão bonita.
— Sabe, Bê, existe um jeito de descobrir o que é certo para nós de verdade. Cara ou coroa. — Ela diz, sem mover um fio de cabelo do lugar, com sua mão fazendo carinho no meu braço. Não demora muito para que ela apoie sua cabeça na minha, que já estava encostada em seu ombro. — Se não gostar do resultado, é porque sabe a resposta verdadeira.
Sinto que fui jogada em uma piscina gelada em um inverno Europeu. O choque de realidade é engraçado. Eu sei que crio motivos futuros e não aparentes para justificar meu medo de que Jude seja como qualquer outro homem, ou talvez como meu ex. Como se existisse uma sombra sobre ele das expectativas ruins que ele possa fazer em dias a frente, mas o problema é que ele não as faz. Então, me impeço de sentir tudo de bom que sinto por uma possibilidade nada visível de sentir tudo de ruim que já senti uma vez. Não quero ser negada, logo nego.
Estou buscando pela única resposta que eu quero de verdade: Quero estar com Jude.
— Não achei esse tapa na cara muito necessário. — Digo a ela, finalmente saindo do meu transe de raciocínio e acompanhando as risadas.
— As vezes é bom. — Lu está sorrindo para mim.
— Como pode um ser tão gente boa falar umas coisas tão difíceis de aceitar?
— Talvez eu faça psicologia, quem sabe? — Ela tira seu braço de mim.
— Aguentar nos 4 já é um diploma completo. Tem uma confusa, duas doidas e uma puta com a vida. — Citei cada uma de nós e ela sabe identificar de quem estou falando porque Lu está sempre acompanhando os problemas das nossas vidas.
— Agora quem precisa de um psicólogo sou eu. — Ela ri e eu também não consigo me segurar.
— Eu já sabia que tinha cometido um erro, de alguma forma. — Jogo pra fora porque com elas eu não tenho medo de errar.
— Concerte seus erros, garota. No seu tempo. Quer voltar pra lá?
Ela aponta pra trás, onde todos nossos amigos estão tirando fotos um dos outros ou gravando vídeos.
— Eu já vou. — Sorri pra ela.
— Ok, estou te esperando pra tirar fotos comigo. — Vai se afastando a medida que seus passos se direcionam até nosso grupo de amigos.
Olhei para a grande estatueta na minha frente e agradeci mentalmente pelo verdadeiro sinal que ganhei: Palavras sábias de alguém que eu amo de verdade e me ama ao ponto de me aconselhar da melhor forma porque se preocupa comigo. Logo, estou indo em direção às meninas para tirarmos uma foto em grupo.
O almoço aconteceu no restaurante favorito de Vinicius aqui no Rio e voltamos de barriga cheia para casa, tirar um cochilo para arrumar as coisas porque amanhã seria nosso último dia nessa casa alugada. Depois disso, cada um tomaria seu rumo para ver suas famílias e isso significaria que eu iria para a casa de praia - onde meus pais decidiram morar agora. Com sorte, Duda e os meus sobrinhos passariam um tempo com a gente e eu poderia relaxar de todos esse drama.
Decidimos nos arrumar muito bem e fazer uma reunião só nossa, sem possíveis polêmicas e apenas nos mesmos para rirmos da bagunça. Estamos sentados na longa mesa do exterior usando casacos de frio porque recebemos a brisa da noite bem de frente hoje, com apenas as roupas e o álcool em nossos copos para ajudar. A maioria dos meninos bebe cerveja mas eu permaneço na melhor bebida inventada pelo brasileiro: Ice.
— Uno! — Isa grita, levantando a mão e escondendo a carta debaixo da blusa, como se qualquer pessoa pudesse espia-la.
— Não, não, não! Eu fiz você cavar um montão de cartas. — Jobe resmunga, porque eu aprendi que essa é sua coisa favorita no mundo mas de uma forma muito engraçada.
— E você é tão ruim que não conseguiu ficar com menos cartas que eu. — Ela debocha da cara dele.
— Você tá com carta enfiada na bunda, não é possível. — Dora, que é a próxima a jogar, também está levemente alterada pelo jogo. Todos estão rindo da situação porque eles não conseguem aceitar suas posições de derrota.
Rodrygo foi o primeiro a bater mas em vez de acabar a partida, decidiram ver quem vai ser o pior jogador e sobrar. Jude foi o seguinte e então Alanis, depois eu, Trent, Tchouameni e Vini seguidos um do outro. Luana, Jobe, Dora, Isa e Camavinga foram os únicos que sobraram.
— Jude, busca o repelente lá em cima. — O mais novo pede ao irmão, que se nega a subir de primeira por pura pirraça, apenas negando a cabeça. — Vai logo, eu tô sendo engolido vivo pelos mosquitos.
— Vai você, então.
— Eu tô jogando. — Rebate.
— E o que eu tenho com isso? — Ele sorri de forma maligna, como todo irmão é ensinado a fazer.
— Vai logo, Jobe! — Isa, ansiosa para ganhar, pede que o jogador anterior a ela - que é o menino - jogue.
— Vai, Jude! — Ele insiste.
— Eu vou lá buscar, também tô morrendo aqui. — Dou risada da briguinha deles, me levantando da mesa e caminhando em direção ao quarto das meninas.
No banheiro da suíte, me ajoelhei no chão para abrir a gaveta, que até então seria o lugar mais óbvio de se encontrar o repelente. Não acho, então procuro pela bancada bagunçada, pela outra gaveta até que desisto e procuro pelo quarto, mas não há sucesso na minha procura.
Não satisfeita, decido invadir os quartos masculinos e o mais próximo é dos ingleses. Prefiro não vasculhar muito além do necessário mas eles até que eram bem aceitados e limpos. Todas as três camas estavam feitas, as malas fechadas para viajarem no dia seguinte e a bancada organizada. Sem sucesso, decido procurar no quarto seguinte mas sou impossibilitada de passar pela porta por conta de uma muralha de 30 centímetros maior que eu.
O universo gosta de colocar Jude Bellingham no meu caminho das piores formas.
— Desculpa. — Dei um passo para trás pelo susto que levei, sentindo minhas bochechas queimarem.
— Ta fazendo o que aqui? — Ele é imediato, abrindo um sorriso presunçoso.
— Procurando repelente. Não encontrei nenhum no quarto das meninas. — Me justifiquei. — Mas também não achei nenhum aqui. — Estava preste a sair quando sua voz me para.
— Eu tenho um, guardado na mala. Minha mãe falou pra eu trazer porque sabia que Jobe esqueceria. — Ele dá risada do próprio irmão, o que desencadeia em um leve riso meu.
Observo Jude caminhar de costas para mim até sua mala, colocando-a em cima de sua cama e a abrindo. Tenho a sensação de que estou xeretando demais a sua vida então desvio o meu olhar para o teto, cruzando os braços e apoiando meu dorso no batente da porta. De segundos em segundos dou uma espiada em sua aparência porque é a única forma que sou permitida de vê-lo agora.
Então me questiono: o que ele veio fazer aqui em cima?
— Então... — Começo, quebrando o silêncio.
— Vai pra onde amanhã? — Ele pergunta, tirando um tubo de repelente da sua bolsa e voltando para mim, mostrando a embalagem.
— Casa de praia dos meus pais. — Seguro o tubo, olhando para ele. — E você?
— Acho que eu e Jobe vamos adiar nossa volta pra Inglaterra. Não tem muito mais o que fazer aqui, sabe? — Ele afirma, olhando em meus olhos porque nunca teve vergonha para isso e apoiando suas costas no batente em minha frente de forma que ambos estamos na passagem.
— Ah, sim... — Não estou muito contente. — Vai voltar para o verão inglês.
— Mas é eu gostei muito daqui e quero ficar. — Ele sorri, o que me faz sorrir. — Não quero ir embora... Nem quero que acabe.
Analisei cada palavra com cuidado, como se Jude me enviasse uma mensagem decodificada e eu tivesse que escutar e traduzi-la para compreender o que quer dizer. De primeira só entendo como sua paixão pelo Rio de Janeiro porque essa cidade tem o poder de encantar os turistas, mas então sua frase me pareceu redundante, como se implicasse algo.
— O Brasil faz isso mesmo com as pessoas. — Tento decifrar mais uma de suas mensagens secretas, porque as vezes é só loucura da minha cabeça.
— É, faz sim. — Ele sorriu, mas o seu tom de voz se tornou um pouco mais denso e sinto que até mesmo o clima decidiu ficar mais quente naquela noite.
— Qual seria outra opção para você não ir? — Pergunto, cruzando meus braços e encostando também a minha cabeça. Decido acompanha-lo na brincadeira de encarar. — Já que você quer ficar no Brasil.
— Ou alugar um AirBnb perto da praia com Jobe e Trent por mais uns três dias, ou... ficar por aí, na casa de alguém. — Ele ri da segunda opção como se fosse improvável.
— Como se alguém fosse querer três marmanjos crescidos como vocês dentro de casa. — Brinco com ele, que sabe disso e está acompanhando minhas risadas.
Por algum tempo que eu espero que não tenha fim, fingindo que nada aconteceu.
— Qualquer mãe iria me amar ter em casa. Até a sua iria!
— Mas a filha não. — Minto descaradamente e isso está estampado no sorrio malandro.
— Eu duvido que você não ia gostar de me ter por lá. — Ele sorri do jeito que só ele sabe, e eu caio por esse mesmo sorriso do jeito que só eu sei.
— Talvez...
O charme de Jude continua inabalável e meu fraco por isso também. As coisas em sua verdadeira essência não mudam, e a química entre nós também não vai mudar assim da noite pro dia. E mesmo que eu tenha entendido que eu quero nossa situação de volta, ainda tem um certa dignidade a se debater. Entre eu e ele agora, existe o meu orgulho, o mesmo orgulho que acabou as coisas entre a gente dois dias atrás.
Percebo que minha mente está nublada pelo seu cheiro, seus traços e pela sua lábia quando estamos próximos demais.
— Uno, porra! — Isa grita do andar debaixo.
Não nos afastamos, mas olhamos para a escada.
— Culpa dos mosquitos que eu não ganhei. Isabella, cadê meu repelente? — Jobe também grita e posso escutar algumas pessoas reclamando que ele está nos gritando. — Não precisa ter pressa. — Ele se corrige e nos faz rir.
— Já vou! — Sorrio para Jude uma última vez.
E eu vou mesmo, descendo as escadas e olhando pra trás por um instante, encontrando a atenção de Jude sobre mim.
❛ amar é um deserto e seus temores. vida que vai na sela dessas dores. não sabe voltar. me da teu calor. vem me fazer feliz porque eu te amo. você deságua em mim e eu oceano. e esqueço que amar é quase uma dor. só sei viver se for por você ❜
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