𝒕𝗿𝗶𝗻𝘁𝗮 𝗲 𝒐𝗶𝘁𝗼. drão
❛ drão, o amor da gente é como um grão. um- semente de ilusão. tem que morrer pra germinar. plantar n'algum lugar. ressuscitar no chão, nossa semeadura. quem poderá fazer aquele amor morrer? nossa caminha dura. dura caminhada pela estrada escura ❜
drão, gilberto gil
De todos os jogos que já assisti Jude jogar, eu nunca o vi nervoso. O máximo que seu auto-controle saiu da linha foi no final da Champions League, mas não foi muito além de um olhar preocupado e foco total no jogo. Ele costuma ser um homem centrado e confiante em tudo que faz, o que me admira bastante porque por muitas vezes eu sou o lado nervoso da relação.
Mas hoje, além do meu usual coração acelerado - com um novo motivo que era o encontro de Jude e minha família - eu o vi desgrudar nossas mãos e limpar a sua nos shorts que usava, observando a vista como geralmente faço. Confesso que sim, meu coração acelera, mas ver ele assim me deixa levemente impressionada. Jogar uma final e passar pelos melhores jogadores do mundo não o deixa alterado, mas conhecer os meus pais sim?
Jobe não para de fazer piadinhas com o fato de que ele está "mais estranho que o comum". Trent está rindo dessas piadas - tornado elas piores - e eu finjo que elas não são engraçadas, enquanto o Bellingham mais velho o aniquila com um olhar, prometendo fazer mil vezes pior quando estiver nervoso por conta de alguma garota que se interessar.
Tudo que faço é sorrir para ele e deixar um beijo em sua bochecha, porque não existe palavras que vão ajudar no momento.
Saímos do carro e minha mãe é mais receptiva com Jobe do que comigo mesma, como se não tivesse meses que não nos vemos. Meu pai, por outro lado, não dá bola para ninguém além da sua querida princesa. Ele me abraça e me tira do chão, apertando meu corpo e deixando um beijo na minha cabeça. O homem na minha frente é o cara mais teimoso que conheço, mas não deixa de ter um coração fraco pelos seus filhos.
— Como esta, querida? — Ele segura meu rosto, sorrindo.
— Estou ótima. A Espanha é incrível.
— Que bom que está se divertindo. E esses, quem são?
Por mais que eu tenha ligado avisando, não significa que o ciumento dentro de si (e péssimo no inglês) não tenha suas dúvidas sobre esse momento. Meu pai odiava meu ex mais do que qualquer um nesse mundo, mais porque ele realmente era um babaca do que ciúmes paterno.
— Pai, esses são os jogadores que me tornei amiga. Nenhum deles fala português. Jude até tenta as vezes. — Eu sorri.
— Algum... namorado? — Ele arqueia sua sobrancelha, um clássico dele, mas eu não consigo responder sua pergunta e a ignoro.
— Meninos, esse é o meu pai que não fala nada em inglês. — Aponto para o homem bem em frente deles, sorrindo e sentindo meu coração palpitar a cada segundo.
— Prazer em te conhecer, senhor. — Um português muito desengonçado, mas extremamente carinhoso sai dos lábios de Jude Bellingham e surpreende não só a mim como os outros dois jogadores, que me olham tão assustados quando eu estou.
Me questiono quando que ele aprendeu isso, e se esteve treinando na sua cabecinha frases prontas para impressionar o meu pai esse tempo todo. Confesso que por trás da grande surpresa, meu coração batia cada vez mais rápido por ele. Cada vez mais por ele. Respirei fundo, olhando para meu pai que abriu um sorriso contente.
O que? Meu pai nunca abriu um sorriso para o meu ex.
— Como que fala "é meu o prazer de te conhecer"? — O homem mais velho me olha e parece que eu esqueci como se fala em inglês por um segundo por toda confusão que se passa em minha cabeça.
— "It's my pleasure". — Tento facilitar nas palavras mais simples, com ambas mãos na cintura e sentindo Jobe se aproximar de mim.
— Desde quando Jude sabe falar em português? — Ele sussurra no meu ouvido.
— Desde nunca.
Com apenas duas frases ditas, os homens se cumprimentam com as mãos e então aceleram os passos para buscar as malas com o resto dos meninos. Sinto que eles vão se entender se alguma forma, mesmo que não seja com a comunicação mais limpa e compreensiva do mundo. Estou chocada ainda, quando minha mãe vem até mim e abraça o meu corpo - o seu menor que o meu - deixando vários beijos no meu rosto.
— Esse é o seu namorado que Duda falou? — Ela aponta pra Jude, sem vergonha alguma, que sorri ao passar pelo caminho e cumprimenta ela com um simples "Oi" e um abraço, com um beijo nas mão.
Simples assim.
— Mãe! — Olho estranho para ela, quase rindo, quando se separam e o homem segue seu caminho para dentro da casa. — Passei meses sem te ver e essa é a primeira coisa que me pergunta?
— Eu preciso saber dessas coisas. Você não me conta nada!
— Eu não te conto nada porque você vai contar para o meu pai. — Abraço seu corpo, caminhando para dentro da casa a medida que todas as malas estão dentro da residência.
— Seu pai nem liga mais pra isso. Aliás, ele até andou assistindo uns jogos do Real Madrid e o elogiou.
— Como eu não soube disso?
Me sinto um peixe fora d'água por um segundo. Os meninos sobem suas malas para o segundo andar com a companhia do meu pai, o que tem tudo pra dar errado, e nós seguimos os nossos passos para a área externa da casa, onde meus tios e primos estavam reunidos. Não só eles como a presença surpreendente de Duda e Lucas, com os meninos nadando na piscina livremente até me verem.
Confesso que ao mesmo tempo que é bom morar fora e viver toda experiência que a Europa de proporciona, é uma merda viver longe da família. Sinto falta dos beijos, dos abraços, das risadas (e isso é o que mais rola), as brincadeiras, os sermões e toda a preocupação que eles tem. Toda vez que via uma foto de todos reunidos, sentia novamente a saudade bater e as lágrimas formavam nos meus olhos.
Meus tios e primos, mais experientes no inglês, conseguem se comunicar com Jude, Jobe e Trent, que descem seguidos do meu pai. Fazem um questionário de vida a todos e, com a fofoca que Duda instaurou na casa, a atenção em cima do Bellingham mais velho é redobrada e passo pouco do meu tempo com ele, por mais que fosse lindo ver de longe todo amor e carinho que estava recebendo.
Em um certo momento da tarde, decidem descer para a praia para jogar futebol e lá vamos todos nós.
— Oi. — Ele se aproxima de mim, sorrindo.
— Oi. — Eu sorria o triplo, acho — Tá cansado da atenção?
— Eu nunca canso da atenção. — Brinca, passando o braço pelo meu ombro e andando pelo caminho de terra.
— Ah, eu percebi. — Cruzei os braços, olhando para o caminho em vez de olhar para ele.
— Isso é ciúmes, Isabella? — Ele gruda mais o nosso corpo, beijando minha cabeça, e eu não resisto ao momento, abraçando o seu corpo de lado.
— Sou uma mulher ciumenta. Descobriu isso agora?
— Você sabe que não. — Acredito que esteja se referindo a boate que fomos no Rio, então só nego com a cabeça e dou risada, acompanhada dele.
Novamente sou trocada pelo futebol onde todos os homens, inclusive meus sobrinhos que parecem amar muito mais a ele do que a mim. A cena dele carregando um e depois o outro no ar, jogando-os para cima e os perseguindo pela areia, com risadas preenchendo meus ouvidos mexe com o meu coração de uma forma absurda. É impossível que alguma mulher no mundo não se sinta levemente atraída por isso.
Mas ainda sim, é lindo de ver apenas por saber que pessoas que eu amo também estão se amando por aí. Poder dividir o carinho que tenho por Jude com a minha família é certamente minha coisa favorita até o momento.
Lucas faz piada com Trent e Jude, que ainda sim brincavam com meus sobrinhos, minha mãe tenta desenrolar o inglês com Jobe e eu estou sentada em uma canga com Duda, as únicas no momento que apenas observam a cena e dão risada de tudo que acontece, como telespectadoras das cenas. Há um breve momento em que Jude me olha e pisca pra mim, sorrindo e voltando a conversar com meu irmão mais velho.
— Já que você não vai me dizer por vontade própria, eu vou ter que perguntar. — Duda começa.
— Não estamos namorando, se essa é a pergunta. — Dei risada, abraçando minhas pernas porque aos poucos o sol baixava e o vento tomava conta da praia.
— Poxa. — Ela diz. — Mas parece.
— Como que parece? Mal nos falamos hoje.
— Mas quando se falam... É lindo de ver. — Ela sorri pra mim, me deixando envergonhada ao ponto de esconder meu rosto nas minhas mãos e arrancar uma risada muito sincera dela. — E você trouxe ele pra a casa dos seus pais!
— A gente tem... alguma coisa. Teve um papo super amoroso ontem, ele me deu um presente, somos "um do outro" agora. Mas sem pedidos formais ou a menção de um. É tudo muito recente. — Estou o olhando de longe, imagino o como seria a vida com ele.
— Mas é assim mesmo, é normal. Quer dizer, Lucas se casou com 21, depois de menos de um ano namorando comigo. — Ela da risada, e essa sensação de amor tão intenso me toma por inteiro. — As coisas não precisam ser convencionais. Tudo só precisa acontecer de acordo com o que o coração de vocês manda.
E parecia o conselho mais tranquilo que recebi até agora. O que mais acalmou meu coração. Não preciso ter pressa em escutar o que vai ser escutado, ou viver o que vai ser vivido. Que eu e Jude vamos ficar juntos está parecendo um fato há um tempo, mas isso vai acontecer no nosso tempo. E no nosso tempo também significa não esperar para sempre. Significa esperar o tempo certo. Nem mais, nem menos. O equilíbrio perfeito.
Os meninos cansam de jogar futebol e pedem colo para a mãe, Pippo quase dorme nos meus braços. O cheirinho de neném e de brisa do mar é a coisa mais gostosa. Lucas carrega Benício enquanto Duda leva Filippo. Minha mãe faz questão de ajudar, os meus tios e primos querem terminar de organizar a bagunça e os jogadores se prontificam, mas meu pai insiste até o fim que aproveitem.
Aceitam o não como resposta depois de muita luta, e permanecem na praia comigo. Jude segura minhas mãos para que eu levante da areia e assim faço, caminhando nossos passos para dentro da casa. No jardim, uma grande rede de dormir nos espera e eu o levo até lá. O homem se deita primeiro, passando um braço atrás da sua cabeça. Já eu, me sento no seu colo e deixo um beijo em seus lábios, recebendo o carinho mais singelo por todo o meu dorso e coxa.
— Se acomoda porque isso aqui não tá fácil pra mim, não. — Jude ri, então eu dou risada, compreendendo a situação.
Me deito ao lado dele, de lado, passando a minha perna sobre o seu corpo e sentindo seu braço por baixo da minha cabeça, deixando um beijo na minha testa e voltando, acariciando meu cabelo com sua mão.
— Gostou de hoje? — Pergunto, olhando para as folhas da árvore em cima de nós, com minha mão buscando pela sua livre no alto, brincando com os dedos.
— Gostei. Gostei de verdade. — Escuto sua voz, completa por sinceridade. — Quero continuar vindo mais vezes.
— Mesmo? — Olho para ele, me apoiando em cima do seu tronco e descansando o meu braço ali.
— De verdade. — Sorri, tirando meu cabelo do meu rosto com um jeito tão masculino de fazer que me perco por um instante. Meio sem jeito, atencioso. — Eu gostei muito da sua família.
— Eles gostaram muito de você, também. E incrivelmente meu pai também. — Dou risada, porque era de surpreender.
— Até eu fiquei meio chocado. — Ele ri comigo, observando meu rosto. — Da pra entender porque você é uma pessoa tão boa.
Escondo metade do meu rosto apenas o inclinando para baixo, deixando apenas os olhos porque não consigo deixar de olha-lo nem por um segundo. Não consigo acreditar que passamos por tanta coisa ultimamente mas que fizemos dar certo de alguma forma, sem precisar problematizar o que aconteceu ou que pode acontecer. Somos nós, juntos, simplesmente.
— Essa foi a mesma sensação que senti quando conheci sua família.
— Eles amam você. — Jude ri de um jeito tão feliz que não parece por ser algo engraçado, e sim algo cheio de graciosidade. Feliz.
— Eu amo eles também.
E a palavra ficou no ar como se existisse entre nós.
— Pippo e Bê adoraram você. Te mostrei uma foto deles fazendo sua comemoração?
— Eu não acredito que não me mostrou, Bells! — Ele parecia encantado só de pensar. — Depois pega o celular e me mostra.
— Eu esqueci de te mandar. Foi quando a gente tava meio brigado, sabe? — Fiquei com vergonha de pensar sobre a situação.
Sinto que fiquei lhe devendo um voto de confiança quando não acreditei 100% em suas palavras. Sendo muito sincera eu sei que não foi por mal ou porque Jude me lhe deu motivos para isso, mas puramente um extinto de confiança com medo de que ele me visse transparente e tudo de mim. Aquela vulnerabilidade que as pessoas podem tirar vantagem.
— Ai, tudo bem. — Sua mão descansa nas minhas costas, nuas pelo uso de apenas um biquíni. Um arrepio sobe por todo o meu corpo com o carinho que faz, usando apenas as pontas dos dedos.
Ele está olhando para o céu quando o silêncio paira sobre nós.
— Jude. — Chamo sua atenção, reunindo toda coragem do mundo.
— Oi. — Me olha.
— Me desculpa por não ter acreditado em você. — Minhas bochechas estão vermelhas, eu sei, mas não existe um único riso no meu rosto. Estou verdadeiramente arrependida.
— Tá tudo bem, eu entendo. — O carinho continua e seu sorriso aparece, tranquilizante. — Você estava com vergonha, e também tem uma história.
— Quer me contar tudo que aconteceu?
— Claro. — Ele sorri, e acredito que esteja falando mais por mim do que por si mesmo. — Você estava com ciúmes porque tinha uma mulher dando em cima de mim. Boba, porque nem precisava. Não dei atenção alguma.
— Bom. — Brinco com o nariz arrebitado, vendo seu sorrir crescer com certo encanto.
— Possessiva. — Deixa um beijo em meus lábios rapidamente. — Então veio me perguntar se eu tinha ficado com ela. Falei que não, que não queria beijar mais ninguém além de você. E você disse a mesma coisa.
Sorri, porque era a mais pura verdade há muito tempo. As pessoas pensam que é porque deixamos de achar pessoas bonitas nesse mundo, ou minimamente atraentes, mas perdem toda a graça porque não chegam aos pés de quem o homem na minha frente é. E não falo só pelo seu físico que é de me deixar abismada, além da beleza que o rosto na minha frente também tem, ou o charme... Mas enfim, é sobre ele em si como um todo.
Nada me atrai mais do que Jude Bellingham.
— Minha versão bebada é bem sincera.
— É. — Ele ri. — E aí eu te contei sobre o quarto. Sobre ter ficado chateado porque eu teria que dividir com quarto com os meninos, e não com você.
E meu rosto se ilumina porque com toda essa liberdade que estamos tendo me parece um recomeço. Não como se a nossa história tivesse acabado e então iniciado novamente, mas uma nova fase com uma tranquilidade vinda do coração, e não cheia de amarras. Óbvio que existem limites para isso, porque ainda era difícil dizer aquelas três palavras que rodavam na minha cabeça toda vez que o via, ou o que quero pro meu futuro, mas a abertura de poder em algum momento dizer tudo que queremos.
— Pode ficar tranquilo. Vamos dividir todos os quartos que pudermos a partir de agora. — Declaro.
— E todas as camas. — Balança as sobrancelhas para me zoar, acarretando em risadas e mais risadas.
A verdade é que para quem passou grande parte dessa viagem distanciado um do outro, finalizar ela se beijando até não poder mais e ficar agarrados uma eternidade, mostrava que o meu país tinha o enorme poder de revelar todas as coisas.
— Tem essa palavra em português chamada "saudade". — Começo, separando nossos lábios, observando suas sobrancelhas evidenciarem a dúvida.
— Qual a tradução? — Me pergunta, e sua carinha de concentrado e focado me derrete.
— Não existe uma tradução exata. É o sentimento que temos quando estamos longe de quem ou o que gostamos. — Começo a sorrir no exato momento que sua expressão se encanta. — Foi o que senti na sua falta.
O seu sorrio, singelo e bonito - encantador até o fim - vira uma feição mais séria, como se tentasse me passar credibilidade das palavras que iria começar a dizer. Concentrado em me passar a mais pura das verdades. Mal sabe ele que estou acreditando em tudo que diz.
— Eu sinto saudade toda vez que não estou com você, Bella. Qualquer distância entre nós é saudade.
❛ drão, não pense na separação. mão despedace o coração. o verdadeiro amor é vão, estende-se infinito, imenso monolito, nossa arquitetura ❜
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