𝒕𝗿𝗶𝗻𝘁𝗮 𝗲 𝒄𝗶𝗻𝗰𝗼. sozinho
❛ às vezes no silêncio da noite eu fico imaginando nós dois. eu fico aqui sonhando acordado - juntando o antes, o agora e o depois. por que você me deixa tão solto? por que você não cola em mim? tô me sentindo muito sozinho. não sou nem quero ser o seu dono, é que um carinho as vezes faz bem. eu tenho meus segredos e planos secretos, só abro pra você e mais ninguém ❜
sozinho, caetano veloso
Penso que sou estupido por não conseguir curtir o dia do jeito que eu queria. Todos estão. Todos menos eu. Até mesmo ela está - completamente radiante, se bronzeando no meio da areia, e fica mais ainda quando dá risada de algo que Vinicius conta a ela. Para mim, não há cena mais dolorosa porque eu queria ser o motivo do seu riso nesse momento.
E ela está tão linda. No dia de hoje, escolheu um biquíni laranja e rosa de parece ter sido feito exatamente para ela. Ou feito para acabar comigo. As curvas do seu corpo se acentuam e o sol deixa sua pele cada vez mais bronzeada. Tenho que respirar fundo para me concentrar em qualquer coisa que seja, além da imagem perfeita. Seus cachos dourados descem por toda extensão das suas costas, virada de bruços e na direção da nossa mesa.
Minha água de coco vai embora em segundos porque estava focado demais na beleza de Isabella para notar que sequei o fruto tão rápido que surpreende Jobe, que esperava para beber um pouco. Ele me olha surpreso e ao mesmo tempo confuso, até engraçado de certa forma. Entrego o coco a ele - como um bom irmão mais velho - que fecha um dos olhos e espia por dentro, me olhando em seguida ao perceber que estava completamente vazia.
— O que? — Digo a ele, desviando minha atenção para Isabella novamente, ajeitando meu óculos de sol no rosto para que ninguém saiba que estou observando-a. Abro meus braços e apoio no longo banco que fica sobre a areia da praia.
— Menos de um minuto, Jude. Você precisou de menos de um minuto pra acabar com essa água. — Ele ainda está meio chateado, deixando o coco cair na areia e então negar com a cabeça.
— Vai lá pegar um pra você. — Indico com a cabeça a barraca de praia que está atrás de nós, mas sem tirar meus olhos do mesmo lugar que poderia ficar uma vida inteira. — Ou pede pra alguém.
— Esse era meu, no caso. — Revira os olhos.
— Não é mais. — Dou um sorrisinho, feliz por conseguir perturbar meu irmão de perto.
A distância de onde meu pai e Jobe ficam em Birmingham, para onde minha mãe e eu nos estabelecemos em Madrid - além da nossa carga horária repleta de compromissos e treinos - nos mantém afastados por tempo suficiente para sentir falta dos tempos que morávamos juntos e me permitia incomoda-lo de perto. Eu não deixo de fazer isso, agora por mensagens e ligações de vídeo ou rápidos encontros mensais (ou além de um mês), mas não é a mesma coisa.
Minha mãe gosta de lembrar que são os sacrifícios que fazemos para um bem maior.
— Você deveria buscar um pra mim. — Ele insiste.
— Olha eu lá. — Dou risada. — Tô muito ocupado pra isso.
— Ocupado fingindo que não tá encarando a Isabella? — Ele diz, e sabendo que minha reação ia ser de certa revolta, começa a rir da minha feição.
Achei que estivesse me dando bem nessa, mas aparentemente está óbvio.
— Cala a boca. — Nego com a cabeça, voltando a olhar para frente, onde ela estava. Ela, Vini e as meninas, que se bronzeavam e liam livros, ou conversavam sobre algo engraçado, já que ela parece estar feliz demais.
É muito egoísmo da minha parte querer que Bella não esteja tão feliz assim. Me odeio quando percebo isso, porque tudo que mais desejo é sua felicidade, e se ela sente que está melhor desse jeito, então não vou mudar. Mas eu juro que se pudesse, estaria o tempo todo ao seu lado. E não é como se nossa amizade tivesse acabado, mas não é do jeito que eu queria. Sinto, as vezes, que também não é como ela quer. E então o clima estranho paira sobre nós.
— Bora lá na água? — Trent senta ao meu lado, tomado por areia.
— Você tá precisando, né?
— Ih, amargurado. — Ele passa as mãos sujas em minhas costas e sinto a fricção arranhar a pele levemente, me fazendo encara-lo não muito feliz.
— Ele tá assim hoje. — Jobe comenta, com um sorrisinho no rosto. — E todos sabemos a razão.
— Caramba. Só fala merda, cara. — Olho pra meu irmão, que não tira aquela felicidade do rosto.
— Eu acho bom você e Isabella se resolverem em nome do bem do seu time. — Trent está rindo, e ainda deixa um beijo na minha bochecha para completar. — Se ficar assim até lá, ou você sai do jogo expulso ou nem entra.
— Uma coisa não tem nada a ver com a outra.
— Tem sim. Ela te deixa todo mexido. — De novo encosta sua mão cheia de areia em mim.
— O amor é assim mesmo. — Jobe recebe outra água de coco de um funcionário do local, que provavelmente pediu enquanto eu encarava Isabella e pensava sobre ela.
E aí eu passo por aquela rotina de novo de fingir que não escutei certas palavras, ou especificamente uma palavra. Não porque eu a negava, porque era impossível de negar, mas me escondia dela ou escondia ela de mim. Era como se eu tentasse esquecer por um segundo o peso que essa palavra carrega e como ela é complicada nessa situação.
— Vamos lá na água. Ou jogar altinha? — Ele indica o grupo um pouco mais a nossa direita, onde Rodrygo, Eduardo e Aurelian jogavam.
Pondero por poucos segundos minha decisão, olhando para ela. Sinceramente, se estivesse fingindo essa felicidade, eu mesmo indicaria seu nome a algum filme hollywoodiano, que até venceria o Oscar pela sua atuação incrível. Isabella não olhou na minha cara desde que chegamos na praia, está entretida no papo longo que tem com os amigos e em momento nenhum pareceu entediada ou triste. Então olho a minha situação, encarando ela de longe tempo o suficiente para ser humilhante e me revolto.
— Vamos na água. — Me levanto de supetão, deixando minha blusa pra trás e caminhando junto a Trent, que até tenta me abraçar mas eu não deixo que aconteça para não me encher de areia.
Se o que ela disse sobre a água salgada do Brasil ser revigorante e poderosa, eu espero que leve com a maré toda energia desgastante que venho acumulando por conta da nossa conversa e a nossa situação no geral. Sinceramente, não espero, não. Prefiro viver em miséria mas pelo menos sei que ela ainda vai estar no meu coração, porque seria idiota demais não amar alguém como ela.
— Você não vai mesmo me dizer como foi a conversa de vocês? — Trent molha o seu rosto na água, com ambos dos nossos corpos submersos por ela.
— Não vale a pena. — Olho pra o sol com o óculos, que ainda podia fritar a pele de qualquer pessoa.
— Claro que vale. Você precisa deixar de ser cabeça dura e achar que consegue resolver as coisas sozinho. — Tem um breve momento entre o papo sério e suas próximas palavras. — Você já se mostrou ser bem burrinho.
— Idiota. — Dou risada, negando com a cabeça. Ele acompanha o meu riso, e sei que está fazendo isso pra me tranquilizar.
— É sério.
— Só... Foi tipo, muito estranho. — Cruzo os braços, lembrando das cenas que para mim são de terror. — Em um momento eu tentava explicar o que tinha acontecido e em troca ela se defendia como se tivesse sido um grande erro.
— E o que ela disse na balada?
— Que não queria que eu ficasse com mais ninguém, e eu disse a mesma coisa. Foi mútuo, sabe? E nada humilhante. Talvez engraçado pela forma que dissemos, mas foi sincero. Só que ela esqueceu de tudo no outro dia. — Teve uma gradação de emoções em minha fala.
— Caramba...
Houve um curto silêncio como se Trent tentasse deixar que eu pensasse sozinho. Não parei esse tempo todo para raciocinar de verdade sobre nossa conversa, apenas me martirizar por ter se quer aberto a boca. Preferia fingir que eu também não me lembrava, então tudo continuaria a mesma coisa. Mas quando lembro da sua confissão naquela noite, fica impossível de esquecer - até mesmo se eu tentasse.
— Irmão, eu juro por tudo que não foi mentira. Ela foi tão simples, tão direta. Não teve enrolação. Mas aí no outro dia disse que o álcool faz ela exagerar, e logo depois, acaba com as coisas entre a gente porque aquilo "não iria funcionar." — Uso de um certo deboche ao dizer as últimas palavras, porque eu sabia que podíamos fazer funcionar.
— Então vocês acabaram esse lance mesmo? Achei que só tivessem brigado... — Sua feição não é muito encorajadora. Mas também, o que tem de encorajador nisso tudo?
— Sim. Ela acabou. Disse que é melhor acabar agora. — Molho o meu rosto, tentando me recompor.
— Eu não sei se você tá pronto pra escutar isso agora, mas eu tenho uma teoria que pode ser muito justificável. E olha, eu tô sempre do seu lado. Bella pode ter feito uma grade burrice, mas... a entendo. — O começo não é dos melhores, mas me esforço pra continuar escutando. — Você me disse que ela já passou por umas coisas complicadas - romanticamente falando. Não deve ser fácil confiar assim.
Eu pensei sobre isso, e foi até mesmo infantil não pensar a fundo nesse caso. Fiquei muito preso as palavras dela que esqueço o que se passa em seu coração. Tudo bem que tento acreditar em tudo que sai da sua boca, e eu acredito como um fiel ao seu Deus, mas parte da sua relação complicada com a comunicação pode ser fruto de uma desconfiança muito grande.
Acho, as vezes, que tem medo da rejeição, então se precave ao ser ela a rejeitar. Ela diz um não, ou não diz um sim para não escutar um não no futuro. Novamente, isso poder ser apenas coisa da minha cabeça, porque fico louco só de pensar que alguém em sã consciência a negaria.
— Eu entendo isso. De verdade. Mas... Porra, eu só queria colocar na cabeça dela eu não sou aquele idiota.
— Você pode até ajudar, irmão, mas ela quem tem que entender. Não pode forçar isso. Além do mais... Ela meio que errou feio também.
— É... — Respiro fundo, pensando em sua imagem de novo. Me recuso a olhar pra trás porque sei que lá é onde Isabella vai estar.
— Olha, eu não acho que seja o fim de vocês. Nada que acaba mal resolvido realmente acaba. E olha, vocês tem uma química de doido. Eu vi com os meus olhos. — Fico feliz que o papo já não seja tão triste agora, e suas palavras me fazem sorrir. — No dia do seu aniversário vocês pareciam estar casados, ou sei lá o que aquilo foi.
Lembrar do jantar me faz feliz porque Bella e eu realmente parecíamos estar juntos. Era uma coisa tão nossa, tão particular e unida naquele momento, que me esqueci que ela era só uma amiga - com alguns benefícios incluídos. Em minha cabeça, estávamos juntos de verdade.
— Só... Não desiste, não. Não seja insistente ou sei lá. Não seja um babaca. — Trent ri, e eu acompanho.
— Esse é seu papel.
Mas é óbvio que para mim esse não é o fim. Meu coração tem consciência disso.
— Cala a boca e escuta o seu mestre. Ela vai descobrir as coisas, eu acredito. Ou eu faço ela descobrir. — Ele põe a mão no meu ombro, virando o meu corpo para que dali da água, conseguíssemos avistar onde ela estava. — Você sabe o que pensa quando olha pra ela.
Luz.
E quando ela olha pra mim de longe, por uma fração de segundo só, depois de quase vinte quatro horas sem poder encontrar seus olhos tão bonitos, tudo que eu vejo é luz. Novamente, tudo se ilumina.
❛ por que você me esquece e some? e se eu me interessar por alguém? e se ela, de repente, me ganha? quando a gente gosta é claro que a gente cuida. fala que me ama só que é da boca pra fora. ou você me engana, ou não está na madura. onde está você agora? ❜
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