𝒒𝘂𝗮𝗿𝗲𝗻𝘁𝗮 𝗲 𝒕𝗿𝗲𝘀. que nem maré
❛ faz um tempão que eu não dou asas à minha emoção. passear, distrair e me achar lá no fundo de ti. a saudade bateu, foi que nem maré. quando vem de repente, de tarde e invade, e transborda esse bem me quer. a saudade é que nem maré. nada vai me fazer desistir do amor. nada vai me fazer desistir de voltar todo dia pro seu calor. nada vai me levar do amor ❜
que nem maré, jorge vercilio
Quando somos novos, temos sonhos. Eu, crescido em uma família muito amorosa, possuo o sonho de ser como o meu pai foi pra mim, e de certa forma como minha mãe. O sonho de me casar, ter filhos e cria-los como fui criado. O sonho de poder chegar em casa e ter um alguém que possui o meu coração e poder aquietar todos os pensamentos com sua presença.
No momento que cheguei na minha casa hoje, tenho um breve flash do meu sonho, como um dejavu de algo que ainda não aconteceu. Escuto uma risada conhecida da cozinha, deixo minha mochila no apoio da mesa e caminho meus passos desleixados até o cômodo. Chegando perto suficiente, já posso observar Isabella sentada no balcão, sorrindo. Então um choque me toma de forma abrupta.
Sei que tenho meus sonhos, e sei que também quero estar com ela para o resto da minha vida, então só nesse momento uno os dois como uma coisa só e parece a fusão perfeita de tudo que eu sempre quis. Tenho o costume de dizer que conhecer Bella não só mudou minha vida como também a amplificou. Conhece-la expandiu tudo que pensei que sonhasse. Champions, Copa do Mundo, La Liga, tudo isso eu tenho a chance de conquistar, mas não parecem ser mais os maiores sonhos da minha vida.
Ela é.
Sou tomado pela realidade quando ela percebe minha presença e sorri ainda mais, animada e surpresa. Volto a caminhar na direção da cozinha e vejo minha mãe, colocando uma calda por cima de um bolo laranja. Também me lembro que eu não convidei Isabella para vir a minha casa, por mais que se fosse por mim ela estava sempre aqui.
— Boa noite, senhoras. — Vejo as duas mulheres que mais amo no mundo em minha frente, deixando um beijo na bochecha de Bella e um na testa da minha mãe.
— Boa noite. — O rosto da garota se avermelha. Eu realmente só não deixo um beijo nessa mulher agora porque ela prefere que não façamos nada demais na frente da minha mãe.
— Oi, querido. — A dita cuja não tira o foco da comida em sua frente, derramando o chocolate e fazendo minha barriga roncar.
— O que é isso? Eu não tô mais de férias, não posso mais comer besteira.
— E quem disse que é pra você? — Minha mãe acaba o que estava fazendo e me olha, fazendo a garota dar risada.
— Caramba, não abro mais a minha boca.
— É pra Bells. Amanhã é o primeiro dia de aula dela, e eu pedi que me passasse uma receita do seu bolo favorito pra ela poder comer. — O cheiro estava tão bom que eu sabia que minha mãe tinha acertado. — Bolo de cenoura com cobertura de chocolate.
— Uma pena que você não pode comer. — Ela abre um sorriso, demonstrando claramente que não estava insatisfeita.
— Pois eu vou sim porque ninguém manda em mim. — Eu pego um prato, mas minha mãe segura a minha mão.
— É dela, ela que parte o bolo.
Bella sorri pra mim de novo, debochando da minha cara. A garota corta três pedaços generosos do bolo, um deles um pouco menor como a minha mae pediu. Ali mesmo comemos, já que eu estava morrendo de fome depois de um dia cansativo de treinos - e elas também pareciam estar piores do que todos os jogadores do Real Madrid juntos.
— Isso aqui tá muito bom, Denise. — Isabella fechou os olhos por alguns segundos para saborear a sensação.
Linda pra caramba.
— Tá mesmo, mãe. Você mandou bem demais! — Abraço a mulher de lado, que se envergonha e da um risinho sem graça.
— Não, não, a receita é da sua avó, Belly. Eu que tenho que parabenizar ela.
— Ela iria amar saber que você fez exatamente como ela. Impecável! — A garota, ainda sentada na bancada, deixa seu prato vazio apoiado.
— Formiga. — Digo, vendo ela fazer uma careta pra mim.
— Deixa a menina comer, Jude. — Minha mãe reclama.
— Pois é, Jude. Me deixa comer!
— Ué, eu não tô proibindo nada! Pode comer o quanto quiser. Virou mãe dela, foi? Aliás, que reunião é essa aqui que eu não tava sabendo? — Imendo todos os meus pensamentos em seguida um do outro.
— Coisa de mulher. — A matriarca pisca para Isabella, finalizando o seu pedaço. — Limpa a cozinha, Jude. Eu vou deixar vocês em paz. Boa noite, queridos. Bella, foi muito bom te ver.
— Boa noite, mãe.
— Boa noite, Denise!
Minha mãe se afasta em passos lentos, subindo as escadas e provavelmente chegando ao seu quarto na grande casa. Eu termino o meu bolo e olho para Isabella com suspeita, fazendo com que a mesma ficasse confusa com a minha dúvida. A questão é: Por que minha mãe chamou ela para nossa casa hoje? Recolho os pratos e deixo na pia, me aproximando dela.
— Quem deveria ter deixado a gente em paz era você. — Ela abre aquele sorrisinho marrento, com ar de quem faz graça de propósito.
— Ah é? Eu posso ir embora agora. — Apoio minha mão sobre sua coxa, deixando alguns beijos em sua bochecha.
— Não mesmo. — Ela dá um risinho.
— Sabe o que eu não entendi ainda? — Afasto meu rosto do dela, o suficiente pra poder olhar em seus olhos.
— Não sei.
— O que veio fazer aqui. — Compresso meus lábios, semi-cerrando os olhos ao analisar suas feições.
Eu já disse que aprendi novas feições na Polônia?
— Papo de mulher. Você não entenderia...
— Certo. Entendi. — Sorri, sabendo que nenhuma das duas ia abrir a boca porque provavelmente era uma coisa delas mesmo.
— Ela me chamou pra passar a tarde aqui, só isso. A gente até combinou de ir em uma loja de decorações pra escolher umas coisas pra esse lugar.
— Uhm... — Deixo ambas mãos apoiadas na bancada, uma em cada lado do seu corpo. — Agora eu tô te chamando pra passar a noite aqui.
Parece que o meu psicológico só me faz lembrar que meu corpo dói nesse momento. Não apenas de cansaço, como dói por um machucado mesmo. Um machucado real que minha mãe já sabe mas eu preferi contar pessoalmente pra Bella. Tudo que eu queria era deitar na minha cama com roupas confortáveis, abraçar ela, conversar um pouco e dormir.
— Eu vou aceitar porque tenho que aproveitar minha última noite de férias. — Deixa um único beijo no meu rosto e desce da bancada quando deixo.
Subimos as escadas e direcionamos nossos passos até o meu quarto. Bella deita imediatamente na cama quando a encontra, bastante familiarizada com o ambiente. Observa o teto por alguns instantes enquanto eu me acomodo no quarto, fechando a porta e deixando minha mochila na mesa. Troco minhas roupas ali mesmo, colocando apenas uma calça de moletom no lugar do short e me jogo ao seu lado, já que havia me banhado após o treino no próprio centro de treinamento.
Ela me aconchega como se soubesse que eu estava completamente esgotado.
— Tenho que te contar uma coisa. — Declaro, quase em um sussurro.
— Pode contar. — Ela faz carinho no meu rosto.
— Antes que se preocupe, isso não é nada demais-
— É assim que eu sei que devo me preocupar. Porque você é muito teimoso. — Seus olhos se espantam levemente, observando os meus, esperando a notícia.
— Mas não precisa! Eu tenho uma equipe cuidando de mim.
— Então você se machucou? — Ela observa meu corpo por um instante, procurando por algum sinal.
Ela não iria achar nada visível.
— Eu tô bem. Foi só a minha coxa. Uma lesão no músculo. — Mexo na minha perna direita, e ela olha por um instante, preocupada.
— Você tá acumulando machucados dentro de um ano, Jude! Já foi o ombro, já foi perna, perna de novo. — Ela quase soa chateada, mas sei que não quer me culpar. — Eu entendo que é esforçado, e que sua rotina demanda muito esforço também... Mas caramba, precisa cuidar do seu corpo.
— Tá tudo bem. Essas coisas vão acontecer.
— Eu sei que vão. Mas não quero que chegue ao ponto de ser algo permanente. Que atrapalhe seu futuro. Você é muito novo ainda... — Acaricia meu rosto, evitando olhar diretamente nos meus olhos.
— Não vou deixar que nada atrapalhe meus sonhos. — Sorrio para reafirmar que tudo estava bem. — Ou o nosso futuro.
Vejo seus olhos iluminarem. Não por um instante ou dois, mas por um longo tempo onde seus lábios calaram e deram espaço para um sorriso se abrir. Fico feliz de ainda conseguir fazer sua bochecha ficar vermelha como prometi continuar fazendo há meses atrás, porque é a cena mais linda do mundo. Acima disso, falar sobre algo importante pra mim e receber essa feição de presente era maior que qualquer coisa.
— Nosso futuro? — Pergunta exatamente o que eu disse.
— Nosso. Porque eu quero um futuro com você. Quero fazer isso direito. Conquistar meus sonhos com você.
— Está falando sério? — Ela segura minhas mãos, esquentando sua mão fria. — Mesmo?
— De verdade. Eu estou falando sério.
E ela me beija porque geralmente transmite tudo que está sentindo por meio do toque, ou de ações, ou passar um bom tempo ao meu lado. Eu me sinto importante e amado da forma como ela demonstra o seu carinho por mim. Não tenho dúvidas de que ela sente algo de verdade por mim e que a energia desses sentimentos sejam compatíveis a tudo que eu também sinto por ela.
— Me dê um tempo e... E eu vou te chamar de minha namorada. Eu vou fazer um pedido lindo, digno de tudo que você merece. — Paro nosso beijo, observando seu olhar tão humilde.
— Não preciso de grandes gestos, Jude. Tudo eu quero é dizer que sim. — Ela sorri, e suas palavras explodem o meu coração. — Mas sem alianças, por favor. Isso é coisa de noivado.
Como se fosse possível, sinto que a amo mais do que amava ontem, e que quero casar com essa mulher dentro dos próximos cinco anos futuros.
— Então, diz que sim pra mim. — Beijo seu dedo anelar, olhando nos seus olhos como se pudesse me aprofundar neles.
Ela balança a cabeça positivamente, quase rindo quando transparece algumas lágrimas de formando no canto dos olhos. Bella tenta equilibrar a emoção com a felicidade e existe uma mistura de sentimentos dentro de nós. Tudo que eu quero é poder continuar olhando ela ser feliz para o resto da minha vida.
— É claro que eu vou dizer sim pra você, Jude. E eu vou continuar dizendo sim pra você. — Seus dedos tocam o meu rosto e me puxam para vários selares contínuos. — Pra sempre.
Quando nos separa, faço questão de secar seu rosto antes que eu mesmo comece a chorar.
— Pra sempre?
— Uhum. — Confirma com a cabeça. — Sabe por quê?
Quero que ela diga, mesmo sabendo.
— Diz.
— Porque somos emocionados. — Ri do que ela disse, mas concordo com a cabeça.
— Os piores.
— E porque eu te amo. E sei disso agora.
Existe uma linha tênue em quem eu era antes dela e quem eu sou depois de olhar o seu rosto pela primeira vez. Escutei ela ser chamada de "Mini Paquetá" nos treinos antes memo que Vinicius finalmente diga o nome da sua amiga de longa data. Minha falta de curiosidade até parece estupida agora. Aquele pensamento de que eu precisava viver à base de futebol e da minha família ao longo de bons anos da minha vida me consumia.
Sinto que o mundo me deu um tapa na cara quando eu vi sua pele bronzeada, os longos cabelos iluminados, o sorriso que me ganha todas as vezes e os olhos mais bonitos que eu já vi nesse mundo. O que o universo planejou mudou de rota quando me recusei a ver a possibilidade de um romance nessa fase da minha vida. Mas o destino continua o mesmo: Ela e todo seu amor. Mesmo que eu tivesse lutado como um tonto atrás da sua ternura.
O estalo na minha cabeça foi audível: Eu amaria ela daquele momento em diante.
— Uau. — Dou risada.
— Uau? — Ela está confusa com a minha escolha de palavras, até meio inacreditada.
— É. Eu tenho te amado por pelo menos três meses. Então, é, uau. Estou chocado que agora é recíproco.
A confusão se transforma em uma felicidade aquecedora. Ela me ataca com um beijo, tomando cuidado com a minha perna. Puxo ela mesmo assim, porque poderia morrer de dor, mas não deixaria ficar longe de mim por muito tempo.
Sinceramente, pela eternidade.
— Eu adoro como você me enche de carinho só pra se esquivar da bronca. — Ela balança as sobrancelhas.
— Eu? Nunca! — Aponto pra mim mesmo, abrindo um sorriso malandro logo depois.
— Você não escapa de mim e todas as perguntas que eu vou fazer.
— Bora lá. Estou pronto. — Coloco uma mão de apoio na parte de trás da minha cabeça, e a esquerda no seu quadril.
Isso que eu quero para o resto da minha vida.
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