
𝒅𝗼𝘇𝗲. luz dos olhos teus
❛ quando a luz dos olhos meus e a luz dos olhos teus resolvem se encontrar... ai que bom que isso é meu deus, que frio que me dá o encontro desse olhar. mas se a luz dos olhos teus resiste aos olhos meus só pra me provocar, meu amor, juro por deus, me sinto incendiar ❜
pela luz dos olhos teus, tom jobim
Eu estava prestes a entrar no maior jogo da minha vida até agora na minha carreira. Era uma final de Liga dos Campeões da Europa, contra meu antigo time, e a partida aconteceria no meu país de origem. Tudo estava calculado perfeitamente para que o nervosismo do meu coração falasse mais alto.
E estava falando. Porque enquanto treino, mesmo que as vezes focado, e outras vezes rindo com meus amigos, paro por alguns segundos e noto a proporção de um jogo desses. Óbvio que todo mundo quer ganhar uma Champions League, mas pra mim, o sonho não é só uma questão de desejo irreal. Para mim, além de tão próximo dele, parece ser o cenário perfeito, com o roteiro perfeito para que voltássemos para casa com aquela taça.
Hoje, o treinamento foi aberto para os familiares, já que em alguns dias, seguiríamos nosso caminho para Londres. Minha mãe estava na arquibancada, e nesse momento, possuía o foco em seu telefone, provavelmente conversando com meu pai e meu irmão.
Fazíamos uma roda de bobinho, onde o jogador do meio precisa pegar com o pé a bola, enquanto trocamos passes em círculo. O passe circulava pelos jogadores, nos zoávamos com quem perdia a bola, o que rendia as melhores risadas. O lance é que, se você perder um pouquinho do seu foco, o bobo vai roubar a bola, e o idiota da vez é você.
O que acontece comigo é que noto uma movimentação diferente nas arquibancadas que tira completamente minha atenção no momento. Isabella parece desfilar quando anda, porque é assim que a vejo toda vez. Está cercada pelas suas amigas, sorrindo na direção da minha mãe, com aquele sorriso que faz seus olhos sumirem e em consequência, iluminar tudo ao seu redor.
E as lembranças da última vez que nos vimos, naquela festa, me interromperam.
Sou tirado do meu transe quando sou levemente empurrado e todos estão rindo da minha cara. A bola está com Fede, um dos bobinhos, que supostamente era para estar comigo.
— Pode me passar o nome de rei do bobinho. — Valverde remove a coroa imaginária na minha cabeça, me fazendo estalar minha língua, meio frustrado.
— Volta pra vida. — Vini, ao meu lado, encosta no meu corpo ainda rindo com os meninos.
— Vou fazer um favor para o time e proibir a entrada de Isabella em Wembley. — Camavinga completa a piada, para piorar a situação, e eu descubro que sou motivo de chacota constante.
— Cala a boca. — Dou risada, empurrando o cara, também levemente, apenas para zoar. — Ela foi pé quente no último jogo.
— Óbvio, tava querendo impressionar! — Tchouameni da um tapinha na minha nuca.
Mas nada que eles dizem é mentira. Eu deveria ser humilhado mesmo pela situação que eu mesmo me fiz passar. E quando olho pra arquibancada de novo, lá está a garota conversando com a minha mãe e as meninas.
Cena que mexe com o coração.
— O que as meninas tão fazendo aqui? — Pergunto, pra Vini, no momento que somos liberados da brincadeira.
— Eu convidei. — Ele possui aquele sorrisinho malandro no rosto, pegando uma garrafinha d'água e jogando no próprio rosto pelo calor.
O verão está chegando.
— Convidou por quê? — Olho estranho pra ele.
— Porque elas são nossas amigas. — Fala como se fosse óbvio, me encarando e procurando uma razão para minha pergunta.
— Eu sei disso, mas não imaginei que convidaria elas. — Jogo meus ombros como se não ligasse para o fato, mas eu ligava bastante.
— Pra depois daqui a gente dar uma saidinha. Ou quem sabe só ir pra a casa de alguém... — Ele insinua que deveríamos ir para a minha casa, e eu dou risada revirando meus olhos.
— E por que não na sua?
— Por que sempre a minha? — Ele está revoltado, e nos aproximamos do grupo de meninos novamente.
— Casa do Vini, não é? — Pergunto.
— Fifa na casa do Vini. — Rodrygo confirma, e então aponto para o jogador.
Por fim, combinamos o que faríamos depois do treino, indo contra a indicação do nosso treinador. Mas depois que eles decidiram fazer uma "festa do pijama" antes da semi final, eu não aceito mais que esse time mantém os triunfos a base da amizade.
Entrosamento ou irmandade?
Liberados do treinamento, para tomarmos banho e irmos para casa, caminhamos na direção da arquibancada onde alguns familiares estavam. No meu caso, minha mãe e as garotas. No meio do processo, Isabella nota nossa aproximação e sorri para mim quando nos vê.
É difícil descrever o quanto que uma troca de olhares pode declarar muito mais coisa do que palavras podem, ou que escancara nossa química para todos ao redor e me segura na ideia de que não há ninguém no mundo como ela. Daquele jeitinho charmoso, de quem não quer nada, mas quer alguma coisa.
O olhar iluminado de Bella, ao mesmo tempo que esfria a barriga, aquece o coração. Aquece não, incendeia.
Vinicius zoa com Dora, tentando abraça-lá com o corpo completamente suado, Alanis da risada da amiga, Tchouameni cumprimentou Isa e minha mãe com um beijo na mão dela e olho estranho para ele, Camavinga joga um pouquinho de água da garrafinha dele em Lu, e Bella está falando com Rodrygo.
Alguma coisa sobre as olimpíadas. Até onde eu sei, o time masculino, pela primeira vez, não conseguiu se classificar, e ela estava muito irritada. Me aproximo deles, para entrar na conversa.
— Oi. — Abraço a garota de leve, só deixando um beijo na sua cabeça porque estava nojento demais para me aproximar o tanto que eu queria.
— Oi. — Ela diz animada, deixando que eu me aproxime, mas não muda o assunto, continua conversando com Rodrygo em português e me faz viajar.
Na verdade, ver ela falando em português, tão expressiva, e escutar seu sotaque era realmente muito atraente. Tinha alguma coisa sobre o jeitinho e a manha dela que me cativou. Eu, de braços cruzados, não entendendo uma palavra além de Brasil e olimpíadas, mas completamente focado, apoiado no para-peito atrás de mim.
— Ok, agora diz o que você entendeu disso tudo. — Rodrygo faz um microfone imaginário pra mim, e eu só consigo prender um riso envergonhado.
— Agora que eu tô ficando bom no espanhol você já tá me forçando no português. Pera aí, também!
— Eu tô ensinando algumas coisinhas. — Isabella comenta, olhando para mim depois de acabar a conversa com o jogador ao meu lado.
— Tô sabendo que ele já sabe Seu Jorge. — Ele solta essa e começa a sair da conversa, com aquela cara de quem aprontou alguma coisa.
— Pera aí, cara! — Eu tento controlar sua língua, mas ele já tinha saído do nosso lado.
— Ele é besta, deixa ele. — Ela está rindo, envergonhada, claramente.
— E aí, o que achou do treino? — Volto a olhar para os olhos de Bella, a coisa que mais me encantava na garota.
— Não prestei muita atenção, eu tava conversando com sua mãe. — Ela declara, olhando para a mulher rapidamente, que conversava com Alanis. — Só vi os caras dando risada de você, a gente ficou sem entender.
— Perdi o foco quando você chegou, virei bobinho. — O meu tom de voz é de quem está provocando e zoando ao mesmo tempo, e acho que Isabella prefere que meus flertes sejam assim porque parecem piadas.
Mas não são. Eu acabei de contar a maior verdade do mundo, só que de um jeito que parecia brincadeira.
— Bobo no jogo e na vida real. — Ela agora está me zoando, e novamente sinto que o mundo é melhor porque estou vendo seu rosto iluminar o mundo com seu sorriso.
— Eu sou, não tem muito o que eu possa fazer pra mudar isso! — Levanto os braços em rendição, cruzando em seguida e encarando ela. — Vai pra casa do Vini?
— Acho que sim... Ele disse que iríamos pra a sua antes. Mudou? — Está com dúvida, então faz aquela carinha e inclina a cabeça levemente, e dá vontade de beijar ela ali mesmo.
— É, mudou. — Sorrio apenas pela cena. — Vamos jogar Fifa na casa dele.
— Fifa? Eu sou pessima nisso, não é justo. A gente tem que jogar Just Dance, aí vou honrar minha infância de bailarina. — Todos começam a andar na direção da saída, então seguimos o grupo.
— Mas eu sou uma negação dançando, você viu na festa.
— Vou ter que te ensinar forró pra ver se solta essa cintura. Mas você não é tão ruim assim... — Ela bate na minha cintura com a sua, o que me empurra para o lado.
— Forró. — Imito sua palavra, mas não deixo de reagir ao que ela fez. — E eu sei que você amou nossa dança.
— Quem amou mesmo foi você. — Encara meus olhos pela última vez, derretendo cada parte de um órgão que uma vez chamei de coração.
Chocado com sua coragem de me enfrentar assim, bato minha cintura com a dela igualmente, só que bem mais leve, pra não fazer ela cair por aí, e rimos que nem idiotas no caminho.
Em grupo, combinamos que os jogadores tomariam um banho rápido e seguiríamos nos carros para a casa de Vini. Assim fizemos, com a mesma divisão dos carros da última vez. Deixo que minha mãe vá pra nossa casa sozinha, se despedindo de todos nós com um beijo e esperando ver as meninas em Londres. Fico feliz que essa ideia esteja crescendo entre elas, mesmo que uma decisão não tenha sido tomada.
Dessa vez, as garotas brigam para escolher as músicas e Isabella permanece olhando o lado de fora do carro, como percebi que tem a mania de fazer. Como se seus pensamentos voassem junto com os prédios que passam no seu olhar, e eu tenho que me lembrar que o meu foco tem que ser o caminho na minha frente, antes que eu bata o carro.
É uma viagem de pelo menos 30 minutos, com as músicas mais animadas que poderiam escolher, junto com um trânsito que me incomoda. Mas Isabella permanece calada.
— Tá tudo bem? — Pergunto, preocupado, aproveitando o momento que os carros paralisam o trajeto.
— Uhum. — Ela me olha rapidamente, sorrindo com os lábios.
Não me convence, mas não insisto. Felizmente, não muito tempo depois, me desvencilho daquele trânsito irritante e sigo caminho para a casa de Vini, que fica em um outro condomínio fechado na saída de Madrid. Estaciono o carro e todas saem juntas, até mesmo Bella, que se enrola nos braços das amigas e segue o rumo conhecido.
Chegamos primeiro que os meninos, mas são só 5 minutos para nós alcançarem e entremos na casa. Dora e Isa se prontificam para jogar primeiro, então eu só vou sozinho na cozinha pegar alguma bebida pra mim, no escuro por pura preguiça de procurar o interruptor. Abro a geladeira, que ilumina o pouco, e escolho Gatorade, já que vim de um treino cansativo.
Quando me viro, vejo Isabella traçando seus passos até mim, ainda com aquela carinha de desapontada com o mundo, desanimada.
— Vai me contar o que houve? — Apoio a bebida na bancada, tirando uma mecha cacheada do seu rosto para observar seu olhar, colocando atrás de seu ouvido. Ao mesmo tempo, toco no seu queixo, vendo ela levantar os olhos até os meus.
— Não queria destruir o clima. — Ela força um sorriso, se apoiando na bancada, pulando e sentando ali.
— Você não vai destruir o clima. — Afirmo, garantindo que ela saiba que eu sou um espaço seguro para que converse comigo.
Quando conheci Isabella naquela noite, quase um mês atrás, achei que casaria com ela no mesmo instante. Talvez sua negação momentânea tenha sido de bom grado, porque assim tive a oportunidade de crescer uma amizade valorosa. Uma amizade recente, mas promissora. Era nesses momentos que se fortalecia. Mas dizem que conexão ou se cria com o tempo, ou é encontro de alma.
— É só saudade da minha família, dos meus cachorros... — Ela olha pra os pés, balançando eles no ar.
— Mostra eles pra mim. — Falo, apoiando meu cotovelo na mesma ilha de mármore que ela estava sentada, olhando para a garota.
Felizmente, meu pedido a anima.
Bella nem precisa desbloquear seu celular pra me mostrar seu plano de fundo, que possui um cocker spaniel e um dachshund, lado a lado. Ela aponta para os cachorros e começa a explicar a origem dos seus nomes, Eva e Ray, em homenagem aos personagens do seu filme favorito de princesas, "A Princesa e o Sapo".
Ela me conta sobre suas personalidades diferentes porém complementares, e então faz todo sentido sentir falta. Há muito amor dentro dela, e a coisa mais bonita do mundo é ver ela falar com amor.
— E você tem? — Ela me pergunta.
— Nunca tive. Meus pais não gostavam. Acho que nesse momento escolho não ter, também. Não tenho tempo. Mas gostaria, no futuro. Eu adoro. — Explico, e percebo que meu braço começa a ficar dormente pela posição que estou há muito tempo. Me movo, segurando ele. — Nossa, tá formigando.
— Estica. — Ela ri brevemente, pegando meu braço e balançando, para que se desacostume. — Ok, mas se fosse dar um nome, qual seria?
— Eu não faço ideia! — Começo a rir, meio desconcentrado porque a cena dela balançando meu braço é engraçada.
— Pensa, vai! — Bella me acompanha nos risos, e me deixa louco.
— Acho que depende do cachorro, da raça dele, da personalidade dele. Não sei! — Quase choramingo por não ter ideia de que nome colocaria.
— Ok, tudo bem. Vai ter que me pedir ajuda quando for decidir, tá péssimo nisso. — Resmunga, segurando um sorriso no rosto.
— Ah é? Vou chamar de Bella, então. Ótimo nome de cachorro! — Dou risada da cara dela, que se revolta e fica calada por alguns instantes.
Ela sabe muito bem como me manipular.
— É brincadeira! — Volto atrás dela, abraçando seu corpo e deixando um beijo no cabelo. — Até porque ela não poderia ter o nome da mãe dela.
— Vai se ferrar. — Ela diz, rindo, empurrando meu corpo e me fazendo rir ainda mais. Toda vez ela reagia da mesma forma com minhas investidas. — Mudando de assunto, como está se sentindo com a Champions?
— Virou minha psicóloga? — Tento disfarçar com uma piada, mas então percebo que assim como eu tentei criar um ambiente saudável para que ela se abrisse, Isabella também estava tentando isso.
— Tudo bem não querer falar. — Ela sai da bancada, encostando as costas na ilha de mármore.
— Não não... Eu tô... ansioso pra cacete. E eu geralmente não fico... Não nervoso pela opinião dos outros, eu realmente não dou a mínima para o que a imprensa diz. — Ela abre um sorriso, como se tivesse orgulhosa de escutar aquilo, o que me faz rir de vergonha por um segundo. — Mas ansioso porque é um grande jogo. Meu time anterior, na minha casa, com o time que me transformou em uma estrela. E aí penso na minha história, no meu irmão, na minha família, nos meus amigos, as pessoas que me apoiam... É tudo por essas, sabe?
Ela concorda com a cabeça, antes séria, mas agora aparentemente gloriosa pelas minhas palavras, ela coloca a mão no meu braço como um sinal de apoio. Percebo com o tempo que Bella não é muito de palavras, então ela só me abraça em seguida. Vindo de uma pessoa parecida com ela, retribuí o abraço, naquele escuro da cozinha.
— O que vocês estão fazendo no es- Ai meu Deus, desculpa atrapalhar! — Vinicius acende as luzes, fazendo com que eu e Bela nos afastássemos. No mesmo instante ele está com aquela cara de choque e constrangimento.
— Não, tá tudo bem, não estávamos- — Começo.
— Era só um abraço, Vini. — Ela também justifica, e ele concorda com a cabeça.
— Ok... Eu não disse nada. Mas vocês querem jogar? Já deve ser a sexta vez que a Isa massacra os meninos. — Ele aponta pra a saída, que dá na direção da sala, rindo. — Se não quiserem, tudo bem. Eu deixo vocês a sós...
— Estamos indo. — Isabella fala, apressando seus passos, porque eu não ia dizer nada.
Pra que sair dessa cozinha se com um olhar, um sorriso e um abraço, ela me faz desatentar que estou no escuro, porque sua existência ilumina o ambiente inteiro?
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