𝒄𝗶𝗻𝗰𝗼. ela se nega
❛ pisco olho, ela se nega. faço pose, ela não vê. jogo charme, ela ignora. chego junto, ela sai fora. eu escrevo, ela não lê ❜
mina do condomínio, seu jorge
Eu precisava aprender a dizer não propriamente.
Vinicius criou um grupo no Whatsapp com todas nós e alguns garotos que conhecemos na festa que ele mesmo fez. Pessoalmente eu estava adorando muitos deles.
Tchouameni e Camavinga são uma dupla muito engraçada, e eu certamente estarei rindo quando estão falando qualquer coisa. Rodrygo e Militão são os brasileiros de sempre. Jude Bellingham é uma praga por infestar minha cabeça com boas coisas sobre ele. Nunca vi alguém tão carismático e respeitoso.
Com a criação desse grupo, veio então o pedido irrecusável: Tickets para o jogo contra o Barcelona no domingo. Nós não tínhamos desculpas nenhuma para não ir, então aceitamos a proposta desde o momento que recebemos o convite. Principalmente porque, depois do lindo triunfo deles contra o City, estavam cheios de marra.
A parte mais importante é que, junto com um buquê de peonias cor de rosa, recebi uma caixa com uma camisa do Real Madrid. Não qualquer uma. Camisa original com o número 5, Bellingham como nome.
— Quem foi a fuxiqueira que disse pra o Jude minhas flores e cor favorita? — Viro para trás, onde as três meninas estavam sentadas no sofá, ansiosas pela minha reação.
Eu estava escondendo a felicidade.
— Ninguém. — Alanis foi a primeira a defender elas, mas eu sabia que não era verdade.
A probabilidade de Jude acertar minhas flores e cores favoritas era bem pequena.
— Mentira. — Digo, cruzando os braços.
— O que tem na carta? — Dora se levanta, curiosa, tentando mudar o assunto. Por outro lado, Lu estava evitando contato visual comigo.
— Lu... Luana Bacci Campos... — Pego a carta, antes que Dora veja, mas ainda estou de olho na minha amiga no sofá, que se denunciava só pelo jeito que agia.
— Tudo bem, eu que falei. Mas ele pediu com jeitinho. Disse que queria te impressionar. Como eu posso ir contra o romantismo incurável? — Ela se levanta, vindo até mim.
Romantismo incurável. Passei grande parte da minha vida assim, em busca da pessoa perfeita. O cara que vai ser dono de tudo que eu guardei pra ele. Uma pena que esse cara estragou todos os outros para mim.
— Tá tudo bem! Eu só queria saber, porque as chances dele acertar são muito baixas. — Me viro para o buquê, todas as garotas olhando como eu, em volta da mesa.
— Lê a carta. — Dora aponta para o papel na minha mão.
Uma carta branca, com o meu nome feito em uma caligrafia comum a mão, e o de Jude como remetente. Quando a abro, há um papel com a mesma letra dentro. "Me perdi no seu sorriso, nem preciso me encontrar."
Cada segundo tinha uma reação mais expressiva de mim. É impressão minha ou ele citou Seu Jorge? Ele escreveu em português? E olha o que ele escreveu! Jude com certeza era um conquistador caro, e cada vez ficava mais difícil de não cair no seu charme.
Obviamente Vini, ou Rodrygo, ajudaram ele. E eu aposto no camisa 7.
— Você tá me deixando ansiosa, mulher. Deixa eu ler! — Entrego a carta para Lani, e as meninas se reúnem com ela para lerem juntas.
Todas começam a gritar.
— Minha Nossa Senhora! — Luana e Dora estavam se abraçando como se fosse a maior conquista do mundo.
— Amiga, ele citou Mina do Condomínio pra ti! — Alanis segura o meu corpo e balança, como se eu estivesse fora de mim.
Mas eu realmente não estava, porque não estava esperando isso vindo dele.
— Tu vai vestir essa camisa e vai falar com ele, sim. — Minha amiga, que ainda segurava meu corpo, falou seriamente comigo.
— Isso aí. — Luana puxa a camisa da caixa, colocando na minha mão. — E eu vou contar pra a Isa a-go-ra. — Que infelizmente não poderia ir para o jogo por conta do Gael.
Descobrimos que os pais deles torcem pra o Atlético de Madrid, e nunca deixariam o pequeno assistir aquele jogo.
— Sem desculpinha esfarrapada. — Dora bate no meu ombro.
— Vou vestir a camisa porque não tenho outra, mas não vou falar com ele... — As meninas param com o surto coletivo, me observando. — Ele que venha falar comigo...
E então os surtos com gritinhos voltam.
Não é como se eu tivesse aceitado meu destino em me interessar por Jude e ocasionalmente ficar com ele. Pelo contrário. Se ele estava decidido a me conquistar, eu precisava saber se era pra valer. Não fico com qualquer um só pra beijar, não sou esse tipo de pessoa. Então se ele me quer mesmo, vai lutar por isso.
Com um pouco de esperança na amizade, porque ele é realmente muito gente boa.
Estávamos nas arquibancadas do estádio Santiago Bernabeu, que me impressionava muito porque era lindo demais. Comendo pipoca e tirando fotos lindas porque mesmo que eu queira, não posso negar que é a camisa mais linda que já vi.
Menos Alanis. Vestiu uma camisa branca para não usar a do Real, brava porque estava na "torcida errada".
No grupo do Whatsapp há algumas horas, Vini deixou bem claro que após o jogo a gente se encontraria na área VIP e depois sairíamos pra comemorar, provavelmente na casa dele, o que pra mim já era melhor do que ir pra rua com um bando de jogadores famosos.
— Eu nem gosto desse time, e ainda me fazem esperar assim? — Alanis coloca seus pés sobre a cadeira em sua frente, que não possui ninguém ainda.
O bom dessa área é que temos acesso à área familiar e não é tão tumultuado quanto as arquibancadas comuns.
— Porque eles são nossos amigos e deram os ingressos de graça pra a melhor área do estádio. — Dora responde ao mal humor de Lani.
— Tem que apreciar o futebol. — Lu, que estava ao lado da garota, cutuca o braço dela para tirar aquela feição brava.
— A Maria Chuteira é tu, e vai ficar assim? — As outras duas meninas entre nós dificultam minha visão, mas já sei que ela está brava. Então quando me inclino para frente, observando sua feição, lá está minha confirmação.
— A gente já tá aqui faz uns 40 minutos...
— E vai passar mais uns 90, e acréscimos. — Volto a dizer, e as meninas começam a rir.
— Alguém quer M&M's? — Luana se levanta, buscando por sua carteira na bolsa. Alanis também se levanta, então acredito que ela vai com a garota. — Eu vou pagar.
— Eu quero. — Dora sorri para a amiga.
— Eu quero Snickers. — Faço o mesmo. — E o chá gelado.
Meu lanchinho favorito.
— Mais alguma coisa, senhoras?
— A mesma bebida que a Bela. — Ela sorri, e estamos abraçadas como crianças. — Tem mulher que não depende da Lu, problema delas!
Estamos cantando em união, enquanto as duas garotas sobem gradativamente para a área de compras do estádio.
Voltamos a olhar o gramado e é possível ver os jogadores entrando novamente no campo. Novamente porque eles já haviam adentrado anteriormente pra aquecer, que inclusive, Jude Bellingham deu um tchauzinho de longe junto com o Vini.
Esse foi o momento em que as garotas gritaram e eu fiquei envergonhada pela presença da sua mãe em algumas cadeiras na nossa frente.
Mas eu já superei esse momento.
— Tá animada pro jogo?
— Eu não sou a maior fã de futebol do mundo, mas eu gosto de assistir... — Finjo que não sei do que ela está falando.
Porque ela está falando do fato de que Jude me enviou um buquê, uma camisa com seu nome e seu número, uma carta com música romântica do Brasil, me deu tchauzinho e ainda vamos encontrar o grupo mais tarde. Essa era uma premissa muito grande para segundas intenções. Mas eu não sou fácil.
E outra, claro que eu gosto de futebol! Na Bahia, onde nasci, torço pro Bahia. No Rio, não torço pra ninguém. Mas torcia pro Palmeiras, também. Nunca torcerei pra time rubro negro, por mais que Lucas e Vini tenham tentado.
— Para com isso, cabeça. — Luana está me olhando, eu para o campo.
— Parar com o que?
— Pensar demais. Deixa acontecer...
— Naturalmente! — Canto rapidinho, o que é uma coisa engraçada entre nós. Mas dessa vez, ela tenta segurar o riso pra sustentar a ideia na sua cabeça.
— Eu entendo que esteja em um bloqueio emocional, de verdade. Você passou por coisas ruins e não quer que aconteçam de novo. — Ela pega minha mão, e agora meu foco é total em suas palavras. Sinto que Luana é quase minha psicóloga. — Mas talvez ele seja a pessoa.
— O Jude?
Ela só concorda com a cabeça, sorrindo pra mim da forma mais doce possível. Quase como se visse minha mente. Não é segredo pra minhas amigas que eu sempre fui fã de um romance.
— Mas pode ser que não seja. Como você vai saber?
— Pois é, como eu vou saber? — Reclamo, me julgando por estar pensando nas possibilidades de ter alguém que nem ao menos conheço.
— Como você vai saber, Bella? — Ela me pergunta, de forma séria, como se realmente quisesse saber a resposta para a pergunta.
Geralmente, quando nos perguntamos "como vou saber?" estamos só reclamando da vida. Luana acabou de me fazer parar pra pensar um pouquinho como solucionar a questão, e não só resmungar sobre tudo.
O público se agita e nos tira daquele transe da conversa. O foco agora era os jogadores em campo, se organizando perfeitamente em suas posições e aquecendo o corpo antes da partida se iniciar. O pensamento sobre o assunto anterior se foi, e agora eu ativaria meu modo torcedora. Posso ser o maior inimigo do time rival.
Eu ainda não sabia muito bem as músicas, mas o hino do Real Madrid era de se apreciar.
Quando o apito soou, o jogo começa quente. Um clássico como esses trazia a tona o pior e melhor de todos os jogadores. Eu adorava clássicos, porque o time sempre tentava atuar bem, mais do que nos outros jogos.
O Barcelona infelizmente iniciou o jogo na frente. 6 minutos e um jogador que desconheço marcou um gol frustrante. Mesmo que algumas pessoas já tenham me passado o conhecimento de que o Real é time da virada, não tirava meu nervosismo do corpo.
Dora e Lani voltam correndo, escada a baixo. Nos entregam os lanchinhos e eu guardo para me alimentar no intervalo, quando fico mais agitada. O jogo estava tenso e elas perceberam. Mas não demorou muito para que Vinícius fizesse um gol de pênalti.
E o primeiro tempo segue cheio de tentativas mas nenhuma que se concretiza.
No intervalo, comemos os lanchinhos e ficamos bastante quietas. Uma ou duas palavras, mas todas pareciam concentradas demais nos próximos 45 minutos que se prolongariam bastante no Bernabeu.
O segundo tempo se inicia e voltamos a nos levantar. Pouco tempo depois, Fermin Lopez da a vantagem para o Barcelona. A tensão aumenta, mas parece que o Real não quer ceder às tentativas. Minutos após, Lucas Vázquez empata o jogo.
E o placar fica assim por muito tempo. Nossos nervos a flor da pele, todas gritando a cada chance. Mas nada, nada acontecia. O juíz decreta alguns minutos de acréscimo. Em uma leitura de Lucas Vázquez, depois um passe digno de moldura em um museu do Joselu, Jude acompanha a bola e lança um gol incrível.
Incrível não só porque é um desempate nos acréscimos, em um clássico contra o Barcelona, no Bernabéu, mas também porque é um gol de Jude, e parecia que a energia da torcida era outra depois de um gol dele. A melhor parte foi ter visto de cara aquela cena.
O estádio vai a loucura, os jogadores também. E pra completar, Jude faz a famosa comemoração dele de frente pra nós. Nesse momento, de euforia, onde todas nós estávamos gritando de felicidade - menos Lani - eu juro que pude ver ele apontando para mim antes de comemorar.
Não só eu, como as garotas que não paravam de me balançar. Mas só pode ter sido coincidência.
Como eu me nego?
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