𝒗𝗶𝗻𝘁𝗲 𝒅𝗼𝗶𝘀. massa demais
❛ que eu nado montanhas pra a gente se ver. vamo rodar o mundo [...] se for pra descobrir o mistério das coisas, que seja com você. eu sei que a nossa história é pra ser além de mim, a nossa história é pra ser além daqui. a nossa história atravessa o tempo, o plano certo, o tempo plano ❜
te amar é massa demais, anavitoria
Meu treino havia acabado há 10 minutos. Sentado no vestiário, após um banho, mandando mensagens para Isabella, um dia após o nosso triunfo, observo um funcionário desconhecido da Inglaterra caminhar na minha direção. Estranho de primeira, então volto a olhar a tela do meu celular, mas não demora para que eu sinta alguém tocar em meu ombro.
— Com licença, senhor Bellingham? — O homem branco e alto, com um sorriso medroso e um crachá de estagiário, chamava a minha atenção. Posso jurar que senti sua mão tremendo quando me tocou.
— Olá. — Retorno minha atenção a ele, vestindo a camisa que estava na minha mão para terminar de completar a roupa. Sorri minimamente, daquela forma educada.
— Tem uma moça te chamando lá no escritório do Southgate. — Menos medroso, como se tentasse demonstrar o mínimo de orgulho de si mesmo, ele joga a "bomba" para mim e caminha na direção que veio, me deixando atordoado com a informação.
Sem entender o que estava acontecendo, olho para o jogador mais próximo de mim, pra comprovar o que eu escutei. Saka organizava sua mala de roupas enquanto observa o cara sair, encontrando meu olhar curioso em seguida. Ele levanta os ombros como se não entendesse o que estava acontecendo, me deixando ainda mais confuso.
Por que diabos alguma mulher, que não é o dono da sala, me chamaria para conversar no escritório do Southgate? Se fosse meu técnico, eu entenderia. Mas o mistério me matava.
Coloco o celular no bolso e levanto do meu assento, guiando meus passos pelos corredores do centro de treinamento que estávamos alojados. A equipe técnica nos deu uma hora para recolher do chuveiro, já que o espaço está emprestado para os exercícios de campo. A sala do meu treinador é improvisada na área técnica. Bato na porta de madeira e espero alguém me atender. Escuto o barulho da porta e me surpreendo com a ambientação.
Minha mãe sorri para mim quando entro, me chamando para sua direção. Sentada no sofá em frente a ela, minha assessora, Lena, toma seu café enquanto organiza seu cabelo liso e platinado - quase branco - perfeitamente no lugar. Ambas sozinhas no espaço.
— Bom dia. — Começo, estranhando essa reunião incomum. Geralmente, minha mãe me comunica algo, ou a própria Lena me avisa por meio do meu assistente. Dessa vez, me sinto um garoto do ensino médio em frente ao seu diretor.
— Bom dia, Jude. — Ela começa, com aquele sorriso estranhamente gentil. Gentil demais pra mim. Sempre parece que vai mostrar suas garras enquanto diz palavras fofas com aqueles olhos azuis esbugalhados. O negócio é que ela é muito boa no que ela faz, então não a descarto da minha equipe porque simplesmente não gostei dela.
— O que aconteceu? — Olho primeiro a minha mãe, que abraça o meu corpo de lado depois de fungar próximo ao meu pescoço para saber se estou tomado banho.
Poxa.
— Sua viagem para Madrid aconteceu. — Ela ri, como se tivesse contado uma piada. Também dou risada para não parecer tão grosseiro, mas não estou compreendendo o que Lena está tentando comunicar a mim.
— É, aconteceu. — Afirmo, sem medo nenhum nas minhas palavras, por mais que meu cérebro esteja cheio de interrogações.
— Mas não... precisava ter acontecido, não é mesmo? — Ri de novo, como se tentasse compensar as palavras insinuas com graça, acalmando o ambiente de alguma forma.
— Como assim? — Diferente dela, odeio enrolação. Sou direto com as minhas palavras e não tendo a guardar minhas intenções, a não ser em casos extremos e que precisem de mais cuidado. No geral, preciso de sinceridade.
— Quero dizer que... Sair no meio da madrugada, sem avisar as pessoas, e viajar para Madrid - viagem essa que também não foi comunicada - por um motivo... besta, é absurdo. — Ela volta aquelas risadas e eu quero chutar uma cadeira nesse momento só com suas palavras.
Motivo besta?
— Então você sabe o motivo de eu ter ido a Madrid. — Afirmo, na verdade, quase zombando da sua cara, porque tenho m certeza que ela não entendia realmente minhas intenções com essa viagem.
— Você me contou, foi ver uma amiguinha, certo?
— Uma amiga muito próxima, e certo. Mas sabe o que eu fui fazer lá? — Pergunto novamente, sabendo que ela não tinha consciência dessa resposta.
— Tudo que você pediu para seu assistente me comunicar - quando perguntei - foi que iria vê-la, então não. — Pega sua xícara de café que está em sua frente, na mesa de centro, mexendo o líquido com uma colher, seus olhos - quase - transparentes curiosos.
— Então, é claro que você considera um motivo besta. — Minha mãe passa a mão no meu ombro, e entendo isso como uma forma de apoio ao caminho que estou seguindo com essa conversa.
— Pode me contar. — E o pior é que eu confiava em suas palavras, porque nunca nesses dois anos de gestão dela, qualquer coisa de dentro foi vazada. Pelo contrário, Lena pegava polêmicas e os transformava em verdades que vendiam muito bem para mim.
— Fui resolver nossa amizade. Estávamos brigados, pode se dizer, e eu precisava concertar isso. — Estou sendo sério, há precisão nas minhas palavras. Sem vacilar, sem gaguejar.
— Mas você poderia fazer isso por mensagem, não poderia? — Nenhum dos dois cede para o estresse. Ela pode ser uma pessoa cinica muitas vezes, o que me irrita, mas não há muitas coisas que me tirem do sério fora de campo.
— Não poderia. É isso que você não está entendendo... Isabella é uma pessoa muito importante.
Minhas palavras são verdadeiras para ela. Não tem porque mentir dentro dessa sala. Estou eu, minha mãe e a mulher que gerencia minha imagem para o mundo, então era melhor que ela soubesse das pessoas que eu amo e me cercam. Saber que tenho amigos, fora do mundo do futebol, e que eles também são importantes.
— Ah, Isabella... Eu entendi agora. É aquela garota que estava na sua casa há alguns dias? — Ela abre um sorriso malicioso, como se indicasse algum tipo de romance entre mim e a garota.
Quem dera eu.
— Ela mesma. — Minha mãe tenta se fazer presente na conversa uma vez ou outra. — Ela é uma pessoa muito boa.
Em alguns dias eu irei fazer 21 anos, o que significa a maioridade em todos os países do mundo. A partir de agora, eu seria completamente responsável por mim, onde eu fosse. Óbvio que a mulher ao meu lado não vai deixar de ser uma das peças principais do meu sucesso mesmo não sendo mais um garoto, e em uma das nossas conversas, já deixou claro que pretende continuar me ajudando daqui pra frente, mas eu também mostrei que preciso da minha independência.
Com todas essas razões, chegamos ao comum acordo de que ela não deveria mais tomar partido dos meus problemas. Estaria ao meu lado para ser minha assistência, mas ao mesmo tempo, eu seria a pessoa que guiaria a minha vida. Por isso o silêncio da minha mãe. Ela está aprendendo a me dar a voz.
— Mas vocês entendem que se tiverem algo a mais, preciso ser comunicada porque a mídia pode fazer alg-
— Ela não é minha namorada, se é o que você quer saber. Olha, mesmo que ela não seja, Bella é uma pessoa muito próxima a mim, que eu gosto muito, e sendo muito sincero... — Deixo minha raiva de lado por tudo que Lena falou até agora, jogando meu coração na mesa para que entenda que não vou ceder a esse jogo chato. — Eu espero que saiba que eu não me importo se consequentemente meu nome estiver envolvido em sites de polêmicas, portanto que haja uma mínima chance de eu estar feliz, e ela também.
Tranquei meu maxilar, decidido das minhas palavras. Era muito importante que Lena não atrapalhasse isso para mim. Geralmente eu não me apaixono pelas mulheres que fico. Na verdade, tem muito tempo que eu não converso verdadeiramente com alguém. Mas quando estive de rolo, não era com sentimento. Mas eu me coloquei em uma situação que envolvia uma amizade muito legal - que eu trabalhava muito pra não estragar - e que podia envolver alguns beijos porque ninguém é de ferro.
— Ok. — Ela acaba com o silêncio, olhando para minha mãe rapidamente. — Mas da próxima vez que quiser resolver suas situações, nos comunique. Imagine o que a mídia diria se descobrisse que você do nada está em outro país, longe do seu time. Preciso me preparar para esses momentos, e você tem que ser cuidadoso.
— Olha, eu posso pedir para meu assistente te avisar. — Acredito que chegamos em um comum acordo.
— O que for melhor pra você. — Ela sorri, aquele sorriso irritante de volta. Concordo com a cabeça.
— Bom, eu preciso voltar. Meu treinador vai passar algumas jogadas pra o próximo jogo e não posso faltar.
— Eu te acompanho. — Minha mãe diz. — Até mais, Lena!
— Boa viagem de volta. — Completo, acenando feliz pelo sucesso que essa reunião foi, enquanto caminhamos para fora daquela sala.
Na minha análise mental, a mulher poderia ter sido ainda mais bizarra do que ela costuma ser, mas entende que existem limites na sua gerência. Nos estabelecemos eles desde a sua chegada, e eu entendo a importância de uma pessoa como ela para a minha imagem como jogador, mas eu não deixo de ser um ser humano comum com livre arbítrio da própria vida.
— O que achou? — Pergunto a minha mãe, cruzando seu braço com o meu enquanto caminhávamos sozinhos em direção a saída.
— Acho que eu nem precisava estar aqui hoje. — Ela ri, mas eu entendo o motivo. Acompanho suas risadas e volto a olhar pra frente.
— Eu te amo, você sabe disso. — Reafirmo a ela.
— Eu sei... Mas não precisa mais de mim. — Ela apoia sua cabeça no meu ombro. Minha mãe anda tendo muitos lapsos de nostalgia ultimamente, e acredito que esse seja um momento propício para se emocionar com meu crescimento.
— Eu vou sempre precisar de você, mas não pra destruir a Lena com argumentos.
Minha mãe cai em risadas, coisa que sempre faz quando fazemos piadas sobre a loira. Isso porque ela também faz parte da equipe do Jobe, e ele a odeia ainda mais. Meu irmão é uma pessoa bem teimosa com suas convicções, mais do que eu, e não sabe ceder, então ter alguém tão segura dos seus planejamentos como Lena, o irrita.
— Ela só se preocupa. É o trabalho dela.
— Mas não quero puxar Isabella pra isso. Por mais que ela seja irmã de um jogador, bem famoso inclusive, ela não é uma figura pública. Odiaria que fizessem com ela o que fizeram comigo. — Nego com a cabeça, porque não foi fácil. Foi uma consequência escolhida.
Óbvio que com pesos diferentes, em mundos diferentes, mas trazer ela pra esse lado insuportável e burocrático do futebol tira toda a nossa naturalidade. Não somos nada sério, somos amigos com alguns benefícios, então eu não preciso obrigá-la a assinar um termo confidencial ou arrasta-la para reuniões comigo. Bella não é a minha esposa.
— Eu fico feliz que você tenha alguém como ela. — Minha mãe sorri, olhando para mim e parando em frente à saída. — Agora você vai contar pra mim o que aconteceu em Madrid, porque eu sei que não tem reunião nenhuma com o Southgate.
— Claro que não tem. — Eu só queria parar de ver a cara da Lena o mais rápido possível, e minha mãe sabe disso.
— Então, me conta. — Está ansiosa. — Você dormiu lá!
Estamos caminhando na direção da cafeteria do centro de treinamento. Estava vazia, com as mesas abertas em frente ao campo, com a visão perfeita de alguns trabalhadores cuidando da grama, ou pegando os materiais esportivos. Um funcionário sai da bancada e vem até nós, anotando os pedidos e voltando para faze-los.
— Bom... Você já sabe que a gente se beijou na festa, não sabe? — Eu me recordo de ter contado a ela, então só confirmo quando ela faz que sim com a cabeça, sorrindo. — Ai ela sumiu depois disso.
— Tadinha... — Minha mãe fala, como se entendesse os motivos da garota. Acho que as mulheres sempre sabem.
— Eu mandei algumas mensagens, mas ela não me respondeu. Então... Eu decidi ir lá, com ajuda do Vini e do Trent. — Bebo um gole do meu café na mesma hora que o funcionário chega com nossos pedidos, vendo minha mãe sorrir de orgulho.
— Esses meninos... — Nega com a cabeça.
— Cheguei de surpresa, pedi desculpas e disse que a gente podia apagar o que aconteceu. — Minhas palavras fazem minha mãe franzir o cenho, sem entender exatamente o que eu queria dizer. Acho que não concordou. — Só que ela assumiu que não fez aquilo pra afrontar o ex dela, nem pela nossa aposta.
— Então ela gosta de você! — Minha mãe afirma.
— Não exatamente... Ela gosta de mim como um amigo, mãe, mas também gosta de me beijar. — Digo essas palavras rindo porque sei que minha mãe nunca compreende essas coisas.
— Uhm... — Ela guarda sua opinião para si, mandando ao seguir com a cabeça.
— Concordamos em sermos amigos e nos beijarmos. Sem exclusividade, sem compromisso. Só diversão e parceria. — Completo, bebendo o resto do meu café.
Ela ficou em silêncio, como se processasse cada palavra que eu disse. Óbvio que não me diria tudo que pensa, porque talvez eu não quisesse escutar, mas pelo menos, me daria apoio porque no final, escutar bronca mas ser validado é a verdadeira relação entre mãe e filho.
— Você gosta dela. — Termina, mas não parece querer alguma explicação minha. Tinha certeza, não era um questionamento.
— Eu acho... — Começo a falar, tentando a refutar, mas tudo que ela faz é rir. — Que eu não sei do futuro, mas que estou deixando as coisas acontecerem.
— Você gosta dela. — Minha mãe sussurra, como se me contasse um segredo.
— Desisto. — Volto a rir com ela, negando com a cabeça.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro