
23 • Jantar Romântico
PASSEI A NOITE TODA DESENHANDO o que supostamente eu estava sentindo e foi relaxante para caramba, pois até às duas da manhã eu já estava cansada, com sono e com peças de roupa maravilhosas no meu caderninho.
Quando acordei, encontrei um áudio no grupo da banda. Era Luke, ele já tinha gravado a demo para a apresentação e estava maravilhosa de ouvir.
Passei a manhã toda cantando a música nova. Tomei um banho, vesti-me com um macacão de ganga e camiseta roxa de mangas compridas. Prendi o meu cabelo num coque alto e calcei os All Star.
Desci até a cozinha e soltei um bom dia bem baixo, mas tive resposta de Matthew e de seguida Mason fez um sinal para eu me sentar entre os gêmeos.
— Oi, Stephanie! — Matthew me cumprimentou com tamanha felicidade que respondi com um aceno nervoso para ele. — Me desculpa por ontem.
— É, o Matthew tem razão. Desculpa — Mason pediu e eu sibilei um "não tem importância" com os lábios.
Dylan nem sequer olhou nos meus olhos, mas eu meio que estava nem aí pra ele. Lembrei-me do meu jeito de ser e a minha essência. Ninguém deixava a Molly Mackenzie vários dias para baixo. Nem mesmo alguém que você chegou perto de amar como irmão.
No mesmo silêncio totalmente constrangedor, eu comi uma sanduíche de presunto e queijo e preparei o lanche dos rapazes para a escola. Me olhei no vidro enquanto lavava a louça e depois coloquei uma mecha rebelde de cabelo atrás da orelha.
— Stephanie, bom dia — Sra. Walker cumprimentou-me e eu senti minhas pernas tremelicarem.
Suspirei fundo antes de virar-me para trás e tentar abrir um sorriso genuíno. E não sabia se era o melhor momento para montar um sorriso, então fui logo desmontando.
— Oi, mãe — eu disse nervosa, sentindo o meu peito pesar.
— Poderiamos ter um dia de mãe e filha hoje, o que achas?
A sua sugestão me pegou desprevenida, e todo o resto que também estava na cozinha. Meus olhos passaram por cada um dos filhos na cozinha até a Sra. Walker que estava sorrindo para mim.
— Sim, claro, sem problemas. Depois das aulas? — Quis saber, deixando o prato no porta-louças antes que eu acabasse deixando cair no chão.
— Não, pensei que poderíamos sair essa manhã, antes da escola. Tomarmos um café e comermos os muffins de framboesa que tanto adoras — eu odeio framboesa.
Mas Sra. Walker estava tentando ser legal e meio que eu também estava tentando parecer legal para ela. Tudo estava estranho. Não nos falamos desde a noite em que ela me expulsou do quarto aos berros e ela simplesmente me convida para ir tomar um pequeno-almoço numa lanchonete assim, tipo, sem mais e nem menos?
— Claro, os muffins de framboesa — Ajeitei a alça do macacão e limpei as minhas mãos tentando ignorar que eu não gostava de framboesas. — Só vou subir e buscar a minha mochila.
Corri pelas escadas até o primeiro andar e busquei a mochila que estava no guarda-roupa. Quando desci, pude ver o Jeep do Dylan desaparecer do meu campo de vista.
Sra. Walker estava me esperando dentro da sua Mercedes branca, que eu nunca tinha sequer entrado desde que assumi a forma da Stephanie.
— Preferes o Starbucks ou o Dino'S? — Perguntou-me e eu escolhi a segunda opção.
Me recostei no banco do carro e abri o meu celular. Encontrei uma mensagem de Emily perguntando se tudo estava bem e eu respondi que sim. Era mentira, óbvio, mas pior do que já estava não ficou.
— Bem, Stephanie, eu na verdade quero conversar com você — Senti os meus dedos gelarem. — E pedir desculpas — Uau, eles voltaram à temperatura ambiente.
Me curvei até estar em frente ao seu rosto e, enquanto sentia o cheiro do café fresco que vinha do porta-copos, observei o desânimo nos seus olhos. O jeito que seus lábios tremiam, como se estivesse segurando lágrimas, me fez hesitar.
— Eu não deveria ter reagido daquela forma — Sra. Walker apontou. — Mas é que foi uma bomba muito forte e eu fiquei atordoada por ter perdido um caso na mesma manhã. Aquilo não foi fácil para mim, nem um pouco.
— E para mim foi? — Cuspi as palavras com toda a dor que eu estava sentindo. — Você não pensou em mim quando me expulsou do quarto feito uma cachorra.
— E eu não queria ter agido dessa forma! — Exclamou alto e eu bufei, revirando os olhos.
— Mas o que eu poderia esperar, hein? De alguém que mais se preocupa com o trabalho do que com a própria família! — Vociferei e apontei o dedo para o rosto dela. — Você deve estar pouco se cagando com esse assunto agora por causa de um caso novo, por isso veio pedir desculpas.
— Quem você acha que é para falar comigo desse jeito? — Questionou-me entre os dentes. — Você acha que é fácil ser mãe solo e tentar orgulhar os seus filhos? Você acha que é fácil tentar sair da miséria que você própria implantou na sua vida? Você não sabe de nada. Você é uma garota mimada que acha que tudo vem de mão beijada. Eu estou trabalhando por todos nós, não é só por mim. Acha mesmo que eu não me importo com a minha própria família?
Sra. Walker estacionou o carro em frente a escola. Eu a encarei, os seus olhos vermelhos de lágrimas acompanhavam o tom de pele que ficou no rosto.
— Stephanie, apenas me desculpe por tudo — pediu ela após um suspiro e eu quis aceitar, mas não consegui.
Eu era incapaz de a perdoar por ter me deixado sentir-me como uma culpada durante todo dia anterior. Enquanto eu a encarava, tentando encontrar um pingo de sinceridade nos seus olhos, meu coração oscilava entre a raiva e a tristeza. Como ela pôde me deixar tão vulnerável e ainda assim esperar que eu a perdoasse? Parte de mim queria aceitar suas desculpas e seguir em frente, mas outra parte, a que ainda sentia o peso das suas palavras daquela noite, se recusava a ceder.
— Acho que vai ser difícil de acontecer o seu desejo — eu disse, finalmente, sentindo meu peito se apertar, e saí do seu carro."
Não me virei nem por um instante para ver o seu carro, apenas entrei na escola e corri até a sala de aulas porque já estava atrasada para a aula.
Ao entrar na sala, o Sr. Habkins nem me criticou pelo horário, ele já estava acostumado com a minha costumeira falta de interesse pela sua aula de literatura.
Me sentei na minha carteira, que estava na fila do meio e também no meio da fila. Tirei o celular da mochila, juntamente com o meu caderno e uma caneta e estava pronta a acabar mais uma aula vendo Tik Tok até o sino tocar.
— Menina Walker, e que tal se hoje você deixasse de ficar presa nessa engenhoca — retrucou o Sr. Habkins me encarando por cima dos seus óculos garrafão.
Eu me senti mal e guardei o celular na mochila. Todo mundo me encarou e alguns até gargalharam de mim.
— E que tal se começássemos com a menina a abordar sobre o tema da aula de hoje? — Sugeriu o Sr. Habkins mas eu neguei de prontão. — Não foi um pedido, foi uma ordem.
A aula até que não foi tão péssima, tirando o fato de eu ter virado motivo de risada de todos os meus colegas por ter dito que Romeu e Julieta era um clássico um pouco tendencioso e que talvez eles devessem ter sido cautelosos e que tudo correria bem se fosse no sigilo. Sr. Habkins criticou-me na cara dura e a Masie While também por acreditar que o seu namorado e ela viviam um amor Shakespeariano na vida real.
Que balelas.
Recebi uma mensagem de texto quando estava a caminho do refeitório e quando vi de quem se tratava, abri um sorriso e procurei a pessoa pela escola até encontrá-la no estacionamento da escola.
Parker estava encostado no seu carro esportivo vermelho que antes já tinha sido vandalizado por mim e por minha amiga. Ele estava diferente, não nos víamos a menos de cinco ou seis no máximo mas era diferente depois de ter lhe contado toda a verdade. Era como se não nos víssemos realmente desde o acidente.
— Oi, Molly — Parker cumprimentou-me com um sorriso largo no rosto.
— Oi, Lábios Cor de Morango — Parker riu e eu juntei-me a ele. — E aí, o que houve?
— Preciso da tua ajuda. Quero elaborar um jantar romântico — Parker foi diminuindo a voz. — Com a Morley.
Ah, a Morley. Olhem, acho que já nem tinha mais nada contra com ela, mas tipo, ela ainda me fazia pensar nas minhas inseguranças, não seria fácil tirá-la da cabeça da noite para o dia. Era impossível. E eu já não sentia mais nada pelo Parker, logo, o único problema ainda era ela. Mas no éramos amigos, ou era isso que eu pensava, então:
— Claro — Respondi. — Mas por que eu?
Parker passou os dedos pelos fios de cabelo e me olhou apreensivo.
— Porque eu queria conversar com você sobre muita coisa e porque você é uma garota e a mais próxima que eu tenho como amiga — Parker disse e eu assenti.
— Ok, então vamos.
Entramos na sua viatura e os meus ouvidos reconheceram de cara New Romantics da Taylor Swift vindo do som do carro. Desci o vidro, retoquei o gloss e abri a câmera do celular.
Me fotografei ao lado de Parker e publiquei na história do Instagram.
— Você não mudou nada — Parker observou com um sorrisinho e eu revirei os olhos com um sorriso.
— Obrigada pela observação — Agradeci e guardei o celular. — Mas e aí, como vão as coisas com a Morley?
— Ah, corre tudo a mil maravilhas, se fosse para o contar o quão ela me faz feliz, eu acho que escreveria um livro sobre os meus sentimentos em relação a ela.
— Eu não leria — falei e Parker arregalou os olhos. — Não é por não querer, não me interprete mal. Eu não tenho hábito de ler. Mas se for em forma de um álbum, eu posso ouvir todas as faixas.
— Acho que foi o Gregory que mudou você — Parker brincou e eu ri. — Como vocês estão?
— Estamos bem. É tão bom se sentir amada — comentei e Parker assentiu. — Não é que com você não me sentisse assim.
— Podemos parar de tentar nos poupar, Molly. Nós nem tinhamos nada saudável.
— É, verdade. Mas sobre o quê você queria conversar? — Questionei me lembrando das suas palavras.
— Meu pai quer que eu mude de escola ainda esse mês — Parker contou-me apertando os seus dedos no volante. — Ele acha que é melhor eu voltar a terapia e andou procurando uma terapeuta profissional e bem, ele só a encontrou em Nova Iorque, o que, em resumo, significa que tenho que me mudar até o outro lado do país — Parker enfim me encarou com os olhos tristes.
— Mas isso não é bom? — Eu quis saber e ele pendeu a cabeça para o lado.
— Em partes é, mas e a Morley? Ele nem sequer pensou em mim. E Molly, a coisa mais estranha é ele voltar a fingir pensar em mim. Minha mãe um dia desses telefonou-me e disse para eu ir à Londres. Cheguei a pensar na sua proposta, estou exausto do meu pai e tudo, e então, dois dias depois, ele me aparece com a situação de morar em Nova Iorque. Sinto que ele não quer que minha mãe saiba dos meus problemas. Eu não sou aberração, apenas não nasci com a capacidade de auto-controlo.
— Parker — segurei em sua mão e olhei-o nos olhos. — Por favor, dê uma chance a ele também. Sei que ele pode parecer um, me desculpe a expressão, um merda, mas ele é seu pai e acho que para ele as coisas também não são nada fáceis. Descobrir que seu filho tem uma síndrome de problemas de auto-controlo não deve ter sido fácil, nem para ele, nem como foi para você. Não estou a dizer para perdoá-lo, isso é uma decisão sua, apenas estou tentando deixar claro que talvez devesse dar uma oportunidade a ele de entrar novamente na sua vida. Ele está tentando e nunca saberemos se dessa vez é coisa boa se você não conversar com ele sobre o assunto. Converse, tente entender os seus pontos e se por acaso você sentir que não vai estar confortável, ok, ligue para sua mãe e vá para Londres.
— As coisas não são tão fáceis assim — Parker rebateu.
— É, Parker, as coisas não são tão fáceis assim para todo mundo — retruquei e ele franziu o cenho.
— Tem alguma coisa acontecendo?
— Tem! Tem muita coisa acontecendo, Parker! — Falei para ele como se fosse uma coisa óbvia, até porque era. — Contei a verdade a todos, tenho medo da reação deles agora que contei e também tenho uma rixa com a mãe da Stephanie, você acha que as coisas são fáceis para mim? Claro que não!
— Bem, então bem-vinda ao clube dos adolescentes no fundo do poço — Parker brincou e eu revirei os olhos com o seu comentário. — Bem, vamos voltar a falar sobre o jantar.
Parker não tinha noção básica do que queria cozinhar para o jantar. Então levamos pacotes de massa, postas de bife, e almôndegas pré-cozinhadas. Uma cozinheira do Tik Tok disse que massa só é boa se for cozinha com um bom molho de tomate italiano, então levamos uma garrafa do tamanho médio e também levamos molho de soja para fazer a redução ao preparar o molho com almôndegas.
Uma garrafa de champanhe e guardanapos personalizados com borboletas, o animal preferido da Morley, o que me deixou um pouco com ciúmes, pois também era o meu bichinho favorito.
Fomos para a sua casa, onde guardamos os nossos pertences no hall de entrada e fomos até a cozinha preparar a comida. Depois de três horas de tanto sofrimento, conseguimos arrumar a mesa da sala com dois pratos de cerâmica e taças de cristal.
Para sobremesa servimos o sorvete que estava no frigorífico e deixamos tudo pronto com raspas de limão por cima do creme de vanila.
— Acho que posso ir para casa — eu disse a Parker, quando terminamos de limpar a cozinha.
— Valeu por hoje, Molly.
— Ah, não precisa agradecer.
— Eu levo-te para casa.
Aceitei a boleia a saímos da sua casa e entramos no carro. Era chato que sempre se instalasse o silêncio na viatura, e era chato tentar procurar assunto para conversarmos.
— Pensei bem no que você disse — Parker falou, matando o silêncio. — Vou dar uma oportunidade ao meu pai.
— Que bom — foi tudo o que eu consegui dizer.
Parker estacionou em frente a casa dos Walker e eu despedi-me dele com um abraço.
— Espero que o jantar seja um sucesso — eu disse a ele que sorriu e agradeceu.
Saí do seu carro e entrei na casa. Estava tudo silencioso, apenas dava para ouvir o som de piano do quarto em cima. Provavelmente era Dylan ensaiando para a apresentação do sábado.
Subi as escadas até o quarto da Stephanie e tranquei a porta assim que entrei. Abri o meu celular e liguei para o Gregory enquanto procurava a minha toalha para tomar um banho.
— Oi, linda — ouvir a voz de Greg me fez abrir um sorriso instantâneo.
Enconstei-me a parede e segurei a toalha com a minha mão livre.
— Oi, lindo — respondi e pude ouvir a sua gargalhada. — Como foi o ensaio de hoje?
— Foi bom. Eu e o Dylan já nos entendemos — Greg disse animado.
— Queria eu puder dizer o mesmo — Comentei.
— Eu não acho que o Dylan vá ficar muito zangado com você, Steph- Molly, quero dizer.
Ouvi-lo chamar-me pelo meu nome era estranho, mas ao mesmo tempo era acolhedor e aconchegante.
— Você ainda não está acostumada com todos sabendo do segredo, não é? — Greg questionou e eu suspirei.
— É, eu estou com medo das reações do Luke e do Timmy.
— Não há razão para preocupares-te. Mastu tens razão. Não é uma coisa normal, não que você não seja normal, mas é que...
— Eu sei, Gregory, entendi — o interrompi. — Não é realmente normal.
— Tenta esquecer isso. Ninguém vai te tratar mal. É só uma coisa estranha para todos nós.
Ficamos em silêncio durante algum tempo até ouvir Greg pigarrear.
— Amanhã você quer ir comigo a festa de Halloween do Trainor?
— Ah, claro — aceitei o seu convite. — Acho que vai ser bom para mim.
— Vai ser. Tenha certeza, até amanhã, Molly, beijos.
— Para ti também.
Greg encerrou a chamada e eu tentei seguir o que ele disse enquanto ia a casa de banho. Esquecer tudo isso.
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