02. Deus escreve certo por linhas tortas
SINOPSE: Ninguém da família de Lilian Evans apareceu para o seu casamento, alegando que ele não ia durar. Depois de se divorciar, Lilian é convocada para um jantar na casa da sua mãe e, para não provar que estavam certos, a única coisa que ela pode fazer é levar consigo um marido falso.
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Quando Lilian Evans casou-se com Louis O'Neil, a cerimônia aconteceu às pressas. Uma decisão impulsiva e de última hora. Ela havia se mudado para Hogsmeade quando aceitou a proposta para trabalhar no jornal local, Profeta Diário, mas sua família permaneceu na sua cidade natal, Godric's Hollow.
Por isso, sua mãe e seu pai, Sr. e Sra. Evans, sabiam que Lilian estava namorando alguém, o tal de Louis O'Neil – era exatamente assim que o chamavam –, mas nunca procuraram saber quem ele era, nem ao menos sabiam a aparência do pobre rapaz. Em vez disso, costumavam comparar Louis o tempo todo, com o marido da irmã mais velha de Lily, a Petúnia Evans.
Porque Dursley (o marido de Petúnia) era um ótimo rapaz. Já Louis-
Porque Dursley tinha um ótimo emprego. Já Louis-
Porque Dursley seria um grande homem de família. Já Louis-
Nossa, como Lilian queria sair berrando com todo mundo. Ok, ok, entendeu que era a filha decepção. Mas mesmo brava e irritada com a situação e sentindo-se extremamente injustiçada, Lily ainda desejava pelo menos um pouco de apoio. Quando noivou, mandou os convites do casamento pelo correio e torceu para que aquele fiapo de esperança que permitiu crescer em seu peito não fosse à toa.
Mas ninguém apareceu na cerimônia.
Ninguém apareceu para a festa e ninguém visitou o casal recém-casado na casa nova. Quando Lilian era criança, seu pai a chamava de Princesinha Lily e dizia que ia precisar avaliar muito bem e com muito cuidado, todos os pretendes a príncipes que surgissem. Nem mesmo ele esteve lá.
As justificativas? Não vai durar, foi o que a Sra. Evans disse. Romance passageiro, foi a frase do Sr. Evans. Lilian, você está doida em casar com esse cara, foi o que a Petúnia declarou com acidez, pelo telefone.
Lily queria muito provar que estavam todos errados em falar esse tipo de coisa sobre ela e Louis. A cerimônia foi linda, seu casamento ia durar, ia montar uma família perfeita e ia destruir e pisar com gosto, em tudo que a sua família pensava sobre o seu casamento.
Oito meses depois, ela se divorciou.
Droga.
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Seis meses após o divórcio de Lilian, quando James chegou no trabalho naquela fatídica manhã – no 15° andar do prédio mais alto do bairro, onde ficava a sede do jornal Profeta Diário –, nunca imaginou que seria abordado assim, de repente, por Evans. Ser convocado para a sala dela? Talvez, isso era normal. Ambos trabalhavam juntos há mais ou menos cerca de 5 anos e, como quase toda semana, James estava pronto para a briga de sempre: qual dos dois jornalistas ia conseguir primeiro a melhor das matérias, digna de estar na 1° página do jornal.
Entretanto, em vez da convocação que já havia traçado na própria cabeça (que envolvia deixar a ruiva furiosa, a ponto do rosto dela ficar tão vermelho quanto o cabelo), ele não imaginava que fosse encurralado na cozinha dos funcionários. Posicionada contra o batente da porta, Lilian estava prendendo James ali dentro. Para ele sair, precisaria passar por ela, mas a ruiva não parecia que ia dar passagem tão cedo.
— Não — anunciou James e virou-se para o micro-ondas, onde estava esquentando seu almoço.
— Por favor! — A voz de Lily soou atrás dele.
— A situação deve estar feia mesmo, porque eu acho que nunca tinha ouvido a palavra por favor sair da sua boca, até agora.
— Claro que já ouviu, mas nunca para você.
— Essa é sua maneira de me convencer? A resposta ainda é não.
— Potter.
James voltou a olhar para ela. Seu plano era simples: ignorar a ruiva, mas o tom de voz que Lilian usou era... rouco e provocativo demais, contrariando a ideia de apenas deixar para lá. Conforme conseguiu os olhos dele sobre si, Lily deixou sua posição contra o batente da porta, mas não para ir embora, não, em vez disso, caminhou na direção de Potter.
Ele sentiu seu corpo ficar tenso assim que a ruiva parou a poucos centímetros de distância, abaixando um pouco a cabeça para olhá-lo por entre os cílios e sorrir, dizendo de forma persuasiva:
— Não quer mesmo fazer esse favor para mim? Por mim?
Houve um instante de silêncio, que foi quebrado por James:
— Você está tentando me seduzir? — Perguntou ele.
— Depende. Está funcionando?
A resposta dele foi deixar a cabeça tombar para trás em uma gargalhada chocada e estrondosa. Lilian bufou e as risadas de Potter aumentaram.
— Idiota — murmurou ela, ficando vermelha. Não de raiva, mas vergonha. Droga, até desse jeito Lilian Evans era adorável. James afastou esse pensamento.
Ela fez um gesto brusco, virando as costas para ir embora, enquanto resmungava:
— Esquece, foi estupidez.
— Espera! — Disse James, no impulso. Ele ainda estava todo sorridente, mas suspirou de forma dramática e apoiou as mãos na cintura. — Tem ideia do que está me pedindo?
— Tenho — respondeu Lily, parando onde estava.
— Não, acho que você não tem. Você está me pedindo para ser o seu marido.
— Marido falso — corrigiu ela.
— Na frente de sua família.
— Sim, mas qual é o problema? Depois disso, você nunca mais vai ver nenhum deles. É só uma noite. Assim que acabar, você vai estar fora de toda essa confusão, sem consequências. Prometo.
James a encarou e ela o encarou de volta. Ficaram nessa luta de olhares por um bom tempo, até ele ser o primeiro a desistir e perguntar:
— O que eu ganho com isso?
— O quê?!
— O que eu ganho? — Repetiu. — Ainda não sou bonzinho o suficiente para me envolver nessa história sem pedir nada em troca.
— Tá, tá, é justo. O que você quer?
— Posso pedir qualquer coisa?
— Pode pedir, não significa que vou concordar.
Estranhamente, James já sabia o que queria:
— Eu vou poder fazer qualquer pergunta e você vai precisa responder com sinceridade todas elas.
Lilian pensou sobre isso e depois balançou a cabeça, negando.
— Você pode ter o direito a cinco perguntas.
— Mas... — começou ele.
— Mas! — Interrompeu ela. — Ainda sobre qualquer coisa. Até perguntas constrangedoras. Fechado?
James sorriu e estendeu a mão.
— Fechado.
O micro-ondas apitou no exato momento em que Lilian Evans apertou a mão de James Potter.
E é claro que foi uma péssima ideia. Remus Lupin, que não era amigo apenas de James, mas também de Lilian, deixou o que pensava sobre tudo isso bem claro: tinha grandes chances de eles dois estragarem tudo. Normalmente, James teria ouvido o amigo, mas Sirius apoiar completamente a ideia e até incentivar, teve um efeito mais forte.
Sim, era como se James possuísse seu próprio anjinho e diabinho sentados em seus ombros e sussurrando conselhos. Acabou ouvindo seu diabinho pessoal, Sirius Black.
Foi exatamente desse jeito que James acabou em Godric's Hollow em um sábado à noite com quatro pares de olhares julgadores encarando-o firmemente. A sala de jantar dos Evans era rústica, com móveis bonitos e um ambiente arejado. A mesa estava posta, o jantar estava servido e o frango assado, meu Deus, estava divino.
Lilian cutucou James por baixo da mesa, então ele tentou:
— O jantar está delicioso, Sra. Evans.
Mas provavelmente escolheu o momento errado, porque a Sra. Evans falou, ao mesmo tempo:
— Você não era loiro, querido? Eu lembro de Lilianne falar sobre isso uma vez
James engasgou-se um pouco e tomou um gole do vinho para disfarçar, lançando um olhar para Lily que praticamente gritavam: "O que?!".
— Ele era, mas Louis pintou o cabelo. — Lilian correu em seu socorro.
O cérebro de James entrou em curto circuito por um instante. Primeiro, ele esqueceu-se por um segundo que ali, era ele o Louis. Segundo:
— Lilianne? — Perguntou em voz alta.
Dursley soltou uma risadinha. É, esse daí também tinha aparecido e James o odiou logo de cara. Quando chegaram na casa dos Evans, depois de poucas horas de voo entre Hogsmeade e Godric's Hollow, a intenção era a seguinte: chegariam a noite, participariam do jantar, passariam a noite e depois iriam embora de manhã, tudo isso no menor tempo possível.
Porém Lilian havia sido bem clara: antes estava feliz pelo jantar ser apenas com os pais dela, pois a irmã Petúnia era uma megera que sempre dava com as línguas nos dentes e Dursley era um babaca ganancioso.
Foi uma baita surpresa desagradável dar de cara com os dois, quando James e Lilian tocaram a campainha da casa e foi Dursley quem atendeu. Agora, na mesa de jantar, James estava sentado ao lado esquerdo de Lilian, enquanto Petúnia estava diretamente na frente da irmã e Dursley na frente de Potter, com os Evans mais velhos nas duas extremidades.
— O nome todo dela é Lilianne — esclareceu a Sra. Evans. Nossa, ela era igualzinha Petúnia. As duas loiras e de pescoços longos. — Lilian é apelido.
James ergueu uma sobrancelha para a ruiva, sorrindo.
— Então as pessoas te chamam de Lily, que é apelido de Lilian, que é apelido de Lilianne? Entendi.
— Não! — Cortou Petúnia. — Ninguém aqui chama ela de Lily. É feio. Parece nome de cachorro.
Lilian enfiou um pedaço de frango na boca. Conhecendo-a como James conhecia, ele sabia que era o jeito que Lily encontrou para controlar o temperamento e não berrar na cara da irmã. Bom, já ele tinha outros planos.
— Eu acho lindo — disse James, dando de ombros. Pegou a mão esquerda de Lilian, que estava livre e depositou um pequeno beijo ali, sorrindo. — Lily em inglês significa lírio, minha flor favorita e muito bonita. Como você, amor.
A reação instantânea foi um barulho de asco feito por Dursley e um muxoxo de Petúnia, mas o que importou mesmo para James foi o sorriso satisfeito no rosto da ruiva.
— Aliás — começou Lily, como se tivesse reunido coragem, soltando sua mão da de James, para apoiá-la no ombro dele. — Eu contei que Louis também entrou para o Profeta Diário? Está fazendo um grande sucesso.
O verdadeiro Louis era cantor e tinha acabado de fechar contrato com uma gravadora – segundo Lily. Mas James achou que para ser convivente, certas coisas tinham que ser verdade, mesmo que escondidas por baixo do nome Louis, como o emprego, por exemplo.
— É? — Sr. Evans inclinou-se para frente, interessado. Ele sim era bem parecido com Lily, os cabelos da mesma cor e os olhos verdes? Iguaizinhos. — Que bom, rapaz. Está gostando de lá?
— Muito — confessou James. Estava nesse emprego a mais tempo do que os Evans (menos Lily) sabiam e amava o que fazia.
— Do que mais gosta lá?
— Gosto do alcance que o Profeta Diário tem, conseguimos realmente impactar de alguma forma e fazer a diferença — sorriu, balançando a cabeça. — Sim, é isso. É como ter um propósito e ele valer a pena.
Sr. Evans parecia genuinamente feliz pela resposta e, sentado na ponta da mesa ao lado de Lilian, apertou o ombro da filha.
— Boa escolha, querida. — James ficou exultante, até o Sr. Evans continuar: — Louis é um bom partido.
É... Ali ele era Louis, não James. Mesmo assim sorriu, porque o Sr. Evans merecia o gesto, ainda mais quando ele correspondeu ao sorriso com empolgação. Por que esse homem, que parecia tão bom, não tinha ido ao casamento da própria filha? Por que não a levou para o altar?
— Então — começou Dursley, com um tom de irritação na voz. — Finalmente decidiu não passar fome com aquelas músicas idiotas? Sabia que ia acabar fracassando.
Isso tirou Lily do sério.
— Você não vai falar sobre isso, Dursley. As músicas de Louis são ótimas. Ninguém fracassou aqui.
O rosto dela estava vermelho. Em seus pensamentos, só conseguia pensar em como queria dizer que Louis – o verdadeiro –, estava muito bem, obrigada. Sentia pressionada, queria sair dali.
Sua mãe a ajudou nisso, mas da maneira errada:
— Chega, Lilianne. Isso é jeito de falar com o marido da sua irmã? Vai buscar a sobremesa.
— Mas-
— Vai. Agora.
Lilian foi. Puta, irritada e esbravejando, mas foi. Voltou rápido o suficiente para ver Petúnia rindo de uma piada de James, de ver sua mãe dar batidinhas de aprovação no ombro dele, de ver seu pai sorrir orgulhoso. O único que não aparentava estar muito feliz era Dursley, mas quem se importava? James estava sendo perfeito.
Lily percebeu isso com um pesar. Podia brigar com James o tanto que fosse, mas, verdade seja dita, gostava dele e achava que Potter no fundo sabia disso. Muitas de suas brigas na verdade acabavam com os dois chamando-se de idiota e rindo da cara um do outro, mas com um tom descontraio e não com raiva.
Gostava dele, então sabia que a sua família ia gostar também. Só não imaginava que seria tanto.
Ela pensava nisso quando o jantar acabou. Pensava nisso enquanto se despedia de Petúnia e Dursley que moravam no quarteirão de baixo, então estavam indo embora. E pensava nisso quando entrou no quarto de hóspedes, designado para o falso casal, no andar de cima da casa.
Estava tão distraída, que não entendeu direito quando seus pais desejaram boa noite, com sua mãe dizendo:
— Não façam barulho. — E indo para o próprio quarto.
Lilian só entendeu quando trancou a porta atrás de si e deparou-se com um James todo contente. Ela semicerrou os olhos, desconfiada.
— O que foi? — Exigiu saber.
— Olha que coisa, vamos ter que dormir juntos — disse James fingindo estar emocionado.
Realmente. O quarto era simples e com poucos móveis, nada além de um pequeno guarda-roupa, uma escrivaninha e uma cama, tudo em amarelo pastel, igual as paredes e dando um ar enjoado.
— Poxa vida, só tem uma cama! E agora? — Respondeu Lilian com deboche, tirando os sapatos e jogando o peso do seu corpo na beirada do colchão, sentando-se ali. — Controle os hormônios, Potter. Teoricamente, somos casados. Estranho seria duas camas.
— Me toma por um adolescente, minha cara Lilianne? — James fingiu ficar indignado, colocando a mão conta o coração. — Apenas não quero deixar a bela dama desconfortável.
Lilian revirou os olhos, mas estava rindo quando deixou-se cair para trás, deitando.
— Por favor, não me chame de Lilianne. E eu não me importo se você dormir comigo, desde que controle essas suas mãozinhas atrevidas.
— Mãozinhas controladas, juro. Palavra de escoteiro.
James imitou-a, sentando na borda da cama assim como ela e em seguida jogando o corpo para trás, deitando-se ao lado de Lilian. Os dois ficaram um tempo assim, encarando o teto. A ruiva estava sentindo-se melancólica e James estava sentindo-se... nem ele sabia.
— Não gostei de mentir para o seu pai — admitiu James, quebrando o silêncio. — Mas para sua irmã e para o Dursley sim, foi incrível. Ela é mesmo uma megera e ele é mesmo um babaca. Sua mãe só é...
— Intensa — completou Lilian e em seguida riu. — Ainda bem que eu avisei antes.
Ficaram quietos por mais um instante.
— Posso fazer as minhas perguntas? — Mais uma vez foi James quem quebrou o silêncio.
— O que? — Lilian virou a cabeça para olhá-lo.
— Combinamos que se eu viesse para cá com você, eu teria direito a cinco perguntas, lembra?
Lilian balançou a cabeça, voltando a encarar o teto.
— Verdade, eu tinha me esquecido. Pode perguntar.
— Você aguentou firme quando insultaram você, mas quase perdeu a linha quando Dursley insultou Louis. Por quê?
Lilian suspirou e fechou os olhos.
— Louis não é uma pessoa ruim e não merece ter alguém dizendo que ele fracassou, mesmo ele não estando aqui. É uma das melhores pessoas que eu já conheci, para ser sincera. Eu só... — calou-se.
— Por que vocês divorciaram? — Perguntou James, mas na hora se arrependeu. — Desculpa, não precisa responder essa.
— Não é uma história muito interessante. Quer que eu invente outra versão?
James sorriu e disse:
— Quero, vai.
— É que Louis O'Neil na verdade é Louis Tomlinson, um dos ex-integrantes da One Direction, então nos divorciamos porque eu não aguentei a fama.
Os dois riram.
— Nossa, então me apresenta — pediu James. — Se você não quer ficar com Louis Tomlinson, eu quero.
Lilian deu um tapa fraco nele, de brincadeira e ainda estava rindo.
— Engraçadinho. A história verdadeira é que... só não deu certo. Eu tenho um emprego incrível, tínhamos essa casa espaçosa e maravilhosa, Louis fechou o contrato com a gravadora e nos dávamos muito bem. Estava tudo perfeito. — James dessa vez não quebrou o silêncio, deixou Lily reorganizar os pensamentos antes dela continuar: — Mas fomos rápidos demais. Estávamos namorando a seis meses quando decidimos casar. Eu o amava... eu o amo. Acho que ele ainda me ama também. Mas confundimos amor de amizade por aquele outro tipo de amor.
— Por que não contou a verdade para os seus pais? Não foi tão ruim. Já faz seis meses que você se divorciou e eles nem notaram.
Lilian deitou de lado, apoiando o peso do seu corpo contra um cotovelo apoiado no colchão.
— Porque eu daria razão para minha mãe e para Petúnia. Elas disseram que não ia durar e estavam certas, mas achavam isso pelos motivos errados. Petúnia disse com todas as letras que eu sou incapaz de amar e que todos os meus relacionamentos não vão prestar.
James sentou-se, chocado. A veia na testa dele podia estar pulsando de raiva, não podia acreditar.
— Mentira!
— Verdade. Uma merda, né?
— Por que ela falaria esse tipo de coisa?
Lilian primeiro hesitou, mas então admitiu:
— Eu fui uma adolescente problemática. Tenho histórias para contar quando estou na mesa de um bar, mas não me orgulho delas. Eu fiz minha mãe sofrer, meu pai então? Nem se fala. Ele era o único que gostava do apelido Lily além de mim, me chamava de Princesinha Lily.
— Defina "problemática".
Lily deu de ombros.
— Bebia, usava drogas, fui presa, esse tipo de coisa. Foram anos difíceis. Estou melhor agora e estou limpa desde quando entrei para o Profeta Diário, já são mais de cinco anos. Mas elas não... acreditam totalmente nisso. Acham que eu ainda sou aquela Lilian. Ou melhor, aquele Lilianne.
— Eu não conheci essa Lilianne, mas conheci Lilian Evans. Ela é uma mulher maravilhosa. Tenha orgulho dela.
Os dois se olharam. James tinha uma intensidade em seus olhos e Lilian estava com um sorriso calmo no rosto. Ela falou baixinho quando respondeu:
— Acredite, eu tenho.
Quando se ajeitaram para dormir, Lilian fez James ouvir uma série de regras sobre o que ele não poderia fazer naquela cama (incluindo roubar a coberta, empurrar a ruiva para o cantinho da cama e – ela frisou bem – sem conchinhas!!), mas quando chegou na 4º regra, Potter já estava dormindo e não mais a escutando.
O despertador tocou bem de manhãzinha e James impressionantemente resistiu a vontade de quebrar a terceira regra (a da conchinha), mas quando abriu os olhos, percebeu a cena: as pernas dos dois estavam entrelaças e Lilian estava dormindo com o rosto contra o peito de James, os braços dela abraçando o tronco de Potter.
— Hmm — murmurou Lilian enquanto dormia.
— Ruiva — sussurrou James. Uma das suas mãos estava contra as costas dela, mas com a outra, deu umas cutucadinhas em Lilian. — Ei, ruiva. Acorda. — Ela nem se mexeu. Então Potter deslizou seus dedos pela curva do pescoço de Lily, levando sua mão até o rosto dela e fazendo um carinho na sua bochecha. — Lírio?
Os olhos de Lilian se abriram. No mesmo instante ela entendeu o que estava acontecendo, porque a expressão dela ficou totalmente chocada e exclamou, indignada:
— James! Você está duro?!
Sim, ele estava.
— Ereção matinal, ruiva. E preciso que você me solte.
Finalmente Lilian percebeu a maneira que estava agarrada a ele e soltou um grito, afastando-se rápido demais, o que acabou fazendo-a enrolar as pernas no lençol, se embananar toda tentando sair e cair com um baque no chão.
— Meu deus, Lily! — James correu para ela, ficando de joelhos na borda a cama e olhando para baixo. — Está tudo bem?
Mas a esse ponto, Lilian já havia se levantado sozinha e corria porta a fora, com o roto vermelho e murmurando algo parecido com "banheiro". James ficou encarando a porta, surpreso e confuso, por mais alguns segundos antes de cair na gargalhada e se desequilibrar, também caindo no chão.
— Que confusão foi aquela que ouvimos daqui de baixo? — Perguntou Petúnia, meia hora depois.
Os dois estavam na sala, sentados no sofá, olhando para a TV desligada. A irmã mais velha apareceu de novo na casa dos Evans assim que pôde. Estava sem o marido dessa vez, mas o veneno estava pronto para ser usado. Dava para ver pela vontade ávida dela por informações, como se estivesse caçando motivos para apontar o dedo e dizer, "eu avisei". Mas, obviamente não dando o que ela tanto queria, James apenas sorriu.
— Confusão? Teve confusão nenhuma.
— Mas ouvimos um barulho — insistiu Petúnia.
— Ah, sim. Vocês me ouviram cair da cama. Sou meio desastrado às vezes.
Petúnia olhou para ele com uma expressão desconfiada, mas James apenas deu de ombros. Não estava mentindo, tinha mesmo caído da cama. Por estar rindo de Lilian, porque ela havia caído primeiro, mas esse detalhe não vinha ao caso. Quem liga para detalhes, não é mesmo?
— Bom dia, Louis — cumprimentou a Sra. Evans, entrando no cômodo e sentando do outro lado de James no sofá.
— Bom dia, senhora.
— Ora, senhora não! Pode me chamar de... — Ela se interrompeu, quando lembrou que Lilian não estava ali. Uma expressão de curiosidade surgiu no seu rosto. — Escuta, deixa eu te perguntar uma coisa rapidinho, se não for incômodo. Que confusão foi aquela que ouvimos daqui de baixo?
Petúnia bufou.
— Já perguntei, mãe. Não foi nada interessante.
Meu Deus. Mentalmente, James estava batendo a cabeça na parede ou respondendo sim, é um incômodo. Podia apostar que Lilian não havia saído de Godric's Hollow só pelo emprego no Profeta Diário, mas também para fugir dessas duas.
— Eu e Lilian estamos muito bem — ofereceu ele. — Não precisam se preocupar. Eu amo aquela mulher.
Tentou permanecer com uma expressão neutra enquanto falava isso em voz alta. É o que um marido falaria da sua esposa, certo? Mas Petúnia apenas fez um sinal de descaso.
— Por enquanto, meu bem. Espera só mais alguns meses, que você vai sair correndo. Achei que a essa altura já teria ido.
James a encarou.
— O que você quer dizer com isso?
Petúnia gaguejou perante o olhar irritado no rosto dele e os lábios contraídos.
— Não precisa ficar bravo. Não é você, é ela. Lilian não bate muito bem, ninguém consegue lidar.
— Eu consigo. Mas obrigado pela preocupação. Ou melhor, obrigado por nada.
Sra. Evans interviu, com aquele sorriso de mãe, que James percebeu ter visto poucas vezes desde quando a conheceu. Notou que ela o usava a seu favor, como estava tentando fazer no momento.
— Louis, não falamos essas coisas por mal. Apenas conhecemos nossa Lilianne. Só vamos deixar esse assunto quieto, pode ser?
— Não.
James levantou do sofá, afastando-se das duas. Estava perdendo a paciência, percebeu, mas não se importou. Em vez disso, parou na frente delas e começou:
— Lilian é uma jornalista incrível, o Profeta Diário tem sorte de ter uma funcionária assim como a minha Lily. Nunca vi alguém se esforçar mais do que ela. Ela me incentiva a ser melhor todos os dias, nem que seja com as nossas disputas bobas. Não a conheço a vida toda como vocês conhecem, mas em 5 minutos de conversa eu já sabia o quanto ela era maravilhosa. A Lilian que eu conheço, que tenho por perto todos os dias, é inteligente, bondosa e tem um caminho de sucesso pela frente. Vocês deveriam ver isso também, nada mais. Essa é a Lilian. Essa é a mulher por quem eu sou apaixonado e não vou fugir como vocês pensam. Meu coração partiria antes que permitisse isso. Tudo bem?
As duas estavam de boca aberta e pareciam atônitas, porque para responder, apenas assentiram. James assentiu de volta.
— Certo. — Não sabia mais o que falar. — Hã... Bom papo.
E saiu da sala, o rosto ficando vermelho. Não pelo o que disse, mas pela sinceridade em cada uma das palavras.
Enquanto isso acontecia na sala, no cômodo ao lado, na cozinha, Lilian ajudava seu pai a lavar a louça do café da manhã. Ela sabia que estava com saudade dele, mas só percebeu o quanto, ao ter de novo aquelas longas conversas que sempre tinha com ele, ao relembrar o sorrisão que seu pai dava quando Lily contava sobre o trabalho e a maneira como ele parecia se importar de verdade.
Lilian estava guardado as xícaras, contando da vez em que ela e James trabalharam juntos em uma reportagem e ela ficou tão, mas tão boa, que chegaram a ganhar um prêmio – mas nessa a história, ele ainda era Louis.
Assim que Lily acabou de guardar e de contar a história, o Sr. Evans aproximou e apoiou uma mão nas costas da sua filha.
— Querida... — começou ele.
— Ah, não — reclamou ela. — Você está com a voz de bronca. Seja lá o que você sabe, não fui eu.
O seu pai riu, a risada acabando em uma tosse. Mesmo assim, ele se recuperou e disse:
— Não foi você que trouxe um rapaz para cá fingindo ser seu marido?
Lilian fingiu estar arrumando as xícaras na prateleira.
— Não sei do que você está falando.
— Me desculpa por não ter ido ao seu casamento, minha filha. Me arrependo amargamente disso todos os dias. Eu sou apenas um velho tonto que deixou ser contagiado pelas palavras da sua mãe.
Lilian sentiu os olhos ficarem marejados.
— Está tudo bem, pai.
— Não está, minha princesa. Mas espero que fique e que você me perdoe por nunca ter tido a chance de conhecer Louis O'Neil. Porque aquele rapaz lá fora... aquele não é Louis. Mas quero que saiba que, mesmo assim, eu gostei desse aí.
Lily, que a essa idade já era maior que o seu pai, abaixou um pouco para abraçá-lo. Deixou escapar um soluço, mas segurou as lágrimas.
— Eu te perdoo, mas ainda espero que você conheça Louis um dia. Me perdoa também por... sabe, mentir.
— Minha filha, se eu tivesse a mãe que você tem, não posso garantir que não faria o mesmo. E acho que você não escolheu esse outro moço para isso à toa.
Lilian riu, saindo do abraço com cuidado e gentileza.
— Como soube? Que James não é Louis?
— Então o nome do dito cujo é James?
— Pai... — Foi a vez dele de rir.
— James não sabia que o seu nome é Lilianne. Eu te liguei uma vez e foi Louis quem atendeu e eu perguntei por Lilianne Evans. Seu ex-marido já sabia dessa informação. E se você teve que fingir, acredito que seja ex mesmo, não é?
— Sim...
— Ok, agora chega desse papo. Vem ajudar seu velho a guardar esses talheres. Mas você ainda vai me ligar para me contar tudo, hein?
— Pode deixar — prometeu Lilian.
Os dois foram embora algumas horas depois. Lily não sabia o que James havia dito para sua mãe e irmã, mas as duas estavam estranhamente comportadas. Nenhuma delas fez os comentários maldosos de costume. Podiam também ter deixado de lado a encenação de sempre, quando fingiam estar chorosas com a partida de Lilian, mas lá estavam as lágrimas falsas.
Quando Lily finalmente sentou-se na poltrona A22 do avião, ao lado janela e pronta para voar de volta para casa, suspirou pesadamente.
— Nós sobrevivemos? Ou eu morri e não percebi ainda?
James riu, pegou a mão de Lily e colocando contra o seu peito, onde o coração dele batia, acelerado.
— Olha aqui. Eu estou bem vivo, então você também está.
•••
— Falta uma pergunta.
Lilian voltou-se para James, confusa. Era segunda-feira de manhã e ambos estavam na calçada em frente ao prédio do Profeta Diário. James havia visto Lilian chegando no trabalho e correu para alcança-la.
— Do que você está falando? — Perguntou ela.
— Eu tinha direito a cinco perguntas, mas só fiz quatro. Falta uma.
Eles pararam a alguns metros da porta do prédio e Lily colocou as mãos na cintura, em dúvida.
— Você pode estar me enganado.
— Não estou, juro.
— Hm. Tá, então vai em frente. Estou me sentindo boazinha hoje.
Lilian sorriu e James sorriu de volta, embora um pouco nervoso. Passou os dedos por seus cabelos, bagunçando-os antes de finalmente tomar coragem:
— Por que eu? Quero dizer, você podia ter pedido para qualquer outro cara fazer isso por você.
Lily surpreendeu-se com a pergunta. Não sabia o que esperava, mas não era isso exatamente. Mesmo assim, gostou, pois a resposta já estava na ponta da língua:
— Eu confio em você, James. Eu queria... ser vista, pela minha família. Queria que olhassem para mim e em vez de notarem apenas a ovelha ruim da família, queria que me vissem com o meu marido, bonito e engraçado. Mas é o tipo de coisa que se a gente não tiver apoio, nós quebramos. Então, não, eu não podia fazer isso com qualquer cara. Eu confio em você. É isso.
James estava olhando-a com uma expressão esquisita e intensa.
— Então você me acha bonito e engraçado?
Lilian riu, empurrando um ombro dele para trás.
— Sim, idiota.
— Idiota, porém bonito e engraçado.
— Meu Deus, isso vai subir para sua cabeça, não vai?
— Vai, tarde demais para retirar agora.
Os dois sorriram um para o outro. James deu um passo na direção dela, colocando uma das mechas vermelhas de Lily atrás da orelha. Ela tremeu um pouco.
— Obrigado por confiar em mim — disse ele.
Lilian achou graça:
— Eu que preciso te agradecer. Enfrentou Petúnia por mim, isso é tipo uma passagem direta para o céu.
— É o tipo de coisa que eu faço pelas pessoas que eu gosto.
— Ahá! Eu sabia que você gosta de mim.
— Não, Lily, estou falando de gostar mesmo. Você sabe disso, não sabe? Eu gosto de você.
— James...
— Calma, deixa eu falar. Eu fui dormir ontem pensando em tudo isso. A gente já se conhece vai fazer anos. Eu conheço quase tudo sobre você e acho que você conhece quase tudo sobre mim. Os detalhes nós podemos descobrir, eu sei que sim.
Lilian desviou o olhar, intimidada pela expressividade no olhar de James. Ela sentia que podia explodir como fogos de artifícios.
— Eu já fui rápido demais antes.
— Eu não tenho pressa, podemos ir no ritmo que você precisar que seja.
— Você meio que já conheceu os meus pais e ainda nem rolou um primeiro encontro.
— Deus escreve certo por linhas tortas? — Sugeriu James.
— E coloca tortas nisso!
Ele riu, descendo uma de suas mãos para a cintura dela. As mãos de Lilian acabam contra o peito de James, mas não para empurrá-lo e sim para trazê-lo mais para perto, o que o fez sorrir. A mão livre dele encontrou caminho na nunca da ruiva, segurando-a com firmeza. James inclinou-se, os seus lábios roçando no canto da boca de Lilian.
— Confia mesmo em mim? Posso beijar você?
Lily ficou na ponta dos pés para encostar a testa dela contra a dele. Naquele momento, a única coisa que importava era a pressão que os dedos dele faziam ao tocarem nela. Por isso, Lilian sussurrou:
— Sim.
James acabou com a distância entre eles, juntando os seus lábios e pressionando a mulher contra si. O coração de James bateu mais forte com o gosto do gloss de morango da ruiva, o coração de Lilian disparou com os toques íntimos e ambos os corações tropeçam com a sensação de quando Potter envolveu a língua dela com a sua.
Quando finalmente se afastaram, Lily precisou de uns segundos para respirar fundo. Estava anestesiada e parecia estar voando. Quase conferiu para ver se não estava mesmo, mas controlou-se. Quando olhou para James, ele a olhava como se pudesse vê-la por inteira e o seu meio sorriso dizia mais sobre o que passava na mente dele, do que se Potter tivesse colocado em palavras.
Lilian saiu do transe quando se lembrou que ainda estavam parados na frente do trabalho deles. Não estavam atrasados, porque sempre chegavam mais cedo, mas também não podiam vacilar.
— Ok, precisamos entrar — apontou para o prédio atrás deles. — Seja profissional, senhor Potter!
Exclamou Lilian, arregalando os olhos como se estivesse exasperada, mas o seu olhar estava alegre e logo um sorriso se abriu no seu rosto, de orelha a orelha.
— Sou super profissional! — Ele defendeu-se, rindo. — E é por isso que eu vou te levar para jantar no meu restaurante favorito depois do trabalho.
Lily sorriu.
— Fechado.
James ofereceu seu braço para ela como um cavalheiro e Lilian riu ao aceitar, entrelaçando seu braço no dele e juntos caminharam em direção a entrada do prédio. Mas antes que chegassem lá, o celular de Lily apitou.
Tirando-o de dentro da sua bolsa, ela viu que era uma mensagem da Sra. Evans.
— Ah, é a minha mãe.
Comentou Lilian e abriu a mensagem, com James lendo por cima do seu ombro. A Sra. Evans havia mandado o link de um site, onde a matéria em questão contava sobre um prêmio que os dois (James e Lilian) ganharam uma vez por causa de uma reportagem em que trabalharam juntos – aquela que Lily contou para o seu pai. Lá, tinha uma foto dos dois e os respectivos nomes na legenda.
A mensagem de Sra. Evans, logo abaixo do link, dizia:
Como assim nós conhecemos James Potter e não Louis O'Neil?????
Lilian e James entreolharam-se, assustados. Passou um segundo e então... eles acabaram caindo na gargalhada.
Ops.
Fim
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