Capítulo 9
"Ok, ele beija bem... sem dúvida... não posso negar isso, especialmente se eu considerar que, se eu ainda não me lembrasse da Liam, provavelmente me sentiria bem achando que estava beijando um clone aprimorado do Lucas Till... mas isso é irrelevante, porque a pessoa que amo é a Liam. Eu só deveria beijá-la desde o momento em que comecei a lembrar da sua existência em minha vida, e um beijo definitivamente não faz parte dessa conversa. Não me lembro de ter dado permissão, nem de ter insinuado qualquer coisa nesse sentido, então alguém pode me explicar por que diabos ele está me beijando?"
Eu resisti com todas as minhas forças, lutando contra a invasão dos lábios dele nos meus. Empurrei, chutei e fiz todo o possível para me libertar, mas ele segurava meu rosto com força, tentando aprofundar o beijo que eu firmemente rejeitava. A preocupação de que ele pudesse retaliar com violência extrema me impediu de usar toda a força que possuía. Em certo momento, temi que ele pudesse arrancar minha cabeça diante da resistência que oferecia.
Ao perceber que eu não facilitaria sua investida, ele finalmente soltou meu rosto, tentando se afastar. Contudo, agi com rapidez e desferi um tapa firme em seu rosto, marcando um momento de revolta diante daquela tentativa invasiva e indesejada. — QUEM TU PENSA QUE É? NÃO TE DEI OUSADIA NEM LIBERDADE PRA FAZER ISSO!
— Eu sei, mas precisava tentar. Eu disse que preciso do seu amor. Pense em tudo que eu te falei hoje!
— Não tenho nada para pensar...
— Mas Eira, eu posso sucumbir a Ela...
— POR MIM VOCÊ PODE EXPLODIR QUE EU NÃO 'TÔ NEM AÍ.
— Não diga isso, você não faz ideia do que pode acontecer se eu deixar de ser consciente das minhas ações.
— Não preciso saber até porque eu já nem posso fazer mais nada graças a você e a Deusa. Você devia procurar ela para te ajudar, vão fazer um belo casal de mentirosos e traidores.
— Eira, eu nunca menti para você. Posso não ter sido a melhor das pessoas na sua vida passada e talvez eu não esteja sendo nessa também, mas se ficar comigo isso pode mudar. Por favor me escolha...
— NUNCA!
— Eira...
— EU DISSE NUNCA! — ai, que raiva de não ter mais poder e usar tudo que eu tivesse contra Ele.... — EU SEMPRE VOU ESCOLHER APENAS A LIAM.
— Entendo. — Ele se virou e ficou por um momento olhando para o mar, perdido em algum pensamento triste, que fez com que seu semblante demonstrasse uma profunda tristeza — É uma pena... eu ainda tinha esperanças de que pudesse fazer você me amar de alguma forma. — disse com uma voz completamente diferente de antes, sem emoção, dura como pedra.
Já o tinha observado de inúmeras formas, executando toda sorte de ações, mas nunca o vi demonstrar qualquer emoção além de raiva, ódio e desdém pela vida alheia. No entanto, naquele momento, parecia que ele estava vulnerável, tocado pelo medo. Entretanto, a vulnerabilidade foi rapidamente substituída pela frieza característica dele. Por um breve instante, sua expressão pareceu perdida em pensamentos distantes, mas logo depois, um sorriso sarcástico surgiu em seu rosto enquanto mantinha seu olhar fixo em mim.
— Bem Eira, você disse que sempre vai escolher apenas a sua guerreira selvagem. Será que ela pensa a mesma coisa?
— O que quer dizer? — perguntei lembrando das palavras dela no nosso último encontro.
— Que tal você perguntar pessoalmente se ela ainda te escolheria.
Meu coração doeu com as palavras dele. Só que eu não imaginava o quanto mais ele ainda iria doer, nem mesmo depois de ver que um de seus servos alados havia pousado do seu lado, só que não era apenas um alado.
— Liam.
Desde o dia em que aquela garota alegando ser a minha Eira apareceu, venho mantendo-me ocupada incessantemente, buscando distração para não ter que encarar sua lembrança. Não me importava com as tarefas que Ele me incumbia; antes mesmo de me convocar, eu já estava a postos ao seu lado, pronta para receber minhas ordens. Inicialmente, Ele pareceu surpreso e desconfiado com minha prontidão, mas logo percebeu que minha assistência era crucial, especialmente com suas outras responsabilidades a exigirem tanto de seu tempo.
Enquanto me envolvia nessas tarefas, encontrei diversas guardiãs e seus guerreiros. Embora notavelmente diferentes de antes, ao me avistarem, seus olhares pareciam carregar uma mistura de surpresa e incredulidade, como se me reconhecessem, porém, não conseguissem acreditar na visão diante de si. Alguns até ousavam pronunciar meu nome, mas eu sabia, sem sombra de dúvida, que aquilo não passava de uma ilusão.
Como aconteceu no dia que encontrei os atuais detentores do poder da água, quando ele me pediu para que eu acompanhasse os servos e um novo monstro que ele havia criado. Aliás a cada dia que passa essas bestas tem ficado maiores, mais fortes e mais difíceis de se matar, como o desse dia mesmo que lembrava ao mesmo tempo uma aranha e um caranguejo gigante: tinha várias pernas que terminavam em lâminas afiadas, dois braços que pareciam garras gigantes e seu corpo era coberto de uma carapaça cheia de espinhos venenosos e do seu peito abria uma boca enorme com grandes e afiados dentes. Nem sei se aquela guardiã e seu guerreiro conseguiram derrota-lo sozinhos e ainda saíram inteiros. Fomos enviados justamente para o território desse casal que, no momento em que me viram, vieram logo falar comigo como se me conhecessem a muito tempo, e dizendo o mesmo que todos os outros diziam: que haviam renascido em um corpo diferentes, mas eram as mesmas pessoas, ou seja, Bariri e Uraraí. Mas é logico que eu não iria acreditar naquilo, pois é algo impossível de ser verdade, mesmo que por um instante meu coração tenha parado de bater quando a guardiã falou que Eira estava sofrendo muito por tudo que estava acontecendo, mas me recuperei rapidamente quando a voz ne minha cabeça me disse que provavelmente os anciões descobriram o que eu fiz anos antes e resolveram me punir inventando essa história de renascimento e que aquela garota que se dizia ser a Eira era só para me fazer sofrer mais do que eu já sofria com a falta dela ao meu lado.
Por esse motivo, para não ficar pensando em todo esse assunto era que eu trabalhava, fazia praticamente tudo, como agora que terminei de ver se os idiotas que ele mandou para um lugar que ainda não sei o nome estão fazendo tudo direito.
— Liam. — novamente a voz d'Ele entra na minha mente.
Eu abri as asas e voei até encontra-lo perto do mar; havia alguém com ele, mas não me importei com quem era até o momento em que pousei do seu lado.
— Liam. — era aquela garota que se dizia ser a Eira que, como antes, parecia surpresa em me ver, mas pude perceber que havia tristeza em seu olhar.
— Me chamou? — respondi sem prestar muita atenção nela.
— Sim, eu tenho um novo serviço para você.
— O que seria?
— Essa guardiã sem poderes já não me serve de mais nada, então faça a gentileza de matá-la.
— Guardiã sem poderes? — perguntei olhando d'Ele para a garota — Espera, você quer que eu a mate?
— Isso mesmo que você ouviu. Mas como sou uma pessoa justa, vou deixar que você possa se defender guardiã. — Ele disse fazendo aparecer uma espada, parecida com a que havia me dado, na frente da garota.
— Será que você já não me fez sofrer o suficiente? — perguntou a garota olhando com ódio para Ele.
— Um sofrimento a mais ou um a menos não vai mais lhe fazer diferença, minha querida. E se seu coração se encher totalmente de ódio, tristeza e sofrimento, você pode se juntar a mim no... como é mesmo que vocês chamam hoje em dia? Ah! No lado negro da força! — Ele riu como se tivesse contando algo muito engraçado, que eu não entendi — Divirtam-se!
E então, Ele desapareceu, não sem antes soltar aquela risada estridente e grotesca que lhe é característica. Após sua partida, a garota desabou de joelhos na areia, deixando a espada de lado, imóvel por um momento. Embora soubesse que não estava obrigada a seguir suas ordens, senti uma curiosidade insistente em permanecer ali, observando como aquela farsante reagiria diante da possibilidade de sua própria morte. Talvez, diante da iminência do fim, ela finalmente se sentisse compelida a revelar a verdade, libertando-me, enfim de suas enganações.
— Liam, você vai mesmo me matar? — perguntou, e na sua voz eu pude sentir sua profunda tristeza, coisa que, não deveria, mas fez meu coração doer ainda mais, algo que nem sei se ainda é possível de acontecer.
— Você mesma ouviu o que Ele disse, e eu como sua serva devo obedecer. — era mentira, mas eu queria acabar logo com toda aquela farsa e ir embora. — Ande logo que eu ainda tenho muito o que fazer.
— Sei que disse antes que... Não sentia mais nada por mim, mas me matar Liam? Será que nada do que aconteceu no passado realmente significou algo para você querer fazer isso agora comigo?
— Cale-se! — gritei com raiva. Ela estava tentando me enganar mais ainda, implorando que eu usasse a memória da minha felicidade com a Eira para não matá-la; eu não ia permitir. — Pare de ficar falando sobre Eira, sobre o passado, já disse que nada disso importa.
— Tenho certeza de que não é verdade mo bheatha, você...
— PARE! Admitirei tudo, menos que ouse me chamar como ela me chamava! — aquilo já estava passando dos limites. Que ensinasse como a Eira se portava era uma coisa, mas fazer com que ela soubesse e usasse as formas carinhosas como ela me tratava, já era mais do que eu podia suportar. Minha raiva já estava tão insuportável que minha mão já se encontrava no cabo da espada.
— Então esse é o verdadeiro problema, você não consegue acreditar em mim, não acredita que eu sou a mesma Eira que você conheceu no passado, mo ghrá?
Não suportando mais a situação, retirei minha espada da bainha e investi com toda a minha força contra a garota mentirosa. Pouco me importava se ela possuía habilidades de uma guardiã ou se sabia se defender com a espada; meu único objetivo era romper com suas mentiras e confrontá-la por todos os enganos que causou.
— EU DISSE PARA NÃO ME TRATAR COMO A EIRA ME TRATAVA!
No último instante, ela se ergueu do chão, pegando a espada que jazia ali, usando-a para bloquear meu golpe. No entanto, não teve forças suficientes para resistir ao impacto, pois, além da minha força habitual, impulsionada por minhas asas, desferi um ataque poderoso. Ela recuou, cambaleando, mas conseguiu erguer novamente a espada para bloquear meu próximo golpe. Ficamos assim por um tempo, eu atacando incessantemente, tentando encontrar uma brecha em sua defesa aparentemente impenetrável. Parecia que ela conseguia antecipar meus movimentos, como se tivesse treinado comigo. Contudo, a única pessoa que treinei foi Eira. "Isso é impossível! Não pode ser ela!", pensei, intensificando ainda mais a força dos meus golpes. Até que, finalmente, consegui desequilibrá-la, fazendo-a cair no chão e perder a espada.
— Isso — eu disse erguendo a espada acima da cabeça e olhando para ela, com toda raiva que eu estava sentindo — é para você aprender a não mentir mais nem para mim nem para nenhuma outra pessoa. VOCÊ NÃO É A EIRA! NUNCA FOI NEM NUNCA SERÁ!
Inicialmente, minha intenção não era matá-la; apenas queria assustá-la o suficiente para que finalmente admitisse a verdade. Contudo, após mais uma tentativa de me enganar com a história de ser Eira, não havia espaço para perdão.
Desci minha espada com toda a velocidade que pude reunir, visando um golpe único e certeiro, mas fui surpreendida por outra lâmina. Ao me afastar, percebi que um dos guerreiros estava segurando a espada, interpondo-se entre mim e a garota. Simultaneamente, uma guardiã emergia de um portal e voava na tentativa de ajudar a mentirosa.
— Eu não posso acreditar. — disse o homem olhando surpreso para mim — Senshi Liam, porque está lutando contra a Eira e tentando matá-la?
— Cale-se! — o único que me chamava de senshi era o Isamu, mas não tem como eu acreditar que esse homem de cabelos loiro escuro e pele clara fosse ele. — Parem de ficar falando mentiras! Ela não é a Eira e vou acabar com ela por causa disso.
— Sinto senshi, mas não vou permitir que faça isso, terá que passar por mim para chegar até ela. — respondeu se colocando na mesma posição de ataque que o Isamu fazia.
— Não! — gritou a garota tentando se desvencilhar da guardiã que a ajudava sem conseguir — Não posso permitir que ninguém machuque a Liam.
— Mas ela está tentando te matar Eira. — gritou a guardiã.
A garota ficou um tempo me olhando procurando não sei o que, depois colocou as duas mãos apertando o peito no mesmo lugar que seria o coração.
— Você não consegue... mesmo... acreditar em mim, não é... mo ghrá? — ela falava com extrema dificuldade, como se cada palavra fosse um fardo insuportável, acompanhada de pausas para respirar que revelavam uma dor profunda. — Sinto muito, Liam... que eu tenha... feito... você passar por tudo isso... pelo sofrimento... que você deve... ter sentido... todos esses anos trancada... naquele lugar horrível... e agora tendo que obedecer a Ele... Eu daria tudo... tudo... nesse momento... para voltar ao passado... e não... permitir que nada... disso acontecesse; que pudéssemos... voltar... ao nosso clã... e viver como vivíamos, indo... indo com o Myrkur... Scáth... e Ghatha Bháin para... aquele nosso... lugar secreto, ficar deitada na... grama ou tomar banho... no rio que tinha lá... Te ouvir... te ouvir tocar harpa... só pra mim...
"Não tem como ela saber de tudo isso, se não for a própria Eira. Era uma coisa só nossa." Eu pensei enquanto escutava tudo aquilo que ela dizia "Mas alguém deve ter contado para ela". Sim, só podia ser isso, como os anciões mesmos haviam dito no passado que sempre nos observavam, eles devem ter contado tudo para essa garota.
— Cale-se, pare de dizer tudo isso! Não vai me convencer falando coisas que outra pessoa possa ter lhe dito, eu não vou perdoá-la por usar as memórias de Eira desse jeito. — Segurei com força a espada e corri para ataca-la, mas novamente fui impedida pela defesa do guerreiro.
— Se vai lutar com alguém senshi, vai ser comigo, e não será como da última vez.
Ele deveria estar se referindo à época em que treinávamos no Outro Mundo, e houve uma ocasião em que lutei a sério com Isamu; apesar das diferenças em suas habilidades e estilo, consegui derrotá-lo. "É tudo mentira, contaram isso para ele também." A voz na minha cabeça tinha razão, era uma história inventada, e eu não estava disposta a acreditar. Precisava enfrentá-lo, vencê-lo e, em seguida, lidar com aquela garota mentirosa de uma vez por todas.
Parti novamente para o ataque; nossas espadas se chocavam com tanta força que faíscas voavam a cada contato. Eu não me importava. A areia sob nossos pés era incômoda, dificultando a firmeza necessária para resistir aos golpes ou ganhar impulso. Mas isso não me importava. O único desejo em minha mente era encontrar uma brecha na defesa dele e testemunhar minha espada atravessando seu corpo. Talvez assim a impostora admitisse a verdade, e meu coração parasse de doer tanto.
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