Capítulo 31
— Não estamos conseguindo abrir nenhum portal — disse Ghatha após várias tentativas para enviar os guerreiros e as guardiãs para impedirem que Ele continuasse a atacar o Outro Mundo.
— Também não estamos conseguindo — disse Niara após ela mesma, junto com Bariri, Ninovan e Harumi haverem tentado várias vezes fazer com que um portal fosse aberto.
— Precisamos de um portal aberto a qualquer custo! — Falcão disse em meio à confusão que havia se tornado o centro de controle, tanto por causa dos tremores que não paravam provocando inúmeras rachaduras nas paredes, quanto pelo próprio desespero dos anciões que não sabiam ao certo como procederem com o que estava acontecendo.
Como o Outro Mundo era protegido pela magia de luz da Deusa, os anciões nunca imaginaram que um dia alguém tentaria atacar aquele lugar usando a magia de Trevas, por isso eles não sabiam o que fazer naquele momento, exceto tentar enviar os guerreiros e as guardiãs para lutarem contra Ele, fazendo assim com que o ataque cessasse.
Mas parecia que além de atacar, Ele também estava, de alguma forma, fazendo com que eles não fossem capazes de abrir nenhum portal.
— Mo ghrá — Liam falou baixo, ao ouvido de sua amada, puxando-a delicadamente pela mão até saírem do centro de controle — você faz alguma ideia de como Ele pode estar fazendo isso?
— Sobre como Ele está fazendo isso eu não sei, mas sobre nenhum de nós, nem mesmo os anciões, estarmos conseguindo abrir um portal, só pode ser por não possuímos ainda todo o nosso poder.
— Imaginei isso também. — Liam disse com uma expressão pensativa.
— Mas não podemos permanecer aqui ou tudo será destruído e acabaremos morrendo.
— E o que você pretende fazer mo chailín?
— Não sei mo bheatha — a guardiã disse de maneira triste — quero fazer algo mas sei que se passar novamente dos limites que ou outros acreditam que temos, eles irão ficar me olhando de maneira diferente novamente, como aconteceu quando ajudei Yildiz a controlar o fogo sagrado. Não quero que mais ninguém me olhe com medo do que posso fazer...
— Então faremos só nós duas! — Liam exclamou fazendo Eira olhá-la surpresa — Nada de novo ou de poderoso que você faça irá me deixar com medo, já lhe disse isso. Eu só sentirei orgulho de você!
— Liam...
— O que quer que você pense em fazer, faremos só nós duas! — Liam colocou uma mão no rosto de Eira — Se depois eles te olharem com medo, não tem problema, você olha apenas para mim porque assim você só verá meu amor por você!
— Cada vez que você faz algo assim — Eira disse colocando sua mão sob a de Liam que estava em seu rosto — acho que meu amor por você cresce mais ainda mo bheatha!
— Eu sei! — Liam sorriu para ela.
— Muito bem — a guardiã se afastou um pouco de sua guerreira, com determinação em sua ação — se posso criar os elementos para as outras guardiãs e também melhorar seus poderes, acho que consigo abrir um portal.
— Tenho certeza que sim! Só tome cuidado para não fazer algo que vá lhe machucar.
— Vou tomar cuidado. — Eira disse estendendo a mão para Liam — Para conseguir isso vou precisar de você e do seu próprio poder.
— Meu próprio poder? — perguntou confusa.
— Sim, a sua força. Você é a pessoa mais forte que existe, mo ghrá, mesmo que pense o contrário.
— Acho que só você enxerga essa força mo chailín.
— Quando começar a acreditar em você mesma, vai ver que o que eu digo é verdade, agora me dê sua mão para não demorarmos mais tempo sem fazer algo de útil.
Liam segurou a mão estendida e as duas começaram a brilhar no mesmo instante, depois Eira acumulou todo esse brilho na mão livre e ergueu o braço desenhando uma linha de luz no vazio, que, após um tempo, começou a abrir ao meio. Sabendo que não duraria muito tempo aberto, as duas logo a atravessaram, deixando os outros para trás, para cuidarem de toda a confusão que havia se instalado no Santuário das Guardiãs.
Quando elas atravessaram o portal saíram, literalmente, dentro da água e separadas. As duas nadaram atordoadas por um tempo para, e finalmente conseguiram subir até a superfície. E só então viram à distância que se encontravam uma da outra e nadaram até se encontrarem,
— Mo bheatha... me... desculpe — Eira disse após recuperar um pouco de fôlego.
— Sinceramente mo ghrá... melhor na água.... do que dentro da terra — Liam respondeu enquanto nadavam até a margem daquele rio tão largo, que se não fosse o gosto da água sendo doce, pensariam ser o mar. Aquele imenso rio parecia ser feito de uma mistura de água, lama, troncos flutuantes e terra, mas não eram velozes; o local onde estavam era fundo chegando à cintura de Liam e ao pescoço de Eira, que precisava do apoio de Liam para se manter à tona, além do que havia enormes e finas raízes das árvores que tinha por ali e que lhes prendia as pernas dificultando o andar ou nadar.
— Exatamente em que você pensou quando abriu o portal?
— Pensei em sairmos o mais perto possível d'Ele, só que de uma maneira que não fossemos percebidas.
— Realmente esse foi um bom jeito de ninguém perceber nem o portal sendo aberto, nem a nós.
Quando finalmente puseram os pés em terra firme, Eira invocou o vento e o fogo, usando-os juntos, para poder secar e limpar suas roupas e as de Liam. Logo em seguida elas começaram andar por entre as árvores, seguindo aquele cheiro fétido que tanto conheciam, até chegarem no que parecia ser o início de uma clareira que estava repleta de servos d'Ele e mais adiante elas avistaram o que parecia ser uma enorme nuvem negra cheia de raios e Ele se encontrava praticamente dentro desta nuvem.
— Tem muitos servos e apenas nós duas, não podemos lutar contra todos eles. O melhor seria criarmos uma distração — disse Liam preocupada, virando-se para a sua pequena e só nesse momento notou quão desesperada ela chorava — Mo ghrá, você estar sentindo dor em algum lugar? Está machucada? Por que está chorando desse jeito? — perguntava a guerreira enquanto passava as mãos pelo rosto de Eira e a olhava com extrema preocupação.
— Eu... eu não sei mo chroi... — Eira tentava dizer em meio às lágrimas — Sinto uma enorme tristeza ao olhar para ela e no peito uma dor tão grande! É como se eu soubesse o que é aquilo e me sentisse triste ao vê-la! Mas eu não entendo porquê?
— Venha aqui mo bheatha — Liam abraçou sua pequena passando a mão em suas costas de maneira carinhosa enquanto esta chorava em seu peito — Provavelmente isso deve ser mais uma das coisas que estão escondendo de nós.
— Você tem razão! — disse Eira depois de se acalmar um pouco e as lágrimas diminuírem de quantidade — É como se algo em mim, reconhecesse aquilo, mas eu não sei o que é.
— Quando voltarmos, perguntaremos à Deusa. O que precisamos fazer agora é parar o ataque dele. Eu sei que você não está bem, mas realmente eu preciso de você, da sua ajuda.
— Eu consigo te ajudar mo chroi. — Eira disse enxugando o rosto com a manga do vestido e olhando com determinação para sua guerreira — Eu tenho uma ideia para uma distração. Lembra daquele círculo de vento que Harumi nos contou existir em seu lar?
— Sim, lembro.
— Acho que consigo criar um desses. Não vai ser muito forte, mas vai levar uma boa parte desses servos para longe.
Assumindo sua aparência de guardiã, se concentrou invocando o vento em um pequeno tornado no meio dos servos e quando já haviam vários deles presos, principalmente os alados, Eira ordenou ao mesmo que fosse para bem longe dali. Enquanto o tornado sumia, os servos restantes ficaram agitados, tentando encontrar de onde havia vindo aquilo.
— Eu vou atrair o restante dos servos para mim, vá até Ele e tente pará-lo. Talvez chamando sua atenção ele pare de atacar o Outro Mundo e os outros possam vir nos ajudar.
— Tome cuidado mo bheatha — Eira disse ao beijar sua amada antes de abrir suas asas e voar na direção em que Ele estava.
Lá de cima a guardiã via os servos correrem na direção de Liam, e os poucos alados que sobraram vieram em sua direção, mas foram pulverizados pelas suas bolas de fogo. Quando se aproximou daquela nuvem misteriosa, mais tristeza sentiu; o que quer que aquilo fosse ela conhecia bem, só não lembrava de onde e do porquê de toda a tristeza. Pousando, ergueu o cajado e fez com que uma energia repleta de amor saísse em forma de uma luz bem brilhante que ao entrar em contato com a nuvem negra, esta tremeluziu, os raios desapareceram e ela foi encolhendo até não sobrar nada, deixando apenas Ele parado no mesmo lugar, olhando ao redor, como se procurasse pela nuvem, antes de começar a rir.
— Eu sabia que aqueles velhos dariam um jeito de mandar os novos brinquedinhos d'Ela para tentar me impedir. Até que não demorou tanto! O tempo que eu levei aqui foi o suficiente para os meus planos. — Ele falou desembainhando uma enorme espada negra — E vai ficar melhor ainda se eu acabar com um de vocês!
Ao dizer isso ele virou e com uma velocidade sobre-humana partiu para cima de Eira que bloqueou seu golpe com um pulso de energia e quando a luz diminuiu foi que finalmente eles puderam se ver cara a cara. Enquanto uma expressão de horror e medo surgiu nas feições delicadas da guardiã, surpresa e descrença foram vistas nas feições d'Ele!
— NÃO! — Eira gritou desesperada, andando de costas, tentando se afastar para longe daquele homem. Seu medo foi tão grande que ela perdeu a concentração voltando a ficar apenas com um vestido azul que estava usando antes. Tudo isso porque na sua frente estava o homem com quem seu pai queria que ela se casasse.
— Eira?... — Ele disse, de maneira baixa, como se ainda não acreditasse em quem estava vendo.
— Não! — ela tornou a exclamar, caindo no chão, se arrastando, tentando aumentar a distância entre eles, mas sem nunca tirar os olhos dele — Por que de todas as pessoas do mundo, tinha que ser você?
— Por que eu? — Ele perguntou com raiva — Eu que lhe pergunto, por que você, sendo quem é, se rebaixou a ser apenas um peão nas mãos d'Ela e daqueles velhos?
— Eu não faço ideia do que você está falando!
— É claro que não! — Ele exclamou embainhando a espada e andando calmante na direção dela — É claro que você não sabe, assim você pode ser melhor controlada.
— Controlada? — ela parou de se arrastar para ouvir o que ele dizia.
— Sim, controlada! É o que vem acontecendo com você. E provavelmente com aqueles outros lá! — Ele disse fazendo um gesto de desdém com a mão.
— Como assim? Por que iriam querer me controlar?
— Sendo quem você é, para eles, é muito melhor se conseguirem te controlar.
— Por que você sempre tem que falar coisas que eu não entendo e agir como se soubesse de tudo?
— Mas eu sei de tudo — Ele disse, exibindo um sorriso encantador antes de se abaixar bem próximo da guardiã e estender a mão para ela — E eu vou ter um enorme prazer em contar tudo para você, basta que venha comigo.
Por um breve momento, Eira achou que conhecia aquele sorriso de algum lugar. Não de quando se conheceram no clã dela, não! Ali ele nunca agiu daquele jeito. Era como uma lembrança de algo antigo, conhecido, e que, por algum motivo, era confiável e ela quase cogitou ir com ele, mas então lembrou que este mesmo homem, havia matado sua família.
— Nem nos meus piores pesadelos eu iria com você, seu ollphéist! — Ela disse cheia de raiva e tristeza — VOCÊ MATOU A MINHA FAMÍLIA!
— Eles não quiseram me dizer onde você estava. — Ele respondeu dando de ombros.
— Isso não é motivo para você destruir tantas vidas inocentes!
— Você vale qualquer sangue que tenho ou ainda venha a ter em minhas mãos Eira! Para ter você ao meu lado, sou capaz de qualquer coisa! Como você mesma pode ver, até me aliei a Trevas para conseguir poderes e derrotar quem quer que ouse aparecer no meu caminho.
— Não me use como motivo para tudo de errado que vem fazendo! — Eira pegou um punhado de terra com as mãos invocando inconscientemente a mesma e depois jogou tudo nele, cobrindo-o com uma quantidade bem maior do que ela era capaz de segurar nas mãos — Para justificar todas as mortes que causou e todas essas pessoas que você corrompeu!
Ela já estava cansada de todas aquelas coisas sem sentido que ele estava lhe dizendo, então mais uma vez ela conjurou o ar mandando-o para longe de si, depois levantou-se do chão, mudou sua aparência novamente e procurou por Liam, que ainda lutava contra os servos. Lançou um facho de fogo sagrado na direção deles dizimando-os e, agora livre, Liam correu para perto dela.
— Mo ghrá! — a guardiã exclamou horrorizada ao ver os diversos cortes e queimaduras que sua guerreira tinha pelo corpo — Pedi para você tomar cuidado.
— Eu sei mo bheatha, eu tentei, mas quando a proteção sumiu foi mais difícil de evitar ferimentos. Me desculpe.
— Não mo chroi, eu que te peço desculpas por tê-la deixado sem proteção e por ter demorado para te ajudar....
— Então a besta selvagem, não era sua guerreira só lá no clã, mas aqui também — Ele disse se aproximando das duas.
— Você? — Liam exclamou surpresa ao ter certeza de quem se tratava realmente puxou Eira para trás de si e desembainhou a espada apontando na direção dele
— Por favor, estamos apenas conversando. — Ele disse levantando um pouco as mãos como se para mostrar que estava desarmado.
— Eu não tenho nada para conversar com assassino do meu pai, do meu irmão e de todo meu clã!
— Bem, infelizmente tenho que lhe dizer que a guardiã está na sua frente em preferência para me matar — Ele disse apontando Eira e rindo — Do jeito que ela está com raiva de mim, não creio que vai sobrar muito para você.
— Não vou deixa-la sujar as mãos com o seu sangue, eu mesma o matarei!
— Talvez, em outro momento, tenhamos nossa luta, agora vai ficar muito cheio por aqui.
Só quando ele disse isso foi que Eira e Liam notaram os diversos portais que estavam se abrindo ao redor delas, o que as tranquilizou mais.
— Bem — Ele disse ajeitando roupa — foi divertido abalar o Outro Mundo e bastante proveitosa a nossa conversa. Espero que pense com carinho em tudo que eu lhe disse Eira.
— Não ouse falar o nome dela, eejit! — Liam exclamou partindo com um golpe para cima dele, mas mesmo o acertando, era como se ela tivesse cortado uma imagem dele, feita de fumaça.
— Eu te disse que nossa luta será em outro momento.... — Foi a última coisa a se ouvir antes dele se dissolver por completo e as outras guardiãs e seus guerreiros, finalmente surgirem pelos portais, fazendo diversas perguntas às quais elas duas não queriam ter que responder.
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