Capítulo 30
Para que as mãos de Haley pudessem ser curadas e recuperadas foi necessária a ajuda da própria Deusa, pois Xi-Wang tentou de todas as formas, mas por fim acabou desistindo dizendo não ter poder suficiente para conseguir realizar aquela cura. Quando finalmente Haley ergueu suas mãos, agora recuperadas, mexendo os dedos para testá-los, Eira percebeu a tristeza no olhar da Deusa.
— Tenho algo que gostaria de lhe perguntar Deusa — disse a guardiã do amor se aproximando da cama onde o enorme guerreiro ainda estava deitado — Se despertamos nossos poderes, por que Xi-Wang não foi capaz de curar as mãos de Haley sozinha?
Todos os outros guerreiros e guardiãs, que estavam reunidos com preocupação por conta do que havia acontecido com Haley, olharam de Eira para a Deusa e, em suas expressões, havia ansiedade e curiosidade, pois, nenhum deles também entendia porque os poderes das guardiãs não pareciam serem fortes o suficiente para lutarem contra a deterioração da mão do guerreiro. Se estivessem tão fortes quanto havia sido o fogo sagrado que Yildiz fez com a ajuda de Eira, eles teriam terminado aquela luta muito mais rápido e nenhum dos guerreiros teria saído com ferimentos.
— Temos outras perguntas também — disse Yildiz — como, por exemplo, por que Eira consegue controlar nossos poderes melhor do que nós mesmas? E por que quando ela me ajudou com o fogo sagrado, seus olhos pareciam também estarem queimando com as chamas azuis?
— E temos a pergunta principal — disse Niara — Quem é aquele homem? Quem é "Ele"?
No início eles acharam que tinham passado dos limites com todas aquelas perguntas, pois a Deusa nada lhes respondeu por um tempo, mas a cada segundo que passava, a ansiedade pela resposta sobre essas questões aumentava, até que a Deusa olhou, com ainda mais tristeza, para cada um deles.
— Me perdoem.... — Ela disse e depois sumiu envolta em luz. Guardiãs e guerreiros olharam-se perplexos, sem entender por que a Deusa não respondeu aos questionamentos e o porquê do pedido de perdão a eles.
Após esse acontecimento, passaram-se alguns dias sem que Ele fizesse algum ataque em algum lugar; dias de paz que mais causavam medo e perturbações nos corações de todos no lugar de sentirem alívio, pois ficavam se perguntando ou imaginando o que Ele estaria fazendo, qual seria seu próximo passo na conquista de seu objetivo e, principalmente, qual seria esse objetivo.
— Ainda estou preocupada com tudo que aconteceu naquele dia. — falava Liam enquanto andava de um lado para o outro dentro do quarto delas; Eira sabia que era costume de Liam pensar ficando desse jeito, mas a pequena guardiã sorriu ao comparar Liam a um gato quando fica preso em um espaço pequeno. — Pelo que os anciões disseram, todas as guardiãs já despertaram seus poderes, então por que a Xi-Wang não conseguiu curar as mãos de Haley? E por que até hoje, a Deusa sumiu e não quis falar conosco sobre o que houve ou sobre o que estar acontecendo? — Liam parou de andar e olhou para Eira, que se encontrava deitada na grande cama olhando para o teto — O que você imagina que tenha acontecido com a Deusa, mo chroi?
— Não sei mo bheatha — respondeu ela virando seu rosto para olhar sua guerreira — Alguma coisa a incomoda, deixando-a triste e aparentemente, muito preocupada.
— Provavelmente a preocupação dela seja por não entender porque Xi-Wang não foi capaz de curar as mãos de Haley.
— Também.
— "Também"? Como assim mo ghrá? No que estar pensando? — Ela perguntou deitando ao lado de Eira.
— Pode ser que eu esteja imaginando tudo isso que eu vou dizer, mas, pelo menos nos meus pensamentos, tudo faz sentido. — Disse de maneira ansiosa e animada ao mesmo tempo, como se ficasse feliz e preocupada com o que andara analisando e agora iria dizer em voz alta. — Pense comigo, Liam: como pode um homem ter tamanho poder, manipulando as trevas, como disse Falcão, e os anciões e até mesmo a própria Deusa não nos dizer nada sobre, além de agirem como se não soubessem nada sobre ele? E se pararmos para entender as palavras que aquele homem disse naquele dia, Ele parece saber muito sobre tudo isso aqui — Eira falou abrindo os braços mostrando o lugar onde estavam; não seria sobre o quarto delas, mas sim sobre o Outro Mundo — Ele sabe sobre nós, sobre os anciões.... Como pode? Se eu estiver falhando com as minhas obrigações de guardiã ao dizer que sinto como se os anciões e a Deusa estivessem escondendo alguma coisa de nós, então que eu falhe, mas é o que eu sinto!
— Por que eles esconderiam alguma coisa de nós, ainda mais com tamanha importância que tudo isso tem?
— Não sei explicar, pois ainda estou tentando entender isso tudo, porém sem conseguir uma outra explicação. É como se faltasse partes dessa história toda, eu sinto isso. Se juntarmos tudo que vem acontecendo com coisas que não demos importância... Que eu não dei importância na época, podemos perceber que faltam coisas, faltam partes e, mesmo que perguntemos aos anciões ou a Deusa, não me parece que vamos ter nenhuma resposta. É mais provável que surjam ainda outras perguntas.
— Você fala como se soubesse de algo, mo ghrá. Tem alguma coisa que você não me contou?
— Na realidade tem uma coisa sim.
— Eu achei que contássemos tudo uma para a outra. — Ela falou com tristeza, sentando na cama — Nunca imaginei que esconderia alguma coisa de mim!
— E contamos! — Eira respondeu abraçando sua guerreira e depois sentando em seu colo.
— Mas... — Eira interrompeu, beijando-a.
— Mo bheatha, entenda que, se eu não te contei sobre isso antes era porque, na época em que aconteceu, eu não compreendi e acabei deixando esse assunto por outros que julguei serem mais importantes. Só por esse motivo! Jamais esconderia algo de você!
— Eu entendo o que quer dizer mo chailín — Liam disse abraçando Eira — me desculpe por reclamar sobre isso, quando eu mesma escondi a verdade sobre mim durante tanto tempo.
— Você fez isso por medo de eu te rejeitar.
— Sim, é verdade.
— E agora sabe que não precisava ter tido esse medo!
— Se você soubesse de algo que pudesse fazer com que você me perdesse, também teria medo de falar comigo sobre.
— Bom... — Eira disse abaixando o rosto, encostando sua cabeça no ombro de Liam — no início, quando meus poderes agiam sem controle, eu fiquei muito preocupada que você tivesse medo de mim e se afastasse. Tanto que eu evitava falar com você sobre isso, para eu não ter que ver, também em seu rosto, o medo que vi em minha mãe, de que eu pudesse ser uma pessoa ruim e que fizesse mal com meus poderes descontrolados.
— Mo chailín — ela segurou o rosto de Eira em suas mãos — Jamais pensaria em você como uma pessoa ruim ou que pudesse fazer mal a alguém! Eu confio em você mo ghará, sempre confiei e sempre confiarei! Nunca duvide disso!
— Eu sei, do mesmo jeito que confio em você. Eu só não te contei antes porque, quando aconteceu, eu não entendi o que significava.
— Então conte o que aconteceu. Se ainda não fizer sentido, vamos encontrar um juntas!
— Sim! — Eira sorriu ao responder — Lembra quando despertei meus poderes? — Liam balançou a cabeça, afirmando que se lembrava — Naquele dia Cisne nos disse que precisávamos nos conectar com nosso dom, para que fosse possível despertá-lo. Só que, quando eu estava tentando me conectar com meu poder, uma mulher apareceu para mim. Só que não era qualquer mulher, ela se parecia muito comigo.
— Eu lembro que você falou sobre isso.
— Eu te falei algumas coisas que ela disse, mas estava tão feliz naquela hora que não devo ter explicado nada direito.
— Sim, eu percebi! — disse sorrindo para sua pequena — Lembro que você falou que ela não era seu dom, não foi isso?
— Sim! E quando eu perguntei ela disse que ela era eu e eu era ela.
— Uhmm? — Liam exclamou antes de ficar algum tempo olhando vários lugares no quarto, com a testa franzida — Então... você e ela são a mesma pessoa? É isso que ela quis dizer?
— Se for para deixar o que ela disse de maneira mais simples, acredito que seja realmente isso.
— Isso é bem estranho..., mas o que isso tem a ver com tudo o que estar acontecendo?
— Ainda não sei se essa parte tem alguma coisa relacionada, provavelmente deve ter sim. Mas o que eu realmente quero falar é sobre algo que ela me disse quando lhe falei que precisava despertar o meu dom. Ela disse que sabia disso, que sentia muito, mas que nenhuma de nós poderia despertar por completo ainda. Quando perguntei porque isso não podia acontecer, ela respondeu que enquanto nós não nos lembrássemos de tudo o que aconteceu, que jamais teríamos todos os nossos poderes libertados.
— E o que vocês esqueceram?
— Não sei e ela disse que não podia contar.
— Porquê?
— Porque, segundo ela, só no futuro é que eu seria capaz de entender. Que naquele dia eu não seria capaz de entender, caso ela contasse.
— Mas se você precisa se lembrar de algo para ter seus poderes, então ela deveria pelo menos ter dito alguma coisa sobre, para te ajudar a lembrar.
— Também penso assim agora, mas na hora eu estava tão nervosa e tão feliz por conseguir saber tudo sobre meus poderes que, como eu disse, não achei que era algo realmente importante no momento.
— Algo que você não lembra... O que pode ser?
— Não consigo imaginar o que possa ser. Mas, não foi apenas eu, a mulher disse que foi algo que todos nós esquecemos.
— Todos? Os guerreiros também?
— Sim.
— Mas quando você despertou seus poderes, tinha apenas um dia que havíamos conhecido os outros, como é que pode ter algo que todos nós não lembramos?
— Essa é uma parte que eu ainda não entendi.
— Então, só depois que nos lembrarmos do que foi esquecido é que o poder das guardiãs vai ser despertado de verdade?
— Provavelmente.
— Eu lembro que Cisne falou que foi a força do nosso poder que criou o cajado, mas nenhuma dos outros casais conseguiu fazer isso.
— Exatamente! Se Xi-Wang tivesse despertado todo o poder dela, ela teria conseguido curar as mãos de Haley.
— E como ela não curou, precisou da ajuda da Deusa para fazer isso... — Liam parou o que dizia e ficou olhando um tempo para Eira — Se pensarmos nisso, então significa que a Deusa sabe porque as guardiãs não despertaram seus poderes....
— Como ela também sabe o que nós esquecemos. — Completou Eira antes de sua expressão ficar um pouco triste — Então significa que a tristeza dela vem disso, de saber toda a verdade e que o fato de não lembrarmos, estar influenciando em nossos poderes.
— Mas, por que então ela não conta a verdade para todos nós?
— Eu não sei mo bheatha. Ao que parece, é algo que a Deusa deve achar que nós não devemos saber ou que não vamos entender.
— Sinceramente, não creio que cabe a ela decidir se devemos ou não saber e entender sobre algo, que, o fato de não sabermos a verdade, estar influenciando nos poderes de vocês, guardiãs, fazendo com que nós guerreiros não sejamos fortes o suficiente para continuarmos com essa luta, e ganharmos.
— Nisso eu concordo com você, mo bheatha.
— O que penso é que, se tem algum motivo que impede a Deusa de nos dizer a verdade, então vamos perguntar para os anciões.
— Posso estar enganada, mas é provável que eles também não vão nos dizer nada ou por acharem que não devemos saber porque a Deusa proibiu, ou por não se lembrarem de nada também.
— Então o jeito é ir direto até a Deusa para perguntarmos sobre isso.
— Poderíamos até fazer isso, mas, depois daquele dia, ela nunca mais apareceu para nós, mesmo quando a chamamos.
— O que pode ter acontec....
A guerreira não pode continuar o que dizia pois foi interrompida por uma série de tremores e sons de explosão. Uma olhou para a outra tentando compreender o que estava acontecendo, depois saíram do quarto o mais rápido que os tremores permitiam, encontrando os outros casais pelos corredores e pelo jardim do santuário, quando encontraram alguns anciões que se dirigiam ao centro de controle.
— O que está acontecendo?
— O que são esses tremores?
— Se estivéssemos em casa, diria que era a mãe terra reclamando de algo de errado que fizemos.
— Nunca vimos nada como isso antes!
Essa e outras várias perguntas e exclamações eram feitas ao mesmo tempo, pelas guardiãs e guerreiros aos anciões que, a todo custo, tentavam acalmá-los.
— Acalmem-se todos vocês! — gritou Urso o mais alto que pode, fazendo com que todos ali se calassem — Ficando aqui não vamos saber de nada, temos que ir até a central. Lá, Tigre poderá nos dizer o que estar acontecendo com o santuário.
Todos concordaram e correram para o centro de controle, encontrando lá todos os outros anciões, incluindo seus últimos três membros, Scáth, Ghatha e Myrkur.
— Alguém aqui pode nos explicar o que está acontecendo? — Urso perguntou, sua voz sobressaindo aos sons causados pelos tremores e também sob toda a confusão que acontecia naquele lugar.
— Infelizmente eu só posso dizer a versão resumida, sem muitos detalhes — disse Scáth se aproximando do grupo.
— É melhor do que não termos nenhuma informação.
— Ainda não sabemos como, mas Ele estar, de alguma maneira, conseguindo atacar o Outro Mundo.
— Mas como Ele pode fazer isso? — Perguntou Niara — Se Ele usa o poder das trevas, como pode estar alcançando o Outro Mundo?
— Parece que estar alcançando de maneira indireta; ao usar as trevas para abrir um portal para chegar até o Outro Mundo, Ele estar desestabilizando a harmonia desse lugar, por isso esses tremores e explosões.
— Então Ele estar tentando destruir o Outro Mundo? — Perguntou Sirhan.
— E se continuar com o que quer que esteja fazendo, é bem capaz de ser mesmo possível a destruição do Outro Mundo.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro