Cisne estava sentada no chão, encostada em uma árvore concentrando-se para saber como as guardiãs estavam sentindo, quando uma explosão de luz iluminou todo o jardim, assustando a todas que ali estavam; a anciã levantou-se e andou na direção de onde vinha os pulsos de luz e energia, encontrando-se com as demais guardiãs pelo caminho, todas exceto...

— Eira. — disse a anciã.

— O que está acontecendo Cisne? — perguntavam as guardiãs — Que luz é essa?

— Parece que a Deusa estava certa, a guardiã do amor foi a primeira a despertar completamente.

— Então é isso que acontece quando despertarmos? — perguntou Yildiz tentando olhar para o lugar onde Eira estava, sem poder ver nada direito.

— Sim, mas no caso dela, para ficar tudo completo, é preciso a presença de...

— Eira? — gritou Liam assim que entrou no jardim, surpreendendo as guardiãs, pois, também estava brilhando — Onde ela está Cisne?

— Ali Liam — ela apontou para a fonte de luz — agora é necessário que você vá até ela.

— E o que eu tenho que fazer?

— Só a abrace. O que acontecer depois, você saberá lidar.

A guerreira olhou confusa por um momento para a anciã antes de sair correndo na direção de sua amada, mas ao chegar lá não acreditava estar pronta para cuidar de qualquer coisa que acontecesse com sua pequena: Eira estava completamente dourada, brilhante e flutuava um pouco acima do chão. Ela tentou chamá-la, mas não surtiu nenhum efeito, então fez o que a anciã falara, abraçou-a ficando tudo escuro logo em seguida.

Os pensamentos de Eira estavam bastante confusos, naquele momento, com tudo que aquela mulher que aparecera para ela, havia lhe dito. Mas depois que ela sumiu, a pequena percebeu que podia sentir dentro de si um poder mais forte do que antes, e agora ela sabia de tudo que seria capaz de fazer, como também tinha conhecimento da força e do poder de Liam. Estranhou apenas que, ao pensar nela sentiu o cheiro de grama molhada e um abraço forte e quentinho.

— Liam! — ela exclamou surpresa ao levantar o rosto e perceber sua guerreira lhe abraçando.

— Sim mo ghrá! — respondeu a guerreira lhe sorrindo

— Como chegou aqui?

— De repente eu comecei a brilhar que nem o sol, e Urso me mandou vir para o jardim, quando cheguei Cisne disse apenas que viesse lhe abraçar, mas você estava brilhando bem mais do que eu — a guerreira olhou Eira da cabeça aos pés — Você está bem? Sente alguma coisa mo chroi? Dói?

— Eu estou bem mo ghrá. — disse ainda sorrindo — Apenas sinto meu poder mais forte.

— E o que houve?

— Não sei direito o que aconteceu — ela disse franzindo a testa — também não sei se consigo explicar.

— Como assim?

— Em um momento eu estava tentando fazer o que Cisne pediu, tentando me conectar com meu dom para fazê-lo despertar por completo, mas depois surgiu uma mulher, que parecia muito comigo, e conversou sobre muitas coisas referentes ao dom, tanto meu, quanto das outras guardiãs e disse que me ajudaria com a luta que teremos no futuro. Falando em futuro, tudo para essa mulher eu só vou entender quando o futuro chegar, mas só não sei quando ele será.

— Realmente isso tudo parece ser bem confuso! — disse Liam passando uma das mãos no cabelo de Eira — O que eu posso dizer é que agora me sinto mais forte, mais rápida e tenho certeza de que sou capaz até mesmo de sentir você mo bheatha.

— Sei o que quer dizer Liam, também sinto a mesma coisa. — Eira percebeu o carinho com que Liam olhava para ela — O que foi mo bheatha?

— Eu te amo tanto Eira!

— Ah Liam — a guardiã respondeu envergonhada e muito feliz ao mesmo tempo — Eu também te amo muito.

— Seria inconveniente se eu lhe beijasse muito agora? — disse com um sorriso brincando nos lábios.

— Não acho que seria. Me beije!

— Não é algo que precise me pedir mo chroi.

No instante que os lábios das duas se tocaram, elas puderam sentir todo o amor que uma tinha pela outra e o local onde se encontravam começou a emanar uma luz que brilhava com intensidade, indo na direção das duas como se elas estivessem absorvendo aquela luz. Quando o beijo foi encerrado, a luz havia desaparecido e uma ficou olhando para a outra por um tempo, sem dizer nada, até que perceberam que haviam retornado para o jardim, e todos ali presente as olhavam com enorme admiração. Elas se afastaram envergonhadas, pois pensavam que era esse o motivo de estarem olhando para elas quando notaram o que realmente chamava a atenção: a roupa das duas havia mudado; Liam agora usava um conjunto de calças e camisa de manga comprida na cor branca, por cima da camisa tinha uma cota de malha e por cima desta uma placa de metal moldada para seu corpo. Havia também essas placas moldadas em seus braços e pernas; calçava uma bota branca com uma placa a envolvendo e, em sua cintura, tinha uma faixa de couro vermelho onde a bainha de sua espada estava presa.

Já Eira usava um vestido todo branco, longo, de alças que deixavam seus braços e colo nus e em sua cintura havia uma faixa na cor vermelha de onde saiam várias fitas da mesma cor de diversos tamanhos que ficavam como que flutuando ao seu redor. Mas o que chamava mais atenção na guardiã era o enorme par de asas brancas que surgiam em suas costas.

— Eu tenho asas! — exclamava a guardiã as testando, no mesmo instante em que percebeu que segurava algo — O que é isso?

— É simplesmente fantástico, guardiã! — disse Cisne se aproximando das duas. — A Deusa tinha certeza de que seria a primeira a despertar, mas não imaginei que seria tão cedo e nunca passou pela minha intuição de que as duas conseguiriam criar o cajado.

— Mas os cajados que conhecemos são aqueles usados pelos pastores para conduzirem o gado. — disse a guerreira olhando aquele estranho objeto na mão de Eira — Não se parece com isso?

— O cajado, neste caso o de vocês duas, foi criado para canalizar o poder da guardiã e direcioná-lo para o que ela quiser. Como seu poder é o do amor, ela será capaz criar ondas desse sentimento, que podem ser capazes de parar um ataque, bem como ela pode ampliar o poder das outras guardiãs quando for necessário ou, se for o caso, ela pode usá-lo para oferecer alguma ajuda que você esteja precisando.

O cajado na mão da guardiã era da espessura de um punho fechado, parecia feito de um enorme galho de árvore avermelhada e mais alto que a guerreira; na parte superior esse galho se dividia em quatro partes finas que eram torcidas protegendo o espaço vago no centro onde se encontrava uma pedra em formato de coração, tão vermelha e brilhante que parecia pulsar.

— Realmente o amor de vocês é muito grande para conseguirem esse feitio tão rápido — disse o ancião Urso antes de se virar e sair do jardim.

— Então, quando nosso poder despertar, vamos ficar como ela estar? — perguntou Ninovan.

— Sim! — respondeu Cisne — Isso é o que chamamos aparência da guardiã, o mesmo acontecerá com os guerreiros, terão uma veste igual a de Liam. A única coisa que será diferente é a cor das faixas, que cada uma será da cor do elemento do seu dom.

— E ficaremos assim o tempo todo? — perguntou Yildiz.

— Não, basta pensarem que conseguirão voltar as suas vestes normais. Mostrem a eles.

A guardiã olhou para Cisne primeiro, depois para Liam, e as duas fecharam seus olhos desejando mentalmente apenas que suas roupas voltassem ao normal e quando escutaram exclamações de todos, perceberam que haviam conseguido, exceto pelo cajado que ainda continuava ali com Eira.

— Ele ficará com você desse jeito — disse Cisne percebendo o olhar confuso da guardiã para o mesmo — assim como a espada da sua guerreira permanece ao lado dela o tempo todo. Agora venham todos comigo para poderem se alimentar um pouco depois dessa maravilhosa experiência.

Cisne passou por todos para a saída do jardim sendo seguida aos poucos enquanto todos animados falavam sobre tudo que havia acontecido; Liam e Eira foram juntas andando na direção da saída, mas quando passaram perto de Érica e Haley, este último colocou as mãos pesadamente no ombro das duas.

— Quem diria que o amor seria assim uma coisa tão forte! — ele disse quase gargalhando.

— Se você não sente, não pode falar sobre isso. — disse Érica com tristeza no olhar e na voz.

— Que isso ást mína, falando assim parece até que eu não te amo.

— Seria bom se você, de vez em quando, fizesse uma demonstração dessa de amor.

— Mas nosso dom é o ar, não o amor. Não tem como eu fazer isso que essas duas aqui fizeram.

— Eu desisto com você Haley! — ela saiu andando furiosa.

— Não devia tratar ela assim Haley. — disse Eira — Seja mais carinhoso.

— Só sou carinhoso dentro de quatro paredes, se é que me entende — ele disse piscando, deixando a guardiã completamente corada — Mas não se preocupe Elskandi, eu amo minha amada guardiã, e ela sabe o que eu sinto sem eu precisar ficar bajulando.

— Do que você me chamou?

— Elskandi.

— Pensei que conseguíamos entender tudo que fosse dito pelos outros. O que significa isso?

— Significa exatamente o que você é: amorosa. — ele reparou na feição de desgosto de Liam, olhando-o de cara amarrada. — Vá com calma companheira, é só um apelido carinhoso! Eu já tenho uma mulher que amo muito.

— É bom mesmo! — Liam respondeu sem esconder o sorriso.

— Bem, vamos logo comer, porque esse corpo todo aqui não vai conseguir se manter em pé sem estar muito bem alimentado.

Assim o enorme guerreiro loiro conduziu as duas pelo corredor até chegarem ao salão onde todos já comiam e conversavam alegremente. Já era notável a mudança naquele ambiente, com diversas coisas diferentes que estava aparecendo por ali, cada um colocado de acordo com seus costumes e gostos: eles eram diferentes, mas, no fundo, eram todos muito parecidos nos desejos para o futuro e logo seriam muito mais que amigos, seriam uma família.