Capítulo 17
— Então realmente aquele falcão que tem aparecido sempre por aqui pertence a Uaid. — perguntou Carrick entrando no salão principal e vendo Devin com um pergaminho na mão e um belo falcão branco pousado no encosto da cadeira — Trouxe alguma mensagem sobre o ele?
— Sim, Carrick. Nas mensagens anteriores fui informado de que ele andou se aliando com outros inimigos nossos.
— Fez bem em enviar Uaid disfarçado, Devin. Ele é um excelente guerreiro e está sendo de ótima ajuda para sabermos o que farão em seguida.
— O que farão em seguida será nos atacar. Aquele homem nos ameaçou caso eu não aceitasse o casamento entre ele e minha Eira. E segundo essa última mensagem, parece que os soldados dele já estão reunidos nas terras dos O'Neil.
— Então ele virá tomar a força o que não conseguiu na aliança. — Carrick disse com uma tristeza aparente — Quais são suas ordens?
— Mande os guerreiros avisarem à todas as famílias que... — Devin parou o que dizia olhando para Carrick — Que nesse momento todos precisam sair em segurança para outro lugar. Sugiro que sigam para buscarem abrigos com nossos aliados. Quanto aos próprios guerreiros, que se preparem todas as defesas que temos no forte. Temos que estar preparados para quando eles chegarem.
— Entendido. Farei isso agora mesmo. — disse Carrick andando em direção a porta, mas foi impedido por um guerreiro desesperado que tentava entrar no salão.
— O que está havendo Carrick?
— Há um guerreiro aqui que deseja falar convosco.
— Deixe-o entrar.
— Mo thiarna — iniciou o guerreiro se ajoelhando na frente do Eolaí — trago uma mensagem de vossa filha, a Bean Uí Eira.
— Você era um dos guerreiros que estava acompanhando minha esposa e filha até o templo dos Tuatha Dé Danann?
— Sim, mo thiarna. Chamo-me Keiran.
— E que mensagem traz de minha filha?
— Pediu que o informasse de seu retorno e....
— Retorno? Mas ela mal deve ter chegado lá!
— Infelizmente senhor, fomos atacados por soldados inimigos no meio do caminho. Muitos estão feridos e....
— Minha esposa e minha filha? Elas também estão machucadas?
— Não mo thiarna, para falar a verdade, se não fosse pela Bean Uí Eira e seu dom de Danu jamais teríamos sobrevivido e elas estariam nas mãos dos inimigos. Como fui o único menos ferido, ela me enviou para avisá-lo.
— O que ela fez?
— Abriu o chão para este engolir os inimigos. Muitos caíram lá, mas a alguns conseguiram fugir assustados.
— Entendo... — disse visivelmente assustado com o que escutou do guerreiro. — Há mais alguma coisa que ela pediu que me informasse?
— Sim, mo thiarna, ela também pede para que envie batedores para a floresta.
— Ela disse por quê?
— Pediu apenas para dizer que será melhor vigiar do que ser vigiado.
— Ela já me escutou muito dizendo isso. Fez bem o seu trabalho Keiran. Agora vá procurar os curandeiros para que tratem dos seus ferimentos.
— Obrigado mo thiarna. — O guerreiro levantou, fez uma reverência e saiu do salão.
— Ouviu o que ele disse Carrick?
— Sim, Devin. É de se surpreender. Nunca ouvi falar de alguém que fizesse o que a pequena Eira faz.
— Se ela acha que devemos colocar batedores na floresta, então envie alguns para patrulharem. Provavelmente eles devem estar espalhados pela floresta nos vigiando, como ela disse.
— É claro, mo thiarna.
— Também escolha um guerreiro para que possa ir ao templo dos Tuatha Dé Danann enviar uma mensagem para minha esposa: que ela fique no templo que estará melhor protegida.
— Sim, mo thiarna.
— E pare de me chamar de mo thiarna quando estamos sozinhos, quantas vezes terei que repetir isso?
— Mais nenhuma — disse Carrick sorrindo — mo chara.
Carrick saiu do salão e se dirigiu a área onde estavam os batedores para dar-lhes as ordens. Depois iria até sua esposa; fosse um ataque ou qualquer outra coisa, ele a queria longe dali.
Mesmo com a fraca insistência de sua mãe para que permanecesse no templo a salvo dos soldados que estivessem lá fora, assim que amanheceu, dois dias após a chegada deles, as duas partiram, dizendo que seria melhor desse jeito. Elas só ficaram o tempo que acharam necessário para descansar e conversar com os druidas sobre o fato de Eira ter conseguido libertados seus poderes, e também sobre a aparência dos soldados e o fato do sangue dos mesmos causarem dor onde tocassem, algo que os eles não tinham resposta por nunca terem visto ou sabido de nada assim antes.
Assim que partiram, Eira pediu a Scáth que voasse à frente delas para ver se haveria mais daqueles soldados escondidos pela floresta e Myrkur e Ghatha passaram a correrem o mais rápido que conseguiam, mas mesmo com toda a velocidade que conseguiam alcançar, eles levaram cinco dias para chegarem ao forte, dois a menos do que levaram para chegarem ao templo, parando apenas para que Myrkur pudesse descansar da corrida e peso das duas, bem como por motivos de necessidades físicas. Ao chegarem no forte foram recebidas por seus respectivos pais, que fizeram um enorme sermão sobre a falta de responsabilidade das duas, principalmente de Liam que deveria preocupar-se justamente em proteger Eira, mas esta ficou o tempo todo afirmando que seria mais valiosa ali que protegida no templo, além de ter toda a segurança que necessitava com sua guerreira, Myrkur, Scáth e Ghatha presentes.
Alguns dias se passaram e Eira fazia questão de passar a maior parte de seu tempo em casa, pois todas as pessoas que haviam permanecido no forte, sabiam de seus poderes e sobre as coisas que ela fizera na luta, e na maior parte das vezes, a olhavam assustados, se afastavam ou se escondiam quando ela passava dentro do forte; até mesmo aqueles soldados que lhe conheciam desde criança demonstravam temor ao vê-la. Por mais que Liam lhe dissesse que as pessoas iriam se acostumar e voltariam a tratá-la como antes, ela ainda se sentia triste com tudo o que acontecia. Exceto Liam, a única pessoa que não se afastava e que conversava e sorria para a pequena era Enid, que havia permanecido no forte dizendo que sua presença ali ainda era necessária. Até mesmo seus irmãos e seu pai às vezes a olhavam temerosos.
Quando a tensão do eminente ataque foi diminuindo ao longo dos dias, pela falta de notícias sobre o inimigo, um dos batedores apareceu no forte pedindo para falar com Devin.
— O que houve? — perguntou Devin assim que o batedor entrou no salão em que conversava com Carrick.
— Mo thiarna — o homem falou ajoelhando-se na frente de Devin — recebi uma mensagem de Dougal a uma noite atrás informando que ele havia visto um numeroso exército marchando na nossa direção. Pelo tempo que levei para chegar aqui, eles devem estar agora a meio-dia daqui.
— Meio-dia? — perguntou Carrick com raiva — Mas, por que não fomos avisados antes disso?
— Pelo que Dougal disse, parece que os batedores que estavam mais distantes foram capturados, pois ele mesmo quase foi pego, mas fugiu a tempo e se escondeu para poder enviar a mensagem.
— Meio-dia... — disse Devin — Esse tempo terá que ser o suficiente para nos prepararmos para esse ataque.
— Na realidade, mo thiarna, eles devem querer algo bem maior do que um simples ataque.
— O que queres dizer com isso?
— Na mensagem, Dougal disse que não eram só os soldados de fora, mas há também guerreiros de diversos clãs inimigos dento desse exército.
— Então eles estão vindo para destruir o nosso clã! — exclamou Carrick.
— É o mais provável Carrick! Eu devia ter pensado nisso quando Uaid nos avisou que alguns de nossos antigos inimigos estavam se aliando a ele. Eles devem usar essa oportunidade para conseguirem tudo que queriam de nós.
— Então devemos nos preparar para uma guerra e não para um simples ataque.
— Sim, devemos. Fagan, fez bem em ter vindo nos avisar tão rápido, agora vá se juntar aos guerreiros e se preparar para a luta.
— Sim, mo thiarna, — o guerreiro se levantou, e com uma reverência saiu do salão
— Também devo ir juntar os homens, convocar todos os guerreiros para começarem a se preparar. — disse Carrick caminhando na direção da porta, mas foi impedido de sair por Enid que havia surgido de repente e estava ali parada.
— Preciso falar com vocês dois — disse a druidesa entrando no salão.
— Estamos muito ocupados no momento Enid...
— É sobre Eira e Liam, — bastou ela falar o nome das duas garotas para que seus pais esquecessem a guerra e se preocupassem com elas.
— O que tem elas?
— Antes que a guerra chegue aqui, elas duas precisam partir, pois a missão delas não é permanecer no forte. Elas precisam viajar para longe daqui, para assim, poderem encontrar o destino delas.
— O que quer dizer com isso? — perguntou Carrick.
— Quando elas partiram para o templo dos Tuatha Dé Danann, vi que dali meus irmãos as enviariam em viagem para encontrar o destino delas. Não sei o que houve para que esse novo caminho surgisse e fizesse com que elas voltassem ao forte. O que eu sei é que elas precisam partir, não podem permanecerem aqui, pois não é aqui que se encerra a vida delas.
— Encerrar a vida delas? — Devin perguntou assustado — Então quer dizer que...
— Eu sinto muito... — Enid falou com tristeza — Eu não disse antes, pois não existe nada, nenhum caminho diferente para nenhum dos que permaneceram aqui. E também, se vocês já soubessem o final, não lutariam com honra e bravura.
— Se tivesse nos contado antes, teríamos mandado todos embora daqui, e assim ninguém teria o destino que terá.
— Esse é o problema, eu só vi o final dessa guerra hoje. Ela não deveria existir, tem algo de errado com ela. É como se alguém muito poderoso estivesse mudando o futuro de alguma maneira. Muitos dos futuros já traçados, então sendo alterados sem eu saber, apenas quando estar perto de acontecer a mudança é que eu consigo ver.
— Então o que você quer dizer é que não existe nada que possamos fazer para mudar o final dessa guerra? É isso?
— Infelizmente essa é a verdade mo thiarna.
— Carrick — disse Devin após ficar em silêncio por algum tempo — não vamos dizer nada sobre isso a ninguém. Quero que esse assunto fique apenas entre nós.
— Eu concordo Devin.
— Precisamos agora cuidar das duas.
— É provável que quando você falar com Eira ela diga que vai ficar aqui e lutar.
— Sei disso, por esse motivo ela só pode saber quando não puder fazer nada para ficar aqui. Por isso, vá chamar Liam para mim.
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