Capítulo 14
— Acho que não devia tê-la beijado. — Liam estava no seu quarto, deitada na cama com as pernas apoiadas na parede, enquanto passava os dedos pelos lábios — Os deuses que me perdoem se o que aconteceu for realmente algo de errado, mas é mais doce do que eu sonhava. Sei, do fundo do meu coração, que cometi um erro, porém, eu o cometeria várias outras vezes que fossem possíveis, só para sentir o sabor novamente!
Quando ela retornou para casa, após deixar Myrkur no estábulo, seus pais lhe disseram que iriam jantar com o Eolaí. Com vergonha de ver Eira por não ter imaginado ainda como iria agir perto dela agora que havia declarado sobre seus sentimentos além não querer ficar perto daquele monstro, disse que não estava se sentindo bem e foi para seu quarto, onde permaneceu o tempo todo pensando no que ocorreu naquela clareira.
Sua raiva foi tão grande pelo modo como aquele homem estava tratando sua Eira e pelo futuro que os dois teriam juntos que nem pensou no que estava fazendo, dirá pensar nas consequências que aquele beijo teria na relação entre as duas. Tinha certeza que Eira ficaria mais receosa perto dela, pois teria medo de machucar seus sentimentos de alguma forma, afinal ela nunca iria retribuir os sentimentos de Liam já que fora educada para um casamento com um homem.
Com o pensamento longe como estava, não ouviu a porta da casa ser aberta nem passos apressados vindos em sua direção.
— Liam, venha rápido! — gritou Carrick na porta o quarto dela.
— Pai? O que houve?
— Vamos logo, no caminho eu te conto.
— Mas, porque toda essa pressa? — ela perguntou levantando da cama
— É uma emergência com a Bean Uí Eira.
Aquilo foi um choque para a guerreira: o que ocorreu a Eira para que seu pai viesse busca-la, dizendo que havia uma emergência com ela? Mas quando Liam tentou pegar sua espada e escudo, Carrick segurou sua mão dizendo que não era necessário, e puxou-a para que tomassem o caminho o mais rápido que suas pernas podiam correr. No percurso contou-lhe apenas o que sabia; que aparentemente Eira tinha algum tipo de poder dentro de si e que ela havia perdido o controle do mesmo. Agora algo estava acontecendo com ela e Liam talvez fosse a única que conseguisse acalmá-la.
Quando chegaram na casa, ela correu até a sala de visita, mas teve que parar antes de chegar à porta, pois dentro da sala nada podia ser visto a não ser o vento girando lá dentro muito rápido.
— Tentamos tudo, e já nem podemos mais chama-la daqui, pois não escuta. — disse o Eolaí parando ao lado de Liam — Como vocês duas são muito amigas, imaginei que já soubesse do que ela pode fazer e talvez saiba como acalmá-la quando ela perde o controle.
— Isso nunca aconteceu antes.
— O que quer dizer com isso?
— Mo thiarna — Liam disse olhando para o Eloaí — não é algo meu para que eu possa contar, sinto muito, mas terá que conversar com Bean Uí Eira quando ela estiver mais calma.
— Como vamos conseguir acalmá-la se não conseguimos que ela nos escute?
— O único jeito vai ser chegar perto dela para poder então falar com ela e assim....
— Mas Liam, com todo esse vento, é impossível chegar perto da Eira.
— Só saberemos se tentar! — disse caminhando mais para perto da porta, já sentindo o rodopio do vento a puxá-la para dentro do salão.
— É perigoso, minha filha. — gritou Carrick tentando alcançar o braço da filha
— Fui treinada para proteger a Bean Uí Eira, mesmo que seja para protegê-la dela mesma, eu o farei não importa os riscos.
Dizendo isso, soltou o corpo e se deixou ser sugada pelo redemoinho. Uma vez lá dentro Liam percebeu que não era apenas vento, mas também tinha água, pois suas vestes estavam ficando molhadas e também grãos de areia que estavam machucando seu rosto. Quando Eira tentava alguma coisa nos treinamentos, não chegava perto do que ela estava fazendo agora. E era algo incrível! Assustador, sim, claro, mas incrível que ela conseguisse unir essas três coisas e usar como uma espécie de proteção para si. Após algum tempo girando dentro da sala, Liam conseguiu ter um vislumbre de onde Eira estava e percebeu que ao seu redor não havia quase vento nenhum, então, empurrando o corpo de todas as formas que podia, conseguiu chegar à parte mais calma do vento, até conseguir finalmente ficar de pé no chão novamente. Após adquirir um precário equilíbrio, andou até Eira e a abraçou.
— Está quente outra vez! — disse Eira ao sentir o abraço de Liam.
— Eira, sou eu, Liam, por favor se acalme!
— Eu sei que é você, Liam — ela disse virando de frente para a guerreira ainda com os olhos flamejantes — parei de sentir frio no instante que me abraçou.
— Sentir frio? Como assim? Do que está falando?
— Liam — seus olhos verdes voltaram ao normal — eu devia ter percebido antes, toda vez que estar longe de mim eu sinto frio, e só quando estar perto novamente eu volto a sentir calor; calor que vem de você especialmente para mim!
— Eira, você só estar confusa, cansada, além do que eu fiz quando estávamos juntas antes e....
— Não Liam, não estou confusa! O problema é que eu só descobrir a verdade quando aquele monstro ameaçou tirar você de mim...
— Ele o que?
— Ele disse que te mandaria para um lugar que talvez nunca mais voltasse. Foi nessa hora que percebi o que você realmente é para mim: você é meu calor Liam, é a pessoa que faz com que eu viva.
— Eira...
— Espere! — Eira disse colocando o dedo nos lábios dela — Eu preciso que você entenda o quanto é importante para mim, Liam, você é tudo que tenho e preciso. Você é uma parte de mim; não sei explicar direito sobre isso, mas é o que sinto, eu fico completa quando estou com você! Posso afirmar, de verdade, que eu também te amo. Que eu também sou apaixonada por você. E praticamente posso ter certeza de que a deusa nos fez para que uma pertencesse a outra.
Liam estava maravilhada com o que escutava da sua amada Eira; ela não sabia se ria ou chorava de tanta felicidade que estava sentindo. Seu maior medo, de que ela a rejeitasse ou tivesse receio de agir do mesmo modo que sempre agiu perto dela sumiram ao ouvir aquelas lindas palavras. Ela não precisava mais sentir medo de nada, pois sua Eira também a amava! A amava de verdade!
— Eu te amo Eira!
Ela a beijou do modo mais carinhoso que podia. Eira agora não tinha dúvidas do que sentia e também descobriu que, o que suas mãos mais desejavam, era abraçar sua guerreira e acariciar seus cabelos enquanto se beijavam.
Mas não puderam durar muito no beijo, pois Eira estava cansada, suas forças esgotadas pela quantidade de poder que usou para expulsar ele de lá, e acabou desmaiando nos braços de Liam; só depois que isso aconteceu, foi que os ventos pararam e sumiram misteriosamente do mesmo jeito que haviam surgidos e Liam saiu da sala carregando Eira nos braços, não sem antes reparar que nada naquela sala havia saído do lugar, mesmo com tudo que havia acontecido lá dentro.
— Ainda permanece sendo noite! — disse Eira ao abrir os olhos. Ela estava em seu aposento, deitada na sua cama, pois o reconhecia e pela janela podia ver que ainda estava escuro.
Ela se lembrava de tudo que havia acontecido; do que o eejit lhe dissera, do sentimento que havia tomado conta do seu coração ao descobrir a importância que Liam tinha em sua vida. Com isso ela foi capaz de sentir seu poder dentro de si e de perceber que, as coisas que ela vinha tentando fazer em seus treinamentos, ela agora conseguirá fazer do jeito certo; era como se seu verdadeiro poder estivesse adormecido e com a descoberta do seu amor por Liam, o tivesse acordado. Mas, ao mesmo tempo que ela sentiu tudo isso, ela teve um sentimento mais forte e mais doloroso quando pensou que poderia perde-la. E com esse sentimento ela sentiu um poder mais forte e quase cruel se transformar dentro dela.
"Eu sou uma pessoa ruim?"
"Meu poder é ruim?"
"Será que na realidade eu vou fazer mal às pessoas?"
Ela não sabia ao certo a resposta para essa pergunta, pois nem o que sentia por seus pais fora capaz de acalmá-la naquele momento. Apenas o calor de Liam lhe trouxe paz ao coração. Calor como aquele que sentiu quando alguém lhe tocou a testa.
— Não mo chailín, já escureceu novamente.
— Liam! — Eira disse ao olhar para o outro lado e encontrar sua guerreira sentada na sua cama acariciando lhe o rosto — O que quer dizer com isso?
— Significa que você dormiu o dia inteiro, Eira. A raiva do que ouviu, usar e controlar todo aquele poder lhe deixou muito cansada.
— Acredito que sim. Como estão meus pais? O que aconteceu depois que desmaiei?
— Calma, mo ghrá! Está tudo bem! — Eira sorriu ao ouvir a forma carinhosa com que Liam a estava tratando — Seus pais estão um pouco assustados, mas muito mais preocupados com você, em como você estar. Sua mãe passou o dia todo aqui, segurando sua mão e provavelmente orando para que Danu cuidasse de ti. O Eolaí e seus irmãos vinham aqui sempre, para saber como estavas.
— E onde está minha mãe agora?
— Com muito pesar ela teve que descer, pois parece que chegaram algumas visitas, mas não sei quem são. Não sair daqui do seu lado para nada, pois queria estar contigo quando acordasse.
— Liam, tudo aquilo que eu disse é verdade, realmente me sinto desse jeito contigo...
— Eu sei, mo ghrá — a guerreira disse colocando seus dedos nos lábios de Eira — eu sei que é verdade. Não sabe o quão feliz eu estou depois de escutar tudo que me disse. Se você sente frio e eu sou seu calor Eira, sempre estarei do seu lado para mantê-la aquecida e viva.
— Liam.
— Sim, mo bheatha.
— Estou com frio...
Sorrindo com a expressão que Eira estava fazendo e pela forma como ela a chamava, Liam retirou as sandálias e deitou na cama de frente para ela. Abraçando-a pela cintura, puxou para mais perto do seu corpo para que ficasse o mais perto e quente possível, depois deu um pequeno beijo em seus lábios e apoiou o rosto nos cabelos dela, sentindo aquele perfume que tanto gostava.
— Is breá liom tú Eira!
— Is breá liom tú Liam!
Termos:
Mo ghrá – meu amor
Mo bheatha - minha vida
Mo chailín - minha menina
Is breá liom tú - Eu te amo
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