ALVORECER ❅04❅
— Ya! Está me sufocando — reclamou Jin, tentando afastar as mãos ágeis de Taehyung que insistiam em fazer o nó de sua gravata.
Taehyung bufou.
— Era uma vez um hyung, um homem de vinte e sete anos que não sabia dar um simples nó numa gravata — cantarolou Taehyung. — Está pronto.
Jin olhou-se no espelho e sorriu. O smoking branco parecia ter sido feito especialmente para ele, os detalhes no colarinho, a gravata borboleta de cetim preto brilhante, lapela em seda. Um colete branco com botões dourados nas pontas, camisa branca com frente trabalhada, calça branca e um par de sapatos pretos de verniz.
Ele afastou os cabelos pretos dos olhos e deslizou os dedos cuidadosamente pela lapela.
— Uau — murmurou para si mesmo.
— Você está bonito, hyung — disse Taehyung, orgulhoso. — Mas falta alguma coisa. — murmurou, batendo o dedo indicador contra o próprio queixo.
— O que? — indagou Jin, um pouco confuso.
Taehyung pegou uma escova de cabelo e uma lata de spray do guarda-roupa de Jin.
— Vamos arrumar esse cabelo — disse, começando a pentear os fios escuros do cabelo de Jin antes que ele pudesse relutar. — Talvez se deixasse sua testa mais à mostra...o deixaria mais elegante também.
Entre jatos de spray e tentativas de penteados, Taehyung chegou num resultado. Penteou os cabelos de Jin para trás e borrifou spray para que tudo ficasse estático.
— Ficou bom — disse Jin, observando como seu rosto parecia mais iluminado agora que os cabelos haviam sido afastado dos olhos e da testa. — É sua vez de arrumar esse cabelo.
Taehyung balançou a cabeça.
— Negativo. O seu charme é mostrar a testa e o meu charme é cabelo nos olhos. — disse ele, ajeitando os cabelos ondulados sobre os olhos castanhos. — Eu pareço mais bonito assim.
Jin riu. Taehyung estava muito elegante também, usando um casaco branco com lapela de cetim preto e três botões dourados em cada manga, uma gravata preta, calças brancas e um par de sapatos brancos . Os cabelos pretos eram ondulados e sempre caíam-lhe aos olhos, realmente o deixando mais bonito.
Jin borrifou um perfume nos pulsos e o emprestou para Taehyung. Em alguns minutos os dois estavam do lado de fora, tremendo de frio.
— Ya! Eu tenho uma surpresa — disse Jin, após verificar as horas em seu relógio de pulso. — Olha ela lá.
Taehyung arregalou os olhos, radiante. Uma limusine se aproximava lentamente e Jin ria da comemoração engraçada que seu amigo fazia.
— Você compra roupas em um brechó mas tem dinheiro suficiente para alugar uma limusine? — indagou Taehyung, assentindo. — Eu deveria me preocupar?
Jin riu mais uma vez.
— Parcelado todos conseguem.
Taehyung abriu a porta e deslizou pelo banco de couro que rangeu sob seu peso. Havia luzes no interior da limusine, compartimentos automáticos que revelavam aperitivos, frigobares repletos de garrafas de cerveja e vodka, teto solar e uma música calma e relaxante.
Jin indicou o local onde seria o baile para o motorista, a distância entre eles e o salão de festas diminuía a cada segundo. Jin beliscou alguns aperitivos para afastar o nervosismo, mas foi impossível, o seu coração parecia estar prestes a sair pela boca.
No estacionamento, Taehyung esperou Jin sair da limusine. Pequenos grupos de jovens bem-arrumados espalhavam-se por ali, sentados nos capôs dos carros, com os melhores vestidos e smoking, mas o agito parecia vir de dentro do salão.
Era um espaço belíssimo, talvez o mais bonito já feito pelo ser humano em Reverie. Jin o analisou e percebeu que a estrutura era perfeita, com lâmpadas amarelas iluminando a entrada.
Taehyung olhou o lugar à frente deles e Jin percebeu que de repente seu amigo havia ficado nervoso.
As batidas do baixo ribombavam através das paredes.
— É l-lindo — gaguejou Taehyung, com os olhos iluminados pelas dezenas de lâmpadas pequenas que enfeitavam as árvores feitas somente para aquele evento. — Não posso nem imaginar como está lá dentro.
— Vai estar do baralho — disse Jin, rindo.
Os dois subiram as escadas cobertas por um tapete de veludo vermelho em direção ao hall de entrada. Atravessaram um arco de balões dourados e brancos e do outro lado a festa seguia plena a todo vapor. Havia pessoas sentadas ao redor das mesas decoradas com toalhas de seda douradas e brancas, tendo seus rostos iluminados por pequenas luminárias de cristal que completavam a chique decoração. Algumas pessoas riam, outras comiam e bebiam, outras flertavam. E outros dançavam embalados numa melodia calma das notas de um piano em uma grande pista sob um teto de vidro, que exibia o luar.
O olhar de Jin foi atraído para os lustres que pendiam gigantescos do teto dourado, para o piano branco sobre o palco iluminado por canhões de luzes monocromáticas. Cortinas de veludo dourado brilhante pendiam nas paredes laterais, os garçons deslizavam com as bandejas de prata sobre as mãos, carregando taças de champanhe borbulhante e aperitivos.
Taehyung cutucou Jin e apontou para o bar.
— Será que tem sangria?
— Vai perguntar.
Taehyung fez um beicinho e roubou uma taça de champanhe da bandeja de um garçom distraído. Jin afrouxou a gravata quando sentiu alguns olhares em sua direção, tentou manter seu olhar altivo e o andar elegante até a mesa mais próxima.
— Segundo os nossos convites, nossa mesa é a oito — disse Taehyung, olhando ao redor. — É onde está aquela moça.
Jin olhou na direção onde Taehyung apontava e viu uma belíssima mulher na mesa que estava reservada para eles. Ela usava um vestido vermelho justo e Jin podia ver os cabelos castanhos roçarem em seus ombros expostos.
Ele engoliu em seco quando Taehyung o puxou em direção a ela.
— Com licença, essa mesa é nossa — disse ele, usando um tom de voz mais grosso e firme.
A mulher ergueu os olhos para ele e sorriu.
— Me desculpe — disse ela. — Eu não sabia que as mesas eram numeradas.
Taehyung franziu as sobrancelhas e apontou para a pequena placa sobre a mesa que indicava sua respectiva numeração.
Ainda sentada, a mulher moveu os lábios pintados de vermelho, formulando palavras inaudíveis aos ouvidos de Jin. Ele tentou decifrá-las mas foi impossível.
— Você pode ficar conosco — disparou Jin, automaticamente. — A mesa possui quatro lugares e somos só nós dois.
A mulher sorriu, mas balançou a cabeça em negativa.
— Obrigada pela gentileza, mas eu não ficarei muito tempo — disse ela, levantando-se. — Daqui a pouco dará meia-noite e eu precisarei partir.
Taehyung olhou para o amigo, confuso. Jin ainda mantinha os olhos fixos aos dela, estudando cada movimento de seu rosto, as maçãs do rosto que se elevaram quando ela sorriu. As bochechas coradas que lhe deram água na boca.
— Não ficará para a queima de fogos? — perguntou Taehyung, um pouco inconveniente.
— Eu queria muito — respondeu ela, ainda olhando para Jin e abandonando a taça vazia de champanhe na mesa. — Mas as responsabilidades me chamam.
Jin prendeu a respiração quando ela se levantou. Ele tentou sorrir mas os músculos de seu rosto pareciam petrificados.
Quando ela se afastou, tudo o que deixou para trás foi seu perfume inebriante.
Que causou uma crise de espirros em Taehyung. Ele ficou com os olhos lacrimejados enquanto bebia em um gole só o champanhe de sua taça.
Jin piscou os olhos e os voltou para o hall de entrada, por onde pessoas não paravam de entrar e sair. Depois de encarar metade das pessoas que passavam por ele, olhou para Taehyung.
— Você não achou aquela mulher estranha?
Taehyung deu uma boa olhada na taça vazia que ela havia deixado sobre a mesa. Deu de ombros e balançou a cabeça.
— Deixar você enfeitiçado? Um pouco estranho, sim. — disse ele. — Mas ela era bem bonita.
Jin olhou para o salão mais uma vez mas nem sinal dela.
— Muito bonita — murmurou.
— Ora, ora parece que a dama de vermelho mexeu com o impenetrável Kim SeokJin. — Taehyung franziu a testa, rindo.
— Achar alguém bonito não significa estar apaixonado. — Jin suspirou e desviou os olhos de uma mulher que vinha em sua direção. Ela estava mantendo contato visual com ele de uma forma constrangedora.
Jin afrouxou mais uma vez a gravata.
— Por que não vai atrás dela? — sugeriu Taehyung, mordendo o lábio inferior. — Você foi gentil ao convidá-la para se juntar a nós.
— Acha que eu deveria?
Taehyung arqueou as sobrancelhas.
— Sabe quando a donzela sai às pressas antes da meia-noite e deixa o príncipe encantado e apaixonado sem nenhuma informação sobre ela? — perguntou e bufou quando Jin balançou a cabeça. — Caramba! O que eu estou querendo dizer é que ela quer que você vá atrás dela.
— Quem disse?
Taehyung deu de ombros.
— Apenas vá. Use o seu rosto bonito para alguma coisa, hyung.
Jin riu. Aquele baile era apenas para se divertir e não para arrumar casinhos desnecessários, porém com o encorajamento de Taehyung e a queimação no fundo de seu peito, ele cedeu.
Encheu os pulmões de ar, ajeitou os cabelos e atravessou o salão em direção à porta. Ao sair na escadaria, olhou para os lados em busca daquela mulher.
Saltou os degraus e parou subitamente próximo a entrada do estacionamento. Não havia sinal dela, apenas alguns jovens ao redor de seus carros.
Jin suspirou, frustrado. Talvez ter a companhia de uma mulher poderia ser útil na sua luta contra os sentimentos que sempre o visitavam pela noite. Mas não era o seu dia de sorte.
Em Reverie nunca era.
Quando girou sobre os calcanhares para voltar para a festa, uma brisa lhe causou arrepios na espinha. O coração saltou dentro do peito e então, girou o corpo mais uma vez.
Tudo o que encontrou foram árvores iluminadas pela luz do luar. Jin uniu as sobrancelhas e pressionou a mão contra o peito, começando a ficar irritado com a queimação que se espalhava em seus pulmões.
— Hyung! — A voz de Taehyung lhe encheu os ouvidos. — Daqui a pouco será a contagem regressiva!
Jin formulou a resposta em sua mente mas não disse nada, apenas permaneceu olhando para o topo coberto de neve dos abetos. Tossiu algumas vezes quando o frio sobre a pele lhe atingiu, mesmo que fosse incapaz de afastar a queimação em seu interior.
Não era esse tipo de calor que Jin desejava. Dominado pela frustração, ele estava quase decidido a entrar quando algo lhe chamou atenção.
Ele piscou algumas vezes para ajustar a visão e então viu uma raposa se esgueirar para fora das árvores. O animal farejou algumas pedras, moveu a cabeça e seus olhinhos brilhantes entraram em contato com os de Jin.
— Hyung! — A voz de Taehyung soou mais alta.
Jin ainda estava com a mão pressionada contra o peito quando tossiu mais algumas vezes. A raposa pareceu se assustar, mostrou-lhe os dentes, rosnando antes de serpentear novamente para a floresta.
— Jin! — Taehyung o chamou mais de perto, tocando o ombro do amigo. — Qual o seu problema?
Jin balançou a cabeça e olhou para o amigo. Taehyung lhe encarava com os olhos arregalados e cheirava a álcool.
— Eu não a encontrei — murmurou, estranhando as palavras em sua boca.
Taehyung fez careta.
— Não há com o que se preocupar, hyung — assegurou Taehyung, sorrindo. — O baile só está começando e isso significa que terá mais mulheres lá dentro.
A intenção dos dois era voltar para dentro e beber mais algumas taças de champanhe, mas ao entrar no salão, perceberam que todos estavam se encaminhando para os fundos, que segundo as placas, apontavam para o pátio de onde seria vista a queima de fogos.
Taehyung roubou mais duas taças de champanhe de uma mesa aleatória e seguiu Jin por meio da multidão. Não havia mais música, o pianista havia se retirado para os fundos também, os garçons deslizavam pelo salão, resmungando sobre o fato de que teriam que assistir a queima de fogos das janelas.
Mulheres com vestidos caríssimos passaram por Jin. Inúmeros aromas e cores de cabelo. Variados tons de pele e timbre de vozes. Mas nenhuma delas era quem ele procurava.
Seu peito ardeu mais uma vez e não pôde conter a tosse. Bebeu do champanhe que Taehyung colocara em sua mão e observou as horas em seu relógio de pulso.
23:59.
Todo mundo exalava animação e euforia enquanto estavam na expectativa do imenso um minuto que não passava. Por um segundo, Jin fechou os olhos e pensou em um desejo para fazer assim que batesse meia-noite. Trocou olhares com Taehyung e sorriram um para outro, e sem dizer nada os dois sabiam que estavam agradecidos por aquela amizade.
Jin fechou os olhos quando as vozes em uníssono começaram a contagem regressiva. Cinco. Quatro. Três. Dois.
Um.
Era a hora do seu pedido. Algo queimou no fundo do seu coração.
— Eu desejo encontrá-la — murmurou, ainda de olhos fechados.
A cacofonia lhe acertou em cheio e o clarão dos fogos iluminou o céu de diversas cores. Taehyung comemorou e lançou os braços ao redor de Jin, dando-lhe um abraço apertado.
Jin esperou. Retribuiu o abraço e pensou em seu desejo. Não era aquilo que ele queria. Não era aquilo que ele desejava.
Desde a infância o seu desejo era que o frio fosse embora de Reverie.
Olhou para o céu mais uma vez, observando os fogos das mais variadas cores que se abriam como buquês no enorme tecido azul lá em cima.
— Ya! Está tão bonito. — disse Taehyung, encantado com as luzes que refletiam em seus olhos.
Jin esfregou a mão contra o peito e recebeu um olhar gélido de Taehyung. Mas ele não disse nada sobre aquilo; estava simplesmente aproveitando o momento.
Mas quanto mais Jin tentava entrar naquela atmosfera, menos conseguia. Seu coração ardeu quando um arco-íris de luzes cruzou o céu. Havia algo diferente, que ele não conseguia identificar.
Afastou-se da multidão lentamente, mas era impossível escapar de Taehyung. Jin recuou, atravessou o salão dourado e saiu nas escadas mais uma vez.
Inspirou o ar gelado enquanto se livrava da gravata que apertava sua garganta. Desabotoou os primeiros botões da camisa e mesmo que o vento gelado castigasse a pele de seu peito, ele não se importava, apenas precisava de ar.
— Jin-hyung, o que está acontecendo? — Taehyung finalmente perguntou, demonstrando interesse. Ele estava acostumado a não obter respostas de Jin quando fazia esse tipo de pergunta.
— Não sei — foi tudo o que respondeu, envolvido demais na própria curiosidade para sanar outra.
— Será que foi o champanhe? — Taehyung cheirou a taça vazia.
Os fogos continuavam estourando no céu, iluminando a cidade enquanto pessoas comemoravam e enchiam a cara. Jin sentou-se em um degrau e sorriu quando Taehyung se juntou a ele.
— Obrigado por ter vindo, hyung — disse, livrando-se da gravata também. — Está sendo do baralho. Sabe, temos a noite toda ainda.
Jin sorriu.
— Nós iremos aproveitar o restante da noite. Pode apostar.
Taehyung riu mas, de repente, o riso esmoreceu e se transformou em uma expressão confusa.
Ele franziu os olhos.
— Hyung, o que é aquilo? — perguntou e Jin olhou para trás. Havia algo estendido sobre o chão coberto de neve. Algo vermelho. — Parece uma peça de roupa.
Jin sentiu o peito queimar mais uma vez.
— É um vestido. Um vestido vermelho.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro