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Capítulo 50

- Seth – dona Mia chamou da cozinha da minha casa. Suspirei e ele me olhou meio se divertindo e meio pedindo desculpas ao mesmo tempo.

- Vai lá – dei um empurrãozinho nele com o ombro de brincadeira, e ele se levantou.

- Ela só quer ajudar – disse baixinho, em pé à minha frente.

- Ah, eu sei. Eu já desisti de falar que não precisa. Vou apenas deixar ela ser feliz – sorri um pouquinho.

Depois de todo o estresse do fatídico dia e tudo o que rolou ontem, hoje eu já me sinto bem melhor. E por melhor eu quero dizer que pelo menos a minha cabeça não parece que vai explodir. Eu também não estou mais com tontura e não me sinto mais em um estado de confusão, então... yay...

Lucy acabou dormindo no quarto de hóspedes, mas deixou um aviso para mim e para Seth porque ela teve que sair, mas voltaria mais tarde...

E, como prometido, a mãe do Seth veio nos ver, parecendo mais aliviada do que preocupada, embora seu semblante mostrasse nitidamente que ela não conseguiu dormir por nem sequer um minuto na noite anterior.

Para a surpresa geral, o pai do Seth realmente veio. De início, tudo o que ele fez foi ficar calado enquanto estava sentado na sala, observando a interação do filho comigo. Diferente de antes, porém, seu olhar não parecia nos atravessar e ele não parecia incomodado conosco. Nem mesmo quando o filho me puxou para um beijo – que eu acabei interrompendo rápido demais por causa da vergonha – ele pareceu ligar.

O homem apenas nos observava, como se tivesse entendido algo muito importante. Após o período de silêncio – e quando a esposa voltou para a sala depois de preparar o almoço e, claro, nos obrigar a comer – ele finalmente começou a falar e, surpreendendo ainda mais a todos, a primeira coisa que ele disse foi um pedido de desculpas.

O homem parecia realmente pesaroso sobre o tratamento que ele vinha me dando, embora levando em consideração várias coisas, o pior que ele fazia comigo era me ignorar quando eu estava por perto e ele não estava no clima de fingir cordialidade...

- Eu fico feliz em ter ganho uma filha – completou, ao se levantar, parando à minha frente. Seu rosto até então sempre sério estava passivo e sereno e um sorriso largo adornava seus lábios enquanto seus olhos brilhavam, úmidos com as lágrimas.

Seth me cutucou, me arrancando do meu torpor, então eu me levantei do sofá e o homem me abraçou forte, porém com cuidado.

Hesitei por uns instantes em abraça-lo de volta. A sensação que eu sentia era a mesma que eu tive quando meu pai me abraçou pela última vez, pouco antes de se despedir no aeroporto, quando ele foi mandado para longe da gente...

Quando eu finalmente voltei a mim, retribuí o abraço, trêmula, muito incerta se o motivo era o abraço em si, ou o que ele me lembrava: carinho paterno. Eu nunca pensei que eu sentisse falta... Não... Eu nunca quis admitir, até esse exato momento, o quanto eu senti falta disso.

- Me desculpa – disse de novo. – Me desculpa por precisar que quase acontecesse uma tragédia para entender que, se eu não for o porto seguro de vocês, ninguém vai ser, porque o mundo é cruel – confirmei com a cabeça enquanto lutava contra a vontade de chorar. Eu sinto falta de quando eu não sentia vontade de chorar por qualquer coisa... – Eu mantenho o que eu disse antes: eu me faço disponível para vocês em qualquer coisa. Mas eu quero mudar algo – o mais velho fungou, também emocionado. – Eu gostaria que vocês fossem mais presentes. Eu não vou mais bancar o machão rígido. Eu sinto falta do meu filho e eu também quero poder conhecer melhor a garota que ele tanto gosta.

Confirmei de novo, incerta do que aconteceria se por um acaso eu abrisse minha boca.

- E eu sei que eu não tenho esse direito, mas... – hesitou. – Mas eu ficaria muito feliz se eu pudesse ser a figura paterna que foi negada à você desde nova – ele se afastou pra poder olhar meu rosto e aí eu já não consegui mais segurar lágrima nenhuma. Tudo o que eu consegui fazer foi esconder o rosto com as mãos, me sentindo mais fragilizada do que verdadeiramente embaraçada.

O homem me puxou para perto de novo, usando a mão para conduzir meu rosto de modo que eu apoiasse minha testa em seu ombro enquanto acariciava minha cabeça de um jeito afetivo, esperando eu me acalmar um pouco. Depois, com cuidado, secou meu rosto e me deu um sorriso caloroso.

- Obrigada – consegui dizer, num fio de voz, sentindo minha garganta fechar. Tentei falar mais alguma coisa, mas além de eu não saber o que dizer, eu simplesmente não conseguia.

- Querido, eu não acho que isso seja bom pra ela agora... – dona Mia se meteu, fingindo que também não estava com o rosto maculado pelas lágrimas. – O médico falou, lembra? Sem estresse.

Ele sorriu, sem graça.

- Ela é toda sua. Acho que você vai conseguir acalmá-la com mais facilidade do que eu – brincou e se afastou quando o braço de Seth rodeou minha cintura.

- Me dá dois minutos – ele também entrou na brincadeira.

- Nem ouse! – Seth soltou uma risadinha quando virei o rosto quando eu percebi sua intenção, fazendo seus lábios irem de encontro à minha bochecha.

- Eu ainda estou te devendo por ontem – murmurou, aproveitando a proximidade. – Mas infelizmente eu acho que vou ficar devendo por mais algum tempo... – suspirou.

- Você aqui comigo é tudo o que eu preciso – dei de ombros.

- Não precisa ter vergonha... Não é como se eu nunca tivesse visto vocês se beijando... – o mais velho sorriu, malicioso. Quase ri. Cada dia eu descubro uma pérola nova nos pais do Seth.

- Você vai deixar nossa plateia na expectativa? – Seth me virou de frente pra si, sorrindo de canto. Seu sorriso era provocativo, mas mesmo assim, tudo o que eu pude pensar no momento foi no quanto ele fica lindo sorrindo assim.

- Hmm... – resmunguei, sem conseguir desprender meus olhos do seu sorriso sacana. – Acho que não seria legal... – ponderei e Seth inclinou levemente a cabeça para o lado, sorrindo mais. – Você quer realmente me beijar na frente dos seus pais?...

- Querer, querer eu não quero – admitiu, alargando seu sorriso um pouquinho mais. – Mas eu quero te beijar e estou fingindo que eles não estão aqui.

Dei de ombros e levei minha mão ao seu rosto, acariciando sua bochecha. Me estiquei um pouco e ele se inclinou pra frente, encostando seus lábios levemente nos meus.

Eu não aprofundei o beijo e ele também não teve essa audácia.

Seth me deu mais um selinho e depois beijou minha testa, afetivo, e se afastou.

Os pais dele sorriam e se aproximaram da gente, nos envolvendo em seus braços num abraço coletivo.

É estranho. Eu me sinto como se eu realmente tivesse, pela primeira vez na minha vida, descoberto o meu lugar no mundo. O lugar que eu caibo. O lugar ao qual eu pertenço e que eu não quero sair nunca mais.

- Você tá bem? Sua cabeça tá doendo? – Seth sussurrou perto do meu ouvido. Fiz que não com a cabeça.

- Eu não estou sentindo dor – completei, visto que a minha resposta poderia ter muitas interpretações. – Já a parte do "estar bem" eu te respondo quando me recuperar – admiti, ainda me sentindo muito movida por causa dos últimos minutos.

- Você vai se acostumar com a ideia de eu não ser mais um idiota – o pai de Seth disse, divertido. Abri a boca pra falar algo, mas ele me interrompeu com um sorriso e um balançar de cabeça. – Mesmo que você não se importasse por eu não ter sido agressivo ou ofensivo com você, não muda o fato de que eu fui um idiota, querida. Eu provavelmente ainda vou errar muito com vocês enquanto aprendo, mas eu quero tentar.

- Ele tá certo, Sam – dona Mia interviu. – Ele precisa dessa redenção com ele mesmo e com você também. Mesmo com todos esses anos em que eu estou casada com ele, ou todos o tempo no qual a gente namorou, e até tudo o que a gente presenciou nas áreas debilitadas pra onde a gente era enviado, eu nunca o vi tão abalado quanto quando ele entrou com o Seth machucado ontem em casa.

Confirmei com um aceno. Eu imagino que para um pai de verdade, que se importa e ama o seu filho, vê-lo machucado, seja algo realmente assustador. Ainda mais sabendo que ele correu risco de vida.

Seth beijou minha bochecha, me fazendo olhar para seus olhos. Com sutileza, ele fez que não com a cabeça.

- Ele estava abalado com o que aconteceu comigo sim. Mas o que mais o abalou foi perceber como o mundo trata pessoas como você, só por serem "diferentes" e lutarem para ser quem são.

Desviei o olhar, pensando em como o meu próprio pai me tratava. É uma sensação horrível lembrar disso agora.

- Eu sei – respondi por fim, minha voz soando amargurada.

- Tá pensando no que? – perguntou, gentil, afagando minha cintura com a mão que ainda me rodeava protetoramente.

- Você sabe no que eu estou pensando – neguei com a cabeça um pouco. Eu não queria estragar toda essa atmosfera legal pensando no meu pai, porque eu sei que isso vai destruir meu humor, mas eu já não consigo mais averter meus pensamentos dessa trajetória.

- Desculpa, não era pra você lembrar dessas coisas...

- Seth – revirei os olhos. – Para de se culpar por coisas que você não tem culpa.

- Não é q-

- Você não tem culpa do meu pai ser um babaca – dei de ombros, interrompendo a frase dele. – Por favor, não torne isso mais difícil pra mim do que já é...

- Sam, você devia descansar. A gente já tomou muito do seu tempo hoje e você já se emocionou bastante – a mãe do Seth se meteu, sentindo o clima ficar meio pesado entre nós dois. Talvez eles pensem que a gente tá a ponto de discutir, quando na verdade, é mais provável do Seth entrar num ciclo de pedidos infinitos de desculpa e eu simplesmente dar as costas pra ele e ignorar.

- Tudo bem, dona Mia. Eu estou bem. E agradeço a preocupação. De verdade.

- Nos vemos em casa, filho? – o senhor John perguntou, mas Seth negou com a cabeça.

- Eu vou ficar com ela. Quando a Lucy voltar ou a dona Elbe chegar, eu volto pra casa.

- Eu não preciso de babá – bufei e contive a risada quando Seth me olhou feio, chegando a levantar a mão pra apertar minha bochecha, mas se detendo por causa dos pontos e dos machucados. – E você também precisa descansar – finalizei, sorrindo provocativa.

- Vai ser a mesma discussão de ontem e você sabe que não vai ganhar – ele arqueou a sobrancelha e cruzou os braços, me olhando quase de forma superior.

- Bom... – diminuí um pouco meu sorriso, fazendo ele ficar mais malicioso. – Pode ser que a outra parte também seja exatamente como ontem... – arqueei a sobrancelha de forma sugestiva. – Estou ansiosa por isso – me inclinei para sussurrar bem perto do ouvido dele, me certificando que só ele escutaria essa parte: - Eu estou doida para te sentir de novo.

Seth soltou um grunhido e tampou o rosto com as mãos, escondendo a vermelhidão de suas bochechas e eu não consegui conter a gargalhada, ainda mais quando os pais dele se entreolharam, meio sorrindo maliciosos e meio surpresos com o que eu falei... Isso porque eles não ouviram a segunda parte.

Agarrei o braço de Seth quando senti minha cabeça pesar e minha visão embaçar, me fazendo momentaneamente achar que eu apagaria, mas a tontura passou tão rápido quanto veio... Ok, eu definitivamente preciso sossegar por hoje.

O pai de Seth estendeu os braços, como pra prevenir minha queda e Seth me segurou, alarmado.

Os dois adultos me encararam e Seth chegou a abrir a boca pra reclamar, mas eu me adiantei.

- Tá bom, já sei! Tô indo! – revirei os olhos e me afastei andando, incerta, até a escada.

- Acho que é melhor você ficar com ela mesmo – o pai dele concordou, meio abismado. – Sabe lá o que ela pode aprontar...

- Eu tenho algumas ideias do que ela poderia fazer – Seth comentou, todos me seguindo até meu quarto.

- Ei! Eu tô ouvindo, sabia? – fiz cara feia.

- Ele tá errado? – Seth desafiou.

- Um pouco... – me sentei na beirada da cama. – Não é como se eu fosse sair correndo por aí, ou fosse iniciar uma sessão de exercícios – dei de ombros. – Eu estou com sono e provavelmente dormiria. Só isso – dei de ombros novamente.

- Aham... – estreitei meus olhos em sua direção. – Não adianta tentar me ameaçar com essa cara, porque eu vou ficar.

- Eu não disse que queria que você fosse – sorri vitoriosa quando Seth me olhou meio sem graça e meio bobo ao mesmo tempo.

- Estamos indo – dona Mia disse, rebocando o marido do cômodo com um sorrisinho malicioso nos lábios. – Espero que vocês descansem. Se precisarem de alguma coisa, é só nos ligar.

Nos despedimos e eles saíram em seguida.

- Você realmente não perde a oportunidade de implicar comigo, não é? – Seth se sentou ao meu lado na cama, cruzando as pernas.

- Por que eu faria isso?

- Ainda tá com tontura? – esticou a mão, alisando meu rosto com cuidado.

- Não. Nem dor também. Foi só algo momentâneo, pode ficar tranquilo – me virei para poder fita-lo, dando de cara com seu sorriso gentil. – Eu gosto um pouquinho mais de você toda vez que você me olha assim, sabia? – segurei sua mão que ainda estava em meu rosto e a beijei de maneira carinhosa.

Enrosquei meus dedos em sua blusa, puxando-o para poder beijá-lo, quase frustrada o suficiente pra deixar um suspiro escapar por causa do contato cuidadoso de sua boca na minha.

- Espera... – Seth se afastou, parecendo de repente muito ciente de algo.

- O que?

- Você não devia poder me beijar... né? Quer dizer, não com ponto no lábio... – seus olhos estavam um pouco mais abertos do que o normal. Suspirei.

- Não devia mesmo – admiti. – Mas eu confesso que nem sequer me lembrei disso – soltei o tecido que eu ainda segurava, apoiando minhas mãos na cama. – Que saco... Como eu vou ficar quase dez dias sem te beijar? – olhei pro Seth, meio dramatizando, mas ao mesmo tempo fazendo uma pergunta sincera... Ele sorriu de canto.

- Eu vou sofrer junto – riu um pouco. – Mas acho que pra você vai ser ainda pior...

- Ah é? Por quê? – franzi o cenho. – Isso quer dizer que você não faz tanta questão assim de me beijar e que eu gosto mais de fazer isso do que você?

Seth fez que não com a cabeça.

- Porque o fato da limitação estar em você vai te fazer sentir ainda mais tentada a me beijar. Se fosse o contrário, eu tenho certeza que seria assim. Eu ia entrar em parafuso num total de um dia por causa disso... – riu.

- Escapou bem...

- Sam, não existe sequer a remota possibilidade de eu não gostar ou não fazer questão de ter esse contato com você e você sabe disso.

Dei de ombros. Eu sei. Mas isso não vai me impedir de fazer um pouco de drama...

- Eu quero fazer alguma coisa... – fiz beicinho.

- Você não estava com sono? – riu.

- Ficar em casa o dia todo sem fazer nada tá me dando agonia!

- Quem é você e o que fez com a minha namorada?! – Seth me olhou estranho.

- Haha, Seth. Muito engraçado – franzi as sobrancelhas.

- Desde quando você não gosta de ficar em casa? – desafiou.

- Eu não falei que eu não gosto – respondi com simplicidade. – Eu disse que ficar aqui o dia todo sem fazer nada tá me dando agonia. É diferente.

- Ah, eu sei. A questão é que eu nunca te vi reclamar por ter que ficar ou por estar em casa.

Dei de ombros.

- Não é como se a gente fosse poder fazer muita coisa...

- E o que você gostaria de fazer?

- Eu pediria pra você jogar alguma coisa, mas... Bom, além de eu não poder assistir televisão também, eu não tenho nenhum console aqui.

- Quer que eu te leia um livro? – tentou me provocar, me dando um meio sorriso.

- Não é uma má ideia – ri um pouco. – Mas dessa vez eu vou passar, obrigada.

- Quanto tempo até você poder voltar a fazer as coisas? – questionou.

- Não muito. A ideia é só descansar. Não foi uma concussão grave, então eu vou poder retornar atividades básicas como ler e assistir televisão em alguns dias. É só que ficar sem fazer absolutamente nada é complicado, ainda mais pra mim, que sou o tipo de pessoa que não consegue ficar quieta.

- O que você fazia quando voltava da escola? Digo, no início enquanto ainda não tinha intimidade o suficiente com a Lucy pra ela vim pra sua casa e que eu também não falava com você – perguntou, curioso. Sorri.

- Dependia muito do meu ânimo. Às vezes eu saía pra correr, ou ficava jogando vídeo game. Às vezes eu lia ou assistia televisão, ou sentava pra estudar por horas seguidas. Ou fazia exercícios caseiros de resistência, por causa do vôlei. Ou quando eu estava no pico do tédio, eu revirava a casa toda fazendo faxina – Seth riu e eu acompanhei.

- Você não dormia? Ou simplesmente ficava deitada olhando pro nada? – neguei com a cabeça.

- Eu não consigo. Me dá nervoso. Sabe como é: energia demais sobrando. É justamente por isso que eu estou assim agora. Eu queria poder fazer qualquer coisa – suspirei.

- Só conversar não é o bastante? – fez uma carinha fofa.

- É o que tá me impedindo de acabar fazendo algo que eu não devia – admiti. Voltei meu olhar para o rosto do Seth, sorrindo de maneira pervertida, só pra ver o que ele vai dizer.

Seu rosto ficou sério por um instante, seus olhos adquirindo aquele brilho selvagem de luxúria, mas ele logo se levantou e foi pro outro lado do quarto, ficando o mais distante possível de mim. Ri.

- Nem pensar! Você é um perigo...

- Eu não ia fazer nada – me defendi. E eu não ia mesmo.

- Sei...

- É sério – bati a mão no colchão, chamando ele pra se sentar ao meu lado novamente. – Eu só queria ver a sua reação. Acho que valeu a pena – Seth se aproximou, parecendo receoso, e se sentou novamente.

- Você tá me usando de distração... – suspirou.

- Bom, eu não posso te beijar, eu não posso te tocar, você não pode me tocar também. Televisão, livros e qualquer outra coisa tá fora de cogitação... Eu esqueci de mais alguma coisa? – revirei os olhos. – Colabora comigo, poxa.

- Você ainda pode respirar.

- Você não tá ajudando, Seth – fiz uma careta.

- Foi mal, foi mal – riu. – Pode não parecer, mas eu estou realmente pensando no que a gente pode fazer – ficou quieto por alguns minutos, olhando para as pernas cruzadas como se fossem a coisa mais interessante do mundo. – Eu confesso que eu iria sugerir da gente simplesmente dar uma volta por aí, se eu não estivesse com um leve receio de sair de casa... – ele levantou o olhar pra mim e eu pude ver uma pequena faísca de medo em seus olhos.

- Eu sei que é horrível o que a gente passou, mas nós não podemos viver reféns desse tipo de coisa. Eu também vou ficar com medo por um tempo de sair de casa, mas isso é normal – sorri um pouco. – Quer dar uma volta até a praça? Ver um monte de marmanjo suado jogando, que tal? – ri da sua careta.

- Pode ser. Mas não me culpe se eu achar algum deles gostoso – concordei com a cabeça, achando graça. Quem diria que um dia o Seth conseguiria brincar assim.

- Eu adoraria ver você falando abertamente que algum deles é gostoso. Isso seria incrível – ri, me levantando da cama. – Só me dá alguns minutos pra eu poder escovar os dentes.

Seth concordou, mas acabou se levantando para ir atrás de mim, pra poder fazer a mesma coisa.

- Você comentou sobre isso com seu chefe? – perguntou depois de enxaguar a boca. Neguei com a cabeça.

- Eu pretendo fingir que nada aconteceu quando eu voltar. Eu não quero levantar perguntas desnecessárias. O pessoal de onde eu trabalho é maravilhoso e super acolhedor, mas eu não quero me expor de maneira desnecessária.

- É só falar que foi um roubo que acabou mal.

- Pode ser. Provavelmente é uma desculpa válida, caso me perguntem. O único que sabe realmente é meu chefe, porque ele já sabe sobre a cirurgia e essas coisas. O resto eu prefiro deixar na ignorância.

- Nah, eu não te julgo por não querer misturar sua vida particular com a profissional. Eu também não falaria se fosse o meu caso.

Voltei para o quarto e invadi meu antigo closet, pegando uma calça jeans e uma blusa de manga longa pra poder esconder os hematomas da melhor forma que eu podia.

Seth ficou parado, me fitando, parecendo pensativo.

- Alguma coisa errada? – perguntei. Nem sequer me dei ao trabalho de me olhar no espelho. Meu rosto tá machucado demais pra eu sequer tentar camuflar alguma coisa. A única coisa que eu fiz foi soltar meus cabelos, bagunçando estrategicamente os fios ondulados.

- Nada – respondeu. – É só que às vezes eu me perco enquanto olho pra você, pensando no quão linda você é.

- Ah... – Seth gargalhou por eu ter soado tão sem graça. Eu fui pega completamente de guarda baixa pelo elogio.

- Acho que valeu a pena duas vezes – revirei os olhos. – Eu não esperei que você fosse ficar sem graça. Essa parte foi um bônus.

- Obrigada – sorri de canto. – Vamos?

Seth concordou e abriu a porta do quarto pra mim enquanto ria.

Fomos andando até a praça vagarosamente e em silêncio. Eu não sei dizer se ele tá pensando a mesma coisa que eu, mas eu me sinto bem mais desconfortável quando um grupo de pelo menos três pessoas se aproxima da gente. Pela reação de Seth, ao se encostar em mim e me apertar contra seu corpo, acho que isso vale para os dois. Suspirei. Mais um trauma pra adicionar pra minha listinha...

- Você devia fazer terapia – comentei, olhando para a frente. Senti seu olhar pesar em meu rosto, mas não desviei os olhos do caminho que a gente seguia. – Esse tipo de coisa deixa marcas. Buscar ajuda é bom. E é necessário...

- Dói um pouco meu orgulho fazer tratamento com psicólogos – eu cheguei a abrir a boca pra perguntar o porquê, mas ele foi mais rápido em continuar. – Eu sei que é importante. Algo que todo mundo deveria fazer. O mundo seria melhor se todos fizessem – deu de ombros. – Eu quis dizer que eu preferia não ter que buscar esse tipo de ajuda agora por causa do que aconteceu... Mas eu sei que você tá certa e que tem vários motivos pra eu sequer duvidar do que você tá dizendo, por conhecimento de causa – confirmei com a cabeça. – Eu vou fazer isso quando a gente voltar – Seth se inclinou e beijou minha cabeça com cuidado. – Quer sentar ali? É um lugar que dá pra ver ao nosso redor e não tá pegando sol – não precisei realmente responder, já que ele já nos guiava para lá de qualquer jeito.

Observei as pessoas que andavam pelo local, percebendo que tá um pouco mais vazio do que eu geralmente via enquanto voltava do ponto do ônibus do colégio. Não sei se isso me alivia ou não. Pelo menos a quadra tá movimentada, ironicamente. Isso nunca acontece esse horário. Provavelmente é por causa do feriado...

Pensei em provocar Seth sobre a brincadeira que eu fiz no quarto, mas preferi deixar quieto. O silêncio entre nós dois está confortável e eu não quero quebrá-lo. Fora que Seth parece muito perdido em pensamentos e eu também não quero atrapalhar.

- Tá pensando em que? – ele perguntou por fim, baixinho. A sensação que me deu foi que ele suavizou a voz para fazer parecer que o silêncio permanecia intacto.

- Estava pensando que tá um movimento incomum por aqui hoje. Também estava pensando se isso me alivia ou me dá um certo receio...

- Você acha que eles viriam atrás da gente? Quer dizer, que se os vissem, eles tentariam terminar o que começaram?...

- Sinceramente, eu não tinha pensado nisso antes... Não vou mentir em dizer que preferia que você não tivesse me feito pensar nisso agora – suspirei.

- Foi mal. Mas eu não consigo parar de pensar em nada do que aconteceu. Por vezes eu mesmo me culpo em ter praticamente te arrastado pra cá contra a sua vontade.

Bufei.

- Seth – me virei para ele e segurei sua mão. – Nós falamos sobre isso ontem: eu não vim contra a minha vontade e não tem sentido você se culpar. Foi uma casualidade. Se não fosse a gente, seriam outras pessoas. Vamos só agradecer que a gente não sofreu nada sério e seguir em frente – deslizei minha mão pelo seu rosto com cuidado, ainda mais na parte que estava com o hematoma. – Vamos só tentar esquecer tudo aquilo. Eu estou aqui e estou bem.

- Como sabe que era sobre isso que eu estava pensando? No que poderia ter acontecido com você – completou. Dei um sorriso.

- Porque eu te conheço. Sabendo o quão preocupado comigo você é, não é difícil adivinhar que a sua linha de raciocínio é essa.

- Eu não gosto quando você me lê fácil assim – fez um beicinho, o que me arrancou uma risada.

- Da próxima vez eu finjo que não notei.

- Obrigado – disse, irônico.

- Não por isso... – respondi, também sarcástica.

- Quer voltar? – perguntou depois de um tempo em silêncio. - Acha que já nos aventuramos o suficiente pela vizinhança? – sorriu minimamente.

Reprimi a vontade de suspirar ao perceber o quão incomodado ele tá só pelo fato da gente estar do lado de fora.

Vou deixar o tópico "terapia" longe por agora. Não é o momento e nem o local para pressioná-lo sobre o assunto. Mas me preocupa o quão fragilizado ele parece. Acho que tudo o que aconteceu teve um peso traumático ainda maior sobre ele porque esse idiota simplesmente não para de se culpar.

- Quero sim – respondi por fim, me levantando. – A Lucy já deve estar voltando para a minha casa e eu também não quero preocupa-la sumindo do nada.

Seth concordou com a cabeça e passou o braço direito sobre meus ombros, me mantendo o mais próximo possível, parecendo se sentir mais confortável assim.



E aí, meu povo, sentiram saudades? xD

Sei que eu sumi, e que já faz muito tempo que eu sequer escrevo alguma coisa, mas voltei pra dar um Oi.

Infelizmente as coisas não estão legais ou favoráveis no mometo, mas é isso.

Beijos e até o próximo - que um dia sai, prometo...

Fran

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