Capítulo 38
Nos jogamos na cama exaustos.
- A gente devia terminar de ajeitar as coisas – Seth disse arrastado de tão cansado.
- Nem pensar. As coisas não vão fugir se a gente deixar isso pra amanhã – me virei para o seu corpo e passei meu braço sobre seu torso, enterrando meu rosto em seu pescoço. – Eu preciso dormir.
- Sam, a gente acabou de se mudar...
- Exato – interrompi ele. – Não precisamos organizar a casa toda agora. Hoje o dia foi cheio e amanhã vai ser pior – bocejei.
Coloquei minha perna no meio das de Seth e enfiei minha mão por baixo de sua blusa para poder sentir sua pele e fechei os olhos. Eu espero realmente que ele não insista e fique aqui quietinho e vá dormir.
Senti sua risadinha.
- Tudo bem. Amanhã quando você estiver fora eu organizo o resto. Agora descansa, você realmente merece.
- Não precisa ajeitar tudo sozinho... – murmurei, já quase dormindo. – Eu tenho que ajudar também...
- Shhhh... Só dorme – falou baixinho. – Boa noite, Sam – senti seus lábios na minha cabeça quando ele beijou o local de forma carinhosa.
Acordei algumas horas depois, ainda exausta, mas em melhor estado do que estava antes. Agradeci internamente por eu ter vindo com Seth e ele ter podido manter o carro, caso contrário, mesmo que não fosse muita coisa, já seria ainda mais complicado trazer tudo...
Sorri um pouquinho ao avistar o rosto adormecido dele perto do meu, mais ou menos apoiado em meu peito.
Me levantei com cuidado, mesmo sabendo que ele não acordaria, e saí do quarto direto para o banheiro. Escovei os dentes e tomei um banho rápido pra terminar de acordar e fui preparar um café enquanto começava a – tentar – me encontrar na cozinha, que graças a tudo o que é mais sagrado, já tinha tudo o que a gente precisaria, com exceção, obviamente, da comida.
- Você devia ter dormido mais – ouvi às minhas costas. Me virei e vi Seth só com a toalha enrolada na cintura, andando até uma das malas de roupas que ficou largada pela casa. Sorri. Ahh, como eu posso me acostumar com essa visão toda manhã...
Pigarreei e parei de quase despi-lo com o olhar.
- Eu simplesmente acordei – dei de ombros. – Mas eu não teria muito mais tempo do que isso, de qualquer forma – bocejei. – Quer café?
- Sim, por favor – se aproximou e beijou minha bochecha. – Bom dia, Sam.
- Bom dia – entreguei a xícara pra ele e me sentei à mesa enquanto ele colocava a boxer e voltava rapidamente ao banheiro pra estender a toalha úmida.
- Você vai sair que horas? – perguntou ao retornar, sentando-se ao meu lado.
- Nove e meia.
- Então ainda tem tempo – comentou cutucando a tela do meu celular que estava sobre a mesa, pra poder ativar o display e ver a hora.
- Um pouco, sim. Se importa se eu for com o seu carro? Eu não estou muito no clima de pegar transporte público hoje... – fora que eu tenho absoluta certeza que eu vou apagar e vou perder o ponto...
- Tá bem o suficiente pra dirigir? Você parece que vai dormir a qualquer momento – comentou com preocupação.
- Eu geralmente não sinto sono enquanto dirijo, então eu acho que não vou ter problemas...
- Pode usar. Eu não vou precisar dele hoje... – deu um gole no café e fez uma careta porque esqueceu de adoçar antes, mas desistiu quando percebeu que não tem açúcar e continuou a beber assim mesmo. – Aliás, Sam, você pode usar ele sem pedir – deu de ombros.
- Por quê? – indaguei, confusa. – O carro ainda é seu e eu não tenho como adivinhar quando você vai precisar dele – dei de ombros.
- Sim, mas eu estou querendo dizer que agora ele não é mais de uso exclusivo meu – esclareceu. – E como você vai trabalhar e estudar, vai precisar mais do que eu – adicionou.
- Eu nem sei se eu vou ser contratada... – sorri quando Seth me fuzilou com os olhos. – Ok, já entendi! E o que eu faço no dia que eu pegar o carro sem avisar e você precisar dele?
- Eu me viro – sorriu de canto.
Grunhi em frustração.
- Não vai rolar. Ou a gente organiza isso direito, ou eu vou pedir todas as vezes que eu precisar dele.
- Ok, então vamos fazer o seguinte: a minha universidade é um pouco mais longe do que a sua daqui, e como eu não vou trabalhar por enquanto, eu vou sair antes que você e chegar antes também. Então, muito provavelmente se eu precisar do carro, eu vou ter tempo de te avisar. Enquanto eu não falar nada, você é livre pra usar ele como quiser. O que acha?
Suspirei. Pelo menos ele deu um jeito de organizar...
- Eu ainda não acho certo eu monopolizar o troço que nem é meu, mas eu vou desistir por enquanto.
- Sam, deixa de ser cismada! – revirou os olhos. – Sabe que horas vai chegar? – mudou estrategicamente de assunto, percebi.
- Não, mas tarde, provavelmente. Talvez perto das 19h? Eu ainda preciso resolver algumas coisas, e eu tenho terapia...
- Tem algum mercado por aqui? Eu ainda estou perdido com a área...
- Sim, acho que três ou quatro quarteirões de distância.
- Certo. Então enquanto você estiver fora, eu vou fazer nossas compras. Se quiser alguma coisa específica me avisa.
Dei de ombros.
- Não consigo pensar em nada agora a não ser tudo – Seth soltou uma risadinha. – Não vai precisar de ajuda? É muita coisa pra comprar, ainda mais que eu vou estar com o carro.
- É só me encontrar lá e me pegar. Eu vou tentar encaixar os horários pra você só precisar chegar e me levar embora.
- Tá. Se eu lembrar de alguma coisa te envio uma mensagem – me levantei. – Vou me arrumar – me aproximei dele depois de lavar a xícara na pia e dei um selinho em sua boca, mas antes que eu pudesse me afastar muito, Seth me puxou pra perto de novo, uma expressão insatisfeita em seu rosto.
Sorri quando seus braços envolveram minha cintura e ele me puxou para sentar em seu colo. Enrosquei meus dedos em seus cabelos e o beijei profundamente, sentindo seu corpo estremecer quando mordi seu lábio com cuidado.
- Eu preciso ir – murmurei, encostando minha boca à sua várias vezes em pequenos beijos, completamente sem vontade de me afastar do calor do seu corpo.
- Só mais dois minutos – pediu, sua boca clamando outro beijo de tirar o fôlego.
Eu não lutei contra, não o interrompi e muito menos o impedi. Eu também não queria parar, mesmo sabendo que em algum momento eu precisaria.
Arfei quando sua boca foi para o meu pescoço e suas mãos apertaram minha bunda, sua evidente ereção pressionando contra a lateral da minha coxa direita.
- Seth... – gemi baixinho.
- Tá bom – suspirou. – Eu não quero te atrasar – me deu mais um beijo e me deixou levantar.
- Eu te amo – sussurrei em seu ouvido, arrancando um sorriso bobo de seu rosto. Beijei sua bochecha e me afastei.
Saí de casa no horário que tinha planejado, indo direto para o consultório pra terapia e saí de lá com um sentimento estranho. Eu não sei se me sinto finalmente realizada, porque eu estou simplesmente perdida...
Com toda a loucura que a minha vida se tornou ultimamente, eu confesso que acabei menosprezando algumas sessões que eu simplesmente não poderia ter ignorado... Mas agora, depois de todo esse tempo, eu finalmente tenho a liberação para fazer a redesignação e eu estou perdida!
Peguei o carro de Seth no estacionamento da clínica, mas não consegui sair do lugar. Tudo o que eu pude fazer foi ficar olhando para o carro estacionado à minha frente.
Depois do choque veio a euforia absurda. Tanta que eu quase não consigo ficar parada. A vontade de, sei lá, sair correndo me consumia pouco a pouco. Respirei fundo tentando me acalmar.
O resto do dia passou em um borrão: a ida à universidade resolver algumas pendências, a entrevista, o tempo que eu fiquei presa no trânsito, e a ida ao mercado para me encontrar com Seth.
Eu estava tão absorta em pensamentos que eu sequer prestei atenção no que ele me dizia.
- Sam, você tá bem? – perguntou apoiando a mão em meu ombro, me trazendo de volta à realidade.
Olhei para ele e depois para a pista novamente. Com o tanto que minha cabeça não tá presente no que eu estou fazendo, eu me surpreendo muito que eu não tenha simplesmente batido o carro... E ao mesmo tempo agradeço por não ter acontecido...
- Bem? – olhei para ele, séria, mas logo o sorriso começou a tomar conta de meus lábios. Eu simplesmente não consigo fazer mistério e não consigo sequer começar a tentar esconder. – Sim, mas eu preciso falar com você. E é importante...
Seth me fitou e fez uma careta, dividido. Ele provavelmente entende que não é algo ruim, ou pelo menos ele não deve achar que é algo que o envolva diretamente, mas a preocupação está bem nítida em seu olhar.
- Aconteceu alguma coisa? Para de fazer mistério porque eu já comecei a entrar em desespero de agora – ri.
- Aconteceu, mas não é o que você tá pensando, seja lá o que é que você tá pensando – dei de ombros. – Mas eu não quero falar sobre isso no carro.
- Sam, por que você não esperou pra falar que precisava conversar quando a gente chegasse em casa?! – ele me olhou de um jeito estranho e eu me senti levemente culpada por brincar com ele assim.
- Porque eu acho sua apreensão fofa – soltei uma risadinha e ele bufou, meio revoltado por eu ainda ironizar sua preocupação e desespero crescentes. – Seth, relaxa. Não é sobre a gente. Bom, pode ser interpretado dessa maneira, mas é primordialmente sobre mim – sorri de canto para ele.
- Ok, eu já entendi: não surtar à toa então.
- É isso aí. Além do mais, a gente pode comemorar mais tarde – sorri de uma forma sacana e ele me acompanhou com o seu sorriso malicioso.
- A gente precisa estrear nossa casa, não é? – confirmei com a cabeça, meus pensamentos indo para lugares que não deveriam nesse momento. – Como foi na universidade?
- Finalmente consegui terminar as burocracias. Deu um pouco mais de trabalho do que eu pensei, mas agora tá tudo certo – inclusive eu já levantei o assunto da cirurgia e já adquiri um tipo de licença especial para que pudesse me afastar sem me prejudicar por abstenção. Mas isso, claro, sem me expor. Tudo o que eles sabem é que em algum momento eu vou precisar me afastar. Agradeço ao fato por não ter sido necessário dizer exatamente o que seria feito, apenas comprovar que esse tempo seria preciso...
- A gente conversa então depois que ajeitarmos as compras e tomarmos banhos e comermos? – disse e eu confirmei com a cabeça.
Eu fiquei tão no automático durante o dia todo que eu acho que eu nem me lembrei de comer, mas agora que a gente tá quase chegando em casa, eu estou sentindo todo o estresse do dia, que me corroeu sem eu notar sua presença.
- Sobe e toma um banho, eu preparo nossa comida – Seth disse, me dando um beijo na bochecha e me conduzindo para o corredor com um empurrãozinho.
- Não, tudo bem. Eu posso te ajudar.
- Você foi pra lá e pra cá o dia todo e tá cansada. O dia deve ter sido estressante também.
- Não é como se você também não tivesse feito nada... – olhei em volta com a sobrancelha arqueada, percebendo que, mesmo eu falando que ele não precisava, ele organizou e fez tudo sozinho enquanto eu estava fora.
- Cansaço psicológico é bem pior que cansaço físico – deu de ombros. – E eu não estou cansado. Quando eu terminei de organizar nossas coisas, eu fui dormir – riu, parecendo meio culpado. – Ainda faltava tempo pra caramba pra poder matar – se defendeu.
- Eu nem falei nada – revirei os olhos.
- Mas seu olhar estava me julgando... – franziu o cenho, estreitando os olhos em minha direção. Peguei sua mão que descansava na base da minha coluna e entrelacei meus dedos aos seus, conduzindo-o para mais perto de mim e envolvi sua cintura com meus braços.
- Eu não estava – garanti. – Porque eu teria feito a mesma coisa – sorri divertida. – Tudo bem, eu vou tomar banho, mas quando eu voltar, eu vou te ajudar e o senhorito não vai reclamar, nem fazer careta e nem nada do tipo, justo?
Seth suspirou derrotado.
- Justo – sorri vitoriosa e levei minha mão ao seu rosto, passando meus dedos por seus cabelos bagunçados. Por estranho que pareça, sentir a textura dos cabelos de Seth me traz uma sensação tão gostosa... – Você vai me beijar ou só vai ficar me olhando com essa cara de boba apaixonada?
- O que eu posso fazer se eu gosto de você e às vezes me perco no meio desse sentimento? – sussurrei, me esticando para alcançar sua boca. Sorri internamente porque, antes de fechar meus olhos e encostar meus lábios aos dele, eu pude ver seu olhar. Sua mão que descansava em minha cintura foi para a minha nuca, e ele aprofundou o beijo e eu quase ri quando Seth me conduziu até o sofá. – A ideia não era fazer isso depois? – questionei de forma provocativa ao me afastar milimetricamente. Verdade seja dita: eu também não faço questão alguma de parar. Beijei-o novamente na boca e desci com uma trilha até seu pescoço, onde dei uma leve mordida, arrancando um grunhido rouco que me excitou ainda mais.
- Eu não sei do que você tá falando. A gente pode fazer de novo depois – tentei conter o riso, mas ele acabou escapando de qualquer forma.
- Tentador – murmurei, ainda distraída com o seu pescoço, brincando com o seu autocontrole e o meu também.
Seth se afastou e me levantou, prendendo minhas pernas ao seu redor e me apoiou na parede. Arqueei a sobrancelha e sorri de forma divertida.
- A gente não ia usar o sofá? – provoquei, mas o impedi de responder, beijando-o de novo de forma voraz.
- Se eu chegar perto dele eu realmente não vou te deixar ir – conseguiu falar depois que me afastei. – Aqui eu vou conseguir me controlar melhor enquanto aproveito um pouco mais – sorriu e eu acompanhei. Eu realmente duvido que o Seth conseguiria se controlar se eu forçar um pouquinho mais...
- Então eu espero que você consiga se segurar, porque eu também quero um pouco mais – puxei o tecido de sua blusa da melhor forma que pude, jogando a peça no braço do sofá ao nosso lado.
- Golpe baixo – resmungou de forma apressada contra meu pescoço. – Eu não consigo tirar a sua – completou e só pra provocar passei as unhas vagarosamente por suas costas.
- Assim é melhor. Você não pararia só nela e a gente no fim das contas terminaria sem nenhuma peça – sorri maliciosa.
- Eu gosto da ideia – admitiu, sério. Eu consigo ver em seus olhos que Seth está realmente se segurando para não avançar demais agora, por pura consideração ao meu cansaço.
Com cuidado me deixou descer de seus braços e se virou para pegar a peça que eu retirei e joguei no braço do sofá, mas o impedi.
- Eu gosto da visão – sorri.
- Sam, você não tá colaborando... – grunhiu.
- Você tá muito sensível – provoquei.
Deu de ombros.
- Nunca tentei esconder que eu sinto atração por você – sorriu de canto. – Me lembrar das coisas que a gente já fez, do seu corpo, do seu toque... – se aproximou para falar pertinho de meu ouvido: - seus gemidos... – senti meu rosto esquentar um pouco. – Você pode me culpar por ficar assim?... – senti sua ereção quando ele colou seu corpo ao meu num abraço de lado.
- Não – sorri e o beijei. – Porque eu também sou sensível à você – admiti.
Seth se afastou com um sorriso incontido de felicidade e malícia.
- O que você quer jantar? – mudou de assunto.
- Qualquer coisa pra mim tá bom.
- Qual o seu nível de fome nesse momento? Assim eu sei o quanto é saudável te deixar esperando enquanto eu preparo – revirei os olhos pra insinuação de que eu fico irritadiça quando estou com fome.
- Muita – admiti à contragosto.
- Ok, então hoje nossa janta vai ser simples – riu quando eu bufei.
- Eu já volto – falei já me afastando. Me despi rapidamente e me enfiei embaixo da água gelada do chuveiro.
Quando voltei para a cozinha, Seth já estava quase terminando de fazer o macarrão, então sequer me meti ali. Tudo o que eu fiz foi preparar um suco para nós dois e o esperei terminar para podermos comer.
- Parece que você tá melhorando – provoquei. Verdade seja dita, a comida do Seth sempre foi muito boa, ele só não cozinhava por pura preguiça... E eu gosto de implicar com ele...
- Ei! – reclamou. – Eu preciso aprender pra poder te alimentar direito.
- Obrigada – sorri agradecida. Todo esse cuidado que Seth tem comigo às vezes me surpreende, mas é inegável o quanto é bom me sentir cuidada por ele.
- E então, o que você tinha para falar? – perguntou. – Eu sei que o combinado foi depois de tudo isso, mas eu já não estou aguentando mais... – me olhou esperançoso.
- Tudo bem, acho que já te torturei o suficiente... Mesmo que a ideia de conversar só depois tenha sido sua mesmo – lembrei-o com ironia.
- Eu sei, mas eu estou curioso... – quase gemeu, fazendo careta.
Sorri.
- Eu estive tentando conter a minha animação esse tempo todo – comecei. Eu, sinceramente, não sei nem como falar pra ele. Ainda parece surreal. Eu tenho a sensação de que se eu falar as palavras, eu vou acordar e vou perceber que era tudo um sonho, um devaneio. Nada mais do que uma invenção provinda do meu mais profundo desejo. Seth pareceu confuso por alguns instantes e então um sorriso foi lentamente nascendo em seus lábios conforme ele foi compreendendo.
- Você conseguiu? Digo... Conseguiu a autorização? – se atropelou nas palavras, minha animação contagiando ele rapidamente. Sorri e confirmei, sem conseguir encontrar minha voz. – Parabéns! – se levantou e me puxou para um abraço, me levantando do chão. – Eu sei o quanto você estava ansiosa pra isso! – beijou minha bochecha, me apertando forte em seus braços.
Agora que eu contei para o Seth, toda a realidade da situação parece estar assentando, e com ela vieram todas as emoções que estiveram presas dentro de mim durante todos esses anos. Finalmente. Eu vou finalmente estar completa. Eu vou finalmente ser eu!
O apertei com força e enterrei meu rosto em seu pescoço, sentindo as lágrimas tomarem conta de meus olhos e escorrerem por minhas bochechas. Eu não me importo de chorar. Não me importo de estar me sentindo tão leve assim. Não me importo que Seth veja. Não me importo que ele saiba a extensão do meu alívio...
Seth beijou meu ombro e me apertou um pouco mais, me fazendo sentir acolhida.
Permanecemos assim por alguns minutos até eu conseguir me afastar.
- Já sabe a data? – perguntou.
Neguei com a cabeça, ainda incapaz de encontrar minha voz. Funguei e sequei as lágrimas de minhas bochechas.
- Eu só recebi a liberação... A parte da cirurgia ainda vai ser outro processo longo e complicado – e caro. Suspirei. Eu odeio burocracia.
- Ei, por que está se colocando pra baixo? – colocou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha e sorriu. – Você já esperou até aqui, não é? E considerando as adversidades do seu passado, eu sei que você mesma duvidava que receberia a liberação tão cedo assim. Não precisa se preocupar, Sam. E eu vou te ajudar no que for preciso e no que eu puder.
- Obrigada, Seth – sorri. Ele tá certo. Ficar pensando assim só vai me atrapalhar. É complicado, vai ser difícil, mas a cada dia eu chego mais perto de conseguir o que eu quero.
- Eu suspeitei quando te vi no estacionamento – confidenciou baixinho quando o abracei de novo, querendo sentir um pouco mais da mesma sensação de aconchego do abraço de antes. – Você estava simplesmente radiante.
- Sério? Eu achei que eu estava dispersa. Eu estava pensando em tanta coisa ao mesmo tempo...
- Seu semblante não transpareceu o que você estava pensando ou sentindo. Mas eu percebi. Aquele seu primeiro olhar assim que saiu do carro... O rápido sorriso que você me deu depois que me cumprimentou e antes de voltar a ficar calada... Eu percebi graças a isso... Eu quase te perguntei dentro do carro mesmo, mas você estava tão distraída que eu fiquei com receio de, caso eu estivesse errado, trazer algo negativo à sua mente, então deixei pra lá.
- Bom, eu ainda tenho mais uma notícia boa então – sorri afastando meu rosto para poder fita-lo.
- Dessa vez eu não vou estragar e vou te deixar contar – riu um pouco.
- Certo. Você facilitou muito minha vida, na verdade. Eu não conseguia falar nada naquela hora. Ainda bem que só aquilo foi o suficiente.
- De nada então – brincou. – Prossiga – pediu com ansiedade.
- Ah, claro – sorri. – Eu começo a trabalhar semana que vem – completei.
- Eu estou muito feliz por você! – me deu um beijo rápido. – Espera... então hoje a gente tem duas coisas para comemorar? – perguntou, rindo de leve.
- Depende... Cada comemoração rende quantas transas? – sorri de maneira pervertida, provavelmente pegando-o de surpresa, já que ele arqueou minimamente a sobrancelha e me fitou sem palavras.
- Precisamos definir um número? – disse, prendendo meu corpo entre o seu e a parede. – Eu prefiro ir até onde você aguentar – sorri com ironia. – Bom, até onde eu aguentar, na verdade... – ri.
Sua mão esquerda desceu por meu corpo até o botão da minha calça e o abriu, voltando para a minha cintura em seguida, já sua boca foi para o meu pescoço. Aproveitei seu interesse em me provocar e fiz o mesmo que ele, abrindo sua calça, mas ao contrário de Seth, eu a desci, mas como ele não colaborou, ficou apenas um amontoado de tecido em seus pés.
- A gente tem a noite toda – sussurrou e me mordeu vagarosamente, me causando um arrepio. – E por mais que eu queira muito poder te sentir agora, eu preciso pelo menos de um banho antes – sorriu sapeca com meu quase rosnado totalmente insatisfeito.
Resmunguei algumas palavras e me afastei, rumando para o quarto enquanto Seth ia para o banheiro em meio às risadinhas.
Fiquei deitada na cama com a cabeça apoiada em meus braços enquanto olhava para o teto, os acontecimentos do dia rodeando meus pensamentos e brincando em minhas memórias.
Quando ouvi o barulho da porta e desviei meu olhar para o local, me surpreendi ao avistar Seth encostado ao batente com a toalha enrolada na cintura como nessa manhã. Os cabelos úmidos bagunçados e seu sorriso que não trazia malícia ou perversão, apenas um leve divertimento enquanto seus olhos brilhavam com selvageria me tiraram do breve torpor e me despertaram para o desejo violento de prazer que me consumia. Ao vê-lo dessa maneira, a única palavra que eu consigo pensar para descrevê-lo é "sensual".
Seth me excita e me deixa em meu limite com tão pouco, e eu amo isso. Simplesmente não consigo me cansar da facilidade com a qual ele desperta reações em mim.
- Você tá lindo assim – sorri, me esquecendo um pouco do desejo e me focando no homem à minha frente. Me sentei na cama, admirando o sorriso de canto de Seth enquanto ele me fitava de volta com os braços cruzados sobre o peito nu. – Há quanto tempo você tá parado aí?
- Não muito – se desencostou do batente e andou lentamente até mim. – Mas você estava tão distraída, mas tão gostosa, que eu só parei e fiquei observando – se sentou ao meu lado e eu pude sentir o calor de seu corpo mesmo sem tocá-lo. – Gosta da visão? – sorriu provocativo.
- Bastante – percorri meus dedos por sua barriga e por seu peito, até seu ombro e até sua bochecha, fazendo Seth terminar a distância entre nós e me beijar.
Suas mãos envolveram minha cintura e ele me puxou para me sentar em seu colo e mesmo eu ainda estando completamente vestida, essa proximidade com o seu corpo já me fez grunhir em expectativa.
Deixei que ele fizesse o que bem entendesse, focando minha atenção apenas em sua boca e em seu pescoço.
Me afastei momentaneamente para que ele pudesse retirar a peça que protegia meu torso, seu olhar se prendendo no meu sutiã.
Diferente do habitual, dessa vez ele não se apressou em retirá-lo, tomando seu tempo para me tocar e apalpar meus seios sobre o tecido rendado. Com cuidado passou sua língua pela pele exposta, me causando leves arrepios. Em resposta à provocação, dei uma mordida controlada em seu ombro, que não foi forte o suficiente pra sequer deixar uma leve marca, mas ele deixou um grunhido grave escapar por seus lábios mesmo assim.
Encostei meu corpo ao de Seth, fazendo força para que ele se deitasse. Me apoiando em meus joelhos e em minhas mãos, distribuí beijos por seu rosto, seus lábios, seu pescoço, ombro, peito e barriga.
Com cuidado percorri minha mão desde sua cintura até seu pescoço e então retornei, dedicando uma breve atenção aos seus mamilos, sorrindo maliciosamente quando um gemido baixinho irrompeu por seus lábios antes cerrados.
Passei a língua por sua pele, descendo, até o pé de sua barriga, onde tive que me levantar da cama e aproveitei para tirar sua toalha do caminho. O pano úmido me atrapalhava a visão e me impedia de tocá-lo com a liberdade que eu queria.
Olhei para ele de forma maliciosa enquanto deslizava minhas mãos por suas coxas, subindo, vagarosamente, em direção ao seu membro já rijo.
Seth soltou um grunhido abafado quando o envolvi cuidadosamente, meu sorriso se ampliando, e me inclinei, mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa ele me impediu.
Seu olhar dizia muita coisa, o brilho de diversão provavelmente contrastando com o meu de confusão. Segurando minha mão, me conduziu até si, seus braços rodeando minha cintura, colando meu corpo ao seu enquanto me beijava de maneira possessiva. As mãos dele percorreram minhas costas, me tocando com calma, até chegarem ao fecho da peça íntima e o abrir, mas ainda sim sem menção de retirá-lo.
Com cuidado para não nos machucar, nos virou na cama, invertendo nossas posições. Aproveitei sua distração momentânea e o puxei para um beijo profundo, minhas mãos explorando os músculos contraídos de suas costas. Seth se afastou com uma risadinha maliciosa e parou, me fitando com a sobrancelha erguida, se divertindo. Sorri de forma quase desafiadora.
Respondendo meu pequeno ato de rebeldia, ele levou a mão sob o tecido que ainda cobria meus seios, roçando levemente os dedos em meu mamilo. Mordi o lábio inferior, mas me recusei a deixar qualquer som sair da minha boca. Meus dedos se perderam em seus cabelos quando seus lábios percorreram minha pele, subindo desde minha barriga até meu pescoço, e eu fechei os olhos, apenas aproveitando a sensação.
Se aproveitando da minha momentânea distração, Seth deslizou as alças do tecido pelos meus braços para poder retirá-lo, parecendo se cansar da provocação e da obstrução que a peça causava. Arfei quando senti sua boca enfim roçando na área antes coberta e me deparei com um brilho meio selvagem e divertido quando o fitei, meu sexo pulsando em antecipação.
Grunhi quando ele sugou o local para me provocar, nenhum dos dois se importando com a marca que ficaria ali mais tarde. Percorri a extensão de suas costas com as unhas, leve o suficiente para fazê-lo se arrepiar, mas não o suficiente para deixar uma marca.
Suas mãos percorreram meu corpo quase como se fosse a primeira vez que me tocavam, me explorando, me conhecendo, e isso me trouxe uma enorme sensação de prazer. Puxei-o para um beijo quando sua mão esquerda chegou à minha coxa, apertando-a, e depois subiu, as pontas de seus dedos roçando tentadoramente em minha virilha até finalmente se dirigir ao meu sexo para me tocar.
Um gemido rouco escapou pela minha boca, quase nascido do fundo da minha garganta, o som absolutamente carnal. Seth sorriu e voltou a distribuir beijos pelo meu pescoço, seios e barriga, descendo em uma velocidade tão torturante que não pude evitar o grunhido de frustração.
Para me provocar, ele simplesmente ignorou, de forma deliberada, qualquer outro contato tirando a sua mão à minha intimidade, seus lábios clamando minha pele até meus pés e subindo novamente. Seus olhos tinham um brilho de diversão tão intenso, o que contrastava fortemente com o óbvio desejo e luxúria que também estavam presentes e expressados ali.
Dei o meu melhor sorriso malicioso para ele, fazendo-o travar momentaneamente, provavelmente se esquecendo que eu tenho tantos meios de provoca-lo quanto ele tem para me provocar.
Me sentei e Seth me puxou para um beijo voraz, quase desesperado. Ele não parecia querer acelerar as coisas ainda e eu não vejo nada além de mais tempo com ele, o que pra mim é ótimo. Ele se inclinou pouco a pouco, me fazendo deitar novamente, colando seu corpo ao meu.
Passei minha mão por suas costas e suas costelas, até seus cabelos, sentindo a textura dos fios em minhas palmas conforme nossa respiração se acelerava cada vez mais com a intensidade do beijo. Me separei buscando ar e Seth retornou sua mão para o meu corpo, me acariciando com cuidado, descendo-a até me envolver novamente, ainda sobre a calça. Seu olhar atentamente em meu rosto capturando cada reação que eu tinha, sorrindo malicioso quando eu gemia ou deixava escapar alguma expressão de prazer.
Seth beijou meu pescoço, quase sem cuidado algum, descendo seus lábios, roçando minha pele que cada vez necessitava mais de seus toques, até enfim envolver meu membro com os lábios, deslizando sua língua vagarosamente por mim por cima do jeans.
Grunhi, completamente incapaz de impedir que o som preso em minha garganta escapasse, totalmente perdida em seu toque. Enrosquei meus dedos no lençol quando senti o prazer em meu corpo, quase transbordando, o orgasmo se espalhando vagarosamente desde as pontas dos meus dedos até minha cabeça.
Gemi seu nome, atraindo seu olhar para mim, então ele entrelaçou sua mão à minha que descansava sobre o colchão da cama, levando-a ao seu rosto e aos seus cabelos. Envolvi os fios com meus dedos, com cuidado, e ele aproveitou a breve pausa para abrir o botão da minha calça, apressado, a retirando em seguida, finalmente sua boca quente envolvendo minha pele, meu corpo correspondendo à cada movimento dos seus lábios e da sua língua, me fazendo estremecer.
Arfei enquanto, involuntariamente, ditava seu ritmo, mas isso pareceu satisfazê-lo ainda mais, seus toques passando a ser vorazes e cheios de volúpia e não foi muito depois disso que eu cheguei ao ápice.
Seth se ergueu em suas mãos, me olhando com um sorriso puramente pervertido que eu achei lindo. Me sentei, acariciando seu rosto, tirando os cabelos de sua testa suada. Inclinei-me, colando minha boca à sua enquanto percorria minhas mãos por seu corpo até chegar ao seu membro, tocando-o com cuidado. Seth gemeu e quebrou o contato de nossas bocas por alguns instantes enquanto sua cabeça pendia levemente para trás, me dando a oportunidade de alcançar seu pescoço, onde eu dei uma mordida de leve e percorri minha língua, seu gosto ficando em minha boca.
Passei meu braço por suas costas e o virei na cama, percorrendo meus lábios por seu peito, sentindo-o arrepiar quando mordisquei seu mamilo e não pude evitar o sorrisinho que surgiu em meu rosto. Continuei descendo, mas ele me impediu.
Levantei meu rosto e o fitei, soltando uma risadinha.
- Algum problema? – perguntei, maliciosa.
- Eu ainda não estou satisfeito em te tocar, então tive uma ideia melhor – sorriu.
Com um pouco mais de urgência ele me virou na cama, ficando sobre mim e envolveu meu sexo com a boca novamente. Ah, essa é a "ideia melhor". Acho que é realmente mais prático assim.
Me ajeitei, apoiando parte do peso do meu tronco em um cotovelo na cama, para não cansar mais rápido, e me inclinei, passando minha língua por seu membro antes de envolve-lo com a boca, também ajudando o movimento com o auxílio de minha mão livre.
Nos mantivemos assim por algum tempo, mas precisei inverter quando meu pescoço e meus braços começaram a queimar pelo esforço, então aproveitando a mudança, o puxei para a beirada da cama e desci, me ajoelhando à sua frente. Seth se inclinou para me beijar antes que eu pudesse tocá-lo novamente, então apenas envolvi seus quadris com minhas mãos.
Voltei minha atenção ao seu sexo no momento que o contato de sua boca com a minha foi desfeito, aproveitei também a liberdade que minhas mãos agora tinham para tocá-lo como bem quisesse, sentindo a sensação de seu corpo, o seu calor...
Ele me afastou pouco antes de chegar ao orgasmo, me puxando para um beijo, fazendo com que seu gozo atingisse a parte de baixo da minha barriga e uma parte da minha coxa.
Seth me puxou para si, então subi na cama, apoiando um joelho de cada lado do seu corpo, sentando em seu colo, ainda sem que ele me penetrasse. Por mais que eu queira senti-lo, eu ainda não quero acelerar as coisas, então o beijei, primeiro mais calmo, e depois de forma intensa, os dois perdendo o controle muito facilmente perante a luxúria e a volúpia.
Arfando, praticamente dizendo com todas as palavras que não aguentava mais, Seth se juntou à mim, me penetrando, suas mãos apertando minhas coxas enquanto um gemido grave saía por sua boca. Sorri. Apoiei minhas mãos em seus ombros e me inclinei para poder beijá-lo enquanto começava a me mover, a sensação do seu membro deslizando em mim, me completando, me satisfazendo...
Suas mãos subiram de minhas pernas para meus seios, brincando com eles enquanto eu me movia sobre si, o beijo completamente descoordenado.
Seth gemeu contra minha boca, me apertando em seus braços quando o orgasmo o atingiu com força, e então nos virou, seu corpo ainda colado ao meu, ficando por cima. Enrosquei minhas pernas em sua cintura enquanto ele voltava a se mover em sincronia comigo e não demorou muito para que o prazer lascivo me atingisse também, o gemido arranhando em minha garganta.
Ergui minha mão e passei no rosto de Seth, que me olhava com um misto de prazer, amor e desejo. Sorri, interceptando uma gota de suor que escorria por sua têmpora.
- Você tá legal? – perguntou, se deitando ao meu lado, apoiando a cabeça em uma das mãos para poder me fitar.
- Hum? Sim?... – perguntei, confusa. – Por que não estaria?
- Sei lá. Por um momento eu te achei meio... distante... eu acho – me virei para ele, curiosa.
- Sério? Eu não estava pensando em nada em particular. E nem lembrando de nada também. Bom, eu estava só pensando no que a gente estava fazendo – admiti com uma risadinha.
- Eu imagino que sim – riu também. – Eu acho que eu quem estou pensando demais.
- O que quer dizer?
- Bom, tudo tá acontecendo tão rápido que eu tenho medo de alguma coisa dar errado.
- Seth... – murmurei, meio que tentando reassegurar ele. – Nada precisa dar errado. E se der, a gente vai lidar com isso quando acontecer.
- Eu sei, mas me deixa surtar um pouquinho – revirei os olhos.
- Tá bom. Sobre que parte você quer surtar agora? Sabe, pra eu poder te ajudar... – ironizei.
- Primeiro porque eu estou feliz pra caramba de estar em um relacionamento com a mulher que eu amo – tentei manter a expressão séria, mas eu não estava esperando algo fofo nesse momento, então acabei sorrindo.
- Então vamos entrar no acordo que isso vale pros dois, ok? – Seth sorriu e me deu um beijo rápido. – Sobre mais o que você quer surtar? – incitei, me divertindo.
- Bom, tem tanta coisa. A gente tá morando juntos, a gente vai começar a faculdade e você vai trabalhar. Tem também a sua cirurgia.
- Isso não deveriam ser coisas para surtar – dei de ombros.
- Sim, mas aí é que tá. Tá tudo muito certo. Tá tudo dando suspeitamente muito certo...
- Lei de Murphy? – ri. – Seth, relaxa! Eu já falei: nada precisa dar errado e, mesmo que algo aconteça, a gente vai lidar com isso juntos, ok? Ficar pensando nisso desse jeito, com toda essa insegurança desnecessária, pode acabar piorando tudo do que nos ajudando.
- Foi mal. É só que, do jeito que as coisas estão, eu fico realmente com medo de perder tudo. Ou de estragar tudo.
- Estragar? Como voc... – parei de falar quando ele levantou o olhar pra mim, e eu finalmente entendi. – Tá falando sobre o que aconteceu na escola? E sobre todas as burradas que nós, meio que coletivamente, fizemos depois?
- Você não fez nada de mais. Terminar comigo foi uma decisão que eu não posso julgar.
- Não mesmo? Eu falei em algum momento que eu não vou me lembrar: se eu não estivesse querendo te magoar, só porque eu estava machucada e com raiva, eu provavelmente nem sequer teria terminado com você, Seth. A questão é que eu estava de cabeça quente e não parei para pensar no seu lado na hora. Sim, eu fiquei chateada, mas eu não posso esquecer que não era algo que você não estava acostumado a lidar... Eu só queria que você tivesse lidado de uma maneira melhor do que você lidou, preciso ser sincera... – sorri. – Não pensa muito nisso. Já foi. A gente brigou sim, e eu terminei com você sim. E depois eu fiz uma burrada absurda e que eu nem sequer sei como você ainda conseguiu olhar pra mim depois e ainda mais me perdoar – em comparação com a falta de ação de Seth aquele dia na escola, eu fiz algo bem pior e bem mais grave. Eu não tenho mais o direito de ficar chateada com ele. Ou de exigir qualquer coisa dele.
- Não foi tão fácil quanto eu fiz parecer – admitiu e sua voz soou meio ácida.
- Eu sei. Eu sei que não foi. Eu não sei se eu teria conseguido te perdoar se fosse o contrário – confessei. – O que eu fiz foi errado de muitas formas. Eu não te traí no sentido de relacionamento, mas traí sua confiança e isso para dizer no mínimo.
- Sabe que até o momento que o seu ex me mandou aquela mensagem, eu estava realmente pensando no que eu faria? Só que quando eu me encontrei com ele aquele dia, eu entendi.
- Entendeu o que?
- Que não foi uma escolha de vocês. Foi necessário. E que além de necessário, isso era algo que pesaria em vocês pra sempre. Porque para os dois, aquilo foi realmente o adeus que vocês não tiveram – coçou a cabeça, parecendo não ter certeza de que sua explicação faria algum sentido para mim ou não. De algum modo, eu deveria me sentir aliviada por Seth pensar assim. Mas na verdade, eu sinto o contrário. Ouvir ele dizer essas palavras me dói de um jeito que eu sequer considerei ser possível até esse exato momento. – Quando eu percebi isso, eu entendi que não era uma questão de perdoar o que você fez. Era só uma questão de lidar com o meu orgulho ferido mesmo - suspirei.
Eu acho que, em algum nível, eu preferia que ele tivesse ficado irritado comigo, reclamado e descontado toda a sua frustração em mim; dito que eu estava errada e que o que eu fiz foi horrível, porque a compreensão absurda dele me faz sentir ainda pior porque eu sei que ele tá lidando com tudo isso sozinho, e eu sei que eu o machuquei demais com toda essa merda. A reação dele com certeza doeria menos e me faria sentir muito melhor do que lidar com a culpa de tê-lo machucado e magoado.
- Desculpa, Seth – murmurei. – Eu acho que eu realmente nunca te pedi desculpa por causa disso. Necessário ou não, eu deveria ter pensado no que eu estava fazendo. E em como isso iria te afetar também. A gente deveria ter resolvido as coisas de outra maneira.
- Que outra maneira teria para resolver? – deu de ombros. Mesmo que ele queira transparecer que aceitou tudo de boa e que não se importa ou não se incomoda mais, eu consigo ver, bem no fundo dos seus olhos, a leve mágoa e isso é algo que simplesmente me consome, porque eu sei que eu acabei machucando ele à troco de nada.
- Bom, a gente não resolveu exatamente tudo aquele dia. O resto a gente resolveu com uma puta de uma discussão – sorri. Ou pelo menos tentei.
- Sério?
- Seríssimo – confirmei com a cabeça.
- Eu nunca imaginei vocês discutindo.
- Acontecia com mais frequência do que você pensa – dei de ombros. – Quando eu finalmente consegui fazer aquele idiota falar, tudo se ajeitou.
- Isso é meio surpreendente – disse, pasmo.
- Bom, eu prefiro não pensar nisso, porque me lembra de muita coisa – dei de ombros. – Mas você tá mais calmo agora? Já pode parar de pensar em coisas pra surtar? – riu.
- Estou. Obrigado. Eu acho que eu precisava desse pequeno puxão de orelha pra colocar a cabeça no lugar.
- Nah. Eu estaria mentindo se eu dissesse que também não estou surtando. Ou que eu não estou com medo de que tudo dê errado de novo. Eu só estou tentando manter meu foco em alguma outra coisa, assim eu não deixo transparecer tudo o que eu penso o tempo todo.
- Então quer dizer que a senhorita também tem medo de algo acontecer? – cutucou minha costela e eu me encolhi, rindo.
- Claro. Eu morro de medo – segurei sua mão quando ele tentou me cutucar de novo. – Eu quero poder continuar assim.
- Vamos tentar parar de nos focar em tudo o que pode dar errado e nos focar apenas no que tá dando certo.
- Faz mais sentido que seja desse jeito – concordei.
- O que você quer fazer agora?
- Hum? – bocejei e Seth riu.
- Depois que a gente tomar banho – especificou. – Quer assistir alguma coisa? Ou quer simplesmente dormir? Ou eu posso deixar você se aproveitar um pouco mais do meu corpinho – ri.
- Tentador. Mas se for considerar a última opção, isso aconteceria antes da gente tomar outro banho – sorri maliciosa.
- Estou disposto a me sacrificar pela causa – brincou.
- Eu tenho certeza que sim. Eu também me sacrificaria – ri. – Mas acho que vou me manter com o plano de banho e filme, o que acha?
- Ótimo. Então como eu ainda fiquei te devendo a parte da comemoração, a gente assiste o filme que você quiser. Pode ser terror. Eu juro que não reclamo.
Ri e o puxei para um beijo, sorrindo quando nos afastamos.
- Você não existe, sabia disso? – Seth sorriu, presunçoso.
- Eu sou é perfeito, isso sim – rimos. Bem humilde...
- Eu fico tentada a concordar com você, sabe... – desviei o olhar, fingindo pensar sobre o assunto.
- Isso já significa o bastante pra mim – Seth se sentou na cama e depois me puxou consigo, sorrindo de canto. – Vai você primeiro. Pode deixar que eu organizo tudo aqui.
- Você não prefere que eu te ajude ou te espere? De qualquer forma um de nós dois vai ter que esperar o outro...
- Não, tá tudo bem. Se eu terminar antes eu invado o seu banho pra ganhar tempo – ri.
- Eu não vou reclamar porque é uma solução até prática e bem inteligente – considerando que a gente não se atrase dentro do banheiro...
- Ei! Isso magoa, sabia? – vez um muxoxo.
- Eu não te chamei de burro – me defendi, rindo. – Para de drama. Estou indo. Vou deixar a porta destrancada pra você poder entrar quando terminar.
- Ok – comecei a me afastar, mas Seth me puxou, colando sua boca à minha num beijo profundo.
- Eu te amo, sabia? – murmurou, beijando minha bochecha, seu rosto pertinho do meu. Sorri.
- Eu também te amo, Seth – respondi, ou tentei, já que ele me beijou de novo, então minha voz saiu abafada pela sua boca.
Entrei no banheiro e tomei – outro – banho demorado, mais por estar perdida em pensamentos do que por outra coisa, mas mesmo assim Seth só entrou quando eu já estava me secando.
Deitei na cama e quando ele voltou se deitou comigo, se ajeitando para que eu pudesse usar seu peito de travesseiro e assim a gente passou o resto do dia, apenas curtindo a companhia um do outro, esquecendo de tudo o que o amanhã poderia nos trazer.
Roi, bebês, tudo bom? Ansiosas(os) para o fim do ano? Eu confesso que não estou kkkk, mas enfim.
Bom, falando sério agora: quero relembrar e frisar, mais uma vez, que para uma pessoa ser considerada do gênero masculino ou feminino não é necessário NENHUM tipo de intervenção cirúrgica, ter "trejeitos" femininos e masculinos. Genitália também tem zero a ver com a parada. Identidade de gênero é uma coisa que não devia ser um tópico tão sensível assim, mas infelizmente nossa realidade é essa.
No mais, espero que não pensem que é normal - ou obrigatório - pessoas da comunidade trans quererem se mudar ou sequer tomar hormônio porque isso é um equívoco bem grande.
É isso, pessoinhas. Até o próximo xD
Fran
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